Sesc Jazz: festival promove noite de tributo musical a Laercio de Freitas

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                      O compositor Laércio de Freitas (no centro, de máscara) abraça o clarinetista Nailor Proveta  


Sentado na plateia, o protagonista da noite dedilhava um piano imaginário, em alguns momentos, como se estivesse acompanhando os instrumentistas do palco. Um dos músicos mais queridos e admirados nos círculos do choro e da música instrumental brasileira, o pianista, compositor e arranjador paulista Laércio de Freitas recebeu uma bela homenagem, ontem (22/10), no festival Sesc Jazz, em São Paulo.  

A noite destacou saborosos arranjos de choros e sambas de Laércio, assinados pelo clarinetista Nailor Proveta, pelo violonista Edmilson Capelupi e pelo próprio compositor. Especialmente divertido foi o "bis" exigido pela plateia, quando os pianistas Cristóvão Bastos, Silvia Góes, Carlos Roberto e Hércules Gomes -- convidados especiais da noite -- retornaram juntos ao palco e se sentaram ao único piano. Entre um improviso bem-humorado e outro ouviu-se uma sucessão de risos, tanto no palco como na plateia.

O show “Laércio de Freitas Eterno e Moderno” volta a ser apresentado hoje, às 17h, no teatro do Sesc Pompeia, com participações especiais de outros pianistas convidados: Amilton Godoi, Leandro Braga e Tiago Costa, além de Carlos Roberto (talentoso sobrinho do grande pianista Dom Salvador), que também tocou na noite de ontem.

Sesc Jazz: pianista sul-africano Nduduzo Makhathini traz ritual sonoro ao festival

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                                                         O pianista e compositor Nduduzo Makhathini, no festival Sesc Jazz 

Mais uma noite emocionante na quarta edição do festival Sesc Jazz, em São Paulo. Quem foi ao teatro do Sesc Pompeia, no feriado de 12/10, para assistir à apresentação do pianista e compositor Nduduzo Makhathini, logo percebeu que não se tratava propriamente de um show, mas de um ritual sonoro.

A disposição no palco do quinteto do jazzista sul-africano era reveladora. Em vez de se voltarem para os dois lados da plateia, os cinco músicos formaram um círculo para que todos do grupo pudessem se olhar durante a apresentação. Ao final, antes mesmo de agradecerem os aplausos eufóricos da plateia, os músicos do quinteto se abraçaram, sorrindo, ainda numa roda.

Carismático, Makhathini lidera o grupo com muita simpatia. Não à toa, ele e o circunspecto saxofonista Linda Sikhakhane costumam citar o mítico jazzista norte-americano John Coltrane entre suas principais influências, ao lado de outros grandes músicos do jazz da África do Sul, como Abdullah Ibrahim e Bheki Mseleku. Como no “spiritual jazz” de Coltrane, as composições de Makhathini alternam momentos líricos e outros mais dramáticos, com amplos espaços para improvisações.

Dois anos atrás, por ocasião do lançamento de seu álbum “Modes of Communication: Letters from the Underworlds” (selo Blue Note), o compositor e pianista explicou que sua intenção musical é criar pontes e canais para dialogar com os reinos de seus ancestrais. Por isso compara suas composições a cartas que, graças aos sons e silêncios, lhe servem de veículos para essa mística comunicação.

Mesmo que a relação de Makhathini com seus ancestrais não tenha ficado clara para parte da plateia, a beleza e o magnetismo de sua música já foram suficientes para que muitos saíssem dali com a impressão de tinham acabado de presenciar uma das grandes noites deste Sesc Jazz. Neste sábado (15/10), o sul-africano e seu quinteto voltam a se apresentar no Sesc Presidente Prudente, no interior paulista. 


Sesc Jazz: em noite emocionante, festival reúne as vozes de Alaíde Costa e Ilessi

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                                         As cantoras Alaíde Costa e Ilessi, no festival Sesc Jazz, em São Paulo 

É muito provável que parte da plateia que foi ao Sesc Pompeia, no domingo (9/10), estivesse ali somente para rever a grande Alaíde Costa. Essa cantora e compositora carioca, que estreou profissionalmente em meados da década de 1950, é considerada uma precursora da bossa nova graças ao seu suave estilo vocal e à sofisticação de seu repertório. Ver Alaíde cantar, aos 86 anos, é um privilégio, uma experiência emocionante.

Daí a surpresa para aqueles que ainda não conheciam o carisma e a força vocal de outra cantora carioca, que dividiu o palco com Alaíde, nessa noite inesquecível do festival Sesc Jazz. Também compositora, Ilessi é uma intérprete sensacional que, ironicamente, ainda é pouco conhecida em São Paulo, apesar de cantar profissionalmente há mais de duas décadas. Ela tem uma daquelas vozes negras, expressivas e poderosas, que não saem mais de nossa memória depois de ouvidas pela primeira vez.

O título desse show, “Atlântico Negro”, é revelador. Acompanhada por ótimos músicos da Bahia, do Rio e de São Paulo, com direção musical do pianista Marcelo Galter, Ilessi reuniu um repertório assinado por grandes compositores negros, como Milton Nascimento, Tânia Maria, Filó Machado e Djavan, além de composições de sua autoria.

Não é difícil perceber influências de Milton e de Elis Regina, no canto de Ilessi. Em alguns momentos do show, ela fecha os olhos. Parece mergulhar profundamente na música ou quem sabe busca se conectar com a energia de seus ancestrais. Em outros instantes, sua expressão se torna mais dura, como se personificasse a indignação e a dor de seus antepassados.

Se você ainda não ouviu Ilessi, procure seus discos ou assista seus vídeos, até a próxima oportunidade de ouvi-la num palco. Em um país injusto e preconceituoso como o nosso, uma pérola negra de alto quilate, como essa grande artista brasileira, precisa ser garimpada.



Sesc Jazz: 4.ª edição do festival amplia espaço para mulheres e música negra

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                                               A cantora e dançarina Dobet Gnahoré / Foto: Jean Goun - Divulgação

O mais extenso e diversificado dos festivais brasileiros de jazz e música instrumental está de volta, com destaque para vertentes da música negra que a diáspora africana semeou pelas Américas. A quarta edição do Sesc Jazz vai ser realizada de 5 a 23/10, em sete unidades do Sesc São Paulo: Pompeia (na capital), Guarulhos, Jundiaí, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto e São José dos Campos. 

As três semanas de programação oferecem 20 atrações internacionais e nacionais. A noite de estreia, no Sesc Pompeia, ficará por conta da Exploding Star Orchestra, de Chicago (EUA). Liderada pelo cornetista e compositor Rob Mazurek, essa formação instrumental reúne músicos norte-americanos e brasileiros, que produzem um jazz eletrônico e funkeado, com incursões pelo experimentalismo.

O continente africano está muito bem representado no elenco desta edição. De ascendência zulu, o pianista e compositor sul-africano Nduduzo Makhathini também é educador. Seus álbuns mais recentes, “Modes of Communication Letters From the Underworlds” (2020) e “In the Spirit of Ntu” (2022) foram lançados pelo cultuado selo Blue Note. No quinteto de Makhathini chama atenção o baterista nova-iorquino Nasheet Waits, um dos craques desse instrumento no jazz atual.

Congolês radicado na França, o pianista e compositor Ray Lema já se apresentou diversas vezes no Brasil desde a década de 1990. O ecletismo de sua obra musical costuma deixá-lo em uma situação delicada, quando alguém lhe pede que identifique sua música. “Na verdade, quando componho, é acima de tudo uma questão de amor: me apaixono por roqueiros, por reggaeros, por um baterista tradicional. Sempre fico constrangido com esse negócio de classificar minha música”, admite.

O fato de a cantora, percussionista e dançarina Dobet Gnahoré já ter sido comparada a grandes astros da música africana, como a cantora Miriam Makeba ou o trompetista Hugh Masekela, dá uma dimensão de seu talento. Nascida na Costa do Marfim, Dobet se mudou para a França, em 1999. Adepta do panafricanismo, ela canta em diversas línguas faladas no continente africano, como o bété (Costa do Marfim), o fon (Benin), o suaíli (Moçambique, Tanzânia e Quênia) e o wolof (Senegal e Mauritânia).

                                    O quarteto da flautista Nicole Mitchell (no centro) / Foto: Divulgação

Aliás, as mulheres, tanto instrumentistas como cantoras, ganharam mais espaço nesta edição do Sesc Jazz – iniciativa que merece aplausos. Também ligada à cena do jazz experimental de Chicago, a flautista e compositora Nicole Mitchell lidera o Black Earth Sway, quarteto feminino que reúne a tecladista Alexis Lombre, a baterista JoVia Armstrong e a percussionista e atriz Coco Elysses, que toca diddley bow (primitivo instrumento com uma corda, que antecedeu a guitarra).

Do continente europeu virão duas originais pianistas, compositoras e arranjadoras. A francesa Macha Gharibian, que também é cantora, mistura em suas composições influências da música pop e de canções do folclore da Armênia, o país de seus antepassados. A dinamarquesa Kathrine Windfeld combina energia e lirismo em seu jazz. Vai se apresentar aqui em dois formatos diferentes: com a mineira Big Band do Clube, no Pompeia e em Jundiaí; já em Ribeirão Preto, ela toca com seu quarteto.

Revelação da cena alternativa do jazz em Londres, o coletivo Kokoroko é liderado pela trompetista e vocalista Sheila Maurice-Grey. Depois de animar muitas plateias em clubes e festivais por cerca de quatro anos, essa banda britânica lançou em agosto seu primeiro álbum. “Could We Be More” mistura influências africanas e caribenhas, em gêneros musicais como o afrobeat, o highlife, o funk e a soul music.

Dois paulistas que vivem na Europa também estão na programação. A baterista, compositora e cantora Mariá Portugal (ex-integrante da banda Quartabê), que se mudou para a Alemanha dois anos atrás, mostra o repertório de seu álbum “Erosão”, lançado em 2021. Suas canções servem de ponto de partida para improvisos com instrumentos acústicos, que depois são manipulados com recursos eletrônicos.

Radicado na Escócia desde 2014, o guitarrista, cantor e compositor André Christovam tornou-se uma referência no universo do blues com sotaque brasileiro, ainda na década de 1990. Foi também um dos artistas responsáveis, em nosso país, por incentivar uma onda de interesse por essa tradicional raiz do jazz e da música negra norte-americana. Acompanhado por Albino Infantozzi (bateria) e Fábio Zaganim (baixo elétrico), ele promete uma retrospectiva de sua obra musical.

                                                        A cantora peruana Susana Baca / Foto: Divulgação

Nossos “hermanos” latino-americanos também estão representados no elenco deste Sesc Jazz. Pesquisadora da herança artística afro-latina e ex-ministra da cultura de seu país, a cantora Susana Baca é uma das grandes vozes negras deste continente. Em patamar de importância equivalente, a carioca Alaíde Costa vai dividir o palco com outra grande cantora que é sua conterrânea: mais jovem e com uma carreira musical de duas décadas, Ilessi ainda não desfruta do reconhecimento que merece.

Outros shows e projetos especiais são dedicados à música popular brasileira, como a comemoração dos 35 anos de lançamento do álbum “Quarteto Negro” (de 1987), que será reconstituído por três dos músicos participantes da gravação original: a cantora Zezé Motta, o percussionista Djalma Correa e o baixista Jorge Degas; o grande clarinetista Paulo Moura (1932-2010) será substituído por Ivan Sacerdote.

Já o tecladista e compositor Lelo Nazário, pioneiro na introdução de elementos de vanguarda na música instrumental brasileira, festeja seus 40 anos de carreira relendo algumas de suas composições mais significativas, ao lado de antigos parceiros em sua trajetória, como Teco Cardoso (sax e flautas), Nenê (bateria), Zeca Assumpção e Rodolfo Stroeter (baixo acústico e elétrico).

Dois veteranos músicos e compositores brasileiros vão receber homenagens. O show “Moderno e Eterno” é um tributo ao legado do pianista e original chorão paulista Laércio de Freitas, hoje com 81 anos. Dono de uma obra musical admirada internacionalmente, o percussionista catarinense Airto Moreira (com a mesma idade de Laércio) terá seu álbum “Fingers” executado na íntegra, com participação especial do violonista Filó Machado.

A música brasileira também está no centro de dois criativos projetos. O encontro da cantora Juçara Marçal e do guitarrista Lello Bezerra, entre outros brasileiros, com os franceses Nicolas Pointard (bateria) e Christophe Rocher (clarinete), do quarteto de câmara Nautilus Ensemble, foi batizado de Abajur. Já o projeto Tradição Improvisada reúne Thomas Rohrer (rabeca e sopros), Kiko Dinucci (guitarra) e Panda Gianfratti (percussão) com a cantora Dona Benedita, em homenagem a Nelson da Rabeca (1941-2022), mestre da cultura popular de Alagoas.

Finalmente, duas orquestras da Bahia oferecem às plateias do Sesc Jazz a oportunidade de mergulhar, ao vivo, na riqueza da música afro-brasileira. Liderada pelo maestro Ubiratan Marques, que a criou em 2009, a Orquestra Afrosinfônica combina sonoridades afro-brasileiras com a linguagem da música de concerto – daí o conceito de “afrossinfônico”, cunhado pelo próprio regente. Sua formação inclui instrumentos de sopro, metais, percussão e quatro vocalistas.

Foi o maestro, multi-instrumentista, compositor e arranjador Letieres Leite (morto precocemente em 2021), que fundou a Orkestra Rumpilezz, em Salvador, em 2006. O nome dessa big band afro-brasileira já revela suas origens e principal influência: os nomes do três tambores nos rituais do candomblé (rum, rumpi e lê) se fundem com os dois “zês“ da palavra jazz. Em seus concertos no festival, a Rumpilezz exibe o repertório de seu álbum “Moacir de Todos os Santos”, dedicado à obra do grande maestro e compositor pernambucano Moacir Santos (1926-2006).

Confira a programação completa do festival Sesc Jazz e compre seus ingressos no site do Sesc SP: https://sescjazz.sescsp.org.br/programacao/

Bourbon Street Fest: uma tarde com a alegria da música de New Orleans

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                                           O saxofonista Donald Harrison se diverte com o baixista Nori Naraoka 


Três anos atrás, o Bourbon Street Fest enfrentou um momento difícil durante sua última edição antes da pandemia. Naquela tarde de setembro de 2019, no Parque Ibirapuera (em São Paulo), a tristeza estampada nos rostos da equipe de produção era evidente. Bonerama e Dwayne Dopsie & Zydeco Hellraisers – duas das bandas mais populares da eclética cena musical da cidade de New Orleans, que norteia o elenco desse evento desde sua primeira edição – tocaram embaixo de chuva para uma pequena plateia.

Anteontem (25/9), no encerramento da 18.ª edição desse festival paulistano, agora no simpático Parque Burle Marx, o tempo colaborou para uma agradável tarde de domingo, dedicada a diversos gêneros da música negra cultivada em New Orleans. Revelação promissora, o carismático cantor e tecladista Kevin Gullage, de 23 anos, comprovou que são merecidos os elogios que já conquistou, tanto nos meios musicais de sua cidade natal como no televisivo concurso “American Idol”.

À frente da afiada banda The Blues Groovers, que inclui o baixo de cinco cordas de Tony Gullage, seu pai, Kevin deliciou a plateia com releituras de clássicos do rhythm’n’blues, como “Thrill Is Gone” (item essencial do repertório do “rei do blues”, B.B. King) e a lendária “The House of the Rising Sun” (canção que, depois de ser gravada por Bob Dylan e Joan Baez, tornou-se um megassucesso na versão da banda britânica The Animals). Tudo indica que esse garoto tem um futuro musical brilhante à sua frente.

Já conhecido entre a plateia paulista, o saxofonista e compositor Donald Harrison surpreendeu os que esperavam ouvir jazz. Desta vez ele preferiu tocar temas mais dançantes, na linha do soul e do funk ao estilo de New Orleans, mostrando que também se vira muito bem como cantor. Depois de fazer uma declaração de amor ao Brasil, ele revelou outra surpresa: um samba que tinha composto na noite anterior.

Claro que Harrison não deixaria de fora do show sua faceta musical que o liga a uma das tradições culturais mais originais de New Orleans. Para acompanhá-lo em “Big Chief” e “Iko Iko” (canções que remetem ao Mardi Gras, o carnaval de sua cidade-natal), ele trouxe ao palco Dwayne Hitches e Edwin Harrison – ambos vestidos com multicoloridas fantasias de indígenas típicas do Mardi Gras. E para quem não notou, a percussão da banda estava a cargo de ninguém menos que o veterano Bill Summers, ex-integrante das bandas Los Hombres Calientes e Headhunters. 

Como já fez em outras edições do Bourbon Street Fest, a banda de rua Orleans Street Jazz Band circulou pela plateia do parque, que dançou e se divertiu com seus clássicos do dixieland – especialmente com uma versão do funk “Descobridor dos Sete Mares” (de Michel e Gilson Mendonça), grande sucesso de Tim Maia.

Outra boa surpresa dessa tarde foi a participação da Favela Brass, banda de metais formada por crianças e adolescentes de comunidades do Rio de Janeiro. Criador desse projeto inspirador, o tubista britânico Tom Ashe utiliza a música com sotaque de New Orleans para ampliar os horizontes desses jovens. “Eles jamais vão se esquecer deste dia”, agradeceu, eufórico, o líder. Emocionada, a plateia não queria deixar a banda sair do palco. Além da diversão que proporciona, um festival de música também tem o poder de transformar vidas.


Bourbon Street Fest: clube paulistano celebra a diversidade musical de New Orleans

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                                                                       O trombonista Corey Henry, líder da banda Tremé Funket  

Após o longo hiato imposto pelo período mais dramático da pandemia, um dos principais e mais simpáticos festivais brasileiros de música reativa o formato que o consagrou. O Bourbon Street Fest estreia na próxima semana sua 18.ª edição, com três shows por noite, de quarta (21/9) a domingo (25/9), no clube homônimo paulistano. Já nas tardes de sábado e domingo (24 e 25/9), essa festa musical se estende até o Parque Burle Marx, a partir das 13h, com entrada franca.

Quem já teve a oportunidade de acompanhar alguma das edições anteriores desse festival sabe o quanto ele é original. Edgard Radesca e Herbert Lucas, produtores do Bourbon Street Music Club, costumam escolher as principais atrações desse evento na eclética cena musical de New Orleans, uma das cidades mais musicais do mundo. Localizada na região da Louisiana, no sul dos Estados Unidos, essa cidade realiza anualmente o New Orleans Jazz & Heritage Festival – um dos maiores festivais de jazz e música negra deste planeta.

Três dos artistas do elenco desta edição do Bourbon Street Fest já são conhecidos pela plateia de São Paulo: o conceituado saxofonista e compositor de jazz moderno Donald Harrison; o trompetista e cantor Leroy Jones, que cultiva o jazz tradicional ao estilo de New Orleans; e o acordeonista e cantor Dwayne Dopsie – expoente do zydeco, tradicional e dançante gênero musical da Louisiana.

Outras vertentes essenciais da música produzida em New Orleans estarão bem representadas por talentosos artistas em ascensão na cena musical dessa cidade: o neo-soul e o R&B da cantora e violonista Bobbi Rae, que terá a companhia do guitarrista brasileiro Igor Prado e sua banda Just Groove; o funk do trombonista Corey Henry, líder da energética banda Treme Funket; e o jovem tecladista e cantor Kevin Gullage, revelação do soul e do blues, com sua banda The Blues Groovers.

Conheça a programação completa do 18.º Bourbon Street Fest neste link:
fest.bourbonstreet.com.br/

Zé Miguel Wisnik: compositor aborda horror que assombra o país, em 'Vão', seu novo álbum

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                                                   Show de Zé Miguel Wisnik, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo 


Disco novo de Zé Miguel Wisnik é sempre boa notícia para aqueles, como eu, que acompanham a trajetória desse original pianista, cantor e compositor, além de conceituado escritor e professor de Literatura. Personalíssimas, suas canções combinam referências eruditas e populares. E costumam ganhar uma camada extra de sensibilidade, quando são interpretadas por ele mesmo, ao vivo.

Quem não conseguiu ingressos para os primeiros shows de lançamento do disco “Vão”, no último final de semana (no Sesc 24 de Maio, em São Paulo), já pode ao menos recorrer às plataformas de streaming para ter acesso às 11 canções desse álbum – 10 delas são inéditas. Outra possibilidade é a edição em CD, que acaba de ser lançada pelo selo Circus.

Se você é paulistano e não se emocionar ao ouvir “O Jequitibá”, a bela canção que abre o álbum, sugiro que procure um terapeuta. A experiência é mais completa ao escutá-la por meio do videoclipe já disponível no YouTube. Dirigido pelo coletivo Bijari, ele inclui centenas de imagens paulistanas em preto-e-branco, captadas pelo fotógrafo Bob Wolfenson. Neste link:




O letrista Carlos Rennó, parceiro de Wisnik, escreveu os versos dessa canção depois de ler uma reportagem sobre um centenário jequitibá, que vive no Parque Trianon, na região da avenida Paulista, em São Paulo. Ícones dessa agitada área da cidade, como o Masp, o Conjunto Nacional ou a Passeata Gay, sem falar nas inúmeras manifestações políticas já realizadas ali, misturam-se na letra de “O Jequitibá”, com certa nostalgia. Pela reação da plateia no show de lançamento, essa canção parece já ter nascido emblemática.

Parceira frequente de Wisnik desde seus primeiros shows, Ná Ozzetti canta com ele na gravação dessa canção e está presente no videoclipe. Já no show de lançamento, o compositor e pianista dividiu os vocais com a filha Marina Wisnik (sua parceira também nas canções “Roma” e “Avesso Vão”) e Celso Sim, ex-integrante do Teatro Oficina.

Ambos se destacam como cantores, no disco e no show, mas a experiência teatral de Celso roubou a cena em um dos momentos mais brilhantes da apresentação do último sábado: sua performance em “Eu Disse Sim” (outra parceria de Wisnik com Rennó), canção inspirada pelo monólogo de Molly Bloom, de “Ulisses”, o romance vanguardista de James Joyce.

Emocionante também é a interpretação de Celso para “Terra Estrangeira”, o fado que Wisnik compôs para o filme homônimo de Walter Salles e Daniela Thomas – já incluído em seu álbum “São Paulo Rio” (2000), na interpretação de Jussara Silveira. Agora apoiada na voz de Celso (cujo timbre lembra o de Caetano Veloso, em algumas passagens), a regravação destaca um inspirado arranjo do violonista João Camarero, que cita a “Bachiana Brasileira nº 5”, de Villa-Lobos.

Outra grande canção do novo álbum de Wisnik é “Chorou e Riu”, samba de sua autoria, influenciado por um clássico da música brasileira. “Meditação” (de Tom Jobim e Newton Mendonça), para quem não se lembra, inclui alguns dos versos mais tristes da era da bossa nova: “Quem acreditou /No amor, no sorriso, na flor /Então sonhou, sonhou /E perdeu a paz /O amor, o sorriso e a flor /Se transformam depressa demais /Quem, no coração” /Abrigou a tristeza de ver /Tudo isto se perder”.

Os versos de Wisnik em "Chorou e Riu" são melancólicos, ainda mais tristes. “Quem acreditou /Ao ver o encanto se quebrar /O coração despedaçar /E despencar /No vão do horror /Sem nem lembrar /O que sonhou /E não sonhou /Ao ver o inferno se rasgar /Pra dar o monstro a se mostrar /E confirmar que estava em nós /Nos nossos nós”. É preciso dizer que essa canção se refere ao sentimento de milhões de brasileiros, que viram, nos últimos anos, seu país ser transformado em pária mundial e ainda correr o risco de retroceder aos tempos da ditadura militar?

Outra ferida atual é cutucada em “Estranha Religião” (parceria do compositor com seu filho, o professor de Arquitetura e crítico de arte Guilherme Wisnik), canção que disseca a mercantilização da vida contemporânea. “Desejo louco de ter e deter /Sem saber pousar /Gostar demais de gastar /E mais de gastar /Do que ter do que gostar”, diz a letra. O arranjo, em ritmo dançante, com teclado, guitarras, batidas eletrônicas e percussão, termina com risos e os vocais improvisados de Zahy Guajajara, em Ze’eng eté, língua do povo Tentehar-Guajajara.

Já que textos longos, nos domínios da internet, hoje são considerados desrespeitosos com os leitores, vou parar por aqui. Mas não sem registrar que “Vão” inclui também saborosas canções de Wisnik com Luiz Tatit, Paulo Neves e Arnaldo Antunes. E ainda destacar a escolha dos ótimos instrumentistas que acompanham o pianista no show: Alê Ribeiro (clarinete), Swami Jr. (baixo), Alexandre Fontanetti (guitarra) e Sérgio Reze (bateria).

Tomara que a canção “Chorou e Riu” seja um mantra para nos acompanhar durante a superação destes angustiantes tempos de insensatez. E que "os imbecis e os imbecis dos imbecis" que hoje desgovernam este país sejam despachados em muito breve para a lata do lixo da História, de onde nunca deveriam ter saído.


Eliete Negreiros: cantora e filósofa reflete sobre suas paixões na música brasileira

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                                                                 Detalhe da capa do livro de Eliete Negreiros  

O efeito tridimensional criado por Werner Schulz para a capa de “Amor à Música” (lançamento Sesc Edições), o novo livro de Eliete Eça Negreiros, é um engenhoso convite para que o leitor penetre no universo das paixões musicais da ensaísta e doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Nos anos 1980, quando ainda era cantora, Eliete participou ativamente da chamada vanguarda paulista, ao lado de Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e dos grupos Rumo e Premeditando o Breque, entre outros.

Esta compilação de textos escritos para as revistas “Caros Amigos” e “piauí”, na década passada, reúne breves ensaios e perfis de expoentes da música popular brasileira, de Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha a Dorival Caymmi e Dominguinhos, passando por outros grandes nomes do samba, da Bossa Nova, da Tropicália e da canção brasileira.

No ensaio “Falar de Música”, Eliete conta uma reveladora experiência pessoal, que a estimulou a escrever sobre compositores e intérpretes que aprecia. Estava se apresentando em cidades do interior paulista, com seu show “Canção brasileira, a nossa bela alma”, quando uma menina emocionada cantarolou alguns versos de “Feitio de Oração” (de Noel Rosa e Vadico) e lhe perguntou se aquela linda canção era de sua autoria.

Surpresa com a ingênua ignorância da garota, Eliete refletiu sobre o que acabara de vivenciar. “As pessoas que estão me ouvindo não fazem ideia do que significam essas canções que estou cantando. Sentem, mas desconhecem as canções, os compositores, toda essa parte tão vital, bela e gostosa de nossa cultura. Não temos memória musical e um mundo pode se perder no esquecimento”, lamentou.

Com esse relato, a ensaísta traça uma alegoria do evidente descaso que existe hoje, em diversas esferas do país, na relação com a nossa cultura. Ao tratar a música popular brasileira com todo o carinho e a sensibilidade que ela merece, Eliete Negreiros faz a sua parte, brilhantemente, nas páginas deste livro.




eFestival 2022: competição musical exibiu seus vencedores em São Paulo

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                                       A cantora e compositora Aline Maly está entre os vencedores do eFestival  

O frio e a garoa de ontem (7/8), em São Paulo, certamente desestimularam parte da plateia que planejava ir ao Parque do Ibirapuera para os shows de encerramento do eFestival 2022. Essa competição, que tem sido realizada online, incentiva e apoia revelações da música brasileira há duas décadas.

Mesmo assim, aqueles que acompanharam qualquer um dos dois eventos, ambos ao ar livre, tiveram motivos de sobra para se divertir e aplaudir. Primeiro, o show do eFestival Canção, com uma homenagem à cantora e compositora Rita Lee por seu filho Beto Lee. Depois, o concerto do eFestival Instrumental, com o acordeonista Renato Borghetti, a Jazz Sinfônica Brasil e o guitarrista Andreas Kisser.

O show da manhã já começou com as participações dos vencedores do eFestival Canção: a cantora e compositora Aline Maly (na categoria Público Geral), a cantora e compositora Renáthaly (categoria Profissionais da Saúde) e a banda Próximos Capítulos (categoria Corretores de Seguros).

Da mesma forma, o concerto noturno do eFestival Instrumental foi aberto com as apresentações do pianista e compositor André Repizo, vencedor da categoria Público Geral, e do guitarrista e compositor Stefano Rossi, que venceu a categoria Profissionais da Saúde.

O eFestival 2022 também programou um show em Porto Alegre (RS), no dia 11/8, quinta-feira, às 20h, com entrada gratuita, no Auditório Araújo Vianna. O elenco dessa noite inclui o pianista André Repizo, a Orquestra da ULBRA, o acordeonista Renato Borghetti e o guitarrista Andreas Kisser (ex-Sepultura).


Amazonas Green Jazz: concerto de Randy Brecker foi o clímax do festival de Manaus

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                         O trompetista Randy Brecker e o saxofonista Rodrigo Ursaia, com a Amazonas Band 


Pelas ruas do centro de Manaus já se viam poucas máscaras nos rostos das pessoas que circulavam pela cidade, nos últimos dias de julho de 2022. No entanto, outras marcas do longo e difícil período que enfrentamos durante a pandemia ainda estavam presentes no palco e nos bastidores do Amazonas Green Jazz Festival, evento que ofereceu durante nove dias (de 22 a 30/7) dezenas de concertos, palestras e workshops musicais.

Nos corredores e na plateia do centenário Teatro Amazonas, assim como nas dependências do Juma Ópera (hotel que hospedou os músicos e convidados desse festival), sensações se misturavam: a insegurança quanto a poder voltar a abraçar amigos e conhecidos; a incerteza em relação ao uso da máscara numa fase em que a pandemia já parece menos preocupante (viva a vacina!); a animação por poder desfrutar depois de tanto tempo o prazer de ouvir música ao vivo, em um dos mais belos teatros do mundo.

Após os dois anos de distanciamento social imposto pela pandemia, as pessoas estavam ali reativando as memórias de quando podiam participar livremente de um dos rituais mais prazerosos para quem gosta de música, em especial de jazz e música instrumental. Nada melhor do que um festival para conhecer novos músicos do gênero, presenciar “jams” e “canjas” em bares da cidade, rever amigos e colegas, conhecer e degustar a culinária local.

Menções aos efeitos da pandemia foram ouvidas durante vários shows, no Teatro Amazonas. No sábado (30/7), o talentoso pianista e compositor norte-americano Aaron Parks agradeceu aos produtores do festival pela insistência em trazê-lo a Manaus neste ano, lembrando que deveria ter tocado na edição de 2020, mas ela foi cancelada dias antes da estreia. Ao abrir o concerto com sua composição “Rising Mind” (Mente em Ascensão), Parks parecia fazer alusão às lições que aprendeu durante os meses de distanciamento social.


                                                                        A cantora Leila Pinheiro

Última atração do festival, a cantora Leila Pinheiro foi mais explícita. Depois de interpretar alguns clássicos da bossa nova, muito bem acompanhada pela Amazonas Band, ela sentou-se a um teclado. Antes de cantar, comentou que, graças às dezenas de “lives” que realizou durante o período mais duro da pandemia, conseguiu manter seu equilíbrio mental. Então, visivelmente emocionada, interpretou “Trem-Bala”, de Ana Vilela. “Segura teu filho no colo / Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui / Que a vida é trem-bala, parceiro / E a gente é só passageiro prestes a partir”, diz a letra dessa pungente canção. Na plateia, outras pessoas também se emocionaram.

Já o trompetista Daniel D’Alcântara escolheu um contagiante tema jazzístico para abrir a apresentação de seu quinteto, na sexta (29/7). Quem acompanha a carreira desse conceituado músico e educador paulista sabe que “Canção Para Tempos Melhores” (composição instrumental do pianista Gustavo Bugni, que já integrou esse quinteto) emprestou seu título a um álbum que D’Alcântara lançou em 2015. Se, naquela época, o tom otimista desse tema já o fazia soar como um lenitivo musical, hoje ele ressoa mais poderoso e necessário ainda. Para isso também conta o talento dos craques que completam esse quinteto: Vitor Alcântara (sax tenor), Edson Sant’anna (piano elétrico), Cuca Teixeira (bateria) e Bruno Migotto (baixo acústico).

Aliás, a música instrumental brasileira esteve muito bem representada nesta edição. O pianista Gilson Peranzzetta e o saxofonista Mauro Senise, que se apresentam em duo há três décadas, tocaram delicadas releituras de temas cinematográficos e de clássicos da canção brasileira. Já o quarteto do guitarrista Bruno Mangueira exibiu um repertório saboroso e pouco usual, que reuniu composições de Sivuca (“Um Tom pra Jobim”), Severino Araújo (“Espinha de Bacalhau”) e Lupicínio Rodrigues (“Felicidade”), além de composições próprias.

Parceria muito feliz do baixista Paulo Paulelli com o baterista Edu Ribeiro e o pianista Fabio Torres, o Trio Corrente deliciou a plateia com seu samba-jazz descontraído e tiradas bem-humoradas. Não menos aplaudido, o trio do grande pianista Amilton Godoy (com o mesmo Ribeiro à bateria e Sidiel Vieira no baixo) também provocou sorrisos ao transformar em sambas algumas melodias clássicas de compositores eruditos. 


                                                                                               O baterista Jeff "Tain" Watts

Além do lirismo e das belas melodias do já citado Aaron Parks, três outros jazzistas norte-americanos exibiram trabalhos bem diversos durante os últimos dias desse festival. Um dos bateristas mais criativos das últimas décadas, o energético Jeff “Tain” Watts abriu seu show com uma saborosa releitura de “Brilliant Corners” (do genial Thelonious Monk). E surpreendeu seus admiradores ao trazer em seu grupo o suíço Grégoire Maret – craque da gaita, que soaria bem melhor com o grupo de Parks .

Conceituado trombonista, John Fedchock demonstrou ao lado de seu sexteto (com destaque para o trompete de Scott Wendholt e o sax tenor de Troy Roberts) porque também é reconhecido como um excelente arranjador. Sua releitura da clássica balada “Nature Boy” (de Eden Ahbez) foi um dos grandes momentos de sua apresentação.

No entanto, para aqueles como eu, que já acompanhavam a cena do jazz nos anos 1970 e 1980, o grande destaque desta edição do festival foi mesmo o encontro do trompetista Randy Brecker com a Amazonas Band, regida pelo maestro Rui Carvalho, incluindo participações dos saxofonistas Rodrigo Ursaia e Felipe Salles. Os sorrisos do norte-americano ao ouvir os arranjos de “Some Skunk Funk” e outras de suas intrincadas composições, que se confundem com a era da chamada jazz-fusion, sinalizaram sua aprovação. Sem dúvida, essa big band amazonense já atingiu um padrão de qualidade internacional.

Tive o privilégio de cobrir para a “Folha de S. Paulo” a primeira edição do Festival Amazonas Jazz, em 2006, no mesmo Teatro Amazonas. Depois também fui a Manaus para acompanhar as edições de 2007 e 2011. Portanto, ao reencontrar agora esse evento rebatizado como Amazonas Green Jazz Festival, me sinto seguro para afirmar que a essência desse evento continua a mesma. Até porque o maestro Rui Carvalho, que idealizou e produz esse festival desde a primeira edição, continua a comandá-lo.


                                            Rui Carvalho rege a Amazonas Band, no concerto de Randy Brecker

É natural que as afinidades musicais de um produtor ou de um diretor artístico acabem por se refletir no perfil do festival que organizam. Além de sua paixão pelas big bands, Carvalho já era educador havia 14 anos quando trocou São Paulo por Manaus, em 2001, para reger a Amazonas Band. Não à toa, o Festival Amazonas Jazz já adotava desde suas primeiras edições um viés educacional calcado em workshops, oficinas e palestras, além da programação de concertos,

Diferentemente de festivais mais ecléticos, que se abrem para outros gêneros musicais como o pop ou a black music, o Amazonas Green Jazz mantém um perfil mais focado no jazz e na música instrumental brasileira. Ao montar o elenco de cada edição, Carvalho reúne músicos consagrados e novos talentos desse gênero, mas também prioriza alguns solistas, tanto internacionais como brasileiros, que possam dividir seu conhecimento técnico com os estudantes de música e instrumentistas locais.

Foi o caso, neste ano, de conceituados músicos como o pianista porto-riquenho Edsel Gomez, os trompetistas Ed Sarath, Daniel Barry e Daniel D’Alcântara, o trombonista John Fedchock, os saxofonistas Rodrigo Ursaia, Felipe Salles e Marcelo Coelho, o guitarrista Bruno Mangueira ou os bateristas Celso de Almeida e Maurício Zottarelli, que ministraram masterclasses e workshops sobre seus instrumentos ou vertentes musicais que cultivam, além de participarem da programação de concertos e shows, no Teatro Amazonas.

Tomara que o Amazonas Green Jazz Festival volte a ser realizado com regularidade, nos próximos anos. E que sua excelente edição de 2022 seja um sinal de que a cena dos festivais de jazz e música instrumental tornará a crescer em nosso país. 



Amazonas Green Jazz Festival: um espaço para mergulhar na música instrumental

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Um dos grandes festivais de jazz e música instrumental de nosso país, que mais enfatizam a educação musical e a formação de público, o Amazonas Green Jazz Festival criou para a edição deste ano o projeto Casa do Jazz. Esse espaço cultural estará aberto ao público da cidade de Manaus até este sábado (30/7), das 9h às 21h.

Com acesso gratuito, a Casa do Jazz fica ao lado do lendário Teatro Amazonas, no centro da capital amazonense. Ao entrar na primeira sala da exposição, o visitante já é apresentado a alguns dos instrumentos mais característicos desse gênero musical, como o saxofone, o trompete ou o trombone. Na sala Faça o Seu Som, os mais animados podem até se relacionar com alguns instrumentos.

A Casa do Jazz também oferece um espaço em que se pode circular pela réplica de um típico clube de jazz de Nova York. Os visitantes têm ainda a oportunidade de ampliar seus conhecimentos musicais, em uma sala dedicada às preciosidades sonoras de dois dos mais cultuados músicos do jazz moderno: o trompetista Miles Davis e o saxofonista John Coltrane, ambos também compositores.

Outro jazzista homenageado é o pianista e compositor Chick Corea, cuja música criativa serviu de inspiração para uma instalação de artes plásticas. “Queremos que os visitantes se sintam imersos no mundo do jazz”, diz Inês Daou, produtora do Amazonas Green Jazz Festival, que coordenou esse projeto.  


Amazonas Green Jazz: festival de Manaus volta rebatizado ao seu palco

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                  O centenário Teatro Amazonas, palco do Amazonas Green Jazz Festival / Foto: Divulgação

Após um hiato de dois anos provocado pela pandemia, o Festival Amazonas Jazz – um dos mais conceituados eventos do gênero em nosso país – retorna ao palco do centenário Teatro Amazonas, em Manaus, de 22 a 30 deste mês de julho. Rebatizado de Amazonas Green Jazz Festival, o evento entra em nova fase, mas mantém sua essência e a direção artística do maestro Rui Carvalho, que o coordena desde sua primeira edição, em 2006.

Segundo Carvalho, o Amazonas Green Jazz tem dois eixos fundamentais. “Além dos concertos realizados no Teatro Amazonas, que buscam a formação de uma plateia para esse gênero musical em Manaus, o festival também contribui para a sedimentação do conhecimento através de uma enorme e variada gama de workshops e palestras totalmente gratuitos e abertos a todos”, explica o maestro.

Os pianistas Aaron Parks, Edsel Gomez e Amilton Godoy, os trompetistas Randy Brecker, Keyon Harrold e Ed Sarath, o trombonista John Fedchock, o baterista Jeff “Tain” Watts, a cantora Leila Pinheiro, o Trio Corrente e o duo Gilson Peranzzetta e Mauro Senise se destacam no elenco desta edição. A programação também inclui três concertos da Amazonas Band, big band regida pelo maestro Rui Carvalho, com diferentes repertórios.

Num total de 24 eventos didáticos, os workshops e palestras oferecidos gratuitamente pelo festival são dirigidos a músicos profissionais, entusiastas e estudantes de música, dança e outras áreas culturais. Na abertura dessa extensa programação, dia 22/7, o pianista e compositor Edsel Gomez ministra workshop sobre o Latin Jazz.

No dia seguinte, Mauricio Zottareli, baterista brasileiro radicado em Nova York, comanda um workshop sobre bateria e lança seu livro “AM Jazz Drumming”. O saxofonista e pesquisador Marcelo Coelho vai conduzir dois eventos: o workshop Rap e Jazz (em 23/7) e a palestra “Economia Criativa e Mercado Musical” (25/7). Já em 28/7, vou ministrar a palestra "A Explosão dos Festivais de Jazz", esboço do livro homônimo que estou escrevendo para a Sesc Edições.

Venda de ingressos para os concertos do festival e a programação completa de workshops e palestras você encontra no site oficial do festival:
www.amazonasgreenjazzfestival.com.br

 




 

Leila Maria: cantora recria pérolas de Djavan com sonoridades e ritmos africanos

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                                                                                A cantora carioca Leila Maria, no show "Ubuntu"
 

Não é comum se ver uma cantora tão talentosa e experiente, como Leila Maria, lançar seu disco mais criativo e elogiado, depois de quatro décadas de carreira em relativo “low profile”. Chega a ser irônico o fato de que, para desfrutar do reconhecimento que finalmente conseguiu entre o grande público, Leila precisou participar do controverso programa “The Voice+”, em 2021.

Nesse “concurso de talentos” produzido pela TV Globo, cantores mais jovens no papel de jurados tinham muito a aprender com os veteranos candidatos, cujas apresentações eram comentadas com platitudes e expressões de surpresa. Alguns jurados chegavam até a demonstrar um certo constrangimento, talvez por não terem uma noção prévia da alta qualidade de muitos concorrentes do programa, que hoje não encontram um lugar no viciado mercado musical.

O sorriso de Leila Maria, ao estrear o show “Ubuntu” – na gelada noite do último sábado (18/6), na Casa Natura Musical, em São Paulo – era contagiante e revelador. “É uma delícia cantar Djavan”, festejou a cantora carioca já no meio do espetáculo, irradiando alegria, consciente de que o sexto álbum de sua carreira é muito mais do que uma coleção de releituras de pérolas do popular compositor e cantor alagoano. É sua indiscutível obra-prima.

Graças à ideia inicial de Ana Basbaum (diretora artística da gravadora Biscoito Fino) e ao trabalho do produtor e percussionista Guilherme Kastrup, a grande sacada conceitual desse álbum foi ter buscado e enfatizado o que há de africano, no cancioneiro de Djavan.

Com sua referência à abominável política separatista do apartheid, na África do Sul, a releitura da canção “Soweto” é um dançante e evidente ponto de partida. O arranjo destaca a contagiante guitarra de Zola Star, congolês-angolano radicado no Rio, que acompanha Leila durante quase todo o show, no quarteto que inclui Rodrigo Braga (teclados), François Moleka (baixo) e o próprio produtor Guilherme Kastrup (percussão).

É surpreendente se ouvir uma canção tão conhecida de Djavan, como a romântica “Meu Bem Querer”, embalada por um sexteto vocal tipicamente africano, o Kuimba, formado por jovens angolanos que vivem no periférico bairro paulistano de Capão Redondo. Inusitado também é o arranjo que une os sambas “Aquele Um” e “Fato Consumado”, vestidos com guitarra e um naipe de metais de coloração africana.

Quem já apreciava os trabalhos de Leila mais ligados ao jazz, gênero que quase sempre a identificou como intérprete, não saiu decepcionado do show. Além de cantar as nove faixas do álbum “Ubuntu”, ela fez questão de incluir no roteiro algumas versões jazzísticas de “standards” da canção norte-americana, como “Night and Day” (Cole Porter) e “Summertime” (dos irmãos Gershwin). E ainda cantou a sinuosa “Night in Tunisia” (de Dizzy Gillespie e Frank Paparelli), uma preciosidade do bebop.

Se você vive em São Paulo e perdeu essa chance de ouvir Leila Maria e suas inventivas releituras de Djavan com ritmos e sonoridades africanas, fique de olho na programação de julho. A cantora tem planos de levar “Ubuntu” ao Sesc Pompeia, em data que deve ser anunciada em breve. Um show brilhante, com grandes chances de estar nas listas de melhores do ano.


Brasil Jazz Sinfônica: orquestra relê o 'Hino da Independência' usando ruídos

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                                    O naipe de trompetes da orquestra Brasil Jazz Sinfônica / Foto de divulgação
                                      

Não costumo me emocionar com hinos patrióticos e sei que essa relação distante não tem a ver somente com gosto musical. Cresci durante os anos do regime militar decretado em 1964 e me lembro bem o quanto me desagradava, na escola primária e durante os anos do ensino básico, ser obrigado a cantarolar, perfilado e com a mão direita no peito, o “Hino Nacional” ou o “Hino à Bandeira”.

Assim como outros símbolos cívicos, os hinos, bandeiras e o “patriotismo” oficial são utilizados pelas ditaduras para tirar proveito político do natural sentimento de identidade que um povo tem com seu país. Não foi diferente nos anos de chumbo que vivemos até o restabelecimento da democracia, em 1989, com o retorno das eleições diretas.

Por isso me surpreendi, ao ver durante a programação da TV Cultura o vídeo em que a Brasil Jazz Sinfônica relê com criatividade o “Hino da Independência”, para festejar a restauração do Museu do Ipiranga, no próximo 7 de Setembro.

No inventivo arranjo do maestro Ruriá Duprat, ruídos de martelos, pás, lixas, furadeiras, plainas elétricas e outras ferramentas utilizadas pelos trabalhadores que reformaram o museu paulista fundem-se aos sons dos instrumentos da orquestra.

Parabéns à TV Cultura, à Brasil Jazz Sinfônica, ao maestro e arranjador Ruriá Duprat e à equipe de Jarbas Agnelli, que assina a direção do vídeo. Tomara que essa emocionante peça audiovisual se torne símbolo de um novo tempo para este país, que precisa urgentemente ser reconstruído a partir das eleições de outubro. Ditadura nunca mais!

Assista ao vídeo da Brasil Jazz Sinfônica neste link: https://www.youtube.com/watch?v=MG_dHIHdz98


Homenagem a Aldir Blanc: João Bosco, Guinga e Banda Mantiqueira em encontro histórico

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                                                        João Bosco, Nailor Proveta e Guinga, no show dedicado a Aldir Blanc 
 

Quem teve a sorte de assistir a algum dos quatro shows dedicados ao grande letrista e escritor Aldir Blanc (1946-2020), com a Banda Mantiqueira, João Bosco e Guinga, neste final de semana, sabe que presenciou um encontro histórico. A última dessas disputadas apresentações, com ingressos já esgotados, será hoje, no teatro do Sesc 24 de Maio, em São Paulo, como parte da programação da Virada Cultural.

“Obrigado, nós somos brasileiros por causa de vocês”, agradeceu emocionado Nailor Proveta, clarinetista e diretor musical da Mantiqueira, falando também em nome dos fãs desses três gigantes da música popular brasileira, no show de sexta-feira (27/5).

É bem provável que a homenagem teria agradado ao irreverente Aldir. Em vez de discursos solenes, o bom humor prevaleceu em vários momentos, especialmente nos divertidos causos contados por seus parceiros. João Bosco relembrou que, no primeiro encontro oficial do então cirurgião-dentista Guinga com o letrista e ex-psiquiatra Aldir, este perguntou se iriam dividir um consultório ou iniciar uma parceria musical.

Guinga não deixou por menos. Bastante emocionado também, disse que não aceita a ideia da morte de Aldir, porque sua obra grandiosa ficará para sempre. E depois de afirmar que não gosta de ir a enterros, confessou que vai tentar fugir de seu próprio funeral.

Foram duas horas de muita emoção, risos e canções sublimes, como “Baião de Lacan”, “Chá de Panela” e “Catavento e Girassol” (parcerias de Aldir com Guinga), assim como “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, “Nação” e “Da África à Sapucaí” (parcerias de Aldir com João Bosco). Sem falar nos sensacionais arranjos da Mantiqueira – que está festejando seus 30 anos – para clássicos como “Incompatibilidade de Gênios” ou “Bala com Bala”.

Uma noite inesquecível. Viva Aldir, João Bosco, Guinga e a Banda Mantiqueira!






Pedro Gomes e Pipoquinha: Instrumental Sesc Brasil reúne craques do baixo

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                             Pedro Gomes e Michael Pipoquinha, em show do projeto Instrumental Sesc Brasil

Não é qualquer músico que teria a generosidade de convidar um colega (que poderia ser encarado como concorrente), para participar de seu show. Foi o que se viu ontem (10/5) na bela apresentação do baixista e compositor mineiro Pedro Gomes, que contou com a participação especial de outro jovem músico: o cearense Michael Pipoquinha, revelação na área da música instrumental, que tem colecionado elogios por onde toca seu baixo elétrico de seis cordas.

Um dos vencedores do Prêmio BDMG Instrumental 2021, Pedro veio acompanhado por um talentoso sexteto para sua estreia em São Paulo, em show da série Instrumental Sesc Brasil, no teatro do Sesc Consolação. São estes os seus atuais parceiros: Breno Mendonça (sax tenor e soprano), João Machala (trombone), Samy Erick (guitarra), Lucas de Moro (piano e teclado) e Paulo Fróis (bateria).

Num ato falho revelador, Pedro se referiu a algumas de suas composições instrumentais como “canções”, mas depois se corrigiu. No entanto, a evidente beleza das melodias de “Delicadeza” ou “Mosaico”, entre outros de seus temas autorais, certamente pode resultar em canções muito atraentes, se um dia ganharem versos escritos por um bom letrista.

“É incrível ver esse cara tocar”, elogiou Pedro, ao chamar Pipoquinha ao palco. Os olhares e sorrisos que os dois trocaram durante os improvisos confirmaram a admiração musical que um tem pelo outro. Se você não estava na plateia desse show, ontem, ainda pode assisti-lo no canal do Sesc no YouTube: youtube.com/instrumentalsescbrasil




 

Choraço: noite de maioria feminina trouxe Maria Alcina e choros atrevidos

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                         As cantoras Patricia Bastos, Rita Braga e Maria Alcina, em show do projeto Choraço  

Com bom humor e toques teatrais, o show “Se Me Deixam Chorar: A Era do Choro Atrevido” levou imagens raras ao palco do Sesc 24 de Maio, ontem (8/5), em São Paulo. Ao contrário do que ainda se costuma ver em shows, sejam de samba, de MPB, de rock ou de jazz, as mulheres, tanto cantoras, como instrumentistas, eram absoluta maioria no elenco musical dessa noite do projeto Choraço.

Rita Braga e suas convidadas especiais, Maria Alcina e Patrícia Bastos, cantaram saborosos choros, como “Yaô” (de Pixinguinha”), “Tico-Tico no Fubá” (Zequinha de Abreu), “Apanhei um Resfriado” (Leonel Azevedo e Sá Roris) e “Choro Inconsequente” (Raul Seixas), que provocaram sorrisos e ganharam apoio vocal da plateia.

Ao ver Maria Alcina entrar no palco, me veio a lembrança da incrível performance dessa corajosa cantora, em 1972, no Festival Internacional da Canção. No auge da ditadura militar, ela desafiou a censura e a repressão desencadeados pelo golpe de 1964, com uma dança provocativa e seu vozeirão (ainda poderoso 50 anos depois), ao interpretar “Fio Maravilha”, de Jorge Ben. E por isso foi perseguida e censurada. Qualquer semelhança com certos absurdos atuais, vale lembrar, não é mera coincidência. Salve a grande Maria Alcina!

Muito especial também foi a participação da pianista Heloísa Fernandes, que fez a plateia segurar o fôlego ao ouvir sua inventiva releitura do clássico “Chorinho Pra Ele”, do mestre Hermeto Pascoal. O elenco de convidadas trouxe ainda o quarteto das pioneiras Choronas, primeiro grupo feminino de choro, que já se aproxima de seus 30 anos de carreira.

Tomara que esse show sirva de lição para aqueles que ainda insistem em desmerecer os talentos das mulheres, tanto nos palcos como na vida. Com ou sem o apoio dos homens, elas estão conquistando, mais e mais, os espaços que sempre mereceram. 

Os shows e atividades formativas do projeto Choraço prosseguem até 19/5. Consulte a programação e compre seus ingressos no site do Sesc SP: 
https://www.sescsp.org.br/projetos/choraco/

Choraço: os personalíssimos choros de Laércio de Freitas, em merecida homenagem

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                                                O compositor e pianista Laércio de Freitas, na noite em sua homenagem

Nos círculos do choro e da música instrumental paulista, raros músicos são tão queridos e admirados como ele. O pianista, arranjador, maestro e ator Laércio de Freitas foi homenageado na noite de ontem (6/5), em mais um show do projeto Choraço (no Teatro do Sesc 24 de Maio, em São Paulo).

Compositor com uma assinatura musical personalíssima, esse paulista nascido em Campinas causou impacto entre os fãs do gênero, em 1980, ao lançar seu álbum “São Paulo no Balanço do Choro” (selo Eldorado). Com um repertório quase todo autoral, esse disco já despontou como um clássico instantâneo do choro.

A saúde debilitada não impediu que Laércio participasse, com seu habitual bom humor, do show comemorativo de seus 80 anos. “Estou só ciscando”, brincou, provocando risadas no palco e na plateia, ao se sentar ao piano com Daniel Grajew, já mais ao final da apresentação.

No programa da noite, alguns dos choros mais conhecidos de Laércio, como “Fandangoso”, “Camondongas”, “Sumaré-Pompéia” e “São Paulo no Balanço do Choro”, interpretados por um competente septeto liderado pelo flautista Shen Ribeiro. Não faltou o delicioso “Arabiando”, choro de Esmeraldino Salles (1916-1979), violonista que Laércio credita como uma de suas influências nesse gênero musical .

Salve o maestro e mestre do choro Laercio de Freitas!


eFestival 2022: Inscrições para concurso de novos talentos vão até 7/5

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                  Carlinhos Brown (à esq.) e o duo Irmãos Woiski, vencedores do eFestival 2021/Divulgação
 

Alô, músicos independentes e estudantes de música, tanto instrumentistas como cantores de todo o país. As inscrições para a edição 2022 do eFestival terminam neste sábado, dia 7 de maio, em seu site oficial. Esse concurso musical, pioneiro na utilização da internet entre competições do gênero, vem contribuindo há duas décadas para revelar e incentivar as carreiras de novos talentos da música brasileira.

Artistas conceituados de diversas regiões do país, como o duo vocal Renato Motha & Patrícia Lobato (de Minas Gerais), o cantor e compositor Lula Barbosa (São Paulo), a violinista e compositora Carol Panesi (Rio de Janeiro), o contrabaixista Guto Wirtti (Rio Grande do Sul) ou o tecladista e compositor Gabriel Nóbrega (Pernambuco) e sua banda Silibrina são alguns dos finalistas que já se destacaram em edições do eFestival.

Na edição de 2021, o cantor e compositor John Bianchi (do Rio de Janeiro), e o duo instrumental Irmãos Woiski (de São Paulo) brilharam entre os seis vencedores. Eleitos pelo público via internet, eles gravaram singles acompanhados pela banda Titãs ou pelo percussionista Carlinhos Brown, além de receberem prêmios em dinheiro.

As inscrições são feitas online, acessando o site do eFestival (www.efestival.com.br). Você pode se inscrever nas categorias Instrumental ou Canção. Depois de escolher uma delas, também deve selecionar uma das três subcategorias: Público Geral (para estudantes de música, amadores ou músicos profissionais independentes); Profissionais de Saúde ou Corretores de Seguros (nestas duas últimas, ao se inscrever, é preciso inserir o número do Registro Ativo de sua atividade profissional). O público vai eleger os três vencedores na categoria Instrumental e os três vencedores na categoria Canção.

Além de preencher uma ficha de inscrição, que inclui dados pessoais, o concorrente precisa incluir o link de sua música no YouTube (um registro em vídeo no qual o compositor e/ou intérprete aparecer cantando ou tocando seu instrumento), sua página web ou redes sociais nas quais está inscrito, sua minibiografia e sua foto. Para facilitar o processo de inscrição, o site oferece vídeos nos quais Carlinhos Brown e Tony Bellotto (dos Titãs) ensinam o passo-a-passo de como se inscrever.

Produzido e idealizado pela Dançar Marketing, o eFestival tem como parceiros a empresa SulAmérica e o Ministério do Turismo, através da Secretaria Especial da Cultura, além de “media partners”, como a Kiss FM, a Play FM, a Mix FM (Rio) e SulAmérica Paradiso FM.

Como na edição de 2021, tenho o prazer de dividir a curadoria musical dessa competição com o pianista, arranjador e maestro Ruriá Duprat. Na comissão julgadora, vamos contar mais uma vez com as participações do multiinstrumentista e compositor Tuco Marcondes e do jornalista e crítico musical Mauro Ferreira – profissionais de prestígio e reconhecida competência em suas áreas.

Ficou animado com a oportunidade de se tornar um dos seis vencedores do eFestival 2022? Inscreva-se o quanto antes, até 7 de maio, neste link: www.efestival.com.br

Assista nos links abaixo os shows com Carlinhos Brown, Titãs e os vencedores de 2021:
Categoria Instrumental: https://www.youtube.com/watch?v=bON7fwpf1ig&t=41s


Choraço: Thiago Delegado exibe em São Paulo a riqueza musical do choro mineiro

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                                            O sexteto do violonista mineiro Thiago Delegado, no projeto Choraço

Thiago Delegado preparou uma ótima surpresa para a plateia que foi ouvi-lo ontem (sábado, 30/4), no Sesc 24 de Maio, em São Paulo. Atração de mais uma noite do projeto Choraço, o violonista e compositor radicado em Belo Horizonte ofereceu uma bela seleção de choros assinados por compositores de Minas Gerais. Uma oportunidade rara de se ouvir um repertório praticamente desconhecido em outros estados do país.

Muito bem acompanhado, Thiago abriu a noite com “Cansei de Ser Enganado” – simpático choro de sua autoria, gravado em seu álbum “Viamundo” (2015). No repertório do show também entraram belezas de tradicionais chorões mineiros, como Belini Andrade, Tião do Bandolim e Godofredo Guedes (pai do compositor e cantor Beto Guedes). Ou ainda o grande Abel Ferreira, admirado nacionalmente há décadas, que também será homenageado pelo clarinetista Nailor Proveta, nesta quinta-feira (5/5).

O show “Choro Mineiro” também incluiu deliciosos choros assinados por integrantes do sexteto liderado por Thiago: “Hortência na Folia”, da flautista Marcela Nunes (em parceria com Renato Muringa); “Metafórico”, do clarinetista Caetano Brasil; e “Entre Harmonias e Meio Diminutos”, do cavaquinista Pablo Dias. Só pelos títulos dessas composições já se pode sentir um pouco da modernidade perseguida por esses talentosos instrumentistas mineiros.

Músico eclético, que começou a chamar atenção na noite de Belo Horizonte em rodas de choro, Thiago não deixou por menos. Também relembrou seu choro “Sarau pro Sr. Mozart”, dedicado ao violonista Mozart Secundino, referência do choro de Minas. E ainda homenageou outros dois craques da música instrumental mineira: Celso e Juarez Moreira, com seu choro “Lembrando Irmãos Moreira”. Que beleza de noite!




Choraço: Alexandre Ribeiro homenageia o grande Paulo Moura com choros de gafieira

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                                    O clarinetista Alexandre Ribeiro, com Allan Abbadia (trombone) e Cleber Silveira 


Em mais uma noite do projeto Choraço (ontem, no teatro do Sesc 24 de Maio, em São Paulo), o show Baile do Ribeiro resgatou para a alegria da plateia um repertório dançante associado à obra do grande clarinetista, compositor e arranjador Paulo Moura (1932-2010).

Como Moura passou a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, muitos não sabem que esse mestre da música instrumental brasileira nasceu em São José do Rio Preto, no interior paulista. Além de tocar muito jazz e música clássica, ele tinha paixão pelo universo das gafieiras – os salões de baile periféricos, onde se cultivavam estilos particulares de choro e samba, perfeitos para acompanhar os passos dos dançarinos.

O talentoso clarinetista Alexandre Ribeiro, discípulo de Moura, comandou um octeto de craques instrumentistas, formado por Swami Jr. (baixo e violão), Cainã Cavacante (violão de sete cordas), Celso Almeida (bateria), Henrique Araújo (cavaquinho), 
Allan Abbadia (trombone), Cleber Silveira (acordeon) e Leo Rodrigues (percussão).

 A 
descontraída homenagem incluiu momentos mais líricos, como o emotivo choro “Carinhoso” (de Pixinguinha e Braguinha), que a plateia cantou junto com Verônica Ferriani – cantora convidada da noite. A pandeirista Roberta Valente também fez uma participação especial.  

Se estivesse ontem no Teatro do Sesc 24 de Maio, Paulo Moura certamente se sentiria orgulhoso por constatar que sua paixão pelos choros e pelos sambas de gafieira continua a animar e influenciar novas gerações.


Choraço: projeto do Sesc celebra a diversidade e a grandeza musical do choro

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                                  O quinteto de choro Izaía e Seus Chorões - Foto: Rafael Veríssimo/Divulgação


Um dos tesouros musicais do Brasil, o choro vai ser celebrado em toda a sua diversidade e grandeza, para o prazer da plateia paulistana. O projeto Choraço ocupa o teatro e outros espaços do Sesc 24 de Maio, de 22/4 a 20/5, com 14 shows de músicos de São Paulo, Rio e Minas Gerais, além de workshops, masterclasses e bate-papos com artistas que cultivam esse gênero musical.

Criado a partir de danças de salão europeias e de elementos da música popular portuguesa, além de influências da música africana, o choro tomou forma na primeira década do século 20, mas sua história remonta a meados do século anterior. Começou como uma maneira emotiva, meio chorosa, de interpretar as melodias – por isso seus praticantes eram chamados de chorões.

A programação do projeto do Sesc 24 de Maio começa com “A História do Choro” – uma audição de clássicos LPs de choro comentados por mestres do gênero em São Paulo: o bandolinista Izaías e seu irmão, o violonista Israel Bueno de Almeida. Os dois voltam a se encontrar no primeiro show do projeto, agendado justamente no Dia Nacional do Choro (23/4, sábado). O veterano grupo paulista Izaías e Seus Chorões interpreta clássicos do gênero, assinados por Ernesto Nazareth e Joaquim Callado, entre outros. Toninho Carrasqueira (flauta), Ricardo Valverde (vibrafone) e Dudah Lopes (piano) participam como convidados.

Já na noite seguinte (24/4, domingo), Isaías e seus parceiros retornam ao palco, com outros convidados especiais: Paulo Bellinati (violão), Silvia Goes (piano) e o quinteto de cordas Quintal Brasileiro. No repertório, choros mais modernos de Jacob do Bandolim, Paulinho da Viola e Tom Jobim, entre outros compositores.

A extensa programação de shows destaca também, dia 28/4 (quinta), o “baile” comandado pelo clarinetista Alexandre Ribeiro, que conta com craques da cena paulistana de choro e samba, como Swami Jr. (violão), Cainã Cavalcante (violão de sete cordas), Henrique Araújo (bandolim e cavaquinho) e Allan Abbadia (trombone), entre outros.

Alguns desses músicos também estarão ao lado do pianista Hércules Gomes, em sua apresentação dedicada à obra da clássica pianista e compositora Tia Amélia (1897-1983), em 29/4. Na noite seguinte, o violonista e arranjador Thiago Delegado comanda um quinteto formado por chorões de Minas Gerais, em improvisos com influências jazzísticas.

Fechando a semana, no feriado de 1.º de Maio, o sexteto carioca Água de Moringa traz um repertório que combina clássicos de Pixinguinha e Radamés Gnattali com composições de chorões de gerações mais recentes, como Paulo Aragão e Jayme Vignolli – com participações da cantora Mariana Baltar e da flautista Andrea Ernest Dias.

Duas homenagens musicais se destacam na semana seguinte. No dia 5/5, o clarinetista Nailor Proveta e um regional de choro relembram a original obra do clarinetista Abel Ferreira (1915-1980). Já no dia 6/5, um quinteto que inclui o pianista Daniel Grajew e o flautista João Poleto homenageia o pianista e compositor Laercio de Freitas, mestre do choro paulista, que também estará presente.

Com uma inflexão feminina, os shows de 7 e 8/5 serão dedicados a cantoras e musicistas do choro – uma alfinetada no fato de o universo do choro ainda ser dominado pelos homens. Intitulada “Choro Amoroso”, a primeira noite destaca as cantoras Adriana Godoy e Bia Goes, com participações especiais da saxofonista Daniela Spielmann e da flautista Cassia Carrascoza. Na noite seguinte, “Choro Atrevido”, as cantoras Maria Alcina e Patricia Bastos serão acompanhadas pela pianista Heloisa Fernandes e pelo grupo As Choronas, entre vários músicos.

Nos dias 12 e 13/5, o quinteto paulistano Chorando as Pitangas apresenta o repertório autoral de seu recém-lançado álbum “Terceira Dose”, com participações especiais do violinista Ricardo Herz e do grupo de percussão vocal Barbatuques.

Finalmente, o lendário Conjunto Época de Ouro encerra o projeto com show calcado no repertório autoral de seu disco mais recente, nos dias 14 e 15/5. Criado em 1964 por Jacob do Bandolim, esse sexteto carioca conta hoje com nova formação. João Camarero (violão de sete cordas), Luís Flavio Alcofra (violão de seis cordas) e Celsinho Silva (pandeiro) se unem a Antônio Rocha (flauta), Jorge Filho (cavaquinho) e Luis Barcelos (bandolim). 

Confira a programação completa do projeto e compre os seus ingressos online, no site do Sesc SP: 
https://www.sescsp.org.br/projetos/choraco/


 

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