New Orleans Jazz Fest 2017: evento da Louisiana vai celebrar a música cubana

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Na contramão do recém empossado governo norte-americano, que planeja restringir o ingressos de imigrante no país e erguer muros em suas fronteiras, o New Orleans Jazz & Heritage Festival anunciou ontem que vai realizar uma grande celebração à cultura de Cuba. Em sua 48ª edição, de 28/4 a 7/5, o evento levará à capital cultural da Louisiana mais de 150 artistas da ilha caribenha. Um dos 12 palcos do evento, que costuma ocupar as dependências do hipódromo de New Orleans, será dedicado exclusivamente a shows de diversas vertentes musicais cubanas.

Como nos últimos anos, nomes de destaque nas cenas da música pop e da black music norte-americana aparecem no elenco anunciado ontem, como os de Stevie Wonder (que teve seu show cancelado no ano passado por causa das fortes chuvas), Tom Petty & The Heartbreakers, Usher & The Roots, Alabama Shakes, Wilco, Dave Matthews & Tim Reynolds, Earth, Wind & Fire, Snoop Dog, Corinne Bailey Rae, Tower of Power, Patti Labelle e Maroon 5, entre mais de 400 shows.  

 
Eclético por natureza, em função de sua proposta de cultivar a herança cultural e a diversidade musical da cidade de Nova Orleans, o festival oferece palcos dedicados exclusivamente a gêneros como o jazz, o blues e o gospel, assim como palcos focados em vários estilos de black music (soul, funk, rhythm & blues, hip hop) ou gêneros típicos da música da Louisiana (zydeco, cajun, swamp blues).

Em meio à extensa programação destacam-se também o cantor e guitarrista George Benson, o quarteto de jazz do veterano saxofonista Lee Konitz, os blueseiros Buddy Guy, Joe Louis Walker e Jonny Lang, o soulman William Bell e ainda dois ícones do jazz da África do Sul: o pianista Abdullah Ibrahim e o trompetista Hugh Masekela.

Já entre as 12 atrações musicais reunidas no projeto “Cuba Comes to Jazz Fest”, a plateia poderá apreciar diariamente grupos e bandas cubanas de vários gêneros e gerações, como o quinteto de jazz do veterano pianista Chucho Valdés, o Rumba Project do percussionista Pedrito Martinez (na foto acima), a clássica banda de música dançante Los Van Van, o grupo de reggaeton Gente de Zona e a jovem cantora Daymé Arocena (que se destacou na edição de 2015 do festival Jazz na Fábrica, em São Paulo; foto abaixo).  


Com tantos artistas de peso no elenco, já seria possível realizar um ótimo festival em qualquer lugar do mundo, mas essa é apenas a chamada “ponta do iceberg” desse evento. Mais de 90% das atrações do evento são mesmo de New Orleans – uma das cidades mais musicais do mundo, com uma cena bastante eclética e repleta de artistas de altíssimo nível.

Não é à toa que quem vai pela primeira vez a essa cidade se surpreende ao conhecer músicos locais, como os trompetistas Terence Blanchard, Nicholas Payton e Kermit Ruffins, os pianistas (e cantores) Dr. John, Jon Cleary e Davell Crawford, os trombonistas Trombone Shorty e Delfeayo Marsalis, os cantores Aaron Neville, Harry Connick Jr., Irma Thomas, John Boutté e Germaine Bazzle, ou ainda as bandas The Meters, Galactic, The Soul Rebels, Astral Project, Dirty Dozen Brass Band, Bonerama, Rebirth Brass Band, Dumpstaphunk e a Preservation Hall Jazz Band, entre dezenas de outras notáveis atrações –- todas elas, quase invariavelmente, no programa do New Orleans Jazz & Heritage Festival.


O evento inclui também programação para crianças, uma feira de artesanato e duas áreas de alimentação com pratos típicos da culinária da Louisiana. Mais informações no site oficial do festival: www.nojazzfest.com/




Banda Mantiqueira: novo disco da big band festeja 25 anos com Lubambo e Marsalis

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               Os saxofonistas Cássio Ferreira (esq. para dir.), Proveta, Josué dos Santos e Ubaldo Versolato  

Manter uma orquestra ativa durante 25 anos já é por si só uma proeza, mas os músicos da Banda Mantiqueira e seus fãs têm mais a comemorar com o lançamento do álbum "Com Alma". Basta ouvir algumas faixas para comprovar que a aventura iniciada por essa big band paulistana, em 1991, resultou em uma linguagem instrumental brasileira que não se fecha às enriquecedoras influências de outras tradições musicais.

“Nos últimos anos, conseguimos aprimorar uma concepção musical mais aberta, que promove um encontro da música popular brasileira com o jazz e a música clássica”, resume o clarinetista e saxofonista Nailor “Proveta” Azevedo, referindo-se ao período que sucedeu o lançamento de “Terra Amantiquira” (2005), o álbum anterior da orquestra.

Para quem sentiu falta de um novo disco da Banda Mantiqueira, na última década, o fundador e líder explica que vários de seus integrantes, assim como ele, têm dedicado mais tempo ao ensino musical, buscando transmitir a linguagem da banda às novas gerações. Paralelamente, a banda participou de projetos com talentosas intérpretes da canção brasileira, como Mônica Salmaso, Rosa Passos, Fabiana Cozza e Anaí Rosa.

“Passamos esses dez anos sem gravar outro disco, mas, por outro lado, a gente cresceu muito musicalmente. Tocar e conviver com outros músicos ajuda a amadurecer. Os projetos com essas cantoras, assim como nossas atividades pedagógicas, trouxeram mais experiência para os músicos da banda”, avalia Proveta.

“Com Alma” representa o fim de um ciclo musical na trajetória da Banda Mantiqueira. Por isso, segundo seu líder, a necessidade de revisitar no repertório do novo álbum um pouco dessa história. Criada no início dos anos 1990, em um apartamento do bairro paulistano de Bela Vista, onde Proveta morava com o trompetista Walmir Gil e os saxofonistas Cacá Malaquias e Ubaldo Versolato, a Banda Mantiqueira veio coroar as experiências desses músicos em formações anteriores, como a Banda Savana, a Banda Aquarius e a Sambop Brass.

Duas composições incluídas no álbum nasceram durante a fase inicial da banda. O frevo “Forrólins”, de Cacá Malaquias, é uma homenagem ao veterano saxofonista norte-americano Sonny Rollins. O arranjo de Proveta combina o contagiante ritmo do Nordeste brasileiro com fraseado e improvisos típicos do jazz. Também composto por Malaquias, o lírico “Chorinho pra Calazans” é dedicado ao artista plástico pernambucano J. Calazans. Se você sentir algo de impressionista no arranjo de Proveta, saiba que não é mera coincidência.

“Stanats”, composição que o pernambucano Moacir Santos (1926-2006) dedicou ao saxofonista norte-americano Stan Getz (1927-1991), foi arranjada por Proveta, em 1994, como uma homenagem ao nosso genial compositor e maestro que muitos brasileiros só descobriram neste século. “Foi incrível ter tocado esse arranjo para o Moacir, o homem que levou o ritmo afro-brasileiro para o jazz clássico, com o requinte da música clássica europeia”, comenta Proveta.

Padrinho da Banda Mantiqueira, o grande músico e compositor João Bosco também é homenageado com seu samba “De Frente Pro Crime”, em arranjo inédito de Proveta. Ao violão, em participação muito especial, surge o carioca Romero Lubambo, com o qual a banda já planejava fazer algo há tempos. Lubambo também é o solista na gravação de “Desafinado” (obra-prima de Tom Jobim e Newton Mendonça), em belíssimo e inédito arranjo de Edson José Alves, que ressalta a sofisticação harmônica da bossa nova e as influências da música clássica que Jobim assimilou em sua obra.

“Con Alma” – a composição de Dizzy Gillespie (1917-1993), mestre do trompete e do jazz moderno, que inspirou o título deste álbum – ganhou cores de bossa nova e samba-canção, no arranjo de Edson José Alves. Além de contar com o violão de Lubambo, essa gravação destaca outro convidado muito especial: o trompetista norte-americano Wynton Marsalis.

O líder da Jazz at Lincoln Center Orchestra também participa da gravação de “Segura Ele”, clássico choro de Pixinguinha (1897-1973). “Quando convidei o Marsalis, disse a ele que essa música lembra um ragtime do Scott Joplin”, conta Proveta, que escreveu a primeira versão desse arranjo para a orquestra paulista Jazz Sinfônica, ainda na década passada.

“Sentimos a necessidade de revisitar a história da banda, para lembrar de encontros musicais que fizeram a diferença em nossas vidas”, comenta Proveta, sintetizando muito bem o conceito deste álbum, que tem tudo para repercutir tanto em nosso pais, como no exterior. Vivendo hoje uma fase de grande produção e primor artístico, a música instrumental brasileira reflete na original experiência dessa big band um exemplo a ser seguido pelas novas gerações.

Como outros admiradores da Banda Mantiqueira, cuja trajetória tive o prazer de acompanhar desde o início, posso declarar que escutá-la durante estes 25 anos também foi sempre algo muito especial.

(Texto para o encarte do disco "Com Alma", escrito a convite da Banda Mantiqueira)





 

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