Naná Vasconcelos, Zeca Baleiro e Paulo Lepetit: trio se diverte com a diversidade brasileira

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                                              Ilustração para encarte do CD, baseada em fotos de Matthieu Rougé

Fruto da inédita parceria do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos com o cantor maranhense Zeca Baleiro e o baixista paulista Paulo Lepetit, artistas que já deixaram suas marcas em diferentes gêneros da música popular brasileira, o álbum “Café no Bule” (lançamento do Selo Sesc) logo envolve o ouvinte com sua descontração. O samba de terreiro “Batuque na Panela” antecipa o tom bem-humorado de outras faixas, como o coco-de-roda “Mosca de Bolo” ou o “Xote do Tarzan”.

Também chama atenção a diversidade rítmica do repertório, quase todo assinado pelos três parceiros, que vai de uma dançante ciranda (“Ciranda da Meia-noite”) a um maracatu com tiradas filosóficas (“Loa”), passando pelo afoxé “A Dama do Chama-Maré”, que ganhou tempero de reggae e um naipe de metais. Um disco que não nasceu da pretensão de criar canções rebuscadas, mas sim do prazer proporcionado por esse encontro musical. Prazer que também se estende ao ouvinte. 


(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 27/03/2016)

Jazz na Fábrica: Roscoe Mitchell e Anthony Braxton abrem série de CDs do Selo Sesc

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                                                                                  O saxofonista Roscoe Mitchell                        

Gravados ao vivo, em São Paulo, discos dos músicos norte-americanos Roscoe Mitchell e Anthony Braxton inauguram série do Selo Sesc dedicada a registros de concertos do Jazz na Fábrica –- o festival produzido pelo Sesc Pompeia, que já realizou cinco edições. Veteranos saxofonistas e compositores de Chicago, os dois também têm em comum o fato de serem associados à vertente do jazz de vanguarda, embora suas obras sejam bem diversas.

Um dos criadores do Art Ensemble of Chicago, o lendário coletivo de “free jazz” que adotou esse nome no final dos anos 1960, Mitchell se apresentou com ele por quatro décadas. Multi-instrumentista que domina toda a família dos saxofones, ainda na década de 1970 gravou e fez concertos-solos de sax – mesmo formato de suas apresentações no 3º Jazz na Fábrica, em 2013.


As quatro longas faixas do álbum “Sustain and Run” podem até assustar um ouvinte não-familiarizado com suas liberdades sonoras – não se trata de música para embalar reuniões festivas. Tocando um sax soprano ou um sopranino, Mitchell faz seu instrumento gemer, gritar, uivar, chiar, ranger. É preciso relaxar e se concentrar nos sons para poder fruir a expressividade desses solos.

Já a música de Anthony Braxton (na foto à esquerda) é mais conceitual, mais elaborada. Em vez de aderir ao “free jazz”, a exemplo de muitos de seus contemporâneos, ainda na década de 1960 ele se aproximou da música contemporânea de vanguarda. Desenvolveu novas formas de composição, inclusive utilizando inusitadas notações gráficas, sem abrir mão da liberdade da improvisação.


As faixas “Composition nº 366d” e “Composition nº 367b”, com mais de uma hora de duração cada, ocupam os dois CDs do álbum de Braxton, que toca sax alto, soprano e sopranino ao lado de Taylor Ho Bynum (trompete e flugelhorn), Ingrid Laubrock (sax soprano e tenor) e Mary Halvorson (guitarra). Sons acústicos e eletrônicos formam texturas repletas de surpresas e contrastes dinâmicos. Diferentemente do redundante universo da música pop, na música inventiva de Braxton tudo se move e se transforma, sem repetições. 

Esses CDs estão disponíveis nas lojas das unidades e no site do Sesc

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 27/02/2016)

Samba paulista: clube JazzB inicia projeto de debates culturais em SP

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                                                                               Uma roda de jongo / Foto de divulgação

O clube paulistano JazzB, conhecido pela qualidade de sua programação de shows de música instrumental brasileira e jazz, inicia 2016 com uma nova atividade. A partir do próximo sábado, dia 20/2, vai realizar semanalmente debates
sobre temas da atualidade, abertos ao público, com intelectuais, artistas e ativistas culturais.

O projeto Sentir, Pensar e Agir começa com o tema “São Paulo também é berço do samba”. O musicólogo Alberto Ikeda (professor-doutor da Unesp) e o produtor cultural Henry Durante (mestre pela USP) vão conversar sobre as origens do samba rural paulista, mostrando exemplos de danças folclóricas e manifestações musicais afro-brasileiras, como o jongo, o caxambu, o batuque de umbigada e o congo.

Para a realização desse projeto o JazzB estabeleceu parceria com o Celacc (Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação), com a Rede Latinoamericana Quilombação e a Dikamba Consultoria em Gestão e Projetos Culturais. O ingresso para os debates (sábados, a partir das 16h) é gratuito.

Outras informações no site do clube JazzB: jazzb.net

Koko-Jean Davis e Raphael Wressnig: destaques em Guaramiranga e Gravatá

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                               Koko-Jean Davis e Raphael Wressnig, no clube Bourbon Street, em São Paulo
 
Os cearenses e pernambucanos que preferem trocar as folias carnavalescas por jazz, blues e música instrumental vão poder conhecer, nos próximos dias, duas brilhantes revelações da cena musical europeia: a cantora Koko-Jean Davis e o organista Raphael Wressnig, que estão entre as atrações do 17º Festival de Jazz & Blues de Guaramiranga (CE) e do 1º Gravatá Jazz Festival (PE).

Ontem à noite, em São Paulo, a cantora e o organista deram uma prévia do que vão apresentar durante o Carnaval, nesses festivais do Nordeste. No palco do clube Bourbon Street também estava Igor Prado (na foto abaixo), conceituado guitarrista de blues e principal responsável pela primeira turnê brasileira desses artistas. 


Quem foi ao Bourbon Street sem maiores informações deve ter se surpreendido com o talento de todos. A noite começou com a coesa Igor Prado Band, que ofereceu uma generosa base para os solos do organista austríaco. Raphael Wressnig não é apenas um improvisador criativo, que domina as linguagens de gêneros como o rhythm & blues, o soul, o jazz e o gospel. Performático, chegou até a subir no órgão, deixando a plateia excitada.

Já a carismática Koko-Jean –- moçambicana que vive em Barcelona, na Espanha –- só precisou de alguns instantes no palco para conquistar novos fãs. Não à toa já a compararam à elétrica Tina Turner. Como ela, Koko-Jean revela uma energia contagiante, em suas performances. Seu repertório, calcado na soul music e no rhythm & blues, lembra um pouco o de outra diva do gênero: Sharon Jones. Esse é o caso de “I Don’t Love You no More”, canção que Koko-Jean transformou em sucesso, nos palcos europeus, quando ainda se apresentava com a banda The Excitements.

Bem conhecido no circuito dos festivais brasileiros de blues e jazz, o paulista Igor Prado também vive um momento especial em sua carreira. Depois de liderar o ranking de execução em rádios norte-americanas dedicadas ao blues, seu álbum "Way Down South" foi indicado para o Memphis Blues Awards, um dos prêmios mais respeitados do gênero.

Mais informações nos sites do Festival Jazz & Blues e do Gravatá Jazz Festival.



 

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