Teresa Cristina: cantora e compositora carioca quer mais perfume no samba

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Nesta entrevista para a "Folha de S. Paulo", marcada pelo lançamento de seu CD e DVD “Melhor Assim” (EMI), a cantora e compositora carioca Teresa Cristina fala de seu amadurecimento como intérprete, de sua religiosidade e de como é ser mulher num universo ainda dominado pelos homens, como o do samba. Ela comenta também as participações especiais de Marisa Monte, Caetano Veloso, Seu Jorge e Arlindo Cruz, nesse projeto.

Comparando este novo DVD com o seu anterior (lançado em 2005), fica evidente que você está mais à vontade no palco, menos tímida. Como se deu essa mudança?

Teresa Cristina - Acho que isso vem com o passar dos anos, com a maturidade. Durante o período de gestação da minha filha, nas noites em claro que passei com ela, tive tempo para repensar muita coisa. Revendo minhas imagens mais antigas, notei uma expressão muito preocupada. Percebi que devia encarar o repertório, o público e o próprio show, em geral, de uma maneira mais leve.

Em faixas do CD e do DVD “Melhor Assim” você tem a seu lado Marisa Monte, Caetano Veloso, Lenine, Seu Jorge e Arlindo Cruz. Qual foi sua intenção ao convidá-los para esse projeto?

Teresa Cristina - São grandes estrelas que podem ter pouco a ver entre si, mas eu tenho ligações com todos eles. Com alguns, como o Caetano e o Lenine, é uma ligação de pura admiração. O Arlindo é um parceiro que eu conquistei há pouco tempo, mas temos planos de continuar compondo juntos. Quando conheci o Seu Jorge, na UERJ, ele ainda era só Jorge. Já a Marisa me acompanha desde o início, nos conhecemos antes mesmo de eu ter gravado pela primeira vez. Pensei em trazer esses artistas para o meu universo musical, de certa forma.

Você estreou gravando dois CDs com composições de Paulinho da Viola. Hoje, como intérprete e compositora, você reconhece a influência dele em sua música?

Teresa Cristina - Não sei se chega a ser uma influência. Sinceramente, eu não sinto isso. Talvez tenha alguma coisa involuntária, por eu ouvi-lo tanto, mas eu não chego a perceber.


Ainda é muito difícil para uma mulher atuar em um universo como o do samba, que sempre foi dominado pelos homens?

Teresa Cristina - O samba da Adriana Calcanhoto (“Beijo Sem”), que eu gravei nesse DVD, está me ajudando muito. Ele inaugura um lugar inédito para a mulher, muito diferente daquela submissão que está presente nas letras de tantos sambas. É desse lugar novo que eu quero falar nos meus futuros sambas, não da mascarada, da mulher pecadora. Isso já passou. Precisamos de mais mulheres decotadas e perfumadas no samba. Já estou preparando meu decote (risos).


Como você se vê no futuro? Sua faceta compositora pode vir a ocupar mais espaço do que a de intérprete?

Teresa Cristina - Desde o início o que eu sempre quis foi mostrar mais meu lado de compositora, mas estou cada vez mais gostando de cantar. Hoje, depois de percorrer doze anos de carreira, estou redescobrindo o prazer do canto no palco. E só percebi isso quando comecei a abrir mais os olhos.

Várias canções do DVD e do CD “Melhor Assim” têm o sagrado como tema. Você é uma pessoa muito religiosa?

Teresa Cristina - Um dos motivos de eu ter me tornado umbandista foi a música. Eu tinha 15 anos ao entrar pela primeira vez em um terreiro de umbanda e logo fui atraída pelo som do tambor. É claro que misturada a isso existe toda uma religiosidade que sempre esteve comigo. Cantando músicas que falam de orixás, de forças da natureza, não espero que as pessoas concordem com as minhas adorações, mas gosto de lembrar que a umbanda é uma religião brasileira, uma mistura de coisas portuguesas e africanas. Eu sou isso tudo. Gosto de fazer o meu terreiro no palco, no sentido de trazer o sagrado com um viés mais profano. Gosto de mostrar como é bonita essa exaltação à natureza.


(Entrevista publicada originalmente no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 30/04/2010)




       

2º Bourbon Festival Paraty: jazz, blues, soul e R&B ao ar livre neste fim-de-semana

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Quatro anos atrás publiquei na "Folha de S. Paulo" uma reportagem intitulada "Festivais de jazz crescem fora do eixo Rio-SP". Nela, apontei a expansão de eventos desse gênero além das privilegiadas capitais dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Esses festivais têm uma característica comum: contando com patrocínios ou apoios de órgãos governamentais, eles contribuem ativamente para incrementar o turismo em suas cidades ou regiões.   

Esse é também o caso do Bourbon Festival Paraty, que realiza sua segunda edição neste final de semana (de 28 a 30/5), oferecendo shows gratuitos e ao ar livre, nas charmosas ruas da cidade histórica de Paraty. O elenco é eclético e destaca atrações internacionais de jazz, blues, soul e R&B, como os guitarristas John Pizzarelli e Stanley Jordan (na foto acima, que vai tocar em duo com o baiano Armandinho) ou os cantores Glen David Andrews (de New Orleans), Victor Brooks e Julie McKnight. Os músicos Léo Gandelman, Bocato e e a big band Big Time Orchestra reforçam o elenco nacional.

Realizado pela Prefeitura de Paraty, o evento é produzido pela equipe do Bourbon Street Fest, que volta a acontecer em agosto, em São Paulo. Confira a programação no site do 2º Bourbon Festival Paraty.





   

3º Bridgestone Music: um balanço final

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                                                                                                                     Foto de Mila Maluhy
Pena que o show de Don Byron e seu New Gospel Quintet, última atração do Bridgestone Music, no sábado, tenha sido prejudicado pelo “forfait” do organista Frank Wilkins, que perdeu o vôo para São Paulo. Byron ainda teve uma considerável dose de sorte: conseguiu que o versátil Xavier Davis, pianista do grupo de Christian McBride, substituísse o colega. Mas o estrago já estava feito: o órgão fez falta no repertório centrado em releituras de clássicos do gospel.

Assim restou a Byron fazer um show apenas mediano. Abriu a apresentação com o clarinete, tocando uma relaxada versão de “Giant Steps” (a “prova de resistência” de John Coltrane), movida por ritmos latinos. Mais inusitada ainda, já no meio do show, foi a versão de “Lovesick Blues”, pérola country de Hank Williams, que Byron cantou com os característicos melismas do gênero, num ambíguo tom de caricatura.

Já as releituras de “Feed Me, Jesus” e “Precious Lord” (composições de Thomas E. Dorsey, considerado o pai do gospel negro) contaram com os vocais de DK Dyson. Embora seja uma cantora de recursos,  Dyson chega a soar arrogante, com seu visual imponente e poses artificiais,
diferentemente da simpática Barbara Walker, que conquistou a platéia na noite de estréia. 

Primeira atração do sábado, a cantora canadense Melissa Walker (na foto acima, com McBride) também exibiu muita competência, mas sem brilho especial. Talvez ainda se ressinta do longo período em que teve de se afastar dos palcos para tratar um problema em suas cordas vocais.

Com um repertório que destaca arranjos jazzísticos de sucessos da música pop, como “Mr. Bojangles” (de Jerry Jeff Walker) ou uma curiosa versão de “Flor de Liz” (do brasileiro Djavan), Melissa obteve seus melhores momentos ao homenagear duas ladies do jazz: Nina Simone, com a engajada “Four Women”; e Shirley Horn, com uma versão soul de “Forget Me”. Claro que o quarteto comandado pelo baixista Christian McBride (incluindo os solos de gaita de Gregoire Maret) garantiu um acabamento de primeira linha ao show da cantora.

Depois de três noites excelentes, com destaque para os shows do trompetista Christian Scott, do pianista Ahmad Jamal, do sexteto Escalandrum e do fora-de-série Overtone Quartet, o Bridgestone Music nem precisaria da última noite para se consolidar definitivamente como um festival de alto nível artístico e perfil original, que focaliza o jazz sob o ponto de vista de suas ligações com outras vertentes da música negra. Quem acompanhou esta terceira edição, certamente já está esperando a próxima.


3º Bridgestone Music: Overtone e Escalandrum brilharam na terceira noite do festival

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                                                                                                                     Foto de Mila Maluhy
                                      
Se houvesse alguma dúvida quanto à eficácia do programa da terceira noite do Bridgestone Music, ela certamente seria em relação à anunciada homenagem a Astor Piazzolla feita pelo grupo Escalandrum (cujo líder e baterista, Daniel Piazzollla, é neto do grande criador do “nuevo tango”). Afinal, com a outra atração da noite, o quarteto Overtone (reunião de Dave Holland, Jason Moran, Chris Potter e Eric Harland, quatro feras do jazz atual), seria quase impossível que algo desse errado.

Por isso, se algo realmente surpreendeu a platéia do Citibank Hall, ontem, em São Paulo, foi a ótima apresentação dos argentinos. Daniel e seus parceiros do Escalandrum acertaram plenamente na concepção dos arranjos de clássicos de Piazzolla, como “Adiós Noniño” ou “Fuga nº 9”. Conseguiram imprimir a abordagem jazzística do grupo nessas peças, sem comprometer sua essência. Como na misteriosa “Buenos Aires Hora Zero”, que ganhou uma introdução com ruídos e cacofonias tipicamente urbanas. Ou em “Libertango”, recheada por um solo bem jazzístico do sax alto Damián Fogiel.


Já a apresentação do Overtone Quartet (na foto acima) confirmou o que se esperava: um set daqueles para ficar por muito tempo na memória da platéia. Mesmo quem tem a oportunidade de acompanhar festivais de música ou concertos de jazz com freqüência, sabe como é raro poder ouvir um quarteto tocar com tanta inventividade, sofisticação, virtuosismo e substância musical. 

Não bastasse o fato de os integrantes do Overtone serem grandes instrumentistas, todos contribuem com composições para o repertório, projetando nelas suas personalidades. “Treachery”, do baterista Eric Harland, soou perfeita para abrir a noite, com sua melodia que remete à alegria das bandas de rua. De ascendência gospel, “Blue Blocks” ilustrou a original concepção harmônica de Jason Moran ao piano. A acelerada “Ask Me Why”, do saxofonista Chris Potter, serviu de veículo para que ele exibisse sua excepcional habilidade para criar e desenvolver melodias. 

Mesmo que esse quarteto tenha sido formado com espírito coletivo, princípio que o baixista Dave Holland fez questão de ressaltar ao apresentar seus colegas à platéia, é evidente a ascendência desse músico brilhante, que nas últimas quatro décadas esteve ligado a alguns dos coletivos mais inovadores do gênero. Contar com um baixista elegante e tão experiente como Holland já garante meio caminho para que o Overtone entre na história como um dos grandes grupos do jazz. 




3º Bridgestone Music: minimalista do piano, Ahmad Jamal excitou a platéia

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                                                                                                                    Foto de Mila Maluhy

A evidente excitação da platéia, ao ver Ahmad Jamal entrar no palco, não deixou dúvidas: grande parte dos fãs presentes à segunda noite do Bridgestone Music (ontem, no Citibank Hall, em São Paulo) estava ali, antes de tudo, para ouvi-lo. E o cultuado pianista, hoje com admiráveis 79 anos, certamente não decepcionou ninguém.

Com um grande sorriso, demonstrando certa surpresa pela recepção, Jamal comandou uma exibição primorosa de elegância, garra, sutileza, vigor, imaginação e muito, muito swing. Em poucos minutos, ele e seu poderoso quarteto já tinham a platéia não mãos. Destacam-se Herlin Riley, inventivo virtuose da bateria, e o ágil contrabaixista James Cammack, capaz de antecipar os repentinos movimentos do líder.

Improvisando composições próprias ou standards do jazz, como “Like Someone in Love”, Jamal imprime seu estilo personalíssimo: num mesmo solo alterna silêncios, paradas súbitas, explosões rítmicas, pianíssimos e fortíssimos, torrentes de notas com intervenções minimalistas. Em meio a tantos movimentos, só resta à platéia ficar de olhos e ouvidos bem abertos, mesmerizada, à espera da próxima surpresa.


Atração inicial da noite, a cantora Dee Alexander mostrou que se diferencia da grande maioria de intérpretes que têm surgido na cena jazzística, nos últimos anos. Em seu repertório original, de ascendência africana, os convencionais standards do jazz não têm espaço. Inovadora também é a formação e a sonoridade de seu grupo, o Evolution Ensemble, centrado em instrumentos de cordas, que destaca James Sanders (violino), Tomeka Reid (violoncelo) e Junius Paul (baixo acústico), além do percussionista Ernie Adams (percussão).

Ao cantar sua composição “Rossignol” (inspirada em um pássaro que costuma cantar à noite), Dee foi surpreendida pelas intervenções de alguém na platéia, que travou com ela um inesperado diálogo, imitando sons de pássaros. Pequenas surpresas, como as arquitetadas pouco depois por Ahmad Jamal, que fazem do jazz, música apoiada no improviso e no “aqui e agora”, um gênero tão apaixonante. 



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3º Bridgestone Music: trompetista Christian Scott rouba a primeira noite do festival

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                                                                                                     Foto: Carlos Calado                                           
                                                            
Começou bem a terceira edição do Bridgestone Music, ontem, em São Paulo. O garotão Christian Scott, revelação do trompete, roubou a noite de estréia. Conquistou a platéia do Citibank Hall sem fazer concessões: quase só tocou composições próprias, nem um standard ao menos para agradar a ala mais conservadora do público. Decisão corajosa para um músico ainda quase desconhecido no Brasil, como ele, cujos quatro álbuns permanecem inéditos por aqui.

Falante, Scott fez questão de contar como nasceu sua tensa composição “K.K.P.D.”, um dos destaques do show, que faz parte de seu recente CD “Yesterday You Said Tomorrow”. Vítima de uma blitz noturna, em New Orleans, foi arrancado do automóvel por policiais armados, que o xingaram de “negrinho” e o ameaçaram de mandá-lo para o necrotério. O título dessa música reflete a indignação do autor: nele, Scott fundiu as siglas de Departamento de Polícia com a da organização racista Ku Klux Klan.

Duas outras composições, extraídas do mesmo álbum, também se destacaram. Na releitura de “The Eraser” (de Thom Yorke, da banda pop Radiohead), a sobreposição do trompete, do piano repetitivo de Milton Fletcher e de um ruído eletrônico resultaram em uma atmosfera melancólica e hipnótica. A balada “Isadora” prima pela beleza: um tema delicado, em andamento bem lento, acariciado pelo trompete (com surdina) do autor.

Já a apresentação de Uri Caine e seu quarteto Bedrock, segunda atração da noite, dividiu a platéia, inicialmente. O inquieto pianista e compositor radicado em Nova York reúne uma combinação de gêneros musicais bem heterodoxa nesse projeto. Quem mais pensaria em misturar jazz de vanguarda, soul music, R&B, funk e gospel num mesmo set?

O ponto de equilíbrio nessa fusão inusitada é a simpática cantora Barbara Walker (ex-Pieces of a Dream), que encaixa com muito talento seus vocais cheios de swing, nos intrincados improvisos do pianista, incluindo melismas típicos do gospel e da soul music. Não fosse o carisma e o know-how de Barbara, as experimentações de Caine e seu Bedrock correriam o risco de soar frias e cerebrais em excesso.

Uma estréia promissora para quem esteve no Citibank Hall e pretende retornar outras noites ao Bridgestone Music. 

41º New Orleans Jazz & Heritage Festival: mais algumas cenas do evento

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                                                                             Fotos: Carlos Calado

Bom humor - "Obrigado, Aretha", dizia o cartaz de uma fã bem humorada durante o show da banda Earth, Wind & Fire, que substituiu Aretha Franklin. Não houve vaias na platéia, mas depois de dois cancelamentos consecutivos quem ainda pode acreditar que a Lady Soul (que tem medo de viajar de avião) quer mesmo se se apresentar em New Orleans? 

Tributos - Morta prematuramente, em março deste ano, a cantora Marva Wright foi homenageada com a inclusão de sua imagem ao lado de outros músicos ilustres da cidade que já se foram, além de um concerto-tributo com Davell Crawford e Papa Grows Funk.


Firme no gospel - Também conhecido entre o público paulistano depois de várias temporadas no Bourbon Street Music Club, o cantor e pianista Davell Crawford comandou uma emocionante apresentação na Tenda Gospel com o coro feminino de sua igreja.



Sucesso - Os olhares de admiração dos fãs, que fizeram fila para pedir autógrafos e tirar fotos com o trompetista Kermit Ruffins, mostram que a série de TV "Tremé" conseguiu, enfim, que norte-americanos de outras regiões do país se interessem por New Orleans.
O dia seguinte - Na manhã posterior ao encerramento do festival, a Louisiana Music Factory, loja de discos favorita dos músicos e dos fãs da música local, prosseguia com sua série de pocket shows. Em New Orleans, a música e a diversão quase não param.

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41º New Orleans Jazz & Heritage Festival: uma retrospectiva ilustrada

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                                                                             Fotos: Carlos Calado

Assumindo o papel de Miles Davis na releitura do álbum "Tutu", que foi comandada pelo baixista Marcus Miller (à esquerda), o jovem trompetista Christian Scott confirmou seu talento. Nesta semana ele abre a 3ª edição do Bridgestone Music, em São Paulo.

Carismática como de hábito, a cantora Dee Dee Bridgewater cativou a plateia do Jazz Fest, interpretando sucessos de Billie Holiday, em tributo recém-lançado em CD. Seu diretor musical, o pianista e arranjador porto-riquenho Edsel Gomez (que morou por quase dez anos no Brasil), também se destacou nesse show.
  
Lembra-se do Take 6, aquele sensacional conjunto vocal do Alabama que chegou a se apresentar no Brasil, na década de 1990? Eles continuam cantando a capella (sem acompanhamento) um eclético repertório, que vai do gospel ao hip hop, passando pelo soul, R&B e funk. Uma delícia de ouvir, tanto nos improvisos como nas harmonizações.



Depois que sua sacolejante canção "Tremé Song" virou tema de abertura da série de TV do canal pago HBO ("Tremé", ainda inédita no Brasil), o cantor John Boutté viu sua popularidade aumentar muito. Foi recebido como ídolo no Jazz Fest, merecidamente.   



Outro músico de Nova Orleans que virou herói local, graças também às suas aparições na série "Tremé", Troy "Trombone Shorty" Andrews fez um dos shows mais disputados e dançantes do domingo de encerramento do Jazz Fest. Os paulistas vão poder ouvi-lo novamente em agosto, na próxima edição do Bourbon Street Fest.



41º New Orleans Jazz & Heritage Festival: uma cidade festiva com a auto-estima em ascensão

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Quase cinco anos após a tragédia provocada pelo furacão Katrina, a cidade de Nova Orleans parece ter dado sua definitiva volta por cima. A produção do 41º Jazz & Heritage Festival, encerrado neste domingo, não divulgou o número de espectadores, mas as multidões vistas nos sete dias de shows indicam que o evento voltou a atrair mais de 500 mil pessoas.

Apesar da previsão de chuvas para o último final de semana, o tempo colaborou. Como se tivesse sido programado, o temporal que caiu anteontem sobre a cidade só começou minutos após o encerramento dos shows de Neville Brothers, B.B. King, Maze, Wayne Shorter e Radiators, atrações finais do domingo.

A ausência de Aretha Franklin, que já havia cancelado seu show no ano passado, não chegou a prejudicar o evento. Ao anunciar a banda Earth, Wind & Fire (na foto acima) para substituí-la, o produtor Quint Davis evitou mencionar o novo “forfait” da cantora, mas aproveitou a ocasião para fazer um comentário que excitou a platéia: “Podem tentar nos afogar, podem jogar óleo sobre nós, mas a alma dessa cidade continua viva em sua música”.

Ver músicos locais, como o cantor John Boutté, o trompetista Kermit Ruffins ou o trombonista Troy “Trombone Shorty” Andrews, serem aplaudidos com a mesma euforia dedicada aos astros internacionais, indica que a auto-estima da cidade está em franca ascensão graças à repercussão da série de TV “Tremé”, produção do canal HBO que aborda o período pós-Katrina.

Um exemplo desse momento especial vivido por Nova Orleans e seus músicos é o trompetista Christian Scott, 27, que tocou no sábado como solista da banda do veterano baixista Marcus Miller. Ao recriar faixas do álbum “Tutu” (que Miller gravou com Miles Davis, em 1986), Scott foi tão aplaudido quanto o líder, demonstrando personalidade nos improvisos. Talento que a platéia paulista também poderá conferir no próximo dia 19, já que Scott vai abrir a terceira edição do festival Bridgestone Music.

Outras atrações do festival de Nova Orleans poderão ser apreciadas pelos paulistas em breve. Presente no evento, como faz há mais de duas décadas, o produtor Edgard Radesca já confirmou à Folha os nomes de Trombone Shorty, do pianista Jon Cleary e do acordeonista Terrance Simien, no elenco da próxima edição do Bourbon Street Fest, agendado para agosto.

Texto publicado parcialmente na "Folha de S. Paulo" em 4/05/2010

Erykah Badu: cantora mistura psicodelismo com soul e funk que remetem ao seu início

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O fato de Erikah Badu ter apelado para a nudez, no clipe promocional de seu novo álbum, soa sintomático. Não basta mais ser original ou ter uma obra consistente como a dessa cantora e compositora norte-americana. No mercado na música pop, agora é preciso causar escândalo, alguma polêmica ao menos, para se destacar por instantes em meio às notícias sobre celebridades ou tragédias diárias.

Ironicamente, o CD “New Amerykah - Part Two” (lançamento Motown/Universal) é até mais acessível que o politizado álbum homônimo de 2008. Erykah mantém algo da instrumentação eletrônica e do psicodelismo do trabalho anterior, mas a temática amorosa e as faixas que remetem ao funk e ao soul dos anos 70, como “Turn Me Away”, “Gone Baby, Don’t Be Long” ou “Umm Hmm”, aproximam-se mais de “Baduism” (1997), seu primeiro disco.

Mesmo assim, Erykah fecha este álbum com a longa “Out of Mind, Just in Time”, balada romântica que se transforma em uma canção estranha, suspensa no ar. Seria uma dica camuflada para a parte final de uma trilogia? 

(resenha publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 30/04/2010) 

 

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