Jaques Morelenbaum: violoncelista e arranjador é atração do 2º Festival Telefônica Sonidos

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Entre o grande público, o nome do violoncelista e produtor Jaques Morelenbaum costuma ser associado às parcerias que manteve com Tom Jobim ou Caetano Veloso. Muitos não sabem que ele é um dos músicos brasileiros mais produtivos e requisitados durante as últimas três décadas. Sua extensa lista de serviços prestados à música brasileira e internacional inclui mais de 2 mil concertos e shows, cerca de 700 gravações e a produção de mais de 60 discos. 

 
"Não gosto de desperdiçar oportunidades. Adoro ter um tempinho livre para cuidar das minhas plantas, para apreciar a natureza, e acho que muito da inspiração que tenho para a música vem dessa apreciação da vida. Mas, como não costumo recusar bons convites, acabo trabalhando como um workaholic", diz o músico carioca de 57 anos, que vai se apresentar com o pianista cubano Omar Sosa, na quinta-feira, em São Paulo, na segunda edição do festival Telefônica Sonidos.

Morelenbaum e Sosa se conheceram pessoalmente, uma década atrás, num show do cubano, em Paris. "Fiquei alucinado com o que ouvi naquela noite. O Omar tem um conceito musical universalista, sem fronteiras, com o qual me identifico muito", relembra o brasileiro, que se surpreendeu ao saber que Sosa já apreciava seus trabalhos. Depois de se reencontrarem algumas vezes, em meio a turnês por diversos países, Morelenbaum aceitou o convite do cubano para participar como arranjador de um projeto com a Big Band da NDR, a Rádio Estatal de Hamburgo (Alemanha), em 2007.

"Foi um desafio, um projeto bem complexo. Eu já tinha escrito para orquestra sinfônica, mas nunca antes para uma 'big band'. Curtimos muito esse trabalho, porque o resultado ficou bastante saboroso", comenta Morelenbaum, lembrando que também apresentaram esse repertório durante o Festival Internacional de Jazz de Barcelona, no ano passado. E a parceria parece estar só no início. O músico brasileiro aproveita o show da próxima semana, em São Paulo, para gravar um disco que Sosa já começou a produzir, com o trompetista italiano Paolo Fresú.

Outra artista escalada para esta edição do Telefônica Sonidos, que, coincidentemente, também já contou com o know-how de Morelenbaum, é Julieta Venegas, cantora californiana de ascendência mexicana. "Ela tem um lado que toca minha faceta 'beatlemaníaca', um jeito meio Beatles de compor. O trabalho dela me encanta", elogia o carioca, que coproduziu e escreveu arranjos para o CD "Acústico MTV", que Julieta lançou em 2008 e foi premiado com dois Grammys latinos.

Além de arranjar, de produzir gravações e de acompanhar intérpretes e músicos brasileiros de diversos estilos e gerações, como Gal Costa, Vanessa da Mata, Chico Buarque, Marisa Monte, Titãs, Milton Nascimento, João Bosco, Carlinhos Brown e Gilberto Gil (com o qual tem tocado nos últimos anos), Morelenbaum também já colaborou com conceituados artistas de diversos países, como o cantor britânico Sting, os guitarristas americanos John Scofield e Bill Frisell, as cantoras lusitanas Marisa e Dulce Pontes, o compositor angolano Paulo Flores e as cantoras cabo-verdianas Cesária Évora e Mayra Andrade, entre outros.

O produtor e arranjador conta que, em seu primeiro contato com algum artista estrangeiro, costuma ouvir referências a álbuns como "Fina Estampa" (1994) ou "A Foreign Sound" (2004), resultantes de sua parceria de 14 anos com Caetano Veloso, ou aos discos que fez durante os dez anos em que tocou na banda de Tom Jobim. Também ouve com frequência elogios às gravações que fez com o músico e compositor japonês Riuichi Sakamoto - especialmente "Casa" (2001), álbum que inclui a cantora Paula Morelenbaum, sua mulher, e foi gravado na casa em que Tom Jobim (1927-1994) viveu suas últimas décadas, no bairro do Jardim Botânico, no Rio.

"Volta e meia encontro alguém que se refere a ele, dizendo: 'Esse é o disco da minha vida'. 'Casa' é um disco muito emocional, até pelo fato de, anos após a morte do Tom, a gente ter voltado àquele ambiente, ao templo musical onde convivemos com ele por tanto tempo. Essa colaboração com o Sakamoto, que também é fã incondicional do Tom, é um marco na minha vida", afirma o músico carioca, revelando que, no fim de outubro, vai retomar a parceria com ele, integrando seu novo trio.

Após tantas parcerias, Morelenbaum diz que já se acostumou a enfrentar novos desafios a cada experiência musical. 'Tocar com Egberto Gismonti, por exemplo, foi um desafio em termos técnicos. Ele é um virtuose, um músico extremamente dotado. A música concebida por ele exige muito do instrumentista", analisa. Já a parceria com Tom Jobim apresentou outro tipo de desafio. "No primeiro ensaio, perguntei o que ele queria que eu tocasse. Tom respondeu que eu poderia tocar o que quisesse. Então pensei: 'Como posso fazer algo à altura dessa música que eu acho tão perfeita e inatingível?'", relembra.

A facilidade de transitar por diversos gêneros e estilos musicais - do samba ao jazz, passando pelo fado português ou pelo chá-chá-chá cubano - tem a ver, acredita Morelenbaum, com sua formação clássica. "A música erudita e a minha aproximação da música popular, que foi bastante precoce, abriram minha visão no sentido de admirar diversos tipos de música. A música erudita oferece um campo bastante amplo, que inclui músicas de diversas nacionalidades e vários tipos de influências. Isso me proporcionou a visão de que a música é um fenômeno universal. É aí que está a beleza da música."

Em sua segunda edição, que ocupará dois palcos instalados no Jóquei Clube de São Paulo, de quarta a sábado, o festival Telefônica Sonidos mantém o formato de encontros de brasileiros com bandas e músicos de diversos países de ascendência latina. A noite de estreia anuncia, no Palco Jazz Latino, show do pianista cubano Chucho Valdés com o bandolinista carioca Hamilton de Holanda. Para o mesmo espaço também estão programados os encontros do guitarrista cubano Alex Cuba com a cantora paulista Tulipa (dia 26) e do cantor espanhol Pitingo com Marina de la Riva, brasileira de origem cubana (dia 27).

A programação no Palco Pop Urban resume-se ao fim de semana, mas oferece mais atrações por noite. No dia 26, apresentam-se: a banda venezuelana Los Amigos Invisibles com o carioca Seu Jorge; Julieta Venegas e a carioca Marisa Monte; a banda cubana Juan Formell y Los Van Van com o baiano Carlinhos Brown. No dia 27, entram em cena o trio mexicano Camila com a dupla mineira Victor e Leo; a dupla argentina Illya Kuryaki & The Valderramas com a banda mineira Jota Quest. Um programa musical bem heterodoxo.

Mais informações: www.telefonicasonidos.com.br


(texto publicado no caderno “Eu & Fim de Semana”, do jornal “Valor”, em 19/8/2011)


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