New Orleans Jazz Fest 2014: evento homenageia um Brasil exótico e defasado

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No palco maior, festejado por mais de 50 mil fãs espremidos na plateia, estava o guitarrista britânico Eric Clapton, que já foi chamado de deus. Na tenda de blues, aplaudido por cerca de 2 mil admiradores, o lendário cantor e compositor Sixto Rodriguez desfrutava a inusitada sensação de ser descoberto pelo público quatro décadas depois de uma carreira obscura.

Mesmo que isso não tenha sido intencional, o primeiro final de semana do 45º New Orleans Jazz & Heritage Festival terminou, anteontem, com uma antítese reveladora da competitiva cultura norte-americana. Clapton é o típico vencedor, grande instrumentista e bluesman que virou popstar, uma unanimidade. “Outsider” de um sistema que tentou enfrentar com suas canções folk, Rodriguez encarnou durante décadas a figura do perdedor.
Homenageado deste ano pelo festival, o Brasil ganhou até uma tenda para apresentações diárias, que inclui shows e mostras de culinária regional e artesanato. Pena que as atrações selecionadas, como um grupo baiano de capoeira, um afoxé pernambucano ou uma banda de forró com brasileiros radicados em Nova York, só reforçaram a velha imagem externa de um país exótico e festivo, mas defasado em relação ao cenário internacional.

Em mais uma edição marcada pela ênfase em popstars, como Clapton, Santana, Robert Plant, Public Enemy e Phish, que fecharam os programas dos palcos maiores neste final de semana, o New Orleans Jazz Fest tem alcançado o objetivo de ampliar suas plateias ano a ano. Por outro lado, corre o risco de se descaracterizar.

Bastava ver os espaços vazios nas plateias dos shows de vários artistas locais, forçados a concorrer com esses astros e bandas pop, nos mesmos horários. A questão agora é saber quanto o Jazz Fest pretende crescer, sem pagar o preço de se tornar um festival pop, como tantos outros. Uma cidade com uma cena musical tão rica e original, como Nova Orleans, não merece isso.

(Texto publicado originalmente na edição online da "Folha de S. Paulo", em 28.4.2014)

New Orleans Jazz Fest 2014: Glen David Andrews voltará a São Paulo e Rio de Janeiro

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Se você acompanhou “Tremé”, série de TV que retrata a reconstrução da cidade de Nova Orleans (EUA), quase destruída pelo furacão Katrina, já viu e ouviu Glen David Andrews. Cantor e trombonista, ele é uma das centenas de atrações do 45º New Orleans Jazz & Heritage Festival, que começa nesta sexta (25/4). Em agosto, também vai se apresentar no Brasil.

“Eu nunca tinha feito um show protegido por seguranças, até tocar em São Paulo, cinco anos atrás. Fiquei me sentindo um astro do rock. Foi muito excitante”, diz o músico norte-americano à Folha, por telefone. Refere-se às suas participações no Bourbon Street Fest, no qual voltará a tocar, em São Paulo, Rio e Brasília.

Outra lembrança que Andrews guarda da primeira visita ao país, em 2009, é a de uma apresentação com o cultuado clarinetista e arranjador Paulo Moura (1932-2010). “Tocar com ele foi uma grande honra para mim. Acho que Moura é uma espécie de George Lewis do Brasil”, comenta, comparando o brasileiro ao clássico clarinetista de jazz de sua cidade.

Nascido e criado no bairro de Tremé, lendário reduto de músicos em Nova Orleans, Andrews pertence a uma família de tradição musical que destaca seu irmão Derrick Tabb (baterista da Rebirth Brass Band) e dois primos: o trompetista James Andrews e o cantor e multi-instrumentista Trombone Shorty, hoje astro de prestígio internacional.

“A série ‘Tremé’ foi uma das melhores coisas que já aconteceram para a comunidade musical de Nova Orleans. Ela contribuiu para que milhões de pessoas ouvissem nossa música, na TV, todas as semanas”, afirma Andrews, que participou de vários episódios.

Conhecido por suas performances explosivas, Andrews é um artista que sua a camisa, literalmente, para conquistar e entreter as plateias. Eclético, seu repertório mistura blues, funk, hip hop, rock, R&B, gospel e jazz tradicional.

“Uma das coisas que eu mais gosto no Brasil é ser um lugar onde se ouve muitos tipos de música”, comenta.

Diversidade musical também não falta ao Jazz Fest – termo com o qual os moradores de Nova Orleans se referem, carinhosamente, a seu maior evento, só comparável ao Carnaval. Durante dois finais de semana, no hipódromo local, 11 palcos oferecem mais de 400 shows de jazz, soul, gospel, blues, R&B, folk, rap, zydeco, country, cajun, ritmos caribenhos, até música brasileira e africana.

Nos últimos anos, o aumento de figurões do rock e do pop, na programação, tem sido uma estratégia dos produtores para atrair plateias mais amplas. Eric Clapton, Bruce Springsteen, Santana, Robert Plant, John Fogerty, Phish, Johnny Winter, Alabama Shakes e Arcade Fire estarão entre as atrações dos palcos maiores, nesta edição. A média anual de público é de 500 mil pessoas.

Brasil ganha destaque no evento 

 
O New Orleans Jazz & Heritage Festival tem destacado todos os anos, desde 1996, um país com o qual a cidade tem afinidades culturais. Como já ocorreu em 2000, o Brasil foi o escolhido desta edição.

Porém, se naquele ano o país foi representado pela MPB de Chico César, pelo som instrumental de Hermeto Pascoal e pelos ritmos afros do bloco Ilê Ayiê, entre outros, desta vez os representantes brasileiros serão grupos de expressão regional, como Baiana System (BA), Tizumba e Tambor Mineiro (MG) e o Afoxé Omô Nilê Ogunjá (PE).

“Desde 2000 venho tentando inserir pelo menos um grupo brasileiro no festival, mas, por questões orçamentárias, torna-se difícil levar um artista mais famoso”, justifica a produtora Jo Iazzetti, que atua como consultora do evento.

Segundo ela, os nomes dos cantores Daniela Mercury, Caetano Veloso e Alceu Valença chegaram a ser aprovados pela produção do festival para esta edição, mas, por insuficiência de verba para os cachês ou por falta de parcerias com secretarias de Turismo brasileiras, os contratos não se efetivaram.

Além dos shows em dois palcos dedicados pelo New Orleans Jazz Fest a manifestações musicais da diáspora africana, o Brasil será o destaque do Cultural Exchange Pavilion (Pavilhão de Intercâmbio Cultural). A programação desse espaço inclui exposição fotográfica, demonstrações de muralistas e de artesãos de várias regiões do país, mostra de culinária de rua, exibições de capoeira e de bonecos gigantes do carnaval de Pernambuco. 


(Reportagem publicada parcialmente na "Folha de S. Paulo", em 25/4/2014) 



Sidmar & Sidiel Vieira: irmãos afinados se destacam na cena do jazz paulistano

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Revelações recentes da cena musical de São Paulo, Sidmar e Sidiel Vieira são irmãos afinados. Além de compartilhar a paixão pelo jazz e pela música instrumental brasileira, os dois gravaram juntos seus discos de estreia (lançados em edições alternativas), com os mesmos parceiros: Jefferson Rodrigues (saxofones), Felipe Silveira (piano) e Serginho Machado (bateria).

No álbum “Livre”, Sidmar exibe sete composições próprias, todas de essência jazzística. Das delicadas “Minha Oração” e “Dona Iza” ao dançante boogaloo “Gosto Deste”, o trompetista revela elegância e contenção. Nada a ver com aqueles músicos imaturos, ansiosos por demonstrar que são capazes de tocar centenas de notas por segundo.


Não é à toa que Sidiel abre o CD “Quinteto” com o suingado samba “Aos Mestres Baixistas do Samba-jazz”. Contrabaixista e compositor, ele combina influências do jazz e da música brasileira, em temas bem construídos, como “Atrevido” ou “Olha, Está Amanhecendo”. Ao ouvir esses dois discos fica mais evidente ainda que talentos não faltam aos irmãos Vieira. 

(resenha publicada originalmente no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 29/3/2014)


Maria Alcina: irreverência e deboche em tempos 'politicamente corretos'

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Projetado pelo produtor Thiago Marques Luiz para comemorar os 40 anos de carreira da cantora Maria Alcina, em 2012, o álbum “De Normal Bastam os Outros” (lançamento do selo Nova Estação) só chega ao mercado dois anos mais tarde. No caso de uma artista irreverente e debochada como ela, que jamais seguiu a cartilha da normalidade, o atraso até faz sentido.

A inédita “Eu Sou Alcina” (de Zeca Baleiro) abre o álbum como um simpático cartão de visitas (“eu sempre fui mesmo da pá virada / safada fada fadada / a ser o que sou, pois é”, diz a letra). Do compositor Péricles Cavalcanti, o frevo “Dionísio, Deus do Vinho e do Prazer” também soa adequado na voz da cantora (“no meu reino não tem siso nem proibição”).

Mas é nas canções mais antigas e gaiatas que Alcina soa totalmente à vontade, no álbum. Como o samba-coco “Bigorrilho”, com versos de duplo sentido que ela divide com Ney Matogrosso. Ou a releitura de “Sem Vergonha” (Jorge Ben), que ela já gravara em 1992. Em tempos tão “politicamente corretos”, a descontração e o deboche de Maria Alcina chegam a ser necessários. 


(resenha publicada originalmente no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 29/3/2014)

BMW Jazz Festival 2014: Dave Holland, Bobby McFerrin e Ahmad Jamal virão em maio

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O boato sobre a possível suspensão do BMW Jazz Festival, que circulou no ano passado, não se confirmou, felizmente, para os fãs do gênero em nosso país. A produção do evento anunciou hoje que sua quarta edição será realizada em São Paulo (no HSBC Brasil), de 29 a 31/5, e no Rio de Janeiro (no Vivo Rio), de 30/5 a 1º/6.

O contrabaixista e band leader Dave Holland, o cantor Bobby McFerrin (na foto ao lado), o pianista e compositor Ahmad Jamal e o saxofonista Kenny Garrett serão as principais atrações do evento, que também inclui o trompetista Chris Botti, o grupo Snarky Puppy e a pernambucana SpokFrevo Orquestra.

Além dessa programação, a produção também anunciou um show extra em Belo Horizonte (no Cine Theatro Brasil), em 3/6, e o costumeiro show ao ar livre, com entrada franca, no palco externo do Auditório Ibirapuera, em São Paulo, no dia 1º/6.


Os ingressos para o 4º BMW Jazz Festival começarão a ser vendidos em 25/4, a partir do meio-dia, pelo site www.ingressorapido.com.br e em alguns pontos de venda. Mais informações em https://www.facebook.com/bmwjazzfestival.


  

 

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