Zimbo Trio: Amilton Godoy fala sobre novos projetos do lendário trio instrumental

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Em atividade desde 1964, sem interrupções, o Zimbo Trio é um dos grupos musicais mais antigos no mundo. “Ainda não fizemos tudo”, diz o pianista e compositor paulista Amilton Godoy (à esquerda, na foto acima, com Itamar Collaço e Rubinho Barsotti), hoje com 70 anos, revelando que ele e seus parceiros já estão pensando em como vão comemorar o 50º aniversário do trio, em 2014.

“Zimbo Trio Autoral” (lançamento DG Produções) é o primeiro CD do trio com composições de sua autoria. Por que só fizeram um projeto como esse agora?
Amilton Godoy - O Zimbo sempre se serviu do que havia de melhor na música brasileira. Depois de tanto tempo tocando compositores que apreciamos, como Tom Jobim, Milton Nascimento ou Chico Buarque, estava na hora de eu ganhar uma colher de chá. Talvez eu ainda tenha futuro como compositor (risos). Este CD foi gravado ao vivo, no Teatro Fecap, em 2010. Além do Rubinho [Barsotti, baterista que fundou o trio com o baixista Luiz Chaves, morto em 2007], participam desta fase do Zimbo o baixista Marinho Andreotti e o baterista Percio Sapia.

No DVD “Zimbo Trio 45 Anos” (gravado em 2009 e também lançado agora pela Arte Viva), chamam atenção releituras de Bach e Rimsky-Korsakov. Como a música clássica entrou no universo musical do trio?
Godoy - Essas músicas faziam parte do disco “Opus Pop - Clássicos com Bossa”, que gravamos em 1972. André Midani, diretor da Phonogram, nos pediu um disco de obras eruditas tocadas com suingue brasileiro. Eu fiz os arranjos e o maestro Cyro Pereira fez as orquestrações. Rubinho e Luiz foram muito felizes ao conduzir ritmicamente essas músicas. Esse disco vendeu muito e abriu portas para o trio no exterior.

Qualquer música pode ser tocada em ritmo de bossa nova?

Godoy - Você precisa gostar da música que vai interpretar; depois, tem que experimentar. Acho que vários gêneros musicais podem ser adaptados ao suingue da bossa nova, que já se tornou uma linguagem mundial.

Na década de 60, nacionalistas xenófobos criticavam a “influência nociva” do jazz. O Zimbo também sofreu esse tipo de preconceito?   

Godoy - Isso jamais nos trouxe problemas. Nunca escondemos que fazíamos um jazz brasileiro, mas por que tocar música americana se podíamos improvisar sobre a nossa música? Já a partir do terceiro disco, gravamos Johnny Alf, Chico Buarque, Milton Nascimento. Quem ia ter coragem de dizer que esses compositores eram jazzistas?

Hoje o Zimbo Trio é um dos grupos musicais mais antigos em atividade no mundo. Como explica essa longevidade?   

Godoy - Continuamos tocando porque achamos que ainda não fizemos tudo. Após a saída do Luiz Chaves, demos muita sorte com a entrada do Itamar Collaço, que ainda tocou com a gente na gravação do DVD. O entrosamento tem que continuar fora do palco. Num grupo como o Zimbo, não há lugar para vaidades. É toda uma vida voltada para a música instrumental.

Vocês já têm planos para festejar os 50 anos do trio, em 2014? 

Godoy - Queremos lançar em CD nossos discos antigos. O produtor Marcelo Fróes já conseguiu liberar os seis primeiros, que gravamos pela RGE, na década de 1960. A idéia é que eles saiam ainda neste ano. Depois pretendemos relançar os discos que fizemos pelo selo Clam. Queremos que as pessoas tenham mais acesso à nossa história.

(entrevista publicada no “Guia Folha – Livros, Disco e Filmes”, em 24/6/2011)

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