Paraty Latino: festival gratuito leva atrações internacionais à cidade histórica

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Da salsa ao tango, passando pelo merengue, pelo bolero e pelo cha-cha-chá, sem esquecer o nosso samba. Esse é o saboroso cardápio de ritmos do festival Paraty Latino, que leva várias atrações musicais ao litoral sul fluminense. Com três noites de shows gratuitos, o evento acontece no próximo final de semana (de 3 a 5/12), na praça da Matriz de Paraty.

A delegação cubana reúne talentosos músicos da nova geração, como o pianista Roberto Fonseca, o cantor Fernando Ferrer (sobrinho do “buena vista” Ibrahim Ferrer), a cantora Haydée Milanés (filha do veterano “cantautor” Pablo Milanés) e o pianista Yaniel Matos, que já vive em São Paulo há alguns anos. Da França vem o cantor e pianista de salsa Deldongo. A Argentina está representada pelo electro-tango da banda Otros Aires.

Já o elenco brasileiro conta com a charmosa cantora Marina de La Riva (também descendente de cubanos), a dupla João Donato e Paula Morelenbaum (que acaba de lançar o delicioso álbum “Água”) e as bandas Lyra Latina e Havana Brasil (na foto acima), conhecidas dos freqüentadores do clube paulistano Bourbon Street, que assina a produção do festival.

O Paraty Latino também vai oferecer oficinas gratuitas de dança, nas tardes de sábado e domingo. Mais informações no site do evento: www.paratylatino.com.br


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Fred Hersch: dez canções de Tom Jobim em releituras bem livres e pessoais

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Apesar de até já ter se apresentado no Brasil, o pianista Fred Hersch, hoje com 55 anos, ainda é, estranhamente, pouco conhecido por aqui, talvez pelo fato de seus mais de trinta discos não terem recebido edições nacionais. Esse ineditismo é enfim rompido com este belo álbum dedicado à obra de Tom Jobim (lançamento Biscoito Fino), cujas canções freqüentam o repertório desse músico norte-americano desde a década de 1970.

Como jazzista criativo e original que é, Hersch passa longe da obviedade. Optou por releituras bem livres para piano solo de dez canções de Jobim, imprimindo nelas sua própria personalidade sem trair a essência musical do autor. Recria clássicos da bossa nova, como “Desafinado” e “Meditação”, sugerindo imaginários contrapontos e encadeamentos harmônicos. Já as versões de “Por Toda a Minha Vida” e “Luiza” revelam um Jobim mais próximo ainda do impressionismo de Debussy (1862-1918). Fãs do lírico pianista Bill Evans (1929-1980), a quem Hersch também já dedicou um tributo, certamente vão gostar. 


(texto publicado no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 26/11/2010) 



Copa Fest: terceira edição tem Dom Salvador, Banda Mantiqueira e Léo Gandelman

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Acontece neste final de semana, no Rio de Janeiro, a terceira edição do Copa Fest, evento musical que tem como sede o sofisticado hotel Copacabana Palace. Na programação, voltada exclusivamente à música instrumental, destacam-se atrações nacionais e internacionais de alta qualidade.


Quem abre a noite desta sexta-feira (26/11, 21h) é a Banda Mantiqueira, big band paulista comandada pelo brilhante clarinetista e saxofonista Nailor Proveta. Em seguida, apresenta-se o quinteto do bandeonista Hector Del Curto, talentoso argentino radicado em Nova York.

No sábado (27/11), a programação começa com o trio do saxofonista carioca Léo Gandelman, referência na música instrumental e no jazz com sotaque brasileiro. Outra atração “internacional” encerra o 3º Copa Fest: o pianista paulista Dom Salvador (na foto acima), grande expoente do samba-jazz, que vive desde os anos 70 em Nova York.

Mais informações no site do Copa Fest: www.copafest.com.br


          

Miriam Makeba: DVD resgata show da maior estrela da África do Sul

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Maior estrela musical da África da Sul, a cantora e ativista Miriam Makeba (1932-2008) viveu durante três décadas no exílio, por se colocar contra a política de apartheid que vigorou naquele país até 1990. A proibição de seus discos e a cassação de sua nacionalidade não a impediram de continuar lutando contra o regime racista, simultaneamente à carreira artística.

Com um show registrado durante o Lugano Jazz Festival, na Suíça, em 1985, este DVD (lançado no Brasil pela Coqueiro Verde) mostra o carisma da Mama Afrika ainda em grande forma, acompanhada por uma banda competente, com vocalistas e dançarinas.

Difícil não se arrepiar ao ver a expressão de dor em seu rosto, quando interpreta a engajada canção “Soweto Blues” (de Hugh Masekela), lamentando as mortes nos conflitos entre estudantes e policiais sul-africanos, em 1976. Mas logo ela volta a sorrir, ao cantar e dançar a contagiante “Pata Pata”, seu hit mundialmente conhecido (veja no video abaixo como Miriam a cantava, ainda na década de 70). Pena que este DVD só tenha 37 minutos de duração.

(texto publicado no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 29/10/2010)






Oscar Castro-Neves: bossa novista encontra outras gerações da MPB em Tóquio

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Radicado há quatro décadas nos EUA, o violonista e compositor carioca Oscar Castro-Neves, 70, foi o anfitrião de um encontro de músicos brasileiros de diversas gerações, que ocupou durante uma semana o clube Blue Note de Tóquio, em 2009, cujo registro está no CD "Live at Blue Note Tokyo" (lançado no Brasil pela gravadora Atração).


A intimidade com a bossa nova, que Castro-Neves viu nascer no Rio de Janeiro e ajudou a divulgar pelo mundo, está bem representada pelas jobinianas “Ela É Carioca”, “Águas de Março” e “Fotografia”. Leila Pinheiro canta a clássica “Rio” (Menescal e Bôscoli), mas relembra também outras vertentes da música brasileira, com o baião “Ponteio” (Edu Lobo e Capinan) e o afro-samba “Canto de Ossanha” (Baden Powell e Vinicius de Moraes).

Já Airto Moreira e Marco Bosco, mestres da percussão que vivem no exterior, destacam a riqueza de nosso som instrumental, em “Misturada/Tombo” (Moreira) e “Tatiando” (Bosco). Música de alta qualidade, que hoje os japoneses valorizam mais até do que muitos brasileiros. 

(texto publicado no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes), em 29/10/2010)



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Maria Schneider: a compositora é atração da 1ª Mostra Instrumental da Emesp

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A compositora e arranjadora Maria Schneider (na foto acima) é atração da 1ª Mostra Instrumental da Emesp, a Tom Jobim Escola de Música do Estado de São Paulo. Estrela na área das orquestras de jazz desde a década de 90, essa conceituada band-leader norte-americana vai reger uma big band, dia 20/11 (sábado), no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.

Formada por alguns dos melhores músicos de nossa cena instrumental, essa pequena orquestra destaca o acordeonista Toninho Ferragutti, os saxofonistas Vinícius Dorin, Mané Silveira e Eduardo Neves, o trompetista Daniel Alcântara, o trombonista Vittor Santos, o pianista Paulo Braga, o baterista Edu Ribeiro, o percussionista Guello e o baixista Alberto Lucas, entre outros. 

A programação no Auditório Ibirapuera (www.auditorioibirapuera.com.br) inclui outras atrações do gênero. No dia 19 (sexta-feira), apresenta-se a Big Band da Orquestra Tom Jobim, com regência de Vittor Santos e direção musical do maestro Roberto Sion. No dia 21 (domingo), tocam o Juilliard Jazz Artist Diploma Ensemble, o Quarteto D’Minuto e Bambu Quarteto.

A 1ª Mostra Instrumental da Amesp oferece também uma série de quatro jam sessions, no Bourbon Street Music Club (www.bourbonstreet.com.br), de 17 (quarta-feira) a 20/11 (sábado), com a Sound Scape Big Band, a Banda Savana, músicos da Juilliard School e outros instrumentistas de São Paulo e Rio.

Para estudantes de música, o evento organizou um ciclo de palestras gratuitas sobre escrita para big bands (informações no site www.emesp.org.br), com os maestros e arranjadores Nelson Ayres, Spok, Mario Adnet, Carl Allen e a própria Maria Schneider.

A seguir, reproduzo uma entrevista que fiz com ela para a “Folha de S. Paulo”, em 2006, antes da apresentação de sua orquestra no Tim Festival.


                  MARIA SCHNEIDER E SUAS ESCULTURAS SONORAS

Desde meados dos anos 1990, quando o assunto é jazz orquestral, o nome de Maria Schneider é inevitável em qualquer roda ou conversa. Afinal, o prêmio Grammy que essa compositora e regente conquistou com o álbum “Concert in the Garden”, em 2005, é apenas uma das inúmeras distinções que ela tem em seu currículo musical.

Falando por telefone, de Nova York, onde vive, Maria admite que até pouco tempo atrás ainda resistia bastante a se definir como uma compositora. Diz que preferia o termo “escultora de sons”.

“Durante muito tempo a palavra compositora soava grande demais para mim, mas já não é tanto. Acho que minha música tem se tornado mais leve, mais delicada e, talvez, mais detalhada. É difícil explicar o porquê, mas hoje já me considero uma compositora”, diz a norte-americana, que se apresentou no país pela primeira vez, em 1998.

Foi naquele ano, inspirada por um vôo de asa delta, numa praia do Rio de Janeiro, que Maria compôs a peça “Hang Gliding”. “Voar de asa delta, num dia de muito vento, foi uma coisa extraordinária. Fui levada pelo pianista Claudio Dauelsberg. No dia seguinte, comecei a escrever algo e, de repente, senti que estava escrevendo sobre a sensação de voar de asa delta”, diz ela, referindo-se a essa composição como “uma canção de amor pelo Brasil”.

Discípula dos compositores Bob Brookmeyer e Gil Evans, do qual foi assistente, Maria comenta que suas experiências pessoais são fontes essenciais de inspiração. “Muitas das minhas peças abordam acontecimentos de minha infância. Neste momento estou compondo uma peça sobre pássaros. Então fico totalmente envolvida: fico olhando pássaros voarem, só penso em pássaros”, diverte-se.

Freqüentemente convidada a reger orquestras de jazz na Europa, Maria valoriza a atitude experimental de orquestras e músicos do velho continente, mas sente falta de algo que só costuma sentir em Nova York, onde vive.

“Na Europa há muito apoio para as artes, algo que acontece aqui em menor proporção, mas uma coisa da qual eu gosto muito é a energia dos músicos de Nova York. Eles não têm as melhores condições de trabalho, mas quando tocam se entregam ao máximo, porque aqui a competição é muito intensa”, compara.


Veja agora um trecho da apresentação de Maria Schneider no festival Tudo É Jazz (em Ouro Preto, em 2007), à frente de outra big band com músicos brasileiros.

Paula Morelenbaum e João Donato: uma voz doce para 12 canções sedutoras

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Quem acompanha a carreira de Paula Morelenbaum já deve ter notado a coerência de seu repertório. Depois de cantar por uma década com Tom Jobim, de interpretar canções de Vinicius de Moraes e sambas do período pré-bossa nova, ela chega a João Donato com a maior propriedade. Para produzir e gravar o álbum “Água” (lançamento Biscoito Fino), escolheu 12 canções desse original pioneiro da bossa, que também a acompanha ao piano e nos vocais.

Além da voz doce e das interpretações sensíveis de Paula, logo chama atenção a riqueza e a diversidade dos arranjos de Jaques Morelenbaum (“Flor de Maracujá”), Donatinho (“Café com Pão”), Marcos “Kusca” Cunha (“A Rã”), Leo Gandelman e Alex Moreira (“Lugar Comum”), Beto Villares (“Ahiê”) ou BossaCucaNova (“E Muito Mais”), que combinam instrumentação acústica e eletrônica.


A cantora ainda se deu ao luxo de resgatar a dançante “Entre Amigos”, obscura parceria de Donato com o percussionista cubano Mongo Santamaria, que agora recebeu versos em português e espanhol. Um disco tão sedutor quanto a voz de Paula ou as melodias de Donato. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 29/10/2010)

 

Buddy Guy & Junior Wells: os primeiros encontros de dois grandes mestres do blues

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Lançado originalmente em 1972, este cultuado álbum do guitarrista Buddy Guy com o gaitista Junior Wells, expoentes do blues elétrico de Chicago, resultou de algumas coincidências. Os dois conquistaram a platéia do Festival Folk de Newport, em 1967, num encontro casual. Só se tornaram parceiros em 1970, ao abrir uma turnê dos Rolling Stones pela Europa. Após ouvi-los, na França, o guitarrista inglês Eric Clapton, admirador de Guy, sugeriu à gravadora Atlantic que os contratasse e produziu o álbum.

Esta caprichada reedição de "Buddy Guy & Junior Wells Play the Blues" (lançamento Warner) inclui um CD extra com faixas inéditas. Os felizardos que chegaram a ver Guy e Wells tocando no Brasil, na década de 1980, vão logo reconhecer o funkeado blues “Messin’ With the Kids”, o relaxado “Bad Bad Whiskey” (com participação de Clapton) e o pungente “Stone Crazy”, que revela a influência do mestre B.B. King sobre Guy. Pena que Wells, morto em 1998, não tenha tido tempo para saborear o mesmo prestígio que seu ex-parceiro desfruta hoje.


(resenha publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 29/10/2010)




 

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