Ná Ozzetti: recriando os sambas de Carmen Miranda, em "Balangandãs"

|

A cantora paulista fala sobre o projeto e a gravação do CD “Balangandãs” (selo MCD), que reúne criativas releituras de 15 sucessos do repertório da Pequena Notável.

Como você se envolveu com a obra musical de Carmen Miranda? O que é mais atraente no estilo dela?
Ná Ozzetti - Sempre admirei a Carmen, mas foi trabalhando com o grupo Rumo, em 1979 e 1980, que tive a oportunidade de ouvir melhor as gravações dela, pois, na época, pesquisávamos canções menos conhecidas de Noel Rosa, Lamartine Babo e Sinhô. Fiquei fascinada pela forma como ela valorizava não só as canções, mas todo conteúdo musical dos arranjos e das performances dos instrumentistas, elementos que ela aproveitava para suas interpretações, numa espécie de contraponto. Além disso, ela sabia extrair o melhor de sua voz para chegar a uma expressão exata do que desejava. Também era atenta e antenada ao contexto musical da época e aos compositores que surgiam.

Quais foram os seus critérios para escolher as canções de Carmen que gravou?
NO - Antes da gravação, trabalhei na escolha do repertório para o show. Para isso escutei quase toda a discografia dela, selecionando, primeiramente, as canções que me causaram empatia imediata. A partir desta fiz outras seleções até chegar às 18 canções do show. Para o CD, achei que 18 seria um número muito grande de faixas, então não gravei "Boneca de Piche", "Fon-fon" e "Thaí", que funcionam melhor em palco.

Muitos discos são gravados antes dos shows. Por que você preferiu o caminho inverso, gravando o disco só depois de fazer vários shows?
NO - Aconteceu naturalmente. A idéia do trabalho nasceu em 2006, mas, em 2007, não surgiram boas oportunidades de realizarmos shows, o que só veio a acontecer a partir de 2008. No final desse ano já tínhamos tocado bastante e amadurecido os arranjos. Nesse momento resolvemos registrar esse trabalho em CD, o que facilitou muito a viabilização, pois gravamos tudo em três dias, tocando ao vivo no estúdio, como se estivéssemos no show.

Os arranjos desse álbum chamam atenção. Como foi esse processo de criação? Você também participou?
NO – Pedi ao Dante [Ozzetti] e ao [Mário] Manga que preparassem pré-arranjos das canções. Partimos do princípio de manter as levadas das gravações originais, justamente para que não se perdessem os pontos principais onde a Carmen apoiava o seu canto. A partir daí os arranjos foram desenvolvidos em grupo e tomaram forma de acordo com as performances de todos e das novas idéias que iam surgindo. O processo foi coletivo e todos opinaram à vontade até a mixagem do CD.

Hoje, 30 anos após sua estréia como cantora do grupo Rumo, como você se sente no palco ou no estúdio de gravação? Tudo ficou mais fácil?

NO - Algumas características continuam bem presentes, felizmente, como o prazer pelo trabalho, tanto no palco, como no estúdio, em iguais proporções, e a sensação de frescor, de novidade, a cada nova experiência. Mas, sem dúvida, o tempo me ajudou a me sentir cada vez mais a vontade.

Sabemos que Luiz Tatit e Zé Miguel Wisnik marcaram as primeiras fases de sua carreira. O que esses compositores trouxeram para a sua maneira de encarar a música?

NO - Luiz, como idealizador do Rumo, foi e continua sendo fundamental na minha trajetória. A experiência que tive no grupo, com o canto falado, foi uma das mais fortes influências na minha forma de cantar. Depois do Rumo, continuamos trabalhando juntos. Luiz foi muito importante no meu processo como compositora, fizemos algumas parcerias e, de certa forma, continuamos presentes no trabalho de um e do outro.
Zé Miguel foi muito marcante no início de minha carreira solo, ocasião em que tomei contato com suas magníficas composições, que tinham características bem diferentes do trabalho com o Rumo e das referências musicais anteriores. Suas composições exigiam diferentes domínios da voz e da interpretação. Cada uma se apresentava como um desafio distinto a ser encarado, o que eu fazia com o maior dos prazeres.

(entrevista publicada parcialmente no “Guia da Folha – Livro, Discos & Filmes”, em 25/06/2009)

0 comentários:

 

©2009 Música de Alma Negra | Template Blue by TNB