André Christovam: documentário relembra como guitarrista deu ao blues um sotaque brasileiro

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                     O "rei do blues" B.B. King e o brasileiro André Christovam /Acervo do músico 

Expoente do blues com sotaque brasileiro, o guitarrista e compositor paulistano André Christovam é o protagonista do documentário “Mandinga”. Esse longa metragem inédito, que estreia hoje (13/6), será reexibido na próxima semana, em São Paulo, em meio à programação do festival In-Edit Brasil, dedicado a documentários musicais (confira os locais e horários de exibição no link abaixo).

Dirigido por Egler Cordeiro, “Mandinga” aborda o processo de criação e os bastidores das gravações do homônimo álbum de estreia de Christovam, lançado em 1989 pelo selo Eldorado. Um ano especial para os apreciadores do blues, que viram esse gênero musical afro-americano (célula-mãe de todas as vertentes da música negra criada nos Estados Unidos durante o século 20) conquistar uma jovem e fiel legião de fãs brasileiros.
Músico talentoso e perfeccionista, Cristovam se destacou já em sua estreia fonográfica. Na pioneira cena do blues brasileiro (com raras exceções, como o guitarrista e cantor carioca Celso Blues Boy), bandas como Blues Etílicos, Blue Jeans e Baseado em Blues tendiam a cantar em inglês, mesmo em suas composições autorais.
Christovam não deixou por menos: em vez de se limitar à interpretação de clássicos do gênero, ao preparar o repertório de seu primeiro disco mergulhou os ouvidos em inspiradores sambas de Noel Rosa, Cartola e da dupla João Bosco e Aldir Blanc. Nessas fontes de pura brasilidade, encontrou um caminho poético e bem-humorado para criar saborosos blues cantados em português, como “Genuíno Pedaço do Cristo”, “Dados Chumbados”, “Carne de Pescoço”, “Sebo nas Canelas” e, claro, a faixa-título.
O documentário também relembra um evento que, segundo o guitarrista, foi a realização de um sonho. Durante a Virada Cultural de 2014, Christovam comemorou os 30 anos do lançamento do álbum “Mandinga” em um concerto no erudito palco do Theatro Municipal de São Paulo. Foi nesse mesmo ano que ele se mudou para a Escócia, onde vive até hoje.
IN-EDIT BRASIL – O documentário “Mandinga” será exibido hoje (quinta, 13/6), às 18h, no Cine Olido; dia 20/6 (quinta), no centro Matilha Cultural, às 18h; e no SPCine Paulo Emílio, dia 22 (sábado), às 19h30, em São Paulo. Confira a programação no site do festival: https://br.in-edit.org/

Luciana Souza e Trio Corrente: uma parceria muito especial em show e disco

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                                O pianista Fabio Torres, do Trio Corrente, e a cantora Luciana Souza 

Essa é uma parceria musical que pode ser considerada fora de série. Luciana Souza, uma das cantoras brasileiras mais conceituadas na cena internacional do jazz, gravou um disco com o brilhante grupo instrumental paulistano Trio Corrente. Lançado em agosto pelo selo nova-iorquino Sunnyside, “Cometa” já ostenta uma indicação para o prêmio Grammy 2024, na categoria melhor álbum de jazz latino.  

O prazer e a alegria que essa nova parceria está proporcionando aos quatro artistas era evidente no show de lançamento do álbum (em 15/12, no Sesc 24 de Maio), em São Paulo. Ao cumprimentar a plateia, o pianista Fabio Torres chamou atenção para um detalhe que contribui para que esse show seja tão especial. Diferentemente da maioria dos cantores, que costumam ficar postados à frente dos músicos nos palcos, Luciana faz questão de cantar ao lado deles.  

Nada mais adequado, já que ela não é apenas uma grande intérprete vocal. Essa paulistana radicada há décadas nos Estados Unidos é também, na verdade, uma inventiva instrumentista, que utiliza sua voz privilegiada para improvisar, exatamente como fazem os músicos do Trio Corrente. Essa proximidade, no palco, permite que Luciana interaja com seus parceiros durante todo o show, especialmente quando estão improvisando. Como sugeriu o pianista, assim o trio se transforma em quarteto.

O repertório do show foi escolhido, principalmente, entre as faixas do álbum “Cometa”. Além de releituras de clássicas canções de Dorival Caymmi (“Você Já Foi à Bahia?”), Tom Jobim & Vinicius de Moraes (“Sem Você”) e Paulinho da Viola (“Rumo dos Ventos”), entram também composições autorais de Luciana e seus parceiros: Fabio, o contrabaixista Paulo Paulelli e o baterista Edu Ribeiro.

Para quem perdeu esses preciosos shows, Luciana deixou uma boa notícia, na apresentação de sexta. Após uma extensa turnê de shows pelos Estados Unidos que ela e o Trio Corrente farão no primeiro semestre de 2024, seguida por uma turnê europeia, há planos de mais shows pelo Brasil, no segundo semestre. Vale lembrar também que o álbum “Cometa” já está disponível em algumas plataformas. Jazz brasileiro de alto quilate!


Caixa Cubo: trio paulistano leva seu som jazzístico ao Sesc Pompeia

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                                                                      O trio instrumental Caixa Cubo/Foto Divulgação

Um dos mais talentosos grupos de música instrumental brasileira revelados na última década, o Caixa Cubo se apresenta nesta quinta-feira (29/6), na Comedoria do Sesc Pompeia, em São Paulo. O repertório do show é baseado no recém-lançado álbum “Agôra” (pelo selo alemão Jazz & Milk), oitavo título na discografia desse trio paulistano.

Formado por Henrique Gomide (teclados), Noa Stroeter (baixo) e João Fideles (bateria), o Caixa Cubo começou a se apresentar em palcos europeus em 2012. Desde então já tocou em renomados clubes e festivais de jazz desse continente.

Em seus discos, o grupo já homenageou mestres da música brasileira, como o violonista e compositor Garoto (no álbum “Enigma”, de 2018), o multi-instrumentista Hermeto Pascoal, o maestro Moacir Santos e o compositor Dorival Caymmi (no álbum “Misturada”, de 2014).

Já no recente “Agôra”, o trio reúne composições próprias, com assumidas influências dos jazzistas norte-americanos Herbie Hancock e Miles Davis, assim como do grupo brasileiro Azymuth, pioneiro das fusões do samba com o jazz eletrificado. Entre várias participações especiais, destacam-se o músico sul-africano Bongani Givethanks e os cantores Xênia França e Zé Leônidas.

Caixa Cubo no Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, Vila Pompeia, zona oeste de São Paulo). Dia 29/6, às 21h30. Ingressos: R$ 20 e R$ 40.



10º Best of Blues & Rock Festival: Buddy Guy se despede dos palcos, em São Paulo

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                                                Buddy Guy, guitarrista e cantor, no New Orleans Jazz Fest, em 2018 

O Brasil não poderia ficar fora dessa. Neste ano em que carismático guitarrista e cantor norte-americano Buddy Guy realiza a Damn Right Farewell Tour, sua turnê mundial de despedida dos palcos, o Best of Blues & Rock Festival vai comemorar sua 10.ª edição (de 2 a 4 de junho, na área externa do Auditório Ibirapuera, em São Paulo), com esse lendário mestre do blues entre suas atrações.

Nem é preciso ser fã de Buddy Guy para imaginar que esse será um dos grandes eventos musicais de 2023. Cultuado por outros astros da guitarra elétrica, como Jimi Hendrix, Jeff Beck, Eric Clapton e Keith Richards, Buddy conquistou seu lugar entre esses heróis do rock e do blues, ao trocar no final dos anos 1950 os pântanos da conservadora Louisiana, sua terra natal, pela efervescente cena musical da urbana Chicago.

No início da década de 1980 (a mesma época em que fez suas primeiras e explosivas apresentações por aqui, no 150 Night Club, em São Paulo), Buddy aceitou uma missão difícil. Ao pressentir que já tinha pouco tempo de vida, o grande Muddy Waters fez a ele um pedido em tom pessoal: “Mantenha o maldito blues vivo”.

Fiel ao veterano mestre do blues eletrificado de Chicago e às lições de outros craques do gênero, como seu parceiro Junior Wells, B.B. King ou Howlin’ Wolf, o incansável Buddy manteve acesa a chama desse gênero musical, fazendo turnês e se apresentando nos melhores clubes e festivais pelo mundo. Seu estilo pessoal, que une a tradição do blues à irreverência do rock & roll, é irresistível.

Tive o privilégio de vê-lo tocar várias vezes, no Brasil e em festivais pelo mundo – a última delas em 2018, no New Orleans Jazz & Heritage Festival, na Louisiana. Não importa se ele interpreta um blues pungente ou detona um eletrizante rock: o sorriso no rosto de Buddy não costuma faltar. Tomara que ainda ele consiga manter essa alegria ao se despedir da plateia brasileira, já próximo de completar 87 anos. Como fã de Buddy há quatro décadas, sei que será difícil segurar as lágrimas.

Informações sobre o elenco e ingressos para o Best of Blues & Rock Festival, que inclui os shows de despedida de Buddy Guy, em São Paulo, dias 3 e 4/6, neste link:
https://www.bestofbluesandrock.com.br/

C6 Fest: primeira noite em São Paulo destacou tributo a Zuza e craques do jazz atual

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                                    O gaitista Gabriel Grossi, na abertura do C6 Fest, em São Paulo - Foto/Divulgação  


Herdeiro do Free Jazz e do Tim Festival, dois dos mais influentes festivais de música em nosso país, o eclético C6 Fest abriu sua primeira noite de jazz em São Paulo (19/5), com uma merecida homenagem a Zuza Homem de Mello (1933-2020). Os precursores deste novo festival devem muito ao saudoso jornalista e pesquisador musical.

No palco do Auditório Ibirapuera, emocionados, a produtora cultural Monique Gardenberg e o saxofonista Zé Nogueira lembraram que trabalharam ao lado de Zuza e do produtor musical Paulinho Albuquerque (1942-2006) desde a primeira edição do Free Jazz, em 1985.

Ao introduzir a homenagem, Monique recordou que Zuza tinha o costume de elogiar coisas boas com a antiga expressão “é do peru”. “É o que chamamos hoje ‘do cacete’. Para o Zuza, música e prazer estavam sempre juntos”, comentou a produtora. Já o saxofonista observou que a noite também era dedicada a Moacir Santos (1926-2006), grande compositor e arranjador pernambucano, que foi homenageado na longínqua estreia do festival Free Jazz.

Comandada por Nogueira e pelo violonista Mário Adnet, a Orquestra Ouro Negro consagrou-se por meio de seus discos e concertos como intérprete e propagadora da originalíssima obra de Moacir. Se, anteontem, havia no Auditório Ibirapuera alguém que ainda não conhecia belezas musicais como “Bluishmen”, “April Child” ou “Oduduá”, deve ter saído encantado dali.

Além de outros grandes instrumentistas sentados nas estantes da Ouro Negro, como Ricardo Silveira (guitarra), Teco Cardoso (sax barítono), Andrea Ernest Dias (flautas) ou Jorge Helder (contrabaixo), o tributo de gala incluiu ainda três convidados muito especiais. Primeiro, o gaitista Gabriel Grossi improvisou à frente da orquestra. Depois, as cantoras Fabiana Cozza e Monica Salmaso demonstraram que suas vozes também podem soar como sofisticados instrumentos musicais.

O repertório da Ouro Negro trouxe ainda uma saborosa surpresa. Lembrando que Zuza era fã e íntimo conhecedor da obra do compositor e jazzista Duke Ellington, Adnet anunciou um arranjo especial de “Caravan” (clássico da big band do norte-americano), escrito ao estilo de Moacir Santos.

A noite prosseguiu com três atrações que esboçaram um painel da diversidade do jazz contemporâneo. A começar pelo quarteto da saxofonista inglesa Nubya Garcia, que exibe no repertório fortes marcas de sua ascendência caribenha. Não à toa, os ritmos do reggae e do dub jamaicano perpassam alguns dos sacolejantes temas de sua autoria.

Em seguida, entrou em cena o sensacional trio do guitarrista californiano Julian Lage, que destaca o baixista peruano Jorge Roeder (já esteve no Brasil com o pianista israelense Shai Maestro) e o baterista Dave King (da cultuada banda norte-americana The Bad Plus). Em alguns momentos, era possível sentir como o contagiante prazer que os três demonstram ao improvisarem juntos é capaz de excitar a plateia.

(Infelizmente, fui obrigado a abrir mão do show do inspirador trio do pianista armênio Tigran Hamasyan, em sua primeira aparição no Brasil. Ele só entraria no palco após a meia-noite e eu tinha que trabalhar cedo, no dia seguinte. Lamento, Tigran, fica para o próximo festival).

Em sua primeira noite de jazz em São Paulo, marcada pela qualidade de suas atrações, o novo festival de Monique Gardenberg e sua experiente equipe mostrou que está à altura dos importantes festivais que o antecederam décadas atrás. Longa vida ao C6 Fest!


Choraço 2023: Paulo Bellinati lidera homenagem a Garoto, mestre do violão moderno

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                                        Daniel Murray (da esq. para dir.), Paulo Bellinati e Swami Jr., no tributo a Garoto 

Quase sete décadas após a morte do grande violonista e compositor Aníbal Augusto Sardinha (1915-1955), mais conhecido como Garoto, o Brasil ainda tem uma dívida com ele. Considerado um fundador do moderno violão brasileiro e precursor da bossa nova, esse “gênio das cordas”, como chegou a ser chamado, jamais foi reconhecido pelo grande público de nosso país na medida em que sua obra musical mereceria.

É provável que ao menos algumas pessoas que foram anteontem (o feriado de 1.º de maio) ao show “Tributo a Garoto” tenham saído do Sesc 24 de Maio, em São Paulo, surpreendidas pela modernidade de sambas como “Lamentos do Morro” e “Sinal dos Tempos” ou pela beleza de choros e valsas, como “Quanto Dói Uma Saudade”, “Tristezas de Um Violão” e “Naqueles Velhos Tempos”, que revelam a maestria desse compositor paulistano.

Incluída na programação do projeto Choraço, essa homenagem não poderia estar em melhores mãos. A começar por Paulo Bellinati, grande violonista e profundo conhecedor da obra de Garoto, que lançou em 1986 um disco integralmente dedicado às composições do mestre (aliás, intitulado “Garoto”, esse álbum foi remasterizado e relançado pelo Selo Sesc, em 2019).

Ao lado de Bellinati estavam outros dois craques das cordas: Swami Jr. (violão de sete cordas) e Daniel Murray (violão), que se alternaram com ele em diferentes formações. A noite contou ainda com a participação especial de Cainã Cavalcante, outra grande revelação do violão brasileiro neste século.

Pena que Garoto, morto precocemente aos 39 anos, não tenha tido o prazer de ouvir suas composições nas interpretações desses brilhantes discípulos de gerações posteriores. Graças a eles, sua música continua encantando plateias.

Choraço 2023: Freedom Big Band resgata os arranjos dançantes da Orquestra Tabajara

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Caetano Brasil e Teco Cardoso (da esq. para a dir.) aplaudem o regente Paulo Serau

Festival dedicado ao choro que reúne uma extensa programação de shows e atividades didáticas até dia 7/5 (nos espaços do Sesc 24 de Maio, na área central de São Paulo), o projeto Choraço ofereceu um saboroso programa musical na noite de ontem (sábado, 22/4).

Quem assistiu à contagiante apresentação da Freedom Big Band se sentiu transportado para meados do século 20. Naquela época, as noites dançantes nas populares gafieiras eram animadas por big bands. Uma das mais famosas era a Orquestra Tabajara, comandada pelo clarinetista e compositor pernambucano Severino Araújo.

Apreciador dos choros e dos arranjos de Severino, o violonista e regente Paulo Serau colocou em prática uma boa ideia: transcreveu os arranjos do álbum “12 Chorinhos de Severino Araújo”, que a Tabajara lançou em 1960. Como a formação da Freedom Big Band é um pouco maior que a da orquestra carioca, Serau precisou adaptar os arranjos originais, que soam muito bem no palco. 

Para completar a magia desse show, a big band paulista contou com dois talentosos solistas: o saxofonista paulista Teco Cardoso, que há décadas integra o grupo Pau Brasil; e o clarinetista Caetano Brasil, mineiro de Juiz de Fora, que já havia chamado atenção no grupo de Thiago Delegado, na edição do ano passado. 

A Freedom Big Band volta a tocar hoje (23/4) o mesmo repertório, às 18h, com regência de Paulo Serau e as participações especiais de Teco Cardoso e Caetano Brasil. No repertório, grandes choros de Severino Araújo, como “Espinha de Bacalhau”, “Um Chorinho em Aldeia” e “Um Chorinho Pra você”. Às 15h30 deste domingo ainda havia alguns ingressos disponíveis.

Este é o link para o site do Sesc SP, onde você pode consultar a programação do Choraço e adquirir ingressos para os shows do projeto:

 

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