Fachada da loja Jazz Record Mart, em Chicago, nos EUA
Se você não vive sem música, como eu, e jamais dispensa uma visita a alguma loja de CDs, DVDs ou vinis mesmo que esteja só de passagem por outro país, vai se interessar pela série documental “Minha Loja de Discos”, que o canal Bis (veiculado por diversas operadoras de TV paga) está exibindo regularmente.
O episódio de hoje, às 19h, focaliza a imensa Jazz Record Mart, de Chicago (EUA), que proclama ser a maior loja de jazz e blues do mundo (já abordada neste blog). A exemplo de episódios anteriores, dedicados a outras lojas de discos norte-americanas como a Louisiana Music Factory (de New Orleans), a Amoeba Music (Los Angeles) e a Somewhere in Detroit, a série parte da história da loja para traçar um panorama da cena musical de Chicago, essencial nas trajetórias do jazz e do blues moderno.
Além de trazer um depoimento do lojista e produtor Bob Koester, que fundou a Jazz Record Mart há quase 70 anos e dirige o selo independente Delmark, o episódio de hoje também exibe entrevistas com diversos músicos, como o cultuado pianista Ahmad Jamal, o trompetista Phil Cohran (ex-integrante da Sun Ra Orchestra) e o bluesman Tail Dragger.
Co-produção do canal Bis com a Ton Ton Filmes, a série é dirigida por Elisa Kriezis e Rodrigo Pinto. Esse episódio será reprisado nesta terça (16h), quarta (9h30 e 16h30), quinta (19h30), sexta (8h30), sábado (18h) e domingo (6h).
'Minha Loja de Discos': série documental viaja pelos centros musicais dos EUA
Marcadores: Ahmad Jamal, amoeba music, blues, bob koester, chicago, delmark, detroit, jazz, louisiana music factory, Minha Loja de Discos, new orleans, phil cohran, série de TV, tail dragger | author: Carlos CaladoRonen Altman: bandolinista reúne seleção de craques da música instrumental em CD
Marcadores: andré mehmari, benjamim Taubkin, dori caymmi, Edson Alves, gilson peranzzetta, hermeto pascoal, instrumental, Laércio de Freitas e Nailor Proveta, Renato Borghetti, swami jr., Tiago Costa, yamandu costa | author: Carlos CaladoNa contracapa do álbum “Som do Bando” (lançamento do selo Sonora), uma lista de músicos e arranjadores do primeiro time da música popular brasileira – André Mehmari, Dori Caymmi, Edson José Alves, Fernando Corrêa, Gilson Peranzzetta, Laércio de Freitas e Nailor Proveta, Renato Borghetti e Tiago Costa – já indica que se trata de um projeto muito especial.
O bandolinista Ronen Altman não deixou por menos ao planejar seu primeiro disco como solista: para as gravações convidou mais de 30 músicos com muitos dos quais já tocou ou gravou durante as últimas décadas. A produção também foi entregue a dois antigos parceiros na música: o violonista Swami Jr. e o irmão Helton Altman.
“Os momentos mágicos vividos ao lado de tantos artistas é que me incentivaram a realizar este disco. Ele é uma reverência que faço ao bandolim e ao bando de pessoas que me fizeram amar a música de maneira incondicional”, escreve Altman, no encarte do CD, que também inclui participações de Yamandu Costa (violão), Benjamim Taubkin (piano), Celsinho Silva (tamborins), Fábio Torres (piano), Sérgio Reze (bateria), Sylvinho Mazzuca Jr. e Pedro Gadelha (contrabaixo), entre outros.
Diferentemente do que se poderia esperar, essa multidão de instrumentistas e arranjadores, com diferentes concepções musicais, jamais compromete a unidade musical do álbum. Presente em quase todas as faixas, um quinteto de sopros garante certa uniformidade sonora.
Altman não é um daqueles músicos exibicionistas, ansiosos por demonstrar sua destreza técnica ao ouvinte. Ao dedilhar seu bandolim, costuma privilegiar o sentimento, as emoções embutidas nas melodias e harmonias do original repertório que escolheu.
Do contagiante samba-choro “Esperando a Feijoada” – com participação do próprio compositor, o guitarrista Heraldo do Monte – à versão instrumental da sensível canção “Fim do Ano” (de Swami Jr. e José Miguel Wisnik), Altman desfia a cada faixa diversas parcerias e ligações musicais, compondo assim um panorama de sua própria história.
Arranjada pelo pianista Laércio de Freitas, “Turma Toda”, do baixista Arismar do Espírito Santo”, revela influências jazzísticas e conta com improvisos de ambos. Em arranjo de Hermeto Pascoal, o “Choro de Amor Vivido”, de Eduardo Gudin, também destaca o violão do compositor.
Outro craque dos arranjos e composições, o violonista Dori Caymmi comparece com seu vozeirão e suas cordas, em faixa que une “Obsession” (parceria com Gilson Peranzzetta) e “Rio Amazonas”, ao lado do flautista Teco Cardoso.
Altman também inclui cinco composições próprias: da valsante “Nanai” (parceria com Celso Viáfora), que destaca a sanfona de Lulinha Alencar, à envolvente “Parafuso”, em arranjo do pianista André Mehmari.
Em tempos de vaidades e individualismos extremados, ao reunir tantos parceiros e amigos em seu belo disco de estreia, Altman dá uma lição de humildade e amor pela música.
(Resenha publicada parcialmente no caderno Ilustrada, da “Folha de S. Paulo”, em 23/09/2014)
Trilhas sonoras: o sopro de inovação do jazz nos filmes da Nouvelle Vague
Marcadores: art blakey, Barney Wilen, Camus, Chabrol, George Arvanitas, Godard, Jeanne Moreau, Luiz Bonfá, Martial Solal, miles davis, Modern Jazz Quartet, tom jobim, Truffault, Vadim | author: Carlos Calado
A atriz Jeanne Moreau e Miles Davis, em 1957
Nem
é preciso ser fanático por trilhas sonoras para apreciar a música desta caixa lançada na
Inglaterra (selo Moochin' About). Os 6 CDs reúnem trilhas de 13 filmes do período 1956-1962, que de
algum modo se relacionam com a Nouvelle Vague – a onda de inovação comandada
por jovens cineastas franceses, como Jean-Luc Godard, François Truffaut e Claude Chabrol, que influenciou
o cinema de diversos países.
A música criada pelo jazzista Miles Davis para “Ascenseur pour L’Échafaud” (Ascensor para o Cadafalso), de Louis Malle, em 1957, soa impactante até hoje. A expressividade do trompete de Davis é um elemento essencial nesse filme, especialmente nas cenas em que a protagonista (vivida por Jeanne Moreau) vaga pelas ruas à procura do amante, que está prestes a cometer um crime.
Não é por acaso que outros músicos de jazz – norte-americanos como o baterista Art Blakey ou o erudito Modern Jazz Quartet, assim como os franceses Barney Wilen, Martial Solal e George Arvanitas – também se destacam nessa antologia. A liberdade do jazz tinha tudo a ver com a irreverência e a inovação da linguagem cinematográfica trazidas pela Nouvelle Vague.
Já a trilha sonora de Tom Jobim e Luiz Bonfá foi a grande responsável pelo sucesso de “Orfeu Negro” (1959), de Marcel Camus. Graças a esse filme muitos tiveram contato pela primeira vez com outra onda (logo batizada de bossa nova) que só viria a explodir no cenário internacional anos depois.
A caixa inclui também as trilhas dos filmes "E Deus Criou a Mulher", "As Ligações Perigosas", "Sait-on Jamais" e "La Bride sur le Cou" (de Roger Vadim), "Os Primos" (de Claude Chabrol), "Acossado" (de Jean-Luc Godard), "Atirem no Pianista" (de François Truffaut), "Bob, le Flambeur" (de Jean-Pierre Melville), "Un Témoin dans la Ville" e "Des Femmes Disparaissent" (de Edouard Molinaro).
A música criada pelo jazzista Miles Davis para “Ascenseur pour L’Échafaud” (Ascensor para o Cadafalso), de Louis Malle, em 1957, soa impactante até hoje. A expressividade do trompete de Davis é um elemento essencial nesse filme, especialmente nas cenas em que a protagonista (vivida por Jeanne Moreau) vaga pelas ruas à procura do amante, que está prestes a cometer um crime.
Não é por acaso que outros músicos de jazz – norte-americanos como o baterista Art Blakey ou o erudito Modern Jazz Quartet, assim como os franceses Barney Wilen, Martial Solal e George Arvanitas – também se destacam nessa antologia. A liberdade do jazz tinha tudo a ver com a irreverência e a inovação da linguagem cinematográfica trazidas pela Nouvelle Vague.
Já a trilha sonora de Tom Jobim e Luiz Bonfá foi a grande responsável pelo sucesso de “Orfeu Negro” (1959), de Marcel Camus. Graças a esse filme muitos tiveram contato pela primeira vez com outra onda (logo batizada de bossa nova) que só viria a explodir no cenário internacional anos depois.
A caixa inclui também as trilhas dos filmes "E Deus Criou a Mulher", "As Ligações Perigosas", "Sait-on Jamais" e "La Bride sur le Cou" (de Roger Vadim), "Os Primos" (de Claude Chabrol), "Acossado" (de Jean-Luc Godard), "Atirem no Pianista" (de François Truffaut), "Bob, le Flambeur" (de Jean-Pierre Melville), "Un Témoin dans la Ville" e "Des Femmes Disparaissent" (de Edouard Molinaro).
(resenha publicada parcialmente no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 30/8/2014)
Lupa Santiago e Paulo Braga: do jazz à sofisticação harmônica da música brasileira
Marcadores: instrumental, jazz, joe henderson, lupa santiago, moacir santos, Paulo Braga, samba-jazz | author: Carlos CaladoA escolha é sua: você pode chamar de música instrumental brasileira ou de jazz a música improvisada e criativa que o guitarrista Lupa Santiago e o pianista Paulo Braga exibem no CD "N101" (selo independente). Conceituados instrumentistas e educadores, eles assinam as dez composições que servem de veículos para o álbum de estreia desse criativo duo.
O trânsito livre entre a espontaneidade do jazz e a sofisticação harmônica da música brasileira já é sugerido pelos temas que Santiago dedica ao maestro pernambucano Moacir Santos (1926-2006) e ao saxofonista norte-americano Joe Henderson (1937-2001). Do jazzístico samba “N101” (nome de uma rodovia de Portugal que Santiago emprestou para homenagear seu parceiro) ao lirismo clássico da “Valsa” (de Braga), o que resulta é um inventivo diálogo musical que não precisa recorrer a palavras para conquistar o ouvinte.
Lupa Santiago e Paulo Braga vão fazer um show de lançamento do CD "N101", no próximo dia 28/9, às 11h, no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. O texto acima foi escrito para a capa do disco. No vídeo abaixo, uma composição de Santiago incluída no álbum, em outra versão, com quarteto que inclui Ricardo Mosca (bateria) e Zeli (baixo acústico).
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