New Orleans Jazz Fest 2018: evento musical reforça comemorações dos 300 anos da cidade

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                                            Trombone Shorty e sua banda, atração do New Orleans Jazz Fest                                      
No ano em que a cidade de Nova Orleans festeja seus 300 anos, o New Orleans Jazz & Heritage Festival -- um dos maiores eventos musicais do mundo -- não poderia ficar de fora dessa comemoração. Até porque, mesmo que alguns de seus 12 palcos ao ar livre costumem exibir astros do rock e a música pop internacional, a essência desse festival está na celebração da música afro-americana, especialmente as vertentes cultivadas em Nova Orleans. 

A 49ª edição do Jazz Fest, como é conhecido pelos frequentadores locais, começa nesta sexta (27/4) e se estende ao próximo final de semana, com quase 500 atrações. O elenco destaca popstars como David Byrne, LL Cool J, Sting, Beck, Jack White, George Benson, Smokey Robinson, Common, Jack Johnson, Sheryl Crow, Rod Stewart (substituindo Aretha Franklin, impedida de viajar por ordens médicas) e as bandas Aerosmith e Cage the Elephant.

No entanto, quem já frequentou alguma das tardes de shows no Fair Grounds, o hipódromo local, sabe que essas serão apenas as cerejas no bolo. O que conta mesmo é o fato de todos os anos o Jazz Fest dedicar palcos exclusivos ao jazz moderno, ao blues, ao gospel, à soul music e ao R&B, ao típico jazz tradicional de Nova Orleans, à música caribenha e a gêneros musicais característicos da Louisiana, como o zydeco e a cajun music.

É por esses palcos que circulam grandes talentos da efervescente e eclética cena musical de Nova Orleans, como os trompetistas Terence Blanchard, Christian Scott e Nicholas Payton, os pianistas Jon Cleary e Henry Butler, os cantores John Boutté, Irma Thomas, Germaine Bazzle e Aaron Neville ou as bandas Galactic, The Soul Rebels, Big Sam’s Funky Nation e Rebirth Brass Band -- todos presentes nesta edição.

Para celebrar o tricentenário da cidade, o Jazz Fest reservou seu Pavilhão de Intercâmbio Cultural, espaço que vai exibir performances musicais e de dança, mostra de fotos e degustações de comidas típicas. A ideia é que essas atividades demonstrem as influências de irlandeses, alemães, italianos, vietnamitas e hispânicos, além da contribuição dos indígenas, no original caldeirão cultural da cosmopolita Nova Orleans.

Essa é também a tônica de várias exposições programadas para este ano na capital cultural da Louisiana, como a mostra “Memórias Recuperadas: Espanha, Nova Orleans e a Revolução Americana no Cabildo” (até 8/7 no Museu do Estado da Louisiana). Ou a extensa série “Mulheres de Nova Orleans: Construtoras e Reconstrutoras”, com mostras, palestras e performances em vários museus e espaços públicos, que ressaltam a importância da contribuição das mulheres na história da cidade.

Outro evento comemorativo do tricentenário é o show que o instrumentista e cantor Trombone Shorty -- hoje um dos músicos de Nova Orleans mais populares na cena internacional -- fará neste sábado (28/4), no Saenger Theatre, ao lado de convidados especiais, como Irma Thomas, Kermit Ruffins, Jon Cleary, The Soul Rebels e Cyril Neville. Shorty e sua banda Orleans Avenue também estarão entre os destaques do programa de encerramento do Jazz Fest, na tarde de 6/5. 


Texto publicado originalmente na edição de 27/4/2018 da "Folha de S. Paulo".







Trio da Paz: três brilhantes embaixadores da música instrumental brasileira nos EUA

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                                                           O Trio da Paz, em show no Sesc Consolação, em São Paulo

Talvez o fato de o Brasil ser um país tão diversificado e rico musicalmente possa justificar em parte que o Trio da Paz -- sensacional grupo de música instrumental brasileira e jazz, que Romero Lubambo (violão e guitarra), Duduka da Fonseca (bateria) e Nilson Matta (contrabaixo) criaram 32 anos atrás em Nova York, ondem vivem –- só tenha se apresentado três vezes até hoje, em nosso país.

A plateia que foi ouvi-lo ontem, no teatro do Sesc Consolação, em São Paulo, certamente se sentiu privilegiada. E acompanhou com animação os inventivos improvisos desse trio formado por craques em seus instrumentos, que tocam com intensidade sonora e um admirável senso de conjunto. Os três parecem praticar uma espécie de telepatia musical, uma capacidade de antever ideias dos parceiros, dominada apenas por instrumentistas que tocam juntos há muito tempo.

O repertório do show incluiu composições próprias e clássicos da música brasileira que apontam algumas referências do trio, como a bossa “Wave” e uma eletrizante versão de “Insensatez” (ambas de Tom Jobim), “Vera Cruz” (de Milton Nascimento) e “Baden”, composição de Nilson Matta dedicada ao grande violonista Baden Powell. Não faltou também uma dose de humor, especialmente quando Duduka explicou que sua encrencada composição “Alana”, repleta de mudanças de andamento, foi inspirada no temperamento inconstante de sua filha.

Fosse o Brasil um país sério, capaz de valorizar mais os seus grandes artistas, o Trio da Paz (cujo talento já foi reconhecido nos Estados Unidos, com uma indicação ao prêmio Grammy, por seu álbum “30”), já teria lugar garantido, todos os anos, em nossa agenda cultural.





"Conexão Brasil-Cuba": espetáculo reativa intercâmbio musical entre esses países

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                              A cantora Omara Portuondo, no centro, com Toninho Ferragutti e Fabiana Cozza

Ao beijar as mãos da veterana cantora Omara Portuondo (ontem, no encerramento da temporada do espetáculo “Conexão Brasil-Cuba”, no Teatro Alfa, em São Paulo), a cantora brasileira Fabiana Cozza não estava expressando apenas sua admiração por essa carismática intérprete cubana. Seu gesto carinhoso também representou a grande afinidade, praticamente uma ligação ancestral, que une as tradições musicais de Brasil e de Cuba.

Logo no início do espetáculo, a maestrina Zenaide Romeu, líder da excelente Camerata Romeu, referiu-se a essa longeva relação musical com uma referência inusitada. Agradeceu ao Brasil por ter criado a bossa nova, o estilo moderno de samba que se tornou mundialmente conhecido e cultivado na década de 1960. Segundo a regente, a bossa nova teria permitido aos cubanos tocar jazz numa época em que esse gênero musical de origem norte-americana não era bem visto em seu país.

Difícil apontar destaques nesse show tão bem engendrado pela produtora Myriam Taubkin com o violonista Swami Jr., que assinam a curadoria e a direção musical. A composição de Egberto Gismonti, “Sertões Veredas: Tributo à Miscigenação”, interpretada com brilho pela Camerata Romeu; o envolvente bloco de canções do pianista João Donato (“Amazonas”, “Emoriô” e “Nasci Para Bailar”); as vibrantes aparições de Omara Portuondo, interpretando os boleros “Dos Gardenias” e “Lágrimas Negras”; as emotivas versões de Fabiana Cozza para “Ay, Amor” (de Bola de Nieve) e “Estrela, Estrela” (Vitor Ramil); ou ainda o belíssimo arranjo de Edson Alves para “Sanfonema”, composição do acordeonista Toninho Ferragutti, que a interpretou com a Camerata Romeu.

Deve-se destacar também a alta qualidade dos músicos liderados por Swami Jr., que acompanharam os intérpretes: Pepe Cisneros (piano), Julito Padron (trompete), Gastón Joya (contrabaixo), Felipe Roseno (percussão) e Oliver Valdés (bateria). Tomara que esse espetáculo, idealizado para comemorar os 20 anos do Teatro Alfa, seja o primeiro de uma série.

Seminário de Improvisação: evento reúne instrumentistas e educadores em SC

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                                   O contrabaixista, regente  e professor Itiberê Zwarg estará em Florianópolis

Instrumentistas, educadores e pesquisadores musicais poderão aprofundar seus conhecimentos durante a segunda edição do SIMB (Seminário de Improvisação Musical Brasileira). De 2 a 5 de maio, em Florianópolis (SC), esse evento vai oferecer oficinas musicais, palestras, sessões de prática de conjunto e concertos. Todas essas atividades serão gratuitas.

Entre as novidades desta edição há oficinas de canto, de bateria e de música indígena (para crianças de 7 a 11 anos). As atividades didáticas serão conduzidas por professores como o contrabaixista e regente Itiberê Zwarg, o saxofonista Marcelo Coelho, o pianista Luiz Zago, o baterista Mauro Borghezan, o guitarrista Julio Herrlein e as cantoras Izabel Padovani, Magda Pucci e Berenice de Almeida.

As inscrições para as oficinas já estão encerradas, mas os interessados ainda podem ouvir as palestras. Ou então assistir ao concerto de Izabel Padovani e Ronaldo Saggiorato, excelente duo de voz e contrabaixo, no dia 2 de maio, às 20h. Os ingressos devem ser retirados na bilheteria do Teatro do SESC Prainha, com uma hora de antecedência. O seminário é produzido pela Base Cultural. 


Mais informações em seminariomusical.com.br/

Novos Talentos do Jazz: inscrições para grupos instrumentais vão até 30/4

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                                                                   O pianista Vitor Arantes, vencedor do concurso em 2017

Alguns dos principais festivais brasileiros de jazz e música instrumental organizaram um concurso que incentiva o cultivo dessas vertentes musicais entre os jovens. Com inscrições abertas até 30/4, o Novos Talentos do Jazz 2018 é dirigido a grupos instrumentais de residentes em todo o território nacional, formados por músicos com até 30 anos de idade.

Promovido pela Rede Nacional de Festivais de Jazz e Música Instrumental, essa competição oferece a possibilidade de os selecionados exibirem sua música em cinco conceituados eventos nacionais: Savassi Festival (Belo Horizonte, MG), Sampa Jazz Fest (São Paulo, SP), POA Jazz Festival (Porto Alegre, RS), Festival de Jazz & Blues (Guaramiranga, CE) e TUM Sound Festival (Florianópolis, SC).

Mais informações neste link: Edital - Novos Talentos do Jazz 2018

Makiko Yoneda: pianista mostra como a música pode aproximar culturas diversas

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                                                                               A pianista japonesa Makiko Yoneda

Talvez nenhum outro país admire tanto a música brasileira quanto o Japão -– algo facilmente perceptível em qualquer visita a cidades como Tóquio ou Kyoto. Foi essa paixão musical que levou a pianista Makiko Yoneda a se radicar em nosso país. Tanto que, no show de lançamento de “Brasileirismo”, seu primeiro disco (anteontem, no teatro do Sesc Consolação, em São Paulo), Makiko fez questão de agradecer à própria música brasileira por tê-la trazido ao Brasil, onde enveredou pelo caminho musical que segue hoje.

No palco, ao lado da pianista e compositora japonesa estavam o baterista Marcio Bahia e o baixista Jamil Joanes, conceituados instrumentistas brasileiros, que também a acompanham no álbum. Em saborosas composições próprias, como “Baião Partido”, “Maracatu” e “Não Posso Ver um Boteco”, Makiko combina ritmos brasileiros com influências da música clássica, marcadas pelo característico lirismo japonês.

Vale a pena conhecer o álbum de Makiko Yoneda e seu trio: nesta época tão conflituosa que vivemos neste planeta, “Brasileirismo” demonstra de maneira criativa como a música pode aproximar dois povos de culturas bem diversas.  






Trio Corrente e Hamilton de Holanda: encontro musical radiante numa noite triste

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                                             Paulo Paulelli, Fábio Torres, Edu Ribeiro e Hamilton de Holanda

Num dia tão triste para o Brasil (marcado pelo anúncio da iminente prisão do ex-presidente Lula), o show de quatro dos mais talentosos instrumentistas brasileiros serviu de bálsamo para quem estava na plateia do Sesc Vila Mariana, ontem, em São Paulo. Não bastasse a sofisticada musicalidade de Fabio Torres (piano), Edu Ribeiro (bateria) e Paulo Paulelli (contrabaixo), integrantes do Trio Corrente, a noite contou ainda com a participação especial de outro craque da música instrumental: o bandolinista Hamilton de Holanda.

“Esta é uma noite para se tocar muito”, disse Hamilton, sintetizando em poucas palavras a tristeza que muitos ali presentes certamente estavam sentindo. O repertório do show, com destaque para três composições de Tom Jobim, soou especialmente escolhido para a ocasião. Afinal, poucos compositores brasileiros compreenderam tão bem as contradições e belezas deste país quanto esse mestre da bossa nova.

Uma bela versão da melancólica “Retrato em Branco e Preto” e criativas releituras de “Chovendo na Roseira” e “Passarim” deixaram um recado no ar, sem a necessidade de recorrer a palavras. Não faltou também um toque de bom humor, presente na versão do samba “Maracangalha” (de Dorival Caymmi). O que seria de nós sem a música?



 

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