Delia Fischer: pianista e cantora revisita fase MPB de Egberto Gismonti
Marcadores: canção, delia fisher, Egberto Gismonti, eugenio dale, MPB, música instrumental | author: Carlos CaladoReferência para várias gerações de instrumentistas brasileiros desde a década de 1970, Egberto Gismonti recebe mais uma homenagem. Em “Saudações Egberto” (distribuído pelo Núcleo Contemporâneo), a pianista e cantora carioca Delia Fischer interpreta com criatividade 13 canções e temas do compositor e multi-instrumentista fluminense.
“A escolha do repertório se deu afetivamente”, assume Delia, num texto do encarte. Canções dos primeiros álbuns de Gismonti, como “O Sonho”, “Pr’um Samba” e “Água e Vinho”, características da época em que ele flertava com a MPB, ressurgem com novos timbres e os vocais corretos da pianista. Até o tema instrumental “Lôro”, um dos mais populares do autor, ganhou versos assinados por Eugenio Dale.
Já ao recriar a lírica “Palhaço”, a pianista vai mais fundo, ressaltando no arranjo com cordas e sopros a essência circense do tema. Outro arranjo inventivo é o de “Frevo”, com percussão bem pernambucana e timbres de cordas. Delia reverencia o mestre, sem deixar de imprimir sua personalidade nessas releituras.
(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", edição de 28/7/2012)
Antonia Adnet: violonista e cantora mostra que crescer em ambiente musical faz diferença
Marcadores: antonia adnet, frevo, joão donato, joyce, lenine, Mario Adnet, moacir santos, MPB, pedro miranda, pop, roberta sá, samba | author: Carlos Calado
Ela surgiu sete anos atrás,
tocando violão na banda da cantora Roberta Sá. Agora, aos 27 anos, a também
compositora, arranjadora e cantora Antonia Adnet – filha do conceituado arranjador
e violonista Mario Adnet – lança "Pra Dizer Sim" (selo Universal), seu segundo álbum, sugerindo que crescer num
ambiente musical pode fazer muita diferença na formação de qualquer artista.
Além de ser autora de oito
das doze canções do álbum, com vários parceiros letristas, Antonia também
assina quase todos os bem cuidados arranjos. Sambas, toadas e canções dominam o
repertório inédito, que ela interpreta com a voz delicada, incluindo também
saborosas releituras de “Nanã” (de Moacir Santos) e “Flor de Maracujá” (João
Donato e Lysias Ênio).
(resenha publicada originalmente no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 30/6/2012)
Kenny Werner: expert em improvisação, pianista se apresenta em MG e SP
Marcadores: Ari Hoenig, casa do núcleo, jazz, joão carlos assis brasil, johannes weindemueller, kenny werner, savassi festival, victor assis brasil | author: Carlos Calado
Kenny Werner, no Buenos Aires Jazz Fest 2011 / Photo by Carlos Calado
Ainda pouco conhecido no Brasil, o pianista Kenny Werner,
59, é um caso típico do que se costuma chamar de “músico dos músicos”. Mas o
fato de ser elogiado por colegas do alto escalão do jazz e da música
instrumental, como o megaprodutor Quincy Jones e o gaitista Toots Thielemans, não
significa que sua música seja hermética ou cerebral.
Werner – atração de hoje (26/7), na Casa do Núcleo, em São Paulo – é, literalmente, um especialista em criatividade e improvisação. Seu livro “Effortless Mastery” (maestria sem esforço), publicado em 1996, costuma ser recomendado por conceituadas universidades de vários países, não só em cursos de música.
Em entrevista à "Folha de S. Paulo", por telefone, músico o norte-americano revelou que suas investigações no campo da criatividade passaram pelo Brasil. No início da década de 1970, ao cursar a Berklee School of Music, em Boston, fez amizade com o lendário saxofonista Victor Assis Brasil (1945-1981), que o convidou a visitar o Rio de Janeiro. Assim conheceu o pianista João Carlos Assis Brasil, irmão gêmeo de Victor que marcou sua concepção musical.
“Naquela época eu ainda tocava de forma muito tensa. João já tinha desenvolvido uma abordagem mais pessoal, uma maneira quase zen, muito relaxada de tocar. Ele ajudou a mudar meu toque ao piano, corrigindo o modo como eu estudava”, relembra.
Foi nessa viagem também que Werner se aproximou da música brasileira. “Ela é o meu grande amor. A música que faço costuma ser original, não tem a ver com um repertório estabelecido. Mesmo assim toco com muita alegria a música de Tom Jobim ou a de Chico Buarque. Ao tocar música brasileira, não sinto desejo de inovar. Toco apenas para apreciar os acordes e as belas harmonias”.
Premiada com uma bolsa da Fundação Guggenheim, a composição “No Beginning, No End” (lançada em CD pela Half Note, em 2010) é considerada a obra mais ambiciosa de Werner. Escrita para quarteto de cordas, grupo de sopros e coro, num total de 70 músicos participantes, essa peça nasceu a partir de uma tragédia pessoal vivida pelo músico: a morte da filha de 16 anos, Katheryn, em acidente de carro, em 2006.
Após o concerto de ontem (25/), no 10º Savassi Festival, em Belo Horizonte (MG), onde tocou ao lado da Sinfônica de Minas Gerais, Werner traz a São Paulo seu inventivo trio, que destaca o baterista Ari Hoenig e o baixista Johannes Weidenmueller, músicos mais jovens com os quais toca há mais de uma década.
Werner mostra-se bem otimista, ao se referir à cena atual do jazz. “Este é o momento mais criativo que presenciei em toda minha vida. Os músicos jovens que estão aparecendo são deslumbrantes, não só porque tocam muito bem, mas porque são muito criativos. Não dá para comparar com o que aconteceu no jazz dos anos 40, 50 e 60, porque este é outro momento, mas de alguma maneira a música de hoje soa mais avançada. Isso me estimula muito”, conclui o pianista.
Werner – atração de hoje (26/7), na Casa do Núcleo, em São Paulo – é, literalmente, um especialista em criatividade e improvisação. Seu livro “Effortless Mastery” (maestria sem esforço), publicado em 1996, costuma ser recomendado por conceituadas universidades de vários países, não só em cursos de música.
Em entrevista à "Folha de S. Paulo", por telefone, músico o norte-americano revelou que suas investigações no campo da criatividade passaram pelo Brasil. No início da década de 1970, ao cursar a Berklee School of Music, em Boston, fez amizade com o lendário saxofonista Victor Assis Brasil (1945-1981), que o convidou a visitar o Rio de Janeiro. Assim conheceu o pianista João Carlos Assis Brasil, irmão gêmeo de Victor que marcou sua concepção musical.
“Naquela época eu ainda tocava de forma muito tensa. João já tinha desenvolvido uma abordagem mais pessoal, uma maneira quase zen, muito relaxada de tocar. Ele ajudou a mudar meu toque ao piano, corrigindo o modo como eu estudava”, relembra.
Foi nessa viagem também que Werner se aproximou da música brasileira. “Ela é o meu grande amor. A música que faço costuma ser original, não tem a ver com um repertório estabelecido. Mesmo assim toco com muita alegria a música de Tom Jobim ou a de Chico Buarque. Ao tocar música brasileira, não sinto desejo de inovar. Toco apenas para apreciar os acordes e as belas harmonias”.
Premiada com uma bolsa da Fundação Guggenheim, a composição “No Beginning, No End” (lançada em CD pela Half Note, em 2010) é considerada a obra mais ambiciosa de Werner. Escrita para quarteto de cordas, grupo de sopros e coro, num total de 70 músicos participantes, essa peça nasceu a partir de uma tragédia pessoal vivida pelo músico: a morte da filha de 16 anos, Katheryn, em acidente de carro, em 2006.
Após o concerto de ontem (25/), no 10º Savassi Festival, em Belo Horizonte (MG), onde tocou ao lado da Sinfônica de Minas Gerais, Werner traz a São Paulo seu inventivo trio, que destaca o baterista Ari Hoenig e o baixista Johannes Weidenmueller, músicos mais jovens com os quais toca há mais de uma década.
Werner mostra-se bem otimista, ao se referir à cena atual do jazz. “Este é o momento mais criativo que presenciei em toda minha vida. Os músicos jovens que estão aparecendo são deslumbrantes, não só porque tocam muito bem, mas porque são muito criativos. Não dá para comparar com o que aconteceu no jazz dos anos 40, 50 e 60, porque este é outro momento, mas de alguma maneira a música de hoje soa mais avançada. Isso me estimula muito”, conclui o pianista.
(texto publicado na "Folha de S. Paulo", em 26/7/2012)
Festival Amazonas Jazz: Ron Carter e Dave Liebman vêm para a sétima edição do evento
Marcadores: 2012, dave liebman, Eumir Deodato, festival amazonas jazz, gilson peranzzetta, guinga, instrumental, jazz, joyce, mauro senise, pau brasil, roberto sion, ron carter, rui carvalho, zimbo trio | author: Carlos CaladoJá estabelecido como um dos melhores eventos de jazz e música instrumental do país, o Festival Amazonas Jazz anuncia sua sétima edição, de 24 a 29 deste mês, em Manaus. Como em anos anteriores, a programação principal de concertos ocupará o palco do cultuado Teatro Amazonas, onde, tradicionalmente, também é realizado o Festival Amazonas de Ópera.
A programação deste ano reúne um número maior de atrações brasileiras do que em outros anos. Os grupos Pau Brasil e Zimbo Trio, os duos de Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, de Roberto Sion e Itamar Collaço, além da cantora Joyce e do quinteto do pianista e arranjador Eumir Deodato, prometem um panorama variado de estilos de música instrumental brasileira da melhor qualidade.
Dois astros do jazz moderno norte-americano completam o elenco: o contrabaixista Ron Carter (na foto acima), que trará seu quarteto, e o saxofonista Dave Liebman (na foto abaixo), que terá a seu lado dois brasileiros: o violonista e compositor Guinga e o saxofonista Marcelo Coelho. Além de serem músicos brilhantes, que desenvolveram sólidas carreiras no universo do jazz, Carter e Liebman têm algo notável em comum: integraram bandas do trompetista Miles Davis, nos anos 1960 e 1970, respectivamente.
Um dos dois concertos de Liebman, no evento, será como solista da Amazonas Band. Prata da casa, essa afiada big band regida pelo maestro e diretor artístico do festival, Rui Carvalho, tem se apresentado todos os anos, com sucesso. Desta vez a Amazonas Band também fará o concerto de abertura, na noite do dia 24, tendo como convidados o tecladista Gilson Peranzzetta e o saxofonista Mauro Senise.
Idealizado não apenas com a intenção de oferecer música de alta qualidade ao público local, o Festival Amazonas Jazz investe também na formação dos estudantes de música e profissionais da área, por meio de uma programação pedagógica. Vários dos músicos que se apresentarão no Teatro Amazonas também transmitirão suas experiências pessoais e técnicas em workshops e oficinas.
O encerramento do evento, no domingo (29/7), destaca o quinteto do pianista e arranjador Eumir Deodato. Neste ano, o festival será transmitido ao vivo pela Radio Nacional de Brasília, para várias emissoras do país. Alguns dos shows serão veiculados em vídeo pelo canal Amazon Sat, inclusive em sua página no Facebook.
Confira a programação do evento no site do Festival Amazonas Jazz.
Nelson Ayres: composições próprias e clássicos da MPB em outro belo álbum do pianista
Marcadores: alberto Luccas, bob suetholz, harvey wainapel, instrumental, jazz, MPB, nelson ayres, pau brasil, ricardo mosca, Teco Cardoso, toninho carrasqueira | author: Carlos Calado
Quem
conhece a obra do pianista paulistano Nelson Ayres já sabe que seus discos e shows
combinam predicados que não costumam andar juntos por aí: sensibilidade
musical, rigor técnico e uma grande facilidade de comunicação com os ouvintes.
Traços que, não à toa, também identificam a música do Pau Brasil, conceituado grupo
instrumental com o qual ele toca há mais de três décadas.
Nas
12 faixas de “Paixão” (edição independente), seu primeiro álbum desde o belo “Perto do Coração”
(2004), Ayres também está muito bem acompanhado. O trio com Alberto Luccas (baixo)
e Ricardo Mosca (bateria) é ampliado por Teco Cardoso (sopros), Toninho Carrasqueira (flauta), Alexandre Ribeiro (clarinete), Gian Correa (violão), Bob Suetholz
(violoncelo) e Harvey Wainapel (sax).
(resenha publicada parcialmente no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 30/6/2012)
Debora Gurgel: pianista paulista revela maturidade e elegância em CD solo
Marcadores: amilton godoy, césar camargo mariano, chick corea, dani gurgel, daniel d'alcântara, debora gurgel, debussy, pixinguinha, sidiel vieira, thiago rabello, vitor alcântara, zimbo trio | author: Carlos Calado
Photo by Dani Gurgel/Divulgação
Atuante na cena da música instrumental de São Paulo, a pianista e arranjadora Debora Gurgel lança seu primeiro álbum solo (distribuido pela Tratore), com dez composições próprias. O trio com o baixista Sidiel Vieira e o baterista Thiago “Big” Rabello é reforçado, em algumas faixas, por outros músicos talentosos, como o trompetista Daniel D’Alcântara e o saxofonista Vitor Alcântara.
O jazzístico choro “Pros Mestres”, dedicado pela pianista a Amilton Godoy (Zimbo Trio), César Camargo Mariano, Chick Corea e Pixinguinha, já revela suas influências. O lirismo de “Reencontro”, colorida por um naipe de sopros, o contagiante sotaque latino de “Das Américas” e o inusitado maracatu “Clara da Luna”, com citações de “Clair de Lune” (Debussy), chamam atenção de cara.
Debora ainda inclui no repertório a canção “Despedida” e o samba “Encrenca”, parcerias com Dani Gurgel, sua filha, que também contribui com os vocais. Um álbum elegante e maduro, que só poderia ter nascido com a experiência e a evidente paixão pela música.
(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 30/6/2012)
Atuante na cena da música instrumental de São Paulo, a pianista e arranjadora Debora Gurgel lança seu primeiro álbum solo (distribuido pela Tratore), com dez composições próprias. O trio com o baixista Sidiel Vieira e o baterista Thiago “Big” Rabello é reforçado, em algumas faixas, por outros músicos talentosos, como o trompetista Daniel D’Alcântara e o saxofonista Vitor Alcântara.
O jazzístico choro “Pros Mestres”, dedicado pela pianista a Amilton Godoy (Zimbo Trio), César Camargo Mariano, Chick Corea e Pixinguinha, já revela suas influências. O lirismo de “Reencontro”, colorida por um naipe de sopros, o contagiante sotaque latino de “Das Américas” e o inusitado maracatu “Clara da Luna”, com citações de “Clair de Lune” (Debussy), chamam atenção de cara.
Debora ainda inclui no repertório a canção “Despedida” e o samba “Encrenca”, parcerias com Dani Gurgel, sua filha, que também contribui com os vocais. Um álbum elegante e maduro, que só poderia ter nascido com a experiência e a evidente paixão pela música.
(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 30/6/2012)
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