Maria Schneider: arranjadora exibe composições inéditas na Mostra Tom Jobim EMESP

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Ela despontou no competitivo circuito do jazz de Nova York, no início dos anos 1990. Com seu jeito delicado e meio tímido, a compositora e arranjadora Maria Schneider chamava atenção, já como líder de orquestra, numa época em que as mulheres ainda eram bem raras entre os instrumentistas desse gênero musical.

Em poucos anos seu nome se tornou uma constante nas premiações anuais de melhores jazzistas. Como na recente enquete promovida pela revista norte-americana “Down Beat”, na qual foi eleita por 186 críticos como melhor compositora, melhor arranjadora e líder de orquestra de 2012.


“Eu me sinto meio mal por vencer essas votações com frequência. Há tanta gente boa concorrendo, que eu me sinto um pouco culpada”, comenta a regente norte-americana, atração da 3ª Mostra Tom Jobim EMESP (Escola de Música do Estado de São Paulo), nesta sexta e sábado (dias 7 e 8/12), no teatro do Sesc Pinheiros, em São Paulo.


Falando à "Folha de S. Paulo", por telefone, Maria diz que já se sente quase em casa, depois de se apresentar outras vezes no Brasil. Como fez no festival Tudo É Jazz de Ouro Preto (MG), em 2006, e na primeira edição dessa mesma mostra paulista, em 2010, ela vai comandar uma big band com alguns dos melhores instrumentistas brasileiros.

“Desta vez vamos tocar coisas novas e uma ou outra peça que fizemos no último concerto. Trouxe uma composição intitulada ‘Lembrança’, que dediquei a Paulo Moura”, revela, referindo-se ao grande clarinetista e compositor paulista, morto em 2010.

Outra novidade no repertório do concerto será “The Thompson Field”, segundo ela, “uma composição bem americana, que remete ao centro-oeste dos Estados Unidos”, com destaque para o piano de Paulo Braga, curador da mostra.

Alguns dos músicos da orquestra, como o acordeonista Toninho Ferragutti, o trombonista Vittor Santos e os trompetistas Daniel D’Alcântara e Junior Galante já participaram de apresentações anteriores, em Ouro Preto e São Paulo.

“Toninho até fez uma turnê com a minha banda (norte-americana) alguns anos atrás. Tocar com ele é como rever um irmão”, compara a band leader e compositora.

Pioneira na utilização do crowdfunding, desde a década passada Maria tem financiado suas gravações com doações dos fãs. Em 2004, ela foi a primeira artista premiada com o Grammy por um álbum distribuído exclusivamente pela internet (“Concert in the Garden”).

Novo disco 


“Gravações com orquestra, como faço em meus discos, custam tão caro que é praticamente impossível, nos dias de hoje, realizar um projeto desse gênero de outra maneira”, afirma a criativa discípula dos arranjadores Gil Evans (1912-1988) e Bob Brookmeyer (1929-2011), que já comparou suas composições a estátuas sonoras.

Maria conta também que terminou dias atrás a mixagem de outro CD, que deve sair em março. “Desta vez é um projeto com Dawn Upshaw, uma soprano maravilhosa. Ela costumava ir aos concertos da minha banda e pediu que eu escrevesse algo para que ela cantasse com a Orquestra de Câmara de Saint Paul, de Minesotta, onde nasci”.

“Fiquei bastante nervosa, no início, porque essa música é bem diferente da que estou acostumada a compor. Embora tenha elementos do jazz, está mais próxima da música clássica. Soou tão bem que Dawn me pediu outra peça, para ser tocada por uma orquestra de câmara da Austrália. Aceitei, mas disse a ela que queria incluir um pouco de improvisação no próximo projeto”, diz a compositora.

Trabalhos encomendados por fundações, festivais ou intérpretes costumam tirar o sono da compositora. “Sinto muita pressão quando sou paga para escrever alguma peça. Nessas ocasiões fico bem nervosa, levo muito a sério o risco de compor algo que as pessoas achem que não é bom o suficiente. Quando você escreve música não tem garantia alguma”, comenta.


Luciana Souza e Toninho Horta


Mais envolvida com a música brasileira a cada nova visita ao país, Maria diz que gostou muito de “The Book of Chet” e “Duos 3”, álbuns de Luciana Souza, cantora paulista radicada nos EUA, que acabam de ser lançados no Brasil.

“Adorei ambos. O disco dedicado a Chet Baker é muito lindo. Engraçado que, ao ouvi-lo pela primeira vez, pensei como ele era lento. Mas, depois de ouvi de novo, notei que ele produz um efeito em você. A voz de Luciana parece um instrumento”.

“Duos 3”, que destaca interpretações de Luciana ao lado dos violonistas Marco Pereira, Toninho Horta e Romero Lubambo, também ganha elogios de Maria Schneider. “É um disco muito bonito. E as canções com Toninho Horta são demais, ele é um músico incrível”, comenta.


(entrevista publicada parcialmente na versão eletrônica da "Folha de S. Paulo", em 7/12/2012)



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