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Bourbon Street Fest: evento comemora seus 20 anos de conexão New Orleans-São Paulo

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                                                O baixista e cantor Tony Hall, no 20.º Bourbon Street Fest

Neste momento em que as relações diplomáticas e econômicas entre o Brasil e os Estados Unidos estão bastante estremecidas, a realização do 20.º Bourbon Street Fest (em São Paulo, na semana passada) provocou uma breve reflexão. Não fosse a admiração que as plateias brasileiras cultivam há mais de um século por diversos gêneros da música norte-americana (relação que se tornou de mão dupla desde a explosão mundial da bossa nova nos anos 1960), hoje seria mais difícil imaginar que um evento como esse pudesse festejar seu 20.º aniversário.

Tive a sorte de acompanhar toda a trajetória desse festival criado por Edgard Radesca e Herbert Lucas, diretores do Bourbon Street Music Club. Inaugurada em dezembro de 1993 com um histórico show do “rei do blues” B.B. King, essa casa noturna paulistana nasceu sob a inspiração da rica cena musical e gastronômica de New Orleans – a cidade mais famosa do estado norte-americano de Louisiana. E assim, dedicando sua programação ao jazz, ao blues, ao R&B e outras vertentes da black music, além da música brasileira, naturalmente, tornou-se um dos melhores clubes do gênero na América Latina.

Depois de trazerem a São Paulo dezenas de conceituados artistas da cena musical de New Orleans, como Bryan Lee, Marva Wright, Charmaine Neville e Jon Cleary, para temporadas de shows no clube,os diretores do Bourbon Street decidiram elevar essa ponte musical a outro patamar. Para comemorar os 10 anos da casa, em 2003, criaram o Bourbon Street Festival, evento que segue o perfil eclético do New Orleans Jazz & Heritage Festival, um dos maiores eventos musicais do mundo, realizado naquela cidade desde 1970.

Em meio às eventuais dificuldades para contar com patrocínios regulares, durante essas duas décadas, Edgard Radesca e Herbert Lucas seguiram à risca a missão de trazer ao Brasil mostras da diversidade que caracteriza o cenário musical de New Orleans. Não foi diferente nesta edição: o elenco do festival paulistano exibiu destaques como o tecladista e compositor Ivan Neville, herdeiro de uma das famílias musicais mais importantes de New Orleans, a banda The Rumble, a cantora JJ Thames e o baixista Tony Hall, já conhecido pela plateia de São Paulo. Vale lembrar, sempre com alguns shows gratuitos, na programação.

Por tudo que já fizeram para manter essa preciosa ponte musical entre São Paulo e New Orleans (duas cidades cosmopolitas que valorizam a cultura e, de modo geral, são conhecidas por receberem bem os imigrantes que as escolhem para morar), os diretores do Bourbon Street Fest já mereceriam ser condecorados, tanto no Brasil como nos Estados Unidos.



Bourbon Street Fest: clube paulistano celebra a diversidade musical de New Orleans

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                                                                       O trombonista Corey Henry, líder da banda Tremé Funket  

Após o longo hiato imposto pelo período mais dramático da pandemia, um dos principais e mais simpáticos festivais brasileiros de música reativa o formato que o consagrou. O Bourbon Street Fest estreia na próxima semana sua 18.ª edição, com três shows por noite, de quarta (21/9) a domingo (25/9), no clube homônimo paulistano. Já nas tardes de sábado e domingo (24 e 25/9), essa festa musical se estende até o Parque Burle Marx, a partir das 13h, com entrada franca.

Quem já teve a oportunidade de acompanhar alguma das edições anteriores desse festival sabe o quanto ele é original. Edgard Radesca e Herbert Lucas, produtores do Bourbon Street Music Club, costumam escolher as principais atrações desse evento na eclética cena musical de New Orleans, uma das cidades mais musicais do mundo. Localizada na região da Louisiana, no sul dos Estados Unidos, essa cidade realiza anualmente o New Orleans Jazz & Heritage Festival – um dos maiores festivais de jazz e música negra deste planeta.

Três dos artistas do elenco desta edição do Bourbon Street Fest já são conhecidos pela plateia de São Paulo: o conceituado saxofonista e compositor de jazz moderno Donald Harrison; o trompetista e cantor Leroy Jones, que cultiva o jazz tradicional ao estilo de New Orleans; e o acordeonista e cantor Dwayne Dopsie – expoente do zydeco, tradicional e dançante gênero musical da Louisiana.

Outras vertentes essenciais da música produzida em New Orleans estarão bem representadas por talentosos artistas em ascensão na cena musical dessa cidade: o neo-soul e o R&B da cantora e violonista Bobbi Rae, que terá a companhia do guitarrista brasileiro Igor Prado e sua banda Just Groove; o funk do trombonista Corey Henry, líder da energética banda Treme Funket; e o jovem tecladista e cantor Kevin Gullage, revelação do soul e do blues, com sua banda The Blues Groovers.

Conheça a programação completa do 18.º Bourbon Street Fest neste link:
fest.bourbonstreet.com.br/

Terrie Odabi: cantora de soul e R&B conquista plateia paulistana do Bourbon Street

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                                                      Terrie Odabi e o guitarrista Fred Sunwalk, no Bourbon Street 

Em sua primeira turnê pelo Brasil, a cantora americana Terrie Odabi demonstrou surpresa ao ver a plateia do Bourbon Street Music Club se levantar para aplaudi-la, no meio do show de ontem. Sabemos que o público paulistano tem o curioso hábito de aplaudir de pé quase qualquer artista, mas no caso dessa intérprete californiana a inflamada reação do público extrapolou o mero ritual.

Bastaram alguns minutos de show, na noite de estreia do The Blues Festival, para que a plateia paulistana logo percebesse que tinha à sua frente uma cantora fora de série, aliás, muito bem acompanhada pela banda brasileira Alabama Johnny. Carismática e bem-humorada, Terrie exibe uma voz poderosa e versátil. É uma intérprete capaz de inflamar seus ouvintes.

Seu repertório é formado, majoritariamente, por clássicos do rhythm’n’blues e da soul music. De cara, esboçou um discurso feminista, cantando “I’m a Woman”, o pesado blues assinado e gravado por Koko Taylor (1928-2009). Fez alguns se mexerem nas cadeiras, ao lembrar a dançante “Chain of Fools”, hit de Aretha Franklin (1942-2018). Emocionou a plateia com a “I’d Rather Be Blind”, pungente balada que ganhou a assinatura vocal de Etta James (1938-2012).

O fato de reunir tantos sucessos de outras intérpretes em seu show não quer dizer que Terrie Odabi seja uma cantora de covers. Assim como faz nas releituras das canções já citadas, ela esbanja personalidade ao interpretar “Ball and Chain”, o blues associado a Janis Joplin (1943-1970), assim como na versão de “Come Together”, hit de John Lennon e Paul McCartney que também já foi muito bem gravado por Tina Turner.

Se você perdeu a chance de ouvir Terrie ao vivo, não precisa se lamentar. Os rasgados elogios que ela fez ao Brasil durante o show, assim como a reação calorosa da plateia que a obrigou a cantar um extenso bis, indicam que esta não será certamente sua única aparição por aqui.

O The Blues Festival prossegue nas próximas semanas, no palco do Bourbon Street. A Cinelli Brothers, banda de blues e r&b radicada em Londres, toca na noite de 20/03. O evento termina com o encontro do gaitista e cantor carioca Flávio Guimarães com o guitarrista norte-americano Little Joe McLerran e os Simi Brothers, em 3/04. O guitarrista Gui Cicarelli também será o anfitrião dessas duas noites.





Discos em 2018: 80 recomendações de álbuns de jazz, instrumental, MPB e black music

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Às vésperas de completar 10 anos, este blog oferece a você mais uma lista anual de discos recomendados. Para quem não me conhece e está acessando este blog pela primeira vez, repito algo que já disse em anos anteriores. Não tenho a pretensão de publicar uma lista de “melhores” discos de 2018, pois não concordo com a ideia de que discos de diferentes artistas, que cultivam gêneros musicais diversos, possam ser comparados para se estabelecer um suposto ranking de “melhores”.

Também não acho que o gosto pessoal de um crítico, ou mesmo uma enquete com uma dúzia de supostos experts em música, possam ser utilizados como parâmetros para se afirmar que um disco é superior a outros. Até porque, a cada ano que passa, é maior o número de lançamentos de discos, sejam eles distribuídos em versões físicas (CD ou vinil) ou por meio de plataformas digitais. É praticamente impossível a qualquer crítico especializado ter acesso a toda essa produção fonográfica.

Meu plano inicial era organizar, como no ano passado, uma lista com 50 discos de jazz, música instrumental brasileira, MPB e de algumas vertentes da música negra. Acabei decidindo ampliar esse número para 80 álbuns (listados em ordem alfabética), para não deixar de fora muitos lançamentos de 2018 que merecem atenção.

Finalmente, um aviso importante: como grande parte desses discos que vou recomendar também estão disponíveis no YouTube, se você clicar no título dos discos listados abaixo vai poder ouvi-los ou pelo menos assistir a um vídeo associado a cada um desses álbuns. Se gostar do que ouvir, o artista em questão vai ficar muito contente se você comprar seu disco ou assistir ao seu show quando ele se apresentar em sua cidade.

Aproveito para desejar a você um 2019 repleto de música de boa qualidade. Tomara que esta lista o ajude a descobrir novos artistas e discos. Quem gosta mesmo de música sabe que não há limites para isso. Nossa curiosidade por novos sons sempre se renova. 



                                    
                        

Alexandra Jackson - “Legacy & Alchemy” (Legacy and Alchemy) – Cantando em português quase sem sotaque, essa talentosa intérprete americana declara sua paixão pela música brasileira. Canções de Tom Jobim, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Milton Nascimento se destacam no repertório de seu disco de estreia.

Amaro Freitas - “Rasif” (Far Out) – Ritmos nordestinos, como o baião, o maracatu e o frevo, revelam a identidade do jazz (ou música instrumental, para quem preferir) cultivado por esse inventivo pianista e compositor pernambucano, em seu segundo álbum. Amaro é uma das grandes revelações recentes na cena musical brasileira.

Anaí Rosa - “Anaí Rosa Atraca Geraldo Pereira” (Sesc) – A cantora paulista homenageia Geraldo Pereira, mestre do samba sincopado, cujo centenário é festejado em 2018. Clássicos do gênero, como “Escurinho”, “Acertei no Milhar” e “Cabritada Malsucedida”, surgem em inusitados arranjos de Cacá Machado e Gilberto Monte.

André Abujamra - “Omindá” (independente) – Conhecido por seus trabalhos com Os Mulheres Negras e a banda Karnak, o compositor dedicou 11 anos ao ambicioso projeto de um show-filme sobre as relações do ser humano com a água. Mesmo sem a companhia das belas imagens do espetáculo, as canções continuam soando encantadoras.

Anelis Assumpção - “Taurina” (Scubidu) – A sombra musical do pai, o grande Itamar Assumpção (1949-2003), já não a ofusca mais. Em seu terceiro álbum, a cantora e compositora aborda o universo feminino de modo bem pessoal. Anelis não esconde a tristeza pela morte da irmã, Serena, mas também revela humor e doçura em suas canções.

Aniel Someillan - “Quilombo” (independente) – Primeiro álbum do contrabaixista cubano, que se radicou no Brasil em 2014. A releitura do samba-afro “Canto de Xangô” (de Baden Powell e Vinícius de Moraes), que mistura elementos rítmicos da santeria cubana e do candomblé brasileiro, é exemplar de suas pesquisas musicais.

Antonio Adolfo e Orquestra Atlântica - “Encontros” (AAM) – Nos últimos anos, o pianista e compositor carioca tem lançado discos saborosos e este, em parceria com uma big band, não foge à regra. No repertório, uma versão instrumental de “Sá Marina”, seu grande sucesso, e um arranjo de “Milestones” (Miles Davis), em ritmo de frevo.

Antonio Loureiro - “Livre” (YB) – O título do sexto álbum do multi-instrumentista, compositor e cantor mineiro soa como uma afirmação. Da engajada canção “Resistência” à instrumental “Caipira”, passando pela exuberante versão de “Oriente” (de Gilberto Gil), Loureiro parece decidido a romper fronteiras musicais.

Ari Borger Trio - “Rock ‘n’ Jazz” (independente) – Depois de morar na eclética New Orleans, é natural que este pianista e organista paulistano traga diversidade em sua música. Neste álbum, ele exibe releituras jazzísticas e blueseiras de clássicos dos Beatles, dos Stones e dos Doors, entre outras bandas de rock e pop.


Balaio (Cendi Music) – O quarteto formado em 2009 por Rubem Farias (baixo), Adriano Oliveira (teclados), Leonardo Susi (bateria) e Marco Bosco (percussão) tocou bastante na Ásia e na Europa até, enfim, lançar o primeiro álbum. Calcada em ritmos brasileiros, sua música remete às fusões do jazz dos anos 1970 e 1980.   

Benji Kaplan - “Chorando Sete Cores” (Big Apple Batucada) – Apreciador da música brasileira, o violonista, compositor e arranjador nova-iorquino reveste com cores e texturas eruditas ritmos como o samba, o maxixe, o baião e o maracatu. Para isso, utiliza um quinteto com flautas, clarinetes e trompa, além de seu violão.

Bixiga 70 - “Quebra Cabeça” (Deck) – O 4º álbum da compacta big band paulistana soa como virada de página. A forte ascendência do afrobeat, em seus primeiros discos, dá lugar a composições se abrem para influências de Cabo Verde, Cuba, Jamaica, Índia, Bahia e, naturalmente, da África. Música contagiante para dançar e viajar.

Cacá Machado - “Sibilina” (Circus/YB) – Cinco anos depois do inventivo “Eslavosamba” (2013), seu primeiro álbum, o compositor e professor universitário paulistano exibe mais uma coleção de canções que desafiam padrões. A etérea e ruidosa “Sob Neblina” representa bem o álbum, mas a inquietante “Tem Um” soa como obra-prima.

Cainã Cavalcante - “Corrente” (independente) – Saudado como “genial artista” por ninguém menos que Guinga, o violonista e compositor cearense lança aos 38 anos seu primeiro disco de violão solo. No repertório, belezas como a lírica “Mar de Saudade”, o samba “Vento Sul” e “Forró Gaúcho”, dedicado ao violonista Yamandú Costa.

Carlos Badia e Grupo - “0+2” (independente) – Blues, maracatu, baião, samba: o violonista, cantor e compositor gaúcho (ex-grupo de jazz Delicatessen) não parece preocupado em cultivar gêneros ou ritmos de sua região, no seu segundo disco. Até o belo tema “Uruguai”, que poderia ser considerado um chamamé, soa bem jazzístico.

Carol Panesi & Grupo - “Primeiras Impressões” (independente) – Depois de mais de uma década com a Itiberê Orquestra Família e o grupo de Itiberê Zwarg, a violinista e trompetista carioca gravou seu primeiro álbum. A influência da música universal de Hermeto Pascoal é marcante, mas não falta personalidade às suas composições.

Ceumar, Lui Coimbra e Paulo Freire - “Viola Perfumosa” (Natura/Circus) – A cantora mineira, o violoncelista carioca e o violeiro paulista fazem uma emocionante – e divertida – homenagem à cantora Inezita Barroso (1925-2015), expoente da música caipira. Clássicos como “Luar do Sertão” e “Índia” ganham versões camerísticas.

Coladera - “La Dôtu Lado” (Scubidu) – O português João Pires e o brasileiro Vitor Santana, ambos violonistas, encabeçam esse grupo que realiza um inspirador diálogo entre os universos musicais de Cabo Verde, Portugal e Brasil. Nove das 11 faixas do álbum são cantadas em português, mas a diversidade rítmica é ampla.

Conrado Paulino - “A Canção Brasileira” (independente) – Depois do ótimo álbum “4 Climas” (2015), o violonista argentino lança um sofisticado álbum de violão solo. “Todo Sentimento” (de Cristóvão Bastos e Chico Buarque) e “Sim ou Não” (Djavan) estão entre as pérolas da MPB que ganharam inventivos arranjos.   




Cris Delanno & Nelson Faria - “Bossa Is Her Name” (Batuke) – A cantora americana e o violonista mineiro, ambos radicados no Rio, recriam “Julie Is Her Name” (1955), influente álbum da cantora Julie London. A dupla transforma standards do jazz, como “Cry Me a River”, “’S Wonderful” e “I Should Care”, em atraentes bossas.

Dani Gurgel - “Tuqti” (Da Pá Virada) – O título do 2.º disco autoral da cantora paulistana tem a ver com o estilo de canto onomatopaico que os jazzistas chamam de scat. Dani abre o álbum exibindo sua habilidade vocal, no contagiante samba “Cadê a Rita” (com Gabriel Santiago), mas também interpreta canções em português e inglês.

Daniela Spielmann - “Afinidades” (independente) – Primeiro álbum totalmente autoral da saxofonista e flautista carioca, que também faz parte do grupo Rabo de Lagartixa. No repertório, ritmos brasileiros se misturam com a marcante influência do jazz. Participações especiais de Anat Cohen (clarinete) e Silvério Pontes (trompete).

Douglas Braga - “Música Livre” (independente) – Música clássica, jazz e música instrumental brasileira se encontram neste inusitado álbum idealizado pelo saxofonista e compositor paulista. O clarinetista Nailor Proveta e o violonista Gian Correa contribuíram com obras encomendadas especialmente para o projeto.

Duduka da Fonseca Trio - “Plays Dom Salvador” (Sunnyside) – O baterista carioca, radicado em Nova York, faz contagiante homenagem ao pianista Dom Salvador, que festejou seus 80 anos em 2018. Com David Feldman (piano) e Guto Wirtti (baixo), Duduka relembra “Tematrio” e “Farjuto”, entre outros clássicos do mestre do samba-jazz.

Duo Taufik - “D’Anima” (independente) – Para comemorar 10 anos de parceria, os irmãos Eduardo (piano) e Roberto Taufik (violão) gravaram este álbum com inspiradas composições próprias e criativas releituras de “Lôro” (Egberto Gismonti) e “Último Pau de Arara” (Corumba e Venâncio). Esse duo potiguar merece ser mais conhecido.

Edu Lobo, Dori Caymmi e Marcos Valle - “Edu, Dori & Marcos” (Biscoito Fino) – O encontro desses três grandes compositores e intérpretes da MPB, de fato, ficou restrito à sessão de fotos para a capa. Ainda assim, nas 12 faixas deste álbum, há belezas de sobra nas releituras que cada um deles faz de composições dos outros.

Edu Ribeiro, Toninho Ferragutti e Fábio Peron - “Folia de Reis” (Blaxtream) – A inusitada formação – bateria, acordeom e bandolim – explica a sonoridade diferente deste trio de craques liderado por Ribeiro. No repertório, composições próprias como o frevo “Procure Saber” (de Peron) e o maracatu “Mogiana” (Ferragutti). 




Elza Soares - “Deus É Mulher” (Deck) – Menos sombrio que o anterior “A Mulher do Fim do Mundo”, este álbum da cantora soa mais político e contundente. Entre ruídos e guitarras distorcidas, canções como “Exu nas Escolas” (de Edgar e Kiko Dinucci) e “Credo” (Douglas Germano) parecem ter sido compostas com os olhos num sinistro 2019.

Escalandrum - “Studio 2” (Warner) – Perto de completar 20 anos, o grupo de jazz argentino gravou seu 11º álbum no lendário estúdio Abbey Road, em Londres, só com repertório autoral. Do frenético tema “Acuático” (Nicolás Guerschberg) à melancolia de “Lolo” (Pipi Piazzolla), o brilhante sexteto tem vários motivos para comemorar. 

Eugénia Melo e Castro - “Mar Virtual” (Sesc) – Pioneira no diálogo entre a música popular brasileira e a canção portuguesa, a cantora e compositora lusitana realiza aqui um belo e ousado projeto. Inspirou-se na obra de seu pai, o poeta Ernesto Melo e Castro, que também dialoga com a poesia concretista brasileira. 

Fabiano Chagas - “Tributum” (independente) – No seu segundo álbum, o violonista e arranjador goiano homenageia em composições próprias músicos que admira, como o bandolinista Hamilton de Holanda e os jazzistas John Coltrane, Bill Frisell e Pat Metheny. Participações de Duduka da Fonseca (bateria) e Bororó (baixo). 

Fotografia Sonora - “Viva Airto!” (independente/Tratore) – O quinteto instrumental paulista tem como convidado especial, em seu quarto álbum, ninguém menos que Airto Moreira, grande mestre da percussão. De essência jazzística, as seis composições são assinadas por músicos do grupo, incluindo a homenagem “Viva Airto!”.  


Gaia Wilmer - Migrations (RPR/Biscoito Fino) – A saxofonista catarinense, hoje radicada em Boston (EUA), estreia bem em disco. Suas composições reciclam influências de músicos do jazz, como a americana Maria Schneider e o argentino Guillermo Klein, assim como de Hermeto Pascoal, cujo tema “Acuri” integra o repertório. 

Gilberto Gil - “OK OK OK” (Biscoito Fino) – É estimulante se ver um artista que já não precisa provar mais nada, aos 76 anos, lançar um disco só de composições inéditas. Entre canções leves que dedica a amigos, familiares e musas ocasionais, destaca-se sua sinceridade ao abordar temas difíceis, como o envelhecimento. 
 

Gilson Peranzzetta - “Tributo a Oscar Peterson” (Fina Flor) – Gravada ao vivo, em 2000, só saiu em 2018 esta bela homenagem do pianista carioca ao canadense Peterson (1925-2007), que despertou seu interesse pelo jazz. Com Paulo Russo (contrabaixo) e João Cortez (bateria), Peranzzetta toca standars de Cole Porter e Henry Mancini. 

Guilherme Dias Gomes - “Trips” (independente) – Jazz acústico de excelente qualidade, nesta sessão de gravação comandada pelo trompetista, compositor e arranjador carioca. Idriss Boudrioua (sax tenor), David Feldman (piano), André Vanconcelos (contrabaixo) Rafael Barata (bateria) e Firmino (percussão) formam o sexteto. 




Hamilton de Holanda - “Toca Jacob do Bandolim” (Deck) – Só mesmo um músico criativo como este bandolinista e compositor poderia encarar um projeto tão audacioso. Hamilton recria em quatro álbuns – cada um com uma abordagem musical diferente – a obra monumental de Jacob do Bandolim (1918-1969), mestre do choro.

Hamleto Stamato - “Ponte Aérea” (Fina Flor) – O pianista paulista continua a cultivar com personalidade o estilo ao qual já dedicou vários álbuns: o samba-jazz. Desta vez revisita clássicos de Tom Jobim (“O Morro Não Tem Vez”), Baden Powell (“Berimbau”) e Moacir Santos (“April Child”), além de tocar composições próprias.

Hércules Gomes - “No Tempo da Chiquinha Gonzaga” (independente) – Sem recorrer a releituras, o talentoso pianista capixaba interpreta clássicos da obra de Chiquinha Gonzaga (1847-1935) de maneira respeitosa, mas mais palatável aos ouvidos de hoje. Participações da cantora Vanessa Moreno e do flautista Rodrigo Y Castro.

Isca de Polícia - “Irreversível” (Elo Music) – A banda paulistana, que acompanhava Itamar Assumpção (1949-2003) nos anos 1980, lança seu segundo álbum. No repertório, uma nova safra de canções inspiradas pela estética musical de seu inspirador – a maior parte delas é assinada pelo baixista e produtor Paulo Lepetit.

Itiberê Zwarg & Grupo - “Intuitivo” (Sesc) – Depois de tocar com Hermeto Pascoal durante quatro décadas, esse baixista e compositor já se tornou um expoente da chamada “música universal”. Provas disso são composições de sua autoria incluídas neste álbum, como “Partiu”, “Explodindo Pipoca” e “No Galinheiro do Garga”.

Ivans Lins e Gilson Peranzzetta - “Cumplicidade” (Fina Flor) – O título é bem adequado. Ivan (voz e teclado) e Gilson (piano e arranjos) celebram sem pompas essa parceria de mais de quatro décadas. No repertório, “Setembro”, belo tema da dupla, e sucessos como “Abre Alas” e “Começar de Novo” (de Ivan e Vitor Martins).

Jane Duboc - “Duetos” (independente) – Uma das cantoras mais completas do país, a paraense sempre demonstrou interesse por diversas vertentes musicais – da MPB ao jazz. Neste projeto de viés mais romântico, ela canta em duos com Bianca Gismonti, Mafalda Minnozzi, Celso Fonseca e Fábio Jr., entre vários convidados.

John Coltrane - “Both Directions at Once” (Impulse/Verve) – Uma das surpresas de 2018 foi o lançamento de gravações inéditas do mais cultuado saxofonista do jazz. Ouvidos 55 anos depois, esses registros do quarteto de Coltrane, com McCoy Tyner (piano), Elvin Jones (bateria) e Jimmy Garrison (contrabaixo), ainda soam sublimes.

John Mueller – “Na Linha Torta” (independente) – O cantor, violonista e compositor catarinense aposta em repertório totalmente autoral (com diversos parceiros), em seu segundo álbum. Conta também com participações especiais de Guinga (voz e violão, na faixa-título) e da cantora Ana Paula da Silva, em “Maré Rasa”.  




José James - “Lean on Me” (Blue Note) – Versátil cantor americano, James costuma alternar projetos calcados em diversos gêneros de música negra. Desta vez homenageia Bill Withers, expoente da soul music, que festejou 80 anos em 2018. No repertório, grandes canções, como “Ain’t No Sunshine”, “Just the Two of Us” e “Use Me”.

Joyce Moreno - “50” (Biscoito Fino) – Para comemorar 50 anos de carreira, a cantora e compositora revisita o repertório de “Joyce” (1968), seu disco de estreia. Além das 11 canções assinadas por Paulinho da Viola, Ruy Guerra e Marcos Valle, entre outros, ela inclui a bela “Com o Tempo”, parceria recente com Zélia Duncan. 


Kamasi Washington - “Heaven & Earth” (Young Turks) – Três anos depois de seu cultuado álbum triplo “Epic”, o saxofonista e compositor de jazz se lança em outro ambicioso álbum conceitual de longa duração, que inclui um coro e uma orquestra. Entre as místicas de John Coltrane e Sun Ra, Washington vai erguendo a sua.

Kastrup - “Ponto de Mutação” (independente) – “No Brasil de hoje, precisamos de uma utopia para encarar os próximos anos”, sugere o percussionista, compositor e produtor Guilherme Kastrup. De essência filosófica e experimental, seu álbum reúne um elenco de 25 instrumentistas e vocalistas, como Ná Ozzetti e Arícia Mess.

Leila Maria - “Tempo” (Biscoito Fino) – Quem já ouviu seu disco dedicado ao repertório de Billie Holiday, sabe que ela é uma grande cantora. Mesmo neste álbum, um projeto mais autoral, com canções em português e em parceria com o pianista e produtor Rodrigo Braga, Leila também se vale de seus recursos jazzísticos.

Leny Andrade e Gilson Peranzzetta - “Canções de Cartola e Nelson Cavaquinho” (Fina Flor) – A cantora carioca já havia dedicado álbuns inteiros às obras de Cartola e Nelson Cavaquinho, com arranjos de Peranzzetta. Décadas depois, eles voltam a interpretar sucessos desses preciosos cancioneiros, em emotivos duos de voz e piano.  




Luciana Souza - “The Book of Longing” (Sunnyside) – A refinada cantora e compositora paulistana, que vive nos EUA desde os anos 1990, interpreta poemas de Leonard Cohen e Emily Dickinson, entre outros, que ela mesmo musicou. Tem a seu lado dois craques do jazz: Chico Pinheiro (guitarra) e Scott Colley (contrabaixo).

Luísa Mitre - “Oferenda” (Savassi Festival) – O primeiro álbum da jovem pianista mineira inaugura o selo do Savassi Festival, um dos maiores eventos de música instrumental do país. Influenciada por mestres brasileiros do piano, como Egberto Gismonti e César Camargo Mariano, Luísa também releva referências eruditas em suas composições.

Martin Iaies 4 – “Rewind & FF” (Club del Disco) – Filho do pianista de jazz Adrián Iaies, o guitarrista argentino faz uma promissora estreia em disco. Composições de sua autoria, como “JSV Blues” ou as sensíveis baladas “Sábado” e “Mauri’s Rules” demonstram seu domínio da linguagem do jazz clássico.

Matthew Shipp - “Ao Vivo - Jazz na Fábrica” (Sesc) – Neste concerto solo (registrado em 2016, no festival Jazz na Fábrica, em São Paulo), o inventivo pianista americano toca composições próprias e recria standards. Para fãs do jazz de vanguarda, ouvi-lo descontruir clássicos como “Summertime” (Gershwin) tem um sabor especial.

Mauricio Pereira - “Outono no Sudeste” (independente) – Da bela canção que intitula o álbum à suingada “Quatro Dois Quatro” (sobre o universo do futebol), o compositor e cantor paulistano exibe toda sua versatilidade. “A Mais (Rubião Blues)”, canção que mimetiza os altos e baixos de uma paixão, é um achado.

Música de Montagem (Circus) – O violonista e professor Sergio Molina é também compositor (em parcerias com vários letristas) das nove canções gravadas por esse septeto paulistano. Elas ilustram o procedimento de “montagem” que, segundo tese de Molina, tem sido utilizado na criação da música popular desde 1967.


Nelson Ayres Big Band (independente) – Quase quatro décadas após o impacto de sua pioneira big band na então emergente cena instrumental brasileira, o pianista e compositor paulista voltou a ativá-la e, enfim, lança seu disco de estreia. Não pense que se trata de música orquestral para dançar: é jazz da mais alta qualidade.

Nelson da Rabeca e Thomas Rohrer - “Tradição Improvisada” (Sesc) – Instrumento medieval, precursor do violino, a rabeca pode ser ouvida em várias regiões brasileiras. Seu som áspero aproxima, neste álbum, representantes de tradições bem diversas: o rabequeiro alagoano e o multi-instrumentista suíço, adepto da improvisação livre.

Orquestra à Base de Sopro de Curitiba e Izabel Padovani - “Passarinhadeira” (Tratore) – É difícil acreditar que este disco dedicado às incríveis canções de Guinga possa ter sido gravado ao vivo. Da formação incomum da orquestra, dos sofisticados arranjos e das sensíveis interpretações da cantora nasceu uma coleção de belezas.

Orquestra Mundana Refugi (Sesc) – Liderada pelo violonista e arranjador Carlinhos Antunes, essa orquestra de instrumentação inusitada (formada por músicos refugiados e imigrantes de diversos países, além de alguns brasileiros) mistura no repertório músicas de diferentes tradições – do Haiti e da Andaluzia ao Irã e à Palestina.

Paula Santoro e Duo Taufik - “Tudo Será Como Antes” (independente) – A talentosa cantora mineira se une aos irmãos Eduardo (piano) e Roberto (violão), do Duo Taufic, para recriar sucessos de Milton Nascimento, Lô Borges, Toninho Horta e outros compositores do chamado Clube da Esquina. A leveza dos arranjos chama atenção.   




Paulo Bellinati & Marco Pereira - “Xodós” (Borandá) – Uma amizade de cinco décadas ajuda a explicar a relação quase telepática que caracteriza o encontro desses grandes violonistas.  O repertório do álbum destaca sucessos do sanfoneiro Dominguinhos e de Dilermando Reis, mestre do violão, além de 
composições próprias. 

Poesia - Canções de Carlos Rennó (Sesc) – Letrista conceituado, com mais de 130 canções gravadas por populares intérpretes, Rennó reúne nesse disco 16 de suas canções, incluindo nove inéditas. Para compor esse painel de sua obra, conta com parceiros como Lenine, João Bosco, Chico César, Zeca Baleiro e Arrigo Barnabé.

Raul de Souza - “Blue Voyage” (Sesc) – Trombonista reconhecido mundialmente e mestre do samba-jazz, o carioca de 84 anos oferece a seus fãs um álbum autoral gravado na França. Do contagiante samba “Vila Mariana” à emotiva balada “Primavera em Paris”, passando pela valsa-jazz “St. Martin”, Raul continua em grande forma.

Renato Gama - “Olhos Negros - Vivo” (independente) – Líder da banda paulistana Nhocuné Soul por mais de duas décadas, o cantor e compositor gravou seu primeiro álbum solo. Fusões do samba com o soul, o funk e o reggae dominam suas canções, que abordam com poesia o cotidiano da periferia. Difícil ouvi-las sem dançar.

Rogerio Boccato Quarteto - “No Old Rain” (RPR) – Radicado em Nova York, o baterista paulista estreia como líder, bem acompanhado por Dan Blake (sax tenor e soprano), Nando Michelin (piano elétrico) e Jay Anderson (contrabaixo). Temas de Milton Nascimento, Egberto Gismonti e Toninho Horta ganham novas cores, em criativas versões.

Ron Carter Quartet & Vitoria Maldonado - “Brasil L.I.K.E” (Summit/Tratore) – O cultuado contrabaixista americano e a cantora paulistana gravaram juntos este disco de jazz e bossa nova. Clássicos de Cole Porter, George Gershwin, Tom Jobim e João Donato destacam-se no repertório. Roberto Menescal é um dos convidados.

Rubinho Antunes - “Expedições” (Blaxtream) – O afiado quinteto do trompetista paulista inclui Vinicius Gomes (guitarra), Fabio Leandro (piano), Daniel de Paula (bateria) e Bruno Barbosa (contrabaixo). Composições próprias, como “Silence” e “Indi”, revelam influências do jazz da Europa, onde Rubinho viveu por três anos. 




Sergio Albach - “Clarone no Choro” (independente) – Líder da original Orquestra à Base de Sopro de Curitiba, esse virtuose do clarinete realizou um projeto inusitado: gravou clássicos do choro, executando os solos com um clarone (ou clarinete baixo), instrumento raramente utilizado na música popular brasileira.

Sergio Galvão, Lupa Santiago, Clement Landais e Franck Enouf - “2x2” (Origin) – O “2x2” do título não tem nada a ver com competição, mas sim com o fato de esse quarteto incluir dois músicos brasileiros e dois franceses. Gravado na França, combina jazz contemporâneo da melhor qualidade com influências da música brasileira.  


Stefano Bollani - “Que Bom” (Biscoito Fino) – Fã assumido da música brasileira, o pianista italiano se superou nesta gravação. Com participações especiais de Caetano Veloso, Hamilton de Holanda, Jacques Morelenbaum e João Bosco, ele toca sambas, choros e baiões de sua autoria com muita liberdade e bom humor.

Thiago Amud - “O cinema que o sol não apaga” (Rocinante) – O 3.º álbum do compositor, cantor e violonista carioca confirma seu prestígio como grande revelação da MPB nesta década. Inventivo tanto nas letras como nos arranjos, Amud dedica esse disco ao compositor mineiro Nelson Ângelo. As gravações contaram com 73 músicos.

Toninho Ferragutti e Salomão Soares (independente) – Representantes de duas gerações de nossa música instrumental, o acordeonista paulista e o pianista paraibano decidiram gravar este álbum depois de tocarem juntos somente duas vezes. O baião “Alegria de Matuto” (de Soares) é uma das faixas mais contagiantes do repertório.

Trio Corrente & Orquestra Jazz Sinfônica (independente) – É tanta a sintonia entre os músicos desse grupo instrumental, que ele pode até atuar como solista num concerto com orquestra. Mesmo uma canção já interpretada de tantas maneiras, como “Garota de Ipanema”, ganhou frescor na versão desse trio com a Jazz Sinfônica.

Trio Puelli - “Radamés Gnattali - Integral das obras para piano, violino e violoncelo” (Sesc) – A pianista Karin Fernandes, a violinista Ana de Oliveira e a violoncelista Adriana Holtz interpretam cinco peças (duas são inéditas) do grande compositor gaúcho, que ignorou as supostas fronteiras entre a música popular e a erudita.

Van Morrison and Joey DeFrancesco - “You’re Driving Me Crazy” (Exile/Sony) – O que mais chama atenção neste encontro do cantor pop irlandês com o organista americano é o suingue de DeFrancesco, que também toca trompete, em algumas faixas. No repertório, standards como “You’re Driving Me Crazy” e “Have I Told You Lately”.

Vintena Brasileira - “[R]existir” (independente) – Comandada pelo criativo pianista e compositor paulista André Marques, essa pequena orquestra de formação incomum também inclui viola caipira, bandolim e guitarras, além de sopros, baixo e bateria. Exemplo inspirador de como a música universal de Hermeto Pascoal frutificou.

Yamandu Costa e Ricardo Herz (independente) – Baião, xote, milonga, choro, chamamé – a diversidade rítmica brasileira está bem representada neste álbum, que une pela primeira vez o violonista gaúcho e o violinista paulista. O resultado é tão atraente que, na certa, esses grandes instrumentistas podem se reunir outras vezes.

Yaniel Matos - “Carabalí” (independente) – Radicado em São Paulo há quase duas décadas, o eclético pianista e violoncelista cubano comanda seu trio Carabalí, com Aniel Someillan (contrabaixo) e Eduardo Espasande (percussão). No repertório, composições de sua autoria calcadas em ritmos de Santiago de Cuba, onde nasceu.

(Agradeço a Katia Medaglia pela sugestão da foto e pelo auxílio na produção)

Cesar Camargo Mariano: plateia paulistana pede que o pianista volte mais ao país

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                                                               Cesar Camargo Mariano e a cantora Madison McFerrin

Bloqueios nas rodovias, imensas filas nos postos de gasolina e falta de abastecimento nos supermercados. Encarar as mazelas e os escândalos diários deste país desgovernado não tem sido fácil, mas ao menos ainda temos a música para nos aliviar um pouco de tantas tensões e frustrações.

Quem teve a sorte de estar no clube Bourbon Street, em São Paulo, na noite de ontem, certamente conseguiu esquecer um pouco desses problemas. Bastou Cesar Camargo Mariano começar a dedilhar o piano, sozinho na penumbra do palco, para nos transportar a uma outra dimensão: um universo cheio de belezas, onde tudo se combina de maneira harmônica. Como o diálogo precioso que o samba e o jazz travam em seu repertório desde os anos 1960.

Cesar imprime uma espécie de assinatura na música que cria, algo que só os grandes artistas são capazes de fazer. Sua maneira personalíssima de tocar samba, utilizando figuras rítmicas que ele mesmo criou e aprimorou durante décadas de shows e gravações, é hoje cultuada e imitada por músicos de diversas gerações.

Aos 74 anos, sua vitalidade é admirável. Não à toa, toca com um jovem quarteto, que destaca três dos melhores instrumentistas de São Paulo: Conrado Goys (violão), Thiago Rabello (bateria) e Sidiel Vieira (baixo elétrico e acústico), que o estimulam com energia e criatividade, nos improvisos.

Mais jovem ainda é a cantora Madison McFerrin, de 26 anos, sua convidada especial. Com um timbre vocal delicado e expressivo, ela demonstra talento e bagagem musical para encarar um repertório eclético, que inclui a sensual canção “Fever” (de Cooley & Davenport), o samba “Mas Que Nada” (Jorge Ben) e a bossa “Águas de Março” (Tom Jobim), entre outras. Também exibiu sua faceta R&B ao cantar “No Time to Lose”, de sua autoria, criando vocais em camadas com o auxílio de um pedal de loop.

“Cesar, você tem que tocar mais aqui”, gritou alguém na plateia, já quase ao final do show, lembrando aos outros fãs desse grande músico (radicado há mais de duas décadas nos Estados Unidos) que não podemos ouvi-lo ao vivo com a frequência que gostaríamos. Quem sabe, a admiração e o carinho demonstrados pela plateia de ontem o estimulem a se apresentar mais no país. Claro que isso depende, em grande parte, dos produtores de festivais e clubes brasileiros.

César Camargo Mariano e Madison McFerrin: pianista encontra cantora no Bourbon Street

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Embora já tenha se apresentado no Brasil em duas outras ocasiões, a cantora norte-americana Madison McFerrin, 26, ainda é pouco conhecida por aqui. Mas depois do show que fará hoje à noite no clube paulistano Bourbon Street, como convidada do pianista César Camargo Mariano, é provável que passe a contar com um fã-clube local.

“Nossa parceria deu uma liga musical muito boa. Madison também toca piano muito bem, além de outros instrumentos”, avaliza o conceituado músico e arranjador paulista, que vive nos Estados Unidos desde os anos 1990. No último sábado, ele e a cantora se apresentaram no Bourbon Festival Paraty (RJ).

Essa parceria nasceu por acaso, em 2016, no Festival Música em Trancoso, na Bahia. Madison foi convocada para substituir o cantor de jazz Bobby McFerrin (seu pai), quando ele cancelou a apresentação que faria com Mariano por um problema de saúde.

“Cantar com Cesar me traz uma sensação de grande conforto. Quando cantei ao lado dele pela primeira vez, em Trancoso, tive a sensação de que já fazíamos música juntos há muito tempo”, relembra Madison, que tem sido apontada como promissora revelação na área do R&B e da soul music por blogs e veículos especializados, como o site Pitchfork ou a rádio de jazz WBGO.

O acaso também a ajudou, dois anos atrás, quando decidiu compor material para um projeto de piano e voz. “Durante os primeiros shows que fiz sozinha eu não me sentia segura ao tocar as harmonias e cantar o que tinha escrito ao mesmo tempo. Então comecei a usar um ‘pedal de loop’ para reproduzir as harmonias”, conta, referindo-se ao recurso eletrônico que permite gravar sons e reproduzi-los, em uma sequência que se repete.

“Sinto muito prazer ao cantar ‘a capella’ [sem acompanhamento instrumental]. A melhor maneira de exibir música feita assim é mesmo ao vivo”, diz a cantora, confirmando que trouxe o pedal eletrônico para mostrar canções extraídas dos dois volumes de seu projeto “Founding Foundations”, já disponíveis no mercado.

E como Madison encara as comparações com seu pai, cuja canção “Don’t Worry, Be Happy” ocupou as primeiras posições das paradas de sucessos nos Estados Unidos, em 1988, por mais de quatro meses?

“Embora eu tenha começado a fazer música ‘a capella’ por acaso, sem a intenção de seguir o mesmo caminho de meu pai, eu adoro sua música, que é uma grande fonte de inspiração para o que faço”, diz ela, demonstrando segurança. “Quando você sente que está fazendo a coisa certa, deve seguir em frente sem se preocupar com comparações”.

Voltando à parceria, Mariano observa que a afinidade musical que sente com a cantora, apesar dos quase 50 anos que os separam, é natural. “Não gosto de rotular a música, mas o gênero que a Madison abraça, essa mistura de R&B, soul e jazz, me agrada bastante. Além disso, lá no fundo, essa música combina muito bem com o samba”, diz o pianista, cujo afiado quarteto inclui Conrado Goys (violão), Thiago Rabello (bateria) e Sidiel Vieira (contrabaixo).

Cesar Camargo Mariano convida Madison McFerrin
Bourbon Street, r. dos Chanés, 127, Moema, São Paulo, tel. (11) 5095-6100. Hoje (terça, 29/5), 21h30. Couvert artístico: R$ 145,00 e R$ 175,00. Censura: 18 anos.


(Texto publicado na "Folha de S. Paulo", em 28/5/2018)

New Orleans Jazz Fest 2018: evento musical reforça comemorações dos 300 anos da cidade

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                                            Trombone Shorty e sua banda, atração do New Orleans Jazz Fest                                      
No ano em que a cidade de Nova Orleans festeja seus 300 anos, o New Orleans Jazz & Heritage Festival -- um dos maiores eventos musicais do mundo -- não poderia ficar de fora dessa comemoração. Até porque, mesmo que alguns de seus 12 palcos ao ar livre costumem exibir astros do rock e a música pop internacional, a essência desse festival está na celebração da música afro-americana, especialmente as vertentes cultivadas em Nova Orleans. 

A 49ª edição do Jazz Fest, como é conhecido pelos frequentadores locais, começa nesta sexta (27/4) e se estende ao próximo final de semana, com quase 500 atrações. O elenco destaca popstars como David Byrne, LL Cool J, Sting, Beck, Jack White, George Benson, Smokey Robinson, Common, Jack Johnson, Sheryl Crow, Rod Stewart (substituindo Aretha Franklin, impedida de viajar por ordens médicas) e as bandas Aerosmith e Cage the Elephant.

No entanto, quem já frequentou alguma das tardes de shows no Fair Grounds, o hipódromo local, sabe que essas serão apenas as cerejas no bolo. O que conta mesmo é o fato de todos os anos o Jazz Fest dedicar palcos exclusivos ao jazz moderno, ao blues, ao gospel, à soul music e ao R&B, ao típico jazz tradicional de Nova Orleans, à música caribenha e a gêneros musicais característicos da Louisiana, como o zydeco e a cajun music.

É por esses palcos que circulam grandes talentos da efervescente e eclética cena musical de Nova Orleans, como os trompetistas Terence Blanchard, Christian Scott e Nicholas Payton, os pianistas Jon Cleary e Henry Butler, os cantores John Boutté, Irma Thomas, Germaine Bazzle e Aaron Neville ou as bandas Galactic, The Soul Rebels, Big Sam’s Funky Nation e Rebirth Brass Band -- todos presentes nesta edição.

Para celebrar o tricentenário da cidade, o Jazz Fest reservou seu Pavilhão de Intercâmbio Cultural, espaço que vai exibir performances musicais e de dança, mostra de fotos e degustações de comidas típicas. A ideia é que essas atividades demonstrem as influências de irlandeses, alemães, italianos, vietnamitas e hispânicos, além da contribuição dos indígenas, no original caldeirão cultural da cosmopolita Nova Orleans.

Essa é também a tônica de várias exposições programadas para este ano na capital cultural da Louisiana, como a mostra “Memórias Recuperadas: Espanha, Nova Orleans e a Revolução Americana no Cabildo” (até 8/7 no Museu do Estado da Louisiana). Ou a extensa série “Mulheres de Nova Orleans: Construtoras e Reconstrutoras”, com mostras, palestras e performances em vários museus e espaços públicos, que ressaltam a importância da contribuição das mulheres na história da cidade.

Outro evento comemorativo do tricentenário é o show que o instrumentista e cantor Trombone Shorty -- hoje um dos músicos de Nova Orleans mais populares na cena internacional -- fará neste sábado (28/4), no Saenger Theatre, ao lado de convidados especiais, como Irma Thomas, Kermit Ruffins, Jon Cleary, The Soul Rebels e Cyril Neville. Shorty e sua banda Orleans Avenue também estarão entre os destaques do programa de encerramento do Jazz Fest, na tarde de 6/5. 


Texto publicado originalmente na edição de 27/4/2018 da "Folha de S. Paulo".







Discos em 2016: música instrumental, MPB, jazz, soul e blues em 40 álbuns recomendados

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Como já tinha decidido em 2015, não vou postar uma lista de “melhores” discos do ano. A pulverização crescente da indústria fonográfica em inúmeros selos independentes e pequenas gravadoras tornou impraticável a tarefa de se acompanhar todos os lançamentos do mercado musical.

Mesmo no passado, quando aceitei participar de enquetes de “melhores do ano” a pedido de alguns jornais, eu já insistia em não estabelecer um ranking entre os discos ou artistas selecionados. Acho discutível a pretensão de se eleger um vencedor, em enquetes ou concursos, especialmente quando se trata de músicos, de discos ou canções. Por que um escolhido pelo gosto médio dos críticos deveria ser considerado “melhor” do que os outros?

Portanto, segue uma lista comentada de discos de música instrumental, jazz, MPB, soul e blues (em ordem alfabética, naturalmente), lançados em 2016, que eu recomendo. E já que estamos dando adeus a um ano marcado por tantos cortes, restrições e ajustes, decidi ampliar a lista deste ano para 40 recomendados. É uma maneira de fazer justiça à qualidade da produção musical em nosso país, mas também, reconheço, de facilitar um pouco a seleção, porque o número de lançamentos foi imenso.

Aproveito as últimas horas deste ano terrível para desejar a todos os leitores deste blog um 2017 bem melhor. Aliás, ouvir os 40 discos dessa lista pode contribuir para que o próximo ano seja bem mais inspirador. Aproveitem!  



40 discos de 2016 para ouvir mais em 2017  


 Alex Buck - “1011” (Água Forte/Tratore). O baterista e pianista paulistano reúne em álbum duplo composições calcadas nos estilos de 11 mestres da bateria no Brasil – de Edison Machado a Márcio Bahia. O ponto de partida foi uma pesquisa sobre o papel desse instrumento na evolução da linguagem de nossa música instrumental. Trabalho essencial para bateristas, que pode agradar a qualquer apreciador do gênero. 

Alexandre Ribeiro - “De Pé na Proa” (Borandá). Reconhecido como revelação nos círculos do choro, o clarinetista revela ousadia neste projeto solo. Ao utilizar recursos eletrônicos (pedal e harmonizador), Alexandre descobriu um novo universo sonoro para seu instrumento. Lembranças da infância no interior paulista inspiraram composições próprias, que conduzem o ouvinte por inusitadas viagens sonoras.

André Mehmari e Antonio Loureiro - “Mehmari Loureiro Duo” (Estúdio Monteverdi). Quem ouvir este álbum sem informações prévias vai custar a acreditar que se trata de um duo, tal é a variedade de timbres. Mehmari toca piano e outros oito instrumentos; Loureiro, vibrafone ou bateria – sem falar nos vocais de ambos. Entre belas composições próprias, os dois assinam uma espécie de suíte em seis “episódios”.

Arthur Dutra e Zé Nogueira - “Encontros” (Som Livre). O vibrafonista e o saxofonista são protagonistas de etéreos encontros, com participações de Bruno Aguilar (contrabaixo), Marcos Suzano (percussão), Lorrah Cortesi ou Guinga (voz). Além dos timbres incomuns na música instrumental brasileira, faixas como “Nambarai” (Didier Malherbe) ou “Dance with Waves” (Anouar Brahem) nos transportam ao Oriente.

Arthur Verocai - “No Voo do Urubu” (Sesc). Compositor e arranjador que submergiu em décadas de ostracismo, o carioca Arthur Verocai exibe outra bela coleção de canções e arranjos orquestrais. O heterodoxo elenco de parceiros e convidados reflete a eclética combinação de influências que compõem sua música: dos cantores Danilo Caymmi, Vinicius Cantuária e Seu Jorge aos rappers Mano Brown e Criolo.

"Coreia Brasil Project" (Núcleo Contemporâneo). O interesse do pianista Benjamim Taubkin pelas tradições musicais de outros países contribuiu para a realização de um encontro raro: ele, o percussionista Ari Colares e o violinista Ricardo Herz gravaram este álbum com o grupo coreano Jeong Ga Ak Hoe. As releituras da canção “Vera Cruz” (Milton Nascimento) e do baião “O Canto da Ema” chegam a surpreender. 


Dante Ozzetti - “Amazônia Órbita” (Circus). Depois de ser introduzido no universo musical da Amazônia pela cantora Patrícia Bastos, o violonista e arranjador paulista decidiu compor a partir de ritmos locais, como o carimbó, o lundu do Marajó e o samba de cacete, entre outros. Nos arranjos das dez faixas deste álbum, Dante combina sopros, cordas e recursos eletrônicos. O resultado é fascinante.

Duo Saraiva-Murray - “Galope” (Borandá). Excelentes violonistas, Chico Saraiva e Daniel Murray – ambos cariocas radicados em São Paulo – criaram o duo em 2009. Neste álbum, predominam composições de Saraiva, que revisita com personalidade gêneros tradicionais da música brasileira, como o samba, o choro e o baião. O repertório inclui ainda “Veleiros” (Villa-Lobos) e “Di Menor” (Guinga e Celso Viáfora).


Gian Correa - “Remistura7” (independente). Revelação na cena do choro, Gian comanda com seu violão de 7 cordas um sexteto afiado que inclui Josué dos Santos (sax soprano), Jota P (sax tenor), Vítor Alcântara (sax alto), Cesar Roversi (sax barítono) e Rafael Toledo (pandeiro). Uma formação instrumental incomum que realça as composições angulosas do líder e os arranjos com influências jazzísticas.

Gregory Porter - “Take Me to the Alley” (Blue Note/Universal) – Considerado uma das grandes revelações do jazz vocal nesta década, ele mesmo se define como um cantor de jazz com influências de soul, blues e gospel. Meio pregador, meio poeta, Gregory Porter confirma em seu quarto álbum que são mesmo essas influências, em especial o feeling típico da soul music, que mais identificam seu carismático estilo vocal.

Grupo Um - “Uma Lenda ao Vivo” (Sesc). O cultuado grupo instrumental paulistano voltou a se reunir em 2015, após um hiato de três décadas. Ao revisitar faixas do álbum “Marcha Sobre a Cidade”, Lelo Nazário (teclados), Zé Eduardo Nazário (percussão), Mauro Senise (sopros), Felix Wagner (clarone) e Frank Herzberg (baixo) resgatam a fórmula original do Grupo Um, que fundia jazz de vanguarda e música eletroacústica.


Izabel Padovani e Ronaldo Saggiorato - “Aquelas Coisas Todas” (independente). Músicos de alta categoria, a cantora paulista e o baixista gaúcho mantêm este duo surpreendente há uma década e meia. São capazes de deixar o ouvinte sem fôlego, em versões arrebatadoras de sambas, choros, baiões e outros ritmos brasileiros, assinados por Guinga, Jacó do Bandolim e Tom Jobim, entre outros.

João Donato - “Donato Elétrico” (Sesc). O projeto desta aventura musical se consolidou em 2014, quando o pianista acreano revisitou o repertório de seu álbum “Quem É Quem” (1973), no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Naquele show já estavam os músicos da banda Bixiga 70, presentes neste disco de composições inéditas de Donato, com instrumentação e arranjos que remetem a sonoridades dos anos 1970.

Juliana Cortes - “Gris” (Tratore). Adepta da “estética do frio” (idealizada pelo gaúcho Vitor Ramil), a cantora paranaense reúne em seu segundo álbum canções de Paulo Leminski, Leo Minax, Arrigo Barnabé e Dante Ozzetti (produtor do álbum), entre outros, que remetem às cidades de Curitiba, São Paulo e Buenos Aires, onde ocorreram as gravações. Belezas cinzentas realçadas pelo canto sofisticado de Juliana. 


Leandro Cabral - “Alfa” (independente). Um dos mais talentosos pianistas paulistas da nova geração, Leandro revela neste álbum sua intimidade com as linguagens do jazz e da bossa nova. Ao lado de Sidiel Vieira (baixo acústico) e Vitor Cabral (bateria), exibe composições próprias e interpreta com personalidade alguns clássicos, como “Rapaz de Bem” (Johnny Alf) e “Outra Vez” (Tom Jobim).

Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz - “A Saga da Travessia” (Sesc). O compositor e arranjador baiano criou a inovadora Orkestra Rumpilezz, em 2006, para preservar o conhecimento sobre a tradição percussiva afro-baiana. Não menos impactante, o segundo álbum da orquestra remete ao drama das diásporas africanas. Entre as oito composições de Leite, o ijexá “Professor Luminoso” homenageia Gilberto Gil.

Lívia e Arthur Nestrovski - “Pós Você e Eu” (Circus). Na contramão de tantas cantoras desafinadas que ouvimos por aí, Lívia interpreta clássicos da música brasileira e da canção norte-americana, além de parcerias de Luiz Tatit e Arthur Nestrovski – seu pai, que a acompanha ao violão. Com um belo timbre vocal, técnica e abertura para vários gêneros, ela está no caminho para se tornar uma ótima cantora. 


Louise Wooley - “Ressonâncias” (independente). A jovem pianista e compositora paulistana confirma a promissora impressão deixada por seu disco de estreia, em 2013. Ao lado de Jota P (sopros), Paulo Malheiros (trombone), Bruno Migotto (contrabaixo) e Daniel de Paula (bateria), Louise exibe belas composições, que combinam o lirismo das melodias com a liberdade dos improvisos. "A Caminho", tema que abre e encerra o disco, é de arrepiar.


Ludere - “Ludere” (Tratore). O nome (em latim) desse quarteto remete a brincar ou jogar, mas basta ouvir a primeira faixa para saber que o encontro do pianista Philippe Baden Powell (filho do grande violonista brasileiro) com Rubinho Antunes (trompete), Daniel de Paula (bateria) e Bruno Barbosa (baixo) é coisa séria. Em sete composições próprias, o grupo faz música instrumental de primeira linha.

Luiz Tatit - “Palavras e Sonhos” (Dabliú). Os fãs do grupo Rumo podem imaginar o que vão encontrar no sexto álbum do compositor paulistano. Praticando seu original “canto falado” Tatit apresenta, em novas canções, divertidos personagens: como a musa brega de “Diva Silva Reis” ou o centenário Matusalém, num foxtrote em parceria com Arthur Nestrovski. Canções que fazem sorrir e pensar.

Marco Pereira - “Dois Destinos” (Borandá). Um de nossos maiores violonistas, Marco Pereira homenageia um popular expoente do violão brasileiro: Dilermando Reis (1916-1977). Cercado de craques da cena instrumental, Pereira empresta elegância e dá um toque mais contemporâneo a clássicas composições do mestre, como o batuque “Xodó da Bahiana” ou os choros “Magoado” e “Gente Boa”.

Marcos Paiva e Daniel Grajew - “Bailado” (yb). O contrabaixista mineiro e o pianista paulista formam um duo contagiante e nada convencional. Nas nove faixas deste álbum, recriam temas dos clássicos Ernesto Nazareth (“Tenebroso”) e Anacleto de Medeiros (“Araribóia”). Também exibem sofisticadas composições próprias, inspiradas por danças urbanas do início do século 20 e repletas de improvisos.

Mauro Senise e Romero Lubambo - “Todo Sentimento” (Fina Flor). Duas décadas depois de gravarem o álbum “Paraty” (1997), o saxofonista Mauro Senise e o violonista Romero Lubambo reativam a telepática parceria iniciada ainda nos anos 1980. No repertório, além de composições próprias, releituras de clássicos da MPB assinados por Edu Lobo (que canta sua “Candeias”), Chico Buarque e Bororó.

"Mestrinho e Nicolas Krassic" (Biscoito Fino). Os dois se conheceram no início da década, ao tocarem com Gilberto Gil. O interesse comum por choro, samba e forró logo uniu o acordeonista sergipano e o violinista francês, que emprestam uma sonoridade rara a pérolas da música brasileira, como o arrebatado baião “Nilopolitanos”, de Dominguinhos, ou a lírica “Melodia Sentimental”, de Villa-Lobos. 



'Nailor Proveta - “Coreto no Leme” (independente). Como já fizera no belíssimo “Tocando Para o Interior” (2007), o clarinetista rebobina sons da infância passada em Leme, no interior paulista, resgatando a atmosfera dos coretos. Entre várias composições próprias, a “Suíte Encontros” (em três partes) remete a influências de Debussy, Pixinguinha, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga.

Nó em Pingo D’Água - “Sambantologia" (Biscoito Fino). Formado por craques da música instrumental brasileira, o quarteto carioca não ficou de fora dos festejos pelo centenário oficial do samba. Com arranjos inovadores, Celsinho Silva (percussão), Mário Séve (sopros), Rodrigo Lessa (bandolim) e Rogério Souza (violão) recriam clássicos do samba de várias épocas, de Noel Rosa a Tom Jobim e Moacir Santos.

Norah Jones - “Day Breaks” (Blue Note/Universal). E não é que a cantora e pianista norte-americana decidiu retornar ao jazz? Quatorze anos após seu disco de estreia (mais próximo do country do que do jazz, na verdade), que vendeu surpreendentes 11 milhões de cópias, ela soa mais à vontade ao lado de feras do jazz, como o saxofonista Wayne Shorter e o baterista Brian Blade. Bem-vinda de volta, Norah!

Pedro Miranda - “Samba Original” (independente). Da geração de sambistas associados à revitalização do bairro boêmio da Lapa, no Rio, o cantor e pandeirista interpreta sambas menos conhecidos de Wilson Batista, Nei Lopes e Roberto Mendes, entre outros. Participações dos guitarristas Arto Lindsay e Pedro Sá, em arranjos não convencionais, sugerem que Miranda já encara o samba sem tanta reverência.
 

Quinteto do Zé - “Sem Massagem” (independente). A formação do quinteto de Zé Barbeiro já sugere que seus choros não são tradicionais. Ao lado de César Roversi (saxofones), Makiko Yoneda (piano), Edu Malta (baixo) e Giba Favery (bateria), o inventivo violonista alagoano tem fixação por temas intrincados (não à toa um dos choros se chama “Sinuca de Bico”), em andamentos ligeiros. Isso sim é ser moderno!

Rafael Piccolotto de Lima e Orquestra Urbana - “Pelos Ares” (independente). Formada por craques da cena instrumental paulistana, a Orquestra Urbana interpreta sete composições de Rafael Piccolotto de Lima, maestro e professor assistente na Universidade de Miami. A composição que intitula o álbum destaca solos do saxofonista Ubaldo Versolato e do trompetista norte-americano Brian Lynch.

Raphael Wressing & Igor Prado, “The Soul Connection” (ZYX/Chico Blues). Um ouvinte desavisado vai se surpreender ao saber que este delicioso disco de soul e R&B nasceu do encontro de um organista austríaco com o trio de um guitarrista brasileiro. Aos talentos de Wressing e Prado, que contribuem com composições próprias, somam-se os vocais dos norte-americanos Willie Walker, David Hudson e Leon Beal.

Sandro Haick - “Forró do Haick - vol.1” (independente). Depois de tocar e viajar por 15 anos com o mestre da sanfona Dominguinhos (1941-2013), o guitarrista Sandro Haick decidiu cair de novo no forró. Ao lado de Lulinha Alencar (acordeon), Thiago Espírito Santo (baixo) e Jota P (sopros), entre outros, ele relê clássicos do gênero, com improvisos na linha da música instrumental e do jazz.

Teco Cardoso e Tiago Costa - “Erudito Popular... e Vice-versa” (Maritaca). Parceiros no quinteto Vento em Madeira, o saxofonista/flautista e o pianista também praticam em duo a liberdade de transitar entre os universos supostamente estanques da música popular e da erudita. Entre belas composições próprias, o repertório inclui também peças de Villa-Lobos, Moacir Santos, Carlos Gomes e John Williams. 


Toninho Ferragutti - “ A Gata Café” (Borandá). O eclético acordeonista queria um quinteto com sonoridade jazzística para gravar seu 10º álbum. Acertou em cheio ao reunir Cássio Ferreira (sax), Thiago Espírito Santo (baixo), Cleber Almeida (bateria) e Vinícius Gomes (violão), craques da nova geração. Ferragutti assina as dez faixas, repletas de belezas, diversidade rítmica e uma certa nostalgia.

Trio Corrente - “Volume 3” (independente). Quem já teve a sorte de ouvir ao vivo este trio sensacional sabe que o pianista Fabio Torres, o baterista Edu Ribeiro e o baixista Paulo Paulelli parecem se entender por telepatia. Neste álbum, mais uma coleção de inventivas releituras de clássicos da música popular brasileira, assinados por Dorival Caymmi, Chico Buarque e Tom Jobim, entre outros.

Tom Zé - “Canções Eróticas de Ninar” (Circus). Que outro compositor e cantor teria, aos 80 anos, a coragem de dedicar um disco à temática do sexo e seus tabus? Títulos como “Sobe ni Mim”, “Orgasmo Terceirizado” e “No Tempo em que Ainda Havia Moça Feia” já antecipam que Tom Zé aborda esse espinhoso assunto com a sagacidade, o humor e a irreverência que sempre marcaram suas canções.

Vanessa Moreno e Fi Maróstica - “Cores Vivas” (independente). O duo já existe há seis anos, mas, graças a este álbum dedicado exclusivamente à obra de Gilberto Gil, a cantora Vanessa Moreno e o baixista Fi Maróstica ampliaram suas plateias. Com energia e criatividade, os dois emprestam novos sabores e cores a sucessos do compositor, como “Extra”, “Palco” e “Toda Menina Baiana”.

Vânia Bastos e Marcos Paiva - “Concerto para Pixinguinha” (Atração). Não, não se trata de outro duo. Nesta homenagem a Pixinguinha (1897-1973), os vocais delicados de Vânia Bastos têm a companhia de um quarteto, liderado pelo baixista e arranjador Marcos Paiva, com César Roversi (sopros), Nelton Essi (vibrafone) e Jônatas Sansão (bateria). Aliás, nos choros “Cochichando” e “Displicente”, esse quarteto brilha sozinho.

Vitor Araújo - “Levaguiã Terê” (Natura Musical). De formação clássica, o jovem pianista pernambucano prova, neste ambicioso projeto de instrumentação sinfônica, que evoluiu. Com assumidas inspirações em Villa-Lobos e Tom Jobim, Araújo divide a longa peça que intitula o álbum em seis toques e seis cantos, misturando sons indígenas, percussões de ascendência africana e texturas orquestrais.   



Zéli Silva - “Agora É Sempre” (independente). Neste refinado disco de canções, o baixista e compositor paulistano mostra como os arranjos e um grupo de instrumentistas de alto quilate fazem diferença no resultado final. Ana Luiza, Vanessa Moreno, Lívia Nestrovski, Sergio Santos e Filó Machado são alguns dos intérpretes, muito bem escolhidos, que realçam as belezas do cancioneiro de Zéli Silva.

 

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