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Amazonas Green Jazz: concerto de Randy Brecker foi o clímax do festival de Manaus

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                         O trompetista Randy Brecker e o saxofonista Rodrigo Ursaia, com a Amazonas Band 


Pelas ruas do centro de Manaus já se viam poucas máscaras nos rostos das pessoas que circulavam pela cidade, nos últimos dias de julho de 2022. No entanto, outras marcas do longo e difícil período que enfrentamos durante a pandemia ainda estavam presentes no palco e nos bastidores do Amazonas Green Jazz Festival, evento que ofereceu durante nove dias (de 22 a 30/7) dezenas de concertos, palestras e workshops musicais.

Nos corredores e na plateia do centenário Teatro Amazonas, assim como nas dependências do Juma Ópera (hotel que hospedou os músicos e convidados desse festival), sensações se misturavam: a insegurança quanto a poder voltar a abraçar amigos e conhecidos; a incerteza em relação ao uso da máscara numa fase em que a pandemia já parece menos preocupante (viva a vacina!); a animação por poder desfrutar depois de tanto tempo o prazer de ouvir música ao vivo, em um dos mais belos teatros do mundo.

Após os dois anos de distanciamento social imposto pela pandemia, as pessoas estavam ali reativando as memórias de quando podiam participar livremente de um dos rituais mais prazerosos para quem gosta de música, em especial de jazz e música instrumental. Nada melhor do que um festival para conhecer novos músicos do gênero, presenciar “jams” e “canjas” em bares da cidade, rever amigos e colegas, conhecer e degustar a culinária local.

Menções aos efeitos da pandemia foram ouvidas durante vários shows, no Teatro Amazonas. No sábado (30/7), o talentoso pianista e compositor norte-americano Aaron Parks agradeceu aos produtores do festival pela insistência em trazê-lo a Manaus neste ano, lembrando que deveria ter tocado na edição de 2020, mas ela foi cancelada dias antes da estreia. Ao abrir o concerto com sua composição “Rising Mind” (Mente em Ascensão), Parks parecia fazer alusão às lições que aprendeu durante os meses de distanciamento social.


                                                                        A cantora Leila Pinheiro

Última atração do festival, a cantora Leila Pinheiro foi mais explícita. Depois de interpretar alguns clássicos da bossa nova, muito bem acompanhada pela Amazonas Band, ela sentou-se a um teclado. Antes de cantar, comentou que, graças às dezenas de “lives” que realizou durante o período mais duro da pandemia, conseguiu manter seu equilíbrio mental. Então, visivelmente emocionada, interpretou “Trem-Bala”, de Ana Vilela. “Segura teu filho no colo / Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui / Que a vida é trem-bala, parceiro / E a gente é só passageiro prestes a partir”, diz a letra dessa pungente canção. Na plateia, outras pessoas também se emocionaram.

Já o trompetista Daniel D’Alcântara escolheu um contagiante tema jazzístico para abrir a apresentação de seu quinteto, na sexta (29/7). Quem acompanha a carreira desse conceituado músico e educador paulista sabe que “Canção Para Tempos Melhores” (composição instrumental do pianista Gustavo Bugni, que já integrou esse quinteto) emprestou seu título a um álbum que D’Alcântara lançou em 2015. Se, naquela época, o tom otimista desse tema já o fazia soar como um lenitivo musical, hoje ele ressoa mais poderoso e necessário ainda. Para isso também conta o talento dos craques que completam esse quinteto: Vitor Alcântara (sax tenor), Edson Sant’anna (piano elétrico), Cuca Teixeira (bateria) e Bruno Migotto (baixo acústico).

Aliás, a música instrumental brasileira esteve muito bem representada nesta edição. O pianista Gilson Peranzzetta e o saxofonista Mauro Senise, que se apresentam em duo há três décadas, tocaram delicadas releituras de temas cinematográficos e de clássicos da canção brasileira. Já o quarteto do guitarrista Bruno Mangueira exibiu um repertório saboroso e pouco usual, que reuniu composições de Sivuca (“Um Tom pra Jobim”), Severino Araújo (“Espinha de Bacalhau”) e Lupicínio Rodrigues (“Felicidade”), além de composições próprias.

Parceria muito feliz do baixista Paulo Paulelli com o baterista Edu Ribeiro e o pianista Fabio Torres, o Trio Corrente deliciou a plateia com seu samba-jazz descontraído e tiradas bem-humoradas. Não menos aplaudido, o trio do grande pianista Amilton Godoy (com o mesmo Ribeiro à bateria e Sidiel Vieira no baixo) também provocou sorrisos ao transformar em sambas algumas melodias clássicas de compositores eruditos. 


                                                                                               O baterista Jeff "Tain" Watts

Além do lirismo e das belas melodias do já citado Aaron Parks, três outros jazzistas norte-americanos exibiram trabalhos bem diversos durante os últimos dias desse festival. Um dos bateristas mais criativos das últimas décadas, o energético Jeff “Tain” Watts abriu seu show com uma saborosa releitura de “Brilliant Corners” (do genial Thelonious Monk). E surpreendeu seus admiradores ao trazer em seu grupo o suíço Grégoire Maret – craque da gaita, que soaria bem melhor com o grupo de Parks .

Conceituado trombonista, John Fedchock demonstrou ao lado de seu sexteto (com destaque para o trompete de Scott Wendholt e o sax tenor de Troy Roberts) porque também é reconhecido como um excelente arranjador. Sua releitura da clássica balada “Nature Boy” (de Eden Ahbez) foi um dos grandes momentos de sua apresentação.

No entanto, para aqueles como eu, que já acompanhavam a cena do jazz nos anos 1970 e 1980, o grande destaque desta edição do festival foi mesmo o encontro do trompetista Randy Brecker com a Amazonas Band, regida pelo maestro Rui Carvalho, incluindo participações dos saxofonistas Rodrigo Ursaia e Felipe Salles. Os sorrisos do norte-americano ao ouvir os arranjos de “Some Skunk Funk” e outras de suas intrincadas composições, que se confundem com a era da chamada jazz-fusion, sinalizaram sua aprovação. Sem dúvida, essa big band amazonense já atingiu um padrão de qualidade internacional.

Tive o privilégio de cobrir para a “Folha de S. Paulo” a primeira edição do Festival Amazonas Jazz, em 2006, no mesmo Teatro Amazonas. Depois também fui a Manaus para acompanhar as edições de 2007 e 2011. Portanto, ao reencontrar agora esse evento rebatizado como Amazonas Green Jazz Festival, me sinto seguro para afirmar que a essência desse evento continua a mesma. Até porque o maestro Rui Carvalho, que idealizou e produz esse festival desde a primeira edição, continua a comandá-lo.


                                            Rui Carvalho rege a Amazonas Band, no concerto de Randy Brecker

É natural que as afinidades musicais de um produtor ou de um diretor artístico acabem por se refletir no perfil do festival que organizam. Além de sua paixão pelas big bands, Carvalho já era educador havia 14 anos quando trocou São Paulo por Manaus, em 2001, para reger a Amazonas Band. Não à toa, o Festival Amazonas Jazz já adotava desde suas primeiras edições um viés educacional calcado em workshops, oficinas e palestras, além da programação de concertos,

Diferentemente de festivais mais ecléticos, que se abrem para outros gêneros musicais como o pop ou a black music, o Amazonas Green Jazz mantém um perfil mais focado no jazz e na música instrumental brasileira. Ao montar o elenco de cada edição, Carvalho reúne músicos consagrados e novos talentos desse gênero, mas também prioriza alguns solistas, tanto internacionais como brasileiros, que possam dividir seu conhecimento técnico com os estudantes de música e instrumentistas locais.

Foi o caso, neste ano, de conceituados músicos como o pianista porto-riquenho Edsel Gomez, os trompetistas Ed Sarath, Daniel Barry e Daniel D’Alcântara, o trombonista John Fedchock, os saxofonistas Rodrigo Ursaia, Felipe Salles e Marcelo Coelho, o guitarrista Bruno Mangueira ou os bateristas Celso de Almeida e Maurício Zottarelli, que ministraram masterclasses e workshops sobre seus instrumentos ou vertentes musicais que cultivam, além de participarem da programação de concertos e shows, no Teatro Amazonas.

Tomara que o Amazonas Green Jazz Festival volte a ser realizado com regularidade, nos próximos anos. E que sua excelente edição de 2022 seja um sinal de que a cena dos festivais de jazz e música instrumental tornará a crescer em nosso país. 



Amazonas Green Jazz: festival de Manaus volta rebatizado ao seu palco

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                  O centenário Teatro Amazonas, palco do Amazonas Green Jazz Festival / Foto: Divulgação

Após um hiato de dois anos provocado pela pandemia, o Festival Amazonas Jazz – um dos mais conceituados eventos do gênero em nosso país – retorna ao palco do centenário Teatro Amazonas, em Manaus, de 22 a 30 deste mês de julho. Rebatizado de Amazonas Green Jazz Festival, o evento entra em nova fase, mas mantém sua essência e a direção artística do maestro Rui Carvalho, que o coordena desde sua primeira edição, em 2006.

Segundo Carvalho, o Amazonas Green Jazz tem dois eixos fundamentais. “Além dos concertos realizados no Teatro Amazonas, que buscam a formação de uma plateia para esse gênero musical em Manaus, o festival também contribui para a sedimentação do conhecimento através de uma enorme e variada gama de workshops e palestras totalmente gratuitos e abertos a todos”, explica o maestro.

Os pianistas Aaron Parks, Edsel Gomez e Amilton Godoy, os trompetistas Randy Brecker, Keyon Harrold e Ed Sarath, o trombonista John Fedchock, o baterista Jeff “Tain” Watts, a cantora Leila Pinheiro, o Trio Corrente e o duo Gilson Peranzzetta e Mauro Senise se destacam no elenco desta edição. A programação também inclui três concertos da Amazonas Band, big band regida pelo maestro Rui Carvalho, com diferentes repertórios.

Num total de 24 eventos didáticos, os workshops e palestras oferecidos gratuitamente pelo festival são dirigidos a músicos profissionais, entusiastas e estudantes de música, dança e outras áreas culturais. Na abertura dessa extensa programação, dia 22/7, o pianista e compositor Edsel Gomez ministra workshop sobre o Latin Jazz.

No dia seguinte, Mauricio Zottareli, baterista brasileiro radicado em Nova York, comanda um workshop sobre bateria e lança seu livro “AM Jazz Drumming”. O saxofonista e pesquisador Marcelo Coelho vai conduzir dois eventos: o workshop Rap e Jazz (em 23/7) e a palestra “Economia Criativa e Mercado Musical” (25/7). Já em 28/7, vou ministrar a palestra "A Explosão dos Festivais de Jazz", esboço do livro homônimo que estou escrevendo para a Sesc Edições.

Venda de ingressos para os concertos do festival e a programação completa de workshops e palestras você encontra no site oficial do festival:
www.amazonasgreenjazzfestival.com.br

 




 

Rui Carvalho: diretor do Festival Amazonas Jazz trocou Europa pelo Brasil

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                                       Rui Carvalho rege a Amazonas Band / Foto de Bruno Zanardo / Divulgação 

Quando desembarcou em São Paulo, em 1978, o jovem músico português Rui Carvalho não imaginava que viveria neste país por mais de quatro décadas. Muito menos que se tornaria regente e arranjador da Amazonas Band, a conceituada big band de Manaus (AM), onde também dirige o Festival Amazonas Jazz, um dos principais eventos desse gênero no Brasil.

“A vida é como ela é, não o que a gente imagina”, reflete hoje o maestro, aos 65 anos. Nascido em Lisboa, ele se interessou pelos improvisos do jazz ainda na adolescência. Ficava acordado até a meia-noite para poder ouvir o programa diário “Cinco Minutos de Jazz”, que o radialista José Duarte, pioneiro divulgador dessa vertente musical em Portugal, produz e apresenta desde 1966.

Carvalho também se lembra de como ficou impressionado ao ver e ouvir Miles Davis, na TV portuguesa, no início dos anos 1970. O trompetista americano provocou os fãs e críticos mais conservadores, na época, por ter eletrificado seu jazz. "Miles chamou minha atenção não apenas pela música, mas também pelo layout de seu grupo. Tinha muito a ver com a minha geração, com o rock 'n' blues, com a soul music, com a contracultura do final dos anos 1960".

Antes de se radicar no Brasil, Carvalho também morou na Suécia – solução que encontrou para fugir do serviço militar obrigatório, na época em que Portugal travava uma guerra contra suas antigas colônias na África. “A Suécia era um dos poucos países na Europa que concediam asilo por razões humanitárias”, explica. Se ficasse em Portugal, teria duas opções: ser soldado em uma guerra absurda ou ir para a prisão.

Na pequena cidade sueca de Lund, ele dividia o aluguel com músicos de uma banda de rock. “Era tudo o que eu queria: morava com um bando de americanos desertores da Guerra do Vietnã e tinha aulas de bateria com um deles. A bateria já ficava montada na sala da casa”, relembra, rindo. Além de iniciar seus estudos musicais, também aproveitou os seis anos na Suécia para se formar em Antropologia.

A vontade de voltar a falar português, no dia a dia, pesou na decisão de deixar a Europa. "O Brasil sempre exerceu um certo fascínio sobre mim. Eu já tinha interesse pela música brasileira, mas depois de ouvir 'Dança das Cabeças', o disco de Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos, minha vontade de conhecer mais a música e a cultura brasileira aumentou”.

Já vivendo em São Paulo, no início dos anos 1980, Carvalho assumiu a bateria da Salada Mista, orquestra da Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Ali se tornou discípulo de Antonio Duran, maestro e arranjador argentino bastante respeitado nos círculos musicais, que o incentivou a se aprofundar em regência e arranjos para big bands. “Aprendi muito com ele”, reconhece.

Disciplinado e persistente, Carvalho lecionou bateria, percussão sinfônica e prática de big band durante 14 anos, no Conservatório de Tatuí (SP). Nessa fase também regeu e escreveu arranjos para a big band Prata da Casa, trabalho que repercutiu nos meios da música instrumental brasileira. Deixou São Paulo em 2001, ao aceitar o desafio de assumir a regência da Amazonas Band.

“A princípio eu deveria ter ficado 18 meses em Manaus, mas lá vão mais de 18 anos”, comenta o maestro, consciente do legado musical que tem construído à frente da big band. Além de fazer concertos regulares, já lançou dois discos com a Amazonas Band, em parcerias com craques da música instrumental: num deles, o saxofonista Vinícius Dorin; no outro, o pianista Gilson Peranzzetta e o flautista Mauro Senise. Também já dividiu palcos com grandes músicos do jazz, como David Liebman, Bob Mintzer, Cláudio Roditi e Jeremy Pelt.

"Uma big band sustentada pelo Estado, que faz sucesso, é coisa rara”, comenta o maestro. “A Amazonas Band resultou muito bem porque não tem apenas um viés de palco – ela também tem um viés educacional. Todos os músicos da banda são muito ativos e contribuíram bastante para desenvolver a educação, no campo da música popular, aqui em Manaus".

Carvalho não esconde sua animação pela retomada do Festival Amazonas Jazz, evento que criou e comandou desde a edição de estreia, em 2006. Suspenso há cinco anos, esse festival vai realizar sua 10ª edição, em Manaus [Obs: evento adiado por causa da pandemia de coronavírus; novas datas serão anunciadas]. A programação segue o formato de anos anteriores, que combina concertos noturnos com uma extensa série de workshops, oficinas e palestras.

Os trompetistas Randy Brecker e Keyon Harrold, os pianistas Aaron Parks e Edsel Gomez, o baterista Jeff “Tain” Watts, o trombonista John Fedchock e o saxofonista Frode Gjerstad são destaques entre os concertos agendados para o imponente Teatro Amazonas. Também de primeira linha, o elenco brasileiro inclui o Trio Corrente, o Amilton Godoy Trio, Marcelo Coelho & McLav.in, o Daniel D’Alcântara Quinteto, Leila Pinheiro e Amazonas Band, entre outros.

“Eu não imaginava que viveria por tanto tempo em Manaus. Também nunca imaginei que fosse dirigir big bands, mas acabei me apaixonando por elas. Parece quase um sonho”, comenta o maestro, que vai reger a Amazonas Band nas noites de abertura e de encerramento do festival. 


(Texto publicado no caderno Eu & Fim de Semana do jornal "Valor Econômico", em 13/3/2020)

Festival Amazonas Jazz: evento retorna com novidades após hiato de cinco anos

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                                  Randy Brecker, atração do 10.º Festival Amazonas Jazz / Foto de divulgação

Um dos grandes festivais de jazz e música instrumental em nosso país volta à ativa após um hiato de cinco anos. A 10ª edição do Festival Amazonas Jazz vai oferecer durante nove dias de programação (de 21 a 29/3), na cidade de Manaus, 16 concertos com renomados músicos do gênero. O evento inclui também uma extensa série de atividades educativas, todas gratuitas, num total de 33 workshops, oficinas e palestras.

Entre expoentes dessa vertente musical que vão se apresentar no imponente Teatro Amazonas destacam-se os trompetistas Randy Brecker, Keyon Harrold e Ed Sarath, o baterista Jeff “Tain” Watts, os pianistas Aaron Parks e Edsel Gomez, o saxofonista Frode Gjerstad e o trombonista e arranjador John Fedchock. Os ingressos para os concertos e shows variam entre R$ 20 e R$ 80.

O elenco nacional também é de alto quilate. O duo do pianista Gilson Peranzzetta com o flautista Mauro Senise, o Trio Corrente, o saxofonista Marcelo Coelho e seu grupo McLav.in, o trio do pianista Amilton Godoy com o gaitista Gabriel Grossi e o quarteto do trompetista Daniel D’Alcântara garantem música instrumental brasileira da melhor qualidade. Bem representadas pela cantora Leila Pinheiro, a bossa nova e a MPB também têm um merecido espaço na série de concertos e shows.

Idealizador e diretor artístico do festival desde a primeira edição, o maestro Rui Carvalho estará mais uma vez à frente da Amazonas Band 
 conceituada big band de Manaus, que vai se apresentar nas noites de abertura e de encerramento do evento. Ele conta que o conceito do festival começou a ser desenvolvido um ano antes de sua estreia (em 2006), com a realização de um projeto intitulado Amazonas Band Convida.

“A ideia era trazer a Manaus músicos de alto calibre, que fomentassem o jazz junto à plateia local, oferecendo espetáculos de alto nível”, relembra Carvalho. “Além disso, esses músicos também deveriam realizar workshops que contribuíssem para aumentar o nível dos estudantes e músicos daqui. Logo percebemos que seria interessante ampliar o escopo dessas atividades”.

Assim surgiu um festival de jazz e música instrumental brasileira, que desde a primeira edição investiu bastante na formação de uma plateia para esse gênero musical, assim como no aprimoramento técnico dos instrumentistas da região 
 uma característica essencial, que o diferencia da maioria dos festivais de jazz brasileiros.

“Além das palestras, workshops e masterclasses no campo específico da música, logo no primeiro festival já tivemos um curso sobre áudio, ministrado pelo engenheiro de gravação Clement Zular, que surgiu em decorrência da necessidade de aprimorar o nível dos nossos técnicos de som”, comenta Carvalho, ressaltando também a iniciativa de o festival focalizar em diversas palestras as relações e afinidades do jazz com outras áreas da cultura, como o cinema, o teatro, a dança ou a pintura.

Uma novidade na edição deste ano é a transformação da Casa das Artes (localizada ao lado do Teatro Amazonas, no centro de Manaus), em Casa do Jazz. Esse espaço já funciona diariamente, das 9h às 21h, com uma programação gratuita de filmes que dialogam com o jazz, além da exibição de episódios da série documental “Jazz”, de Ken Burns, que registra e discute a evolução desse gênero musical.


Inédita também na programação do festival é a realização do Concurso Jovem Instrumentista. Os vencedores, eleitos por um júri especializado, vão se apresentar no Teatro Amazonas, dia 24, antes do show do saxofonista norueguês Frode Gjerstad.

Outras informações no site do Festival Amazonas Jazz



Gilson Peranzzetta e Mauro Senise: parceria sofisticada com a Amazonas Band

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Expoentes da música instrumental, que tocam e gravam em duo há mais de duas décadas, o pianista Gilson Peranzzetta e o flautista Mauro Senise fecham este ano com bem sucedidas parcerias. No CD “Jasmim” (lançamento Biscoito Fino) interpretam composições do compositor catalão Federico Mompou e do próprio Peranzzetta, que chamam atenção pela delicadeza das melodias.

No CD com a Amazonas Band, big band manauense regida por Rui Carvalho (lançamento independente), a dupla recria alguns clássicos da música brasileira, como o contagiante samba “Linha de Passe” (de João Bosco e Aldir Banc) e a romântica “Love Dance” (de Peranzzetta, Ivan Lins e Paul Williams). O frevo “Dois na Rede” (também do pianista) fecha o concerto com apelo popular e sofisticação.

Festival Amazonas Jazz: Ron Carter e Dave Liebman vêm para a sétima edição do evento

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Já estabelecido como um dos melhores eventos de jazz e música instrumental do país, o Festival Amazonas Jazz anuncia sua sétima edição, de 24 a 29 deste mês, em Manaus. Como em anos anteriores, a programação principal de concertos ocupará o palco do cultuado Teatro Amazonas, onde, tradicionalmente, também é realizado o Festival Amazonas de Ópera.

A programação deste ano reúne um número maior de atrações brasileiras do que em outros anos. Os grupos Pau Brasil e Zimbo Trio, os duos de Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, de Roberto Sion e Itamar Collaço, além da cantora Joyce e do quinteto do pianista e arranjador Eumir Deodato, prometem um panorama variado de estilos de música instrumental brasileira da melhor qualidade.

Dois astros do jazz moderno norte-americano completam o elenco: o contrabaixista Ron Carter (na foto acima), que trará seu quarteto, e o saxofonista Dave Liebman (na foto abaixo), que terá a seu lado dois brasileiros: o violonista e compositor Guinga e o saxofonista Marcelo Coelho. Além de serem músicos brilhantes, que desenvolveram sólidas carreiras no universo do jazz, Carter e Liebman têm algo notável em comum: integraram bandas do trompetista Miles Davis, nos anos 1960 e 1970, respectivamente.


Um dos dois concertos de Liebman, no evento, será como solista da Amazonas Band. Prata da casa, essa afiada big band regida pelo maestro e diretor artístico do festival, Rui Carvalho, tem se apresentado todos os anos, com sucesso. Desta vez a Amazonas Band também fará o concerto de abertura, na noite do dia 24, tendo como convidados o tecladista Gilson Peranzzetta e o saxofonista Mauro Senise.

Idealizado não apenas com a intenção de oferecer música de alta qualidade ao público local, o Festival Amazonas Jazz investe também na formação dos estudantes de música e profissionais da área, por meio de uma programação pedagógica. Vários dos músicos que se apresentarão no Teatro Amazonas também transmitirão suas experiências pessoais e técnicas em workshops e oficinas.

O encerramento do evento, no domingo (29/7), destaca o quinteto do pianista e arranjador Eumir Deodato. Neste ano, o festival será transmitido ao vivo pela Radio Nacional de Brasília, para várias emissoras do país. Alguns dos shows serão veiculados em vídeo pelo canal Amazon Sat, inclusive em sua página no Facebook.

Confira a programação do evento no site do Festival Amazonas Jazz.

6º Festival Amazonas Jazz: a consolidação de um evento que estimula o ensino musical

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O imponente Teatro Amazonas, em Manaus, serviu de cenário durante seis noites, na semana passada, para a sexta edição do Festival Amazonas Jazz. Diversos estilos jazzísticos, música instrumental brasileira, bossa nova, salsa e blues compuseram o cardápio musical desse evento, que vem crescendo a cada ano, tanto em número de concertos e atividades de ensino, como em frequência de público.

Mais que isso: em suas seis edições, o FAJ já consolidou um perfil bem original em meio à cena dos festivais internacionais de jazz. Em vez de escolher um elenco óbvio, com artistas que circulam por quase todos os eventos desse gênero, o diretor artístico Rui Carvalho prefere levar a Manaus instrumentistas de ponta, nem sempre reconhecidos pelo grande público, mas que possam transmitir experiências pessoais e ensinamentos técnicos aos estudantes e músicos locais. Além de se apresentarem no teatro, os artistas do elenco também realizam alguma atividade didática, seja uma master class ou ao menos um encontro com os estudantes de música e instrumentistas locais. 

                                                                                            Photos: Carlos Calado


BIG BAND – Quem teve, como eu, a oportunidade de assistir à apresentação da Amazonas Band, na primeira edição do FAJ, em 2006, percebe facilmente a evolução da big band conduzida pelo maestro Rui Carvalho (na foto acima). Neste ano, em dois concertos com programas diferentes e convidados de alta categoria (os trombonistas John Fedchock e Todd Murphy e os trompetistas Daniel Barry e Altair Martins), a banda excitou a plateia que lotou o Teatro Amazonas. Aliás, o arranjo de “Slow Visor”, que Carvalho escreveu para homenagear Eddie Palmieri, pioneiro do jazz latino e da salsa, foi um dos números mais contagiantes desta edição.


JAZZ LATINO – No show de domingo, que encerrou o festival ao ar livre, no Largo de São Sebastião (ao lado do teatro), o simpático Palmieri, hoje com 74 anos, agradeceu duas vezes a oportunidade de poder tocar pela primeira vez no Brasil. Talvez a plateia tivesse participado com mais intensidade, caso ele tivesse optado por um repertório mais dançante, orientado para a salsa. Mesmo assim, os improvisos jazzísticos do líder e de seus parceiros Brian Lynch (trompete), Louis Fouché (sax alto) e Little Johnny Rivero (congas) foram bastante aplaudidos, especialmente em clássicos do jazz latino, como “Picadillo” e “Slow Visor”. 


HERÓIS ESQUECIDOS – Brian Lynch já havia comandado, na noite anterior, um belo concerto, cujo repertório foi extraído de seu recente álbum “Unsung Heroes”. Ao lado de seu sexteto, ele homenageou trompetistas que, embora nem sempre sejam lembrados pelo público ou pelos críticos, deixaram contribuições essenciais para a tradição jazzística, como Joe Gordon, Idrees Sulieman, Tommy Turrentine e Charles Tolliver. Um olhar original para a história desse gênero musical, que, por sinal, tem muito a ver com a própria linha artística seguida pelo FAJ. 

 
HUMOR BRITÂNICO – Também estreando em palcos brasileiros, o jovem quarteto do saxofonista inglês Will Vinson – com destaque para o guitarrista norueguês Lage Lund – exibiu um pós-bebop que evita os clichês desse estilo jazzístico. Ao apresentar composições próprias, como “I Am James Bond” e “The World Through My Shoes”, Vinson revelou também seu típico humor britânico. 


 
SIMPATIA E SUíNGUE– Outra boa surpresa foi a cantora norte-americana Cynthia Scott. Acompanhada pelo eficiente trio do pianista Vana Gierig, ela esbanjou simpatia e suingue, alternando versões de standards do jazz, como “How High the Moon” e “When the Lights Are Low”, com alguns sucessos do genial Ray Charles (1930-2004), de cuja banda chegou a ser vocalista, na década de 1970. Além de dedicar a ele uma composição própria (“Shades of Ray”), a ex-raelette brilhou em sua releitura da balada “Georgia on My Mind”, logo reconhecida e aplaudida pela plateia. 


 
LEMBRANDO JOBIM – Já o pianista norte-americano Aaron Goldberg (à esquerda, na foto acima) não conseguiu esconder sua decepção ao notar que a plateia não reconheceu de cara “Luiza”, nem “Inútil Paisagem”, composições do mestre da bossa, Tom Jobim (1927-1994), presentes no repertório de seu trio, que destaca o exuberante Greg Hutchinson à bateria. Falando em português, o que denota seu interesse pela cultura brasileira, Goldberg exibiu ainda uma delicada versão de “Lambada de Serpente” (de Djavan), entre líricas releituras de standards e composições próprias. 


 
QUARTETO SOFISTICADO - Tom Jobim voltou a ser lembrado pelo quarteto de Hélio Alves, talentoso pianista paulista radicado em Nova York, que tocou a triste “Retrato em Branco e Preto”. Ao lado do brilhante Duduka da Fonseca (bateria), do norte-americano Vic Juris (guitarra) e do austríaco Hans Glawischnig (contrabaixo), Alves recriou outros clássicos da música brasileira, como “Bebê” (Hermeto Pascoal) e “Vera Cruz” (Milton Nascimento), em versões essencialmente jazzísticas. Seu entrosamento com a bateria de Duduka chega a soar telepático. 



DUO INSPIRADO – A música brasileira improvisada também foi muito bem representada pelo duo do pianista André Mehmari com o bandolinista Hamilton de Holanda. Tocando o repertório do álbum “GismontiPascoal”, que lançaram há pouco, os dois recriaram com criatividade e emoção algumas das obras-primas de Hermeto Pascoal (“O Farol que Nos Guia”) e Egberto Gismonti (“Loro”). Pena que a minguada iluminação de cena tenha emprestado um visual soturno a essa parceria musical tão solar e brilhante. 

 
PIANO SOLO – Outra atração nacional foi o pianista Irio Jr., que encarou com talento e determinação a arriscada tarefa de conquistar a plateia do Teatro Amazonas com um recital de piano solo. Sem fazer qualquer concessão, tocou um repertório formado exclusivamente por composições próprias, que mesclam influências eruditas e improvisos jazzísticos, com destaque para a hipnótica “Espera” e a inventiva “Nuance”. 


 
MERCHANDISING - Menos feliz foi a apresentação do quarteto de Kenny Davis, conceituado baixista, conhecido por ter acompanhado cantoras do primeiro time, como Abbey Lincoln, Cassandra Wilson e Carmen Lundy. Nada contra a qualidade de seus músicos, mas o saxofonista Ralph Bowen demonstrava um evidente mau humor e o pianista Onaje Gumbs parecia ter passado a noite anterior em claro. Sem falar no inadequado merchandising de Davis, que depois de tocar alguns compassos de um tema mais dançante, frustrou a plateia, dizendo: “Este groove está no meu CD, vendido lá fora. Se quiserem ouvir mais, comprem o disco”. Se essa moda pega... 


Em meio a tantas atrações de alta qualidade oferecidas neste ano, não se pode deixar de questionar, no entanto, o critério de divulgação do festival. É difícil entender por que a programação só foi divulgada duas semanas antes do início do evento, diferentemente do que acontece no exterior, onde os festivais de jazz divulgam suas atrações com meses de antecedência. Tomara que esse aspecto possa ser revisto na próxima edição, permitindo assim que um número bem maior de pessoas, tanto de outras regiões do país, como do exterior, possa se planejar para ir a Manaus e acompanhar os concertos e atividades didáticas desse ótimo festival.

6º Festival Amazonas Jazz: evento traz Eddie Palmieri, mestre da salsa e do jazz

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Só a presença do pianista porto-riquenho Eddie Palmieri, 74, grande expoente da salsa e do chamado “latin jazz” (na foto acima), pela primeira vez no Brasil, já mereceria destaque. Mas essa é só uma das atrações da sexta edição do Festival Amazonas Jazz, que vai reunir de 19 a 24/7, em Manaus, um elenco de conceituados músicos do jazz e da música instrumental brasileira.

O trompetista Brian Lynch, o saxofonista Will Vinson, o pianista Aaron Goldberg, o baixista Kenny Davis e a cantora Cynthia Scott estão na programação de concertos, no Teatro Amazonas, que também inclui entre as atrações nacionais o duo do pianista André Mehmari com o bandolinista Hamilton de Holanda e os pianistas Hélio Alves e Irio Jr.


O concerto de abertura fica a cargo da Amazonas Band, regida pelo maestro e arranjador Rui Carvalho, que terá como solista o trombonista John Fedchock. Já no dia 22/7, essa big band retorna ao palco do Teatro Amazonas para outra apresentação, tendo como solistas o trombonista Todd Murphy e os trompetistas Daniel Barry e Altair Martins. Eddie Palmieri encerra o evento em clima de festa dançante, em 24/7, com uma apresentação gratuita, no Largo de São Sebastião, ao lado do Teatro Amazonas.
(veja os videos abaixo)

Quem já acompanhou edições anteriores do FAJ sabe que seu perfil é diferente de outros do gênero no país. Segundo Rui Carvalho, diretor artístico do evento, além de reunir músicos consagrados e novos talentos do jazz, incluindo também a produção local, outro critério fundamental é o de “trazer nomes que possam contribuir do ponto de vista pedagógico, nem sempre tão conhecidos, mas com um valiosíssimo conhecimento passível de ser compartilhado e aproveitado pelos alunos”.


Tanto os músicos estrangeiros, como os brasileiros do elenco, conduzem oficinas, master classes e encontros com estudantes e músicos locais, no Teatro Gebes Medeiros. Essa programação pedagógica inclui também uma vertente de caráter técnico profissionalizante. “Exemplo disso, neste ano, é a oficina de afinação e manutenção de pianos, ministrada por George Boyd, um nome extremamente respeitado no seu métier”, observa o maestro Carvalho.


“Eu também destacaria as oficinas de percussão, apoiadas pela Contemporânea Instrumentos Musicais, que atraíram uma comitiva de estudantes norte-americanos, oriundos de Seattle, que aqui estarão com o seu professor. Destacaria ainda a oficina de John Fedchock, com o apoio da Buffet Crampon. Fedchock é um dos principais professores de trombone da atualidade e também leciona na recém criada JEN (Jazz Educational Network). Esperamos que a partir deste contato outras relações institucionais frutifiquem”, comenta Carvalho.


Como em anos anteriores, o FAJ também vai estender sua programação musical a uma cidade do interior do Estado. Desta vez a escolhida foi Silves (a 200 km de Manaus), cuja população poderá apreciar, no dia 15/7, um concerto da Amazonas Band com o trombonista Todd Murphy.


“Saber que estamos contribuindo para o desenvolvimento da cultura no interior do Estado do Amazonas não é apenas motivo de orgulho. É sentir-me parte integrante de um processo que, em seu bojo, carrega a responsabilidade de contribuir com o fazer artístico e as ações culturais da Secretaria de Estado da Cultura para a construção da cidadania plena. E eu acredito nisso profundamente. No fundo, é uma ação cidadã e faço-a com muito prazer e alegria”, conclui o maestro Carvalho.


Confira a programação completa do evento, no site do Festival Amazonas Jazz.





 

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