Wilson Simonal: documentário sobre o cantor já está disponível em DVD

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O ano Simonal está oficialmente completo. Depois do relançamento de vários discos, da biografia em livro e de algumas homenagens musicais como o "Baile do Simonal" (ver texto abaixo), o fascinante documentário “Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei” já pode ser visto em DVD (edição Biscoito Fino) por qualquer um que queira conhecer a dramática história de um dos maiores ídolos da música popular brasileira.

Os diretores Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal não escondem a admiração pelo carismático Simonal, expressa em saborosas cenas de shows, programas de TV e entrevistas, mas também não fogem da missão de tentar desvendar os motivos de seu polêmico enterro artístico, na década de 1970, sob a acusação de ter sido informante dos órgãos de repressão do regime militar. O filme não chega a responder todas as perguntas essenciais, mas diverte, emociona e deixa o espectador com a sensação de que de a música brasileira perdeu muito sem o brilho e o suingue de Simonal.


(resenha publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 18/12/2009)

"Baile do Simonal": astros da música brasileira em show dedicado ao cantor

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Termina em festa o ano em que o suingue de Wilson Simonal (1938-2000) freqüentou as telas de cinema e conquistou os ouvidos de gerações que ainda o desconheciam. Apresentada por Wilson Simoninha e Max de Castro, seus filhos e herdeiros musicais, uma seleção de intérpretes de diversas praias da música brasileira rendeu homenagens ao grande cantor e showman.


Registrado no DVD O Baile do Simonal (EMI), o encontro aconteceu em agosto último, no palco do Vivo Rio. Os maiores sucessos de Simonal animaram a festa, em saborosos arranjos tocados por uma banda de feras. Seu Jorge abriu a noite cantando “País Tropical”, com o apoio da platéia. Samuel Rosa, do Skank, injeta um solo de guitarra em “Carango”. Marcelo D2 esbanja malandragem em “Nem Vem Que Não Tem”. Mart’nália derrama seus tatibitates em “Mamãe Passou Açucar em Mim”. Fernanda Abreu cai no samba, em “A Tonga da Mironga do Kabuletê”. Maria Rita relê “Que Maravilha”, grande sucesso de Jorge Ben. Os Paralamas pilotam “Mustang Cor de Sangue” com a habitual energia. 

Já Sandra de Sá mostra toda sua bossa, em “Balanço Zona Sul”. Caetano Veloso relembra “Remelexo”, uma doce e antiga canção de sua autoria. E o baile inclui ainda aparições de Frejat, Diogo Nogueira, Rogério Flausino, Péricles & Thiaguinho, Alexandre Pires, Ed Motta e Orquestra Imperial. Uma noite festiva para lembrar que Simonal jamais deveria ter sido afastado de nossos ouvidos.

(texto publicado na "Homem Vogue", edição verão 2009)

Roberto Fonseca: pianista representa bem a nova geração musical de Cuba em "Akokan"

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Revelação da música cubana, o pianista Roberto Fonseca já chamava atenção anos atrás, quando ainda acompanhava o cantor Ibrahim Ferrer, do veterano grupo Buena Vista Social Club. Em "Akokan" (que significa coração, no idioma iorubá), seu segundo álbum solo (lançamento Biscoito Fino), Fonseca combina temas instrumentais e canções.

Para isso o pianista e compositor conta com dois talentosos cantores da nova geração: a cabo-verdiana Mayra Andrade e o norte-americano Raul Midon, que se destacam na doce "Siete Potencias" e na sensível "Everyone Deserves a Second Chance", respectivamente. Pelo que exibe nesse trabalho, Fonseca deixa a impressão de que o futuro da música cubana está em ótimas mãos.

(texto publicado na "Homem Vogue", edição verão 2009/2010, nº 27)




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Hamilton de Holanda e Yamandu Costa: perseguindo a beleza em parceria musical

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Nesta entrevista exclusiva, o bandolinista carioca e o violonista gaúcho, talentos da nova geração e velhos amigos, contam porque esperaram uma década para lançar o álbum “Luz da Aurora”, que inaugura essa parceria.

Como surgiu essa associação musical?
Yamandu Costa – A gente se conheceu em 1998, aqui em São Paulo. Já naquela época pensamos em fazer um disco só de valsas, mas isso ficou apenas na pretensão. Cada um seguiu sua carreira de solista e assim rodamos o mundo. Uns dois anos atrás o Hamilton ligou pra mim e disse que estava na hora.

O que vocês têm em comum na música?
Yamandu – Acho que representamos uma nova era. Fazemos parte de uma geração de músicos neo nacionalistas, que respeitam a tradição do choro e da música brasileira, mas ao mesmo tempo são loucos e cheios de informações novas. Carregamos a bandeira da música, não da música instrumental. Inclusive esse é um termo que a gente quer banir. Esse rótulo “instrumental” é uma merda, só existe na América Latina.
Hamilton de Holanda – Também acho que esse rótulo é uma bobagem, chega a ser pejorativo. Quer dizer que a voz não é um instrumento? Nossa música não pensa em atingir um determinado público. Fazemos música para qualquer pessoa, para ser tocada em qualquer lugar, em qualquer país. Hoje já nem pensamos mais que moramos no Brasil. A gente vive no mundo e essa liberdade se reflete de maneira bonita em nossa música.

No CD de vocês há um choro de Ernesto Nazareth, uma parceria inspirada por Pixinguinha e uma homenagem ao violonista Raphael Rabello. Já sentiram algo próximo do que o crítico literário Harold Bloom chama de angústia da influência?
Yamandu – Meu pai era um cara com muita clareza e me falou muito sobre a questão da personalidade. Sempre tive muita personalidade. Claro que eu sinto algo assim em relação ao Raphael ou ao Baden Powell. Essas figuras ainda continuam me rondando, mas isso já não me incomoda mais.
Hamilton – Sou um cara naturalmente influenciável e não vejo problema algum em aceitar isso. Tenho uma personalidade forte, mas também sei reconhecer a importância de outros artistas. Um cara que poderia provocar essa angústia em mim é o Hermeto (Pascoal), mas ninguém é igual a ninguém. Eu me deixo influenciar, mas mesmo que eu toque uma música do Armandinho, que me influenciou muito como bandolista, jamais poderia tocar como ele.

Vocês surgiram na cena musical, já sendo chamados de virtuoses, por tocarem com técnica e agilidade fora do comum. Isso não pode trazer o risco de serem encarados quase como atletas em vez de artistas?
Hamilton – Eu não toco o bandolim de maneira mais rápida ou mais lenta, por achar que assim as pessoas vão gostar mais. O virtuosismo é algo que salta aos olhos das pessoas, uma coisa que parece impressionar as pessoas antes mesmo que elas percebam se a música é bonita ou não. Eu encaro isso com tranqüilidade. Quem vai aos nossos shows sabe que nossa música não tem a intenção de ser rápida ou lenta. O importante é encontrar a beleza.
Yamandu – Dominar um instrumento é muito bom, porque isso permite que você se expresse através dele. Se isso for feito com profundidade, se você souber o que está fazendo, não pesa.

Vocês acham que influências de outras áreas, sejam artísticas ou literárias, podem ser absorvidas pela música?
Yamandu – Totalmente. Aliás, sou apaixonado pela literatura. Fiz meu último trabalho em trio, com o Nicolas Krassic e o Guto Wirti, lendo Érico Veríssimo o tempo todo. E agora estou enlouquecido por aquele moçambicano, o Mia Couto. Ando chorando pelos aviões, lendo os livros dele.

(entrevista publicada parcialmente no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 27/11/2009)


 

Yamandu Costa e Hamilton de Holanda: valeu a pena esperar pelo CD "Luz da Aurora"

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Gravado ao vivo, no Auditório Ibirapuera (São Paulo), em 2008, o primeiro álbum do bandolinista Hamilton de Holanda com o violonista Yamandu Costa mostra que a maturidade só vem com o tempo e as experiências vividas. Velhos amigos, os dois já poderiam ter gravado um disco na década passada, mas agora podem se dar ao luxo de exibir 10 composições próprias entre as 11 do repertório, que inclui o clássico choro “Escorregando”, de Ernesto Nazareth.

Entre as belezas assinadas pela dupla no CD "Luz da Aurora" (lançamento Eldorado) destacam-se o contagiante “Samba do Véio”, o vertiginoso “Chamamé”, a lírica “Flor da Vida” e a doce valsa que empresta o título ao álbum, além do delicado choro “Cochichado”, inspirado em composição do mestre Pixinguinha. Valeu a pena esperar.





Benjamim Taubkin: projeto Trio + 1 transita entre o jazz e a diversidade rítmica brasileira

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Músico inquieto, com uma visão abrangente que não estabelece rupturas entre gerações ou gêneros, o pianista, compositor e produtor paulista Benjamim Taubkin (à direita, na foto) lidera mais um projeto de alto teor criativo. Formado em meados desta década, seu trio com o baterista Sérgio Reze (à esquerda) e o contrabaixista Zeca Assumpção tem se apresentado com o trompetista Joatan Nascimento desde 2008.
 

Já lançado nos EUA, o álbum “Trio + 1” chega ao mercado brasileiro (em edição do selo Nucleo Contemporâneo) com três composições de Taubkin, uma de Nascimento e inventivas releituras do choro “Pérolas” (de Jacob do Bandolim) e do samba “Consolação” (Baden Powell e Vinicius de Moraes). Mais que as autorias, o que conta mesmo é a sintonia fina revelada nos improvisos desse quarteto, que transita entre o jazz e a diversidade rítmica brasileira. Música sensível e contemporânea para viajar com a mente. 

(Resenha publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 27/11/2009)

 

 

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