O trio argentino Bourbon Sweethearts / Foto de divulgação
Os paulistas poderão ouvir antes dos gaúchos duas atrações internacionais do próximo POA Jazz Festival. Um dos melhores do gênero no país, esse evento vai oferecer nove shows em sua quarta edição (de 9 a 11 de novembro, no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, em Porto Alegre), além de masterclasses, oficinas musicais e lançamento de livros.
A primeira edição do POA Jazz em São Paulo (no dia 7/11, às 21h, no Bourbon Street Music Club) destaca a apresentação de Rudresh Mahanthappa (na foto abaixo), brilhante saxofonista e compositor de origem indiana radicado nos Estados Unidos, além do jovem trio argentino Bourbon Sweethearts, formado por instrumentistas e vocalistas.
Quem teve a oportunidade de ouvir Mahanthappa ainda como integrante do quarteto do pianista Vijay Iyer – em 2008, no extinto festival Bridgestone Music, em São Paulo – certamente ficou impressionado por seu estilo contemporâneo, calcado em improvisos viscerais. Os críticos da revista norte-americana “Down Beat” o elegeram melhor sax alto do ano, nos períodos 2009-2013 e 2015-2018.
Já
as garotas do trio Bourbon Sweethearts fazem música de época. Com uma
formação instrumental incomum, Mel Muñiz (violão tenor e ukelele),
Agustina Ferro (trombone) e Cecilia Bosso (baixo acústico) recriam o
jazz tradicional e o swing das primeiras décadas do século 20, em
arranjos inspirados em clássicos conjuntos vocais como as Andrew Sisters
e os Mills Brothers.
Entre as outras sete atrações que vão se
apresentar em Porto Alegre destacam-se também o quinteto do trompetista
argentino Mariano Loiácono e conceituados instrumentistas brasileiros,
como o pianista e compositor Gilson Peranzzetta, o baterista Edu Ribeiro
e o trio formado pelo gaitista Maurício Einhorn com o violonista Nelson
Faria e o baixista Guto Wirtti.
O elenco musical do 4º POA Jazz
inclui dois destaques da cena musical gaúcha: o quarteto Marmota Jazz e
o quinteto Instrumental Picumã. E ainda o quarteto do pianista paulista
Vitor Arantes, vencedor do concurso Novos Talentos do Jazz 2017, cujos
integrantes tocam também na Orquestra Jovem Tom Jobim.
Neste
ano, o festival homenageia o jornalista e escritor Zuza
Homem de Melo, que vai autografar seus livros. Já os músicos Edu
Ribeiro, Nelson Faria e Gilson Peranzzetta vão ministrar masterclasses
de bateria, improvisação e arranjos, respectivamente.
A
curadoria do festival é assinada pelo músico e produtor Carlos Badia,
com assessoria do produtor Carlos Branco e do músico Rafael Rhoden. Mais
informações no site do evento: www.poajazz.com.br/
4.º POA Jazz: festival gaúcho traz uma prévia de suas atrações musicais a São Paulo
Marcadores: Bourbon Sweethearts, carlos badia, Edu Ribeiro, gilson peranzzetta, Guto Wirtti, instrumental picumã, Marmota Jazz, mauricio einhorn, nelson faria, POA Jazz Festival, rudresh mahanthappa, vitor arantes | author: Carlos CaladoMark Lambert: guitarrista e cantor leva ao Bourbon Street jazz e blues para dançar
Marcadores: bourbon street music club, Bourbon Strer, daniel grajew, jazz, jefferson rodrigues, jump swing, Lael Medina, Marinho Andreotti, Mark Lambert, Quinteto Radio Swing, sidmar vieira | author: Carlos Calado
Mark Lambert, em show no clube paulistano Bourbon Street
Radicado no Brasil desde 2004, o guitarrista e cantor Mark Lambert fez uma contagiante apresentação, ontem, no clube Bourbon Street, em São Paulo. À frente do Quinteto Radio Swing, o músico norte-americano exibiu um repertório bem dançante, recheado de clássicos do rhythm & blues, da black music, até da MPB.
Especialmente saborosa é a primeira parte do show, dedicada ao jump swing. Essa vertente musical, também conhecida como neo-swing ou retro-swing, resgatou no final dos anos 1990 o hábito de se dançar jazz, misturando o swing das big bands com o saltitante jump blues e pitadas de rock & roll.
Para animar a plateia do clube paulistano lá estavam alguns dançarinos do grupo Swing Out Studio, que logo transformaram o show em baile, impulsionados por clássicos dos salões de dança, como “Shiny Stockings” (do repertório da Count Basie Orchestra), “Caldonia” (Louis Jordan), “Jump, Jive an’ Wail” (Louis Prima) ou “Hallelujah, I Love Her So” (Ray Charles).
Cantor versátil, Lambert conduz o show-baile por outras vertentes musicais: a romântica soul music de Al Green (“Let’s Stay Together”); uma versão bossa nova da canção “Nature Boy” (de Eden Ahbez) emendada ao afro samba “Canto de Ossanha” (Baden Powell e Vinicius de Moraes); ou ainda um medley da irresistível “Do I Do” (Stevie Wonder) com o funk “Vamos Dançar (Ed Motta).
Bem acompanhado por seu quinteto, que inclui Sidmar Vieira (trompete), Jefferson Rodrigues (sax tenor), Daniel Grajew (teclado), Marinho Andreotti (baixo) e Lael Medina (bateria), Lambert também exibe seu talento de instrumentista, nos solos de guitarra.
Um programa leve e divertido, bem apropriado para se esquecer por algumas horas que este país caminha cegamente para um precipício.
Radicado no Brasil desde 2004, o guitarrista e cantor Mark Lambert fez uma contagiante apresentação, ontem, no clube Bourbon Street, em São Paulo. À frente do Quinteto Radio Swing, o músico norte-americano exibiu um repertório bem dançante, recheado de clássicos do rhythm & blues, da black music, até da MPB.
Especialmente saborosa é a primeira parte do show, dedicada ao jump swing. Essa vertente musical, também conhecida como neo-swing ou retro-swing, resgatou no final dos anos 1990 o hábito de se dançar jazz, misturando o swing das big bands com o saltitante jump blues e pitadas de rock & roll.
Para animar a plateia do clube paulistano lá estavam alguns dançarinos do grupo Swing Out Studio, que logo transformaram o show em baile, impulsionados por clássicos dos salões de dança, como “Shiny Stockings” (do repertório da Count Basie Orchestra), “Caldonia” (Louis Jordan), “Jump, Jive an’ Wail” (Louis Prima) ou “Hallelujah, I Love Her So” (Ray Charles).
Cantor versátil, Lambert conduz o show-baile por outras vertentes musicais: a romântica soul music de Al Green (“Let’s Stay Together”); uma versão bossa nova da canção “Nature Boy” (de Eden Ahbez) emendada ao afro samba “Canto de Ossanha” (Baden Powell e Vinicius de Moraes); ou ainda um medley da irresistível “Do I Do” (Stevie Wonder) com o funk “Vamos Dançar (Ed Motta).
Bem acompanhado por seu quinteto, que inclui Sidmar Vieira (trompete), Jefferson Rodrigues (sax tenor), Daniel Grajew (teclado), Marinho Andreotti (baixo) e Lael Medina (bateria), Lambert também exibe seu talento de instrumentista, nos solos de guitarra.
Um programa leve e divertido, bem apropriado para se esquecer por algumas horas que este país caminha cegamente para um precipício.
Baterias Brasileiras: projeto do Sesc reune Duda Neves e Igor Willcox, craques das baquetas
Marcadores: Baterias Brasileiras, carlos bala, Duda Neves, fernando amaro, glécio nascimento, Igor Willcox, jazz, michel freidenson, música intrumental, sylvinho mazzucca, vini morales, wagner barbosa | author: Carlos Calado
O baterista Duda Neves
Grande parte da plateia estava ali, provavelmente, para ouvir o veterano Duda Neves, um dos maiores bateristas brasileiros, e ainda poder conhecer o jovem Igor Willcox, promissora revelação do jazz produzido em nosso país. O que ninguém esperava, nesse show do projeto Baterias Brasileiras (ontem, no Sesc Belenzinho, em São Paulo), é que esse encontro de diferentes gerações musicais seria tão emocionante.
Primeira atração da noite, Igor logo conquistou a plateia com duas saborosas composições próprias: “Brotherhood” e “The Scare”, faixas de seus álbuns “#1” (2017) e “Live!” (2018). Ao anuncia-las, visivelmente emocionado, o baterista falou sobre a sensação de dividir o palco com Duda, cujas pioneiras videoaulas foram essenciais para sua formação musical, na década de 1990. Carinhoso, o mestre até entrou no palco para abraçar o discípulo.
À frente de seu afiado quarteto, que destaca também os talentos do baixista Glécio Nascimento, do saxofonista Wagner Barbosa e do tecladista Vini Morales, Igor (na foto abaixo) fechou sua contagiante apresentação com o funkeado “Julie’s Blues” e “Lifetime”, homenagem ao baterista norte-americano Tony Williams (1945-1997), que o influenciou. O Igor Willcox Quartet certamente conquistou novos fãs nessa noite.
Grande parte da plateia estava ali, provavelmente, para ouvir o veterano Duda Neves, um dos maiores bateristas brasileiros, e ainda poder conhecer o jovem Igor Willcox, promissora revelação do jazz produzido em nosso país. O que ninguém esperava, nesse show do projeto Baterias Brasileiras (ontem, no Sesc Belenzinho, em São Paulo), é que esse encontro de diferentes gerações musicais seria tão emocionante.
Primeira atração da noite, Igor logo conquistou a plateia com duas saborosas composições próprias: “Brotherhood” e “The Scare”, faixas de seus álbuns “#1” (2017) e “Live!” (2018). Ao anuncia-las, visivelmente emocionado, o baterista falou sobre a sensação de dividir o palco com Duda, cujas pioneiras videoaulas foram essenciais para sua formação musical, na década de 1990. Carinhoso, o mestre até entrou no palco para abraçar o discípulo.
À frente de seu afiado quarteto, que destaca também os talentos do baixista Glécio Nascimento, do saxofonista Wagner Barbosa e do tecladista Vini Morales, Igor (na foto abaixo) fechou sua contagiante apresentação com o funkeado “Julie’s Blues” e “Lifetime”, homenagem ao baterista norte-americano Tony Williams (1945-1997), que o influenciou. O Igor Willcox Quartet certamente conquistou novos fãs nessa noite.
Para quem, como eu, acompanha desde o final dos anos 1970 a cena da música instrumental e do jazz em São Paulo, ouvir Duda mais uma vez – ao lado dos craques Michel Freidenson (teclado) e Sylvinho Mazzucca Jr. (baixo), parceiros com os quais toca há quatro décadas – trouxe boas recordações. Naquela época era comum se ouvir esses músicos no bar Saint Germain (depois rebatizado de Sanja), no teatro Lira Paulistana ou na sala Guiomar Novaes da Funarte.
Duda também abriu seu show com duas composições próprias: as jazzísticas “Rito” e “Lucila”, faixas do hoje raríssimo álbum “Urucum” (1990). Como outros grandes bateristas, ele não se limita à marcação dos ritmos: fraseia e improvisa o tempo todo, esbanjando criatividade e estimulando os parceiros.
O tecladista Michel Freidenson também exibiu duas composições de sua autoria: a singela “Nasci para Você”, quase uma canção, e a jazzística “Je Suis Desolé”. Ao final do show, os dois bateristas e seus grupos ainda se juntaram para uma versão descontraída de “Cantaloupe Island” (Herbie Hancock). Que noite!
O projeto Baterias Brasileiras prossegue até dia 8 de dezembro, com outros shows de conceituados bateristas, como Carlos Bala, Fernando Amaro, Pupilo e Curumin, além de workshops e debates. Informações e compra de ingressos no site do Sesc SP.
Duda também abriu seu show com duas composições próprias: as jazzísticas “Rito” e “Lucila”, faixas do hoje raríssimo álbum “Urucum” (1990). Como outros grandes bateristas, ele não se limita à marcação dos ritmos: fraseia e improvisa o tempo todo, esbanjando criatividade e estimulando os parceiros.
O tecladista Michel Freidenson também exibiu duas composições de sua autoria: a singela “Nasci para Você”, quase uma canção, e a jazzística “Je Suis Desolé”. Ao final do show, os dois bateristas e seus grupos ainda se juntaram para uma versão descontraída de “Cantaloupe Island” (Herbie Hancock). Que noite!
O projeto Baterias Brasileiras prossegue até dia 8 de dezembro, com outros shows de conceituados bateristas, como Carlos Bala, Fernando Amaro, Pupilo e Curumin, além de workshops e debates. Informações e compra de ingressos no site do Sesc SP.
Kastrup: utopia poética inspira 'Ponto de Mutação', ambicioso álbum do percussionista
Marcadores: Alessandra Leão, Fritjof Capra, guilherme kastrup, Henrique Albino, kiko dinucci, lenna bahule, Malcolm X, marcelo monteiro, ná ozzetti, Noam Chomsky, Rafa Barreto, Ricardo Prado | author: Carlos CaladoO momento não poderia ser mais apropriado. Às vésperas da tragédia que vem sendo anunciada pelas pesquisas eleitorais, o percussionista, produtor e compositor Guilherme Kastrup lançou ontem, com show no Sesc Pompeia, em São Paulo, o ambicioso álbum “Ponto de Mutação”.
Para veicular essa obra musical de essência filosófica e experimental, Kastrup evitou o tradicional formato do CD. Ao abrir a caixinha plástica que embala o suposto disco, você encontra um encarte com um texto sobre o projeto, a ficha técnica das gravações e um QR code que dá acesso a um hotsite na internet. Nele, uma espécie de mapa orienta a audição das nove faixas do álbum, incluindo informações sobre os músicos que participaram das gravações.
Kastrup antecipou o lançamento de seu álbum com o single-clipe “Reaction” (veja abaixo), no qual faz uma reflexão sobre a decadência política e econômica da humanidade e as crescentes reações de movimentos sociais pelo mundo. Samples das vozes dos pensadores norte-americanos Noam Chomsky e Malcolm X misturam-se a um explosivo e violento painel de cenas de manifestações públicas e repressão policial, incluindo o Brasil.
Segundo o compositor e percussionista (na foto abaixo), conceitualmente, sua obra “parte do caos de nossos dias para uma virada da nova era. O início é a constatação do colapso do ideal capitalista”. Inspirado pelo livro homônimo do físico e ambientalista austríaco Fritjof Capra, Kastrup desenvolve nas composições de “Ponto de Mutação” a ideia de que nossa civilização deixará de ser comandada por paradigmas masculinos, como a competição e o individualismo, para ser regida pela égide feminina, que valoriza a solidariedade, a sensibilidade e o afeto.
O projeto começou a ser realizado em 2016, quando Kastrup convidou diversos parceiros, como o guitarrista Kiko Dinucci, o saxofonista Marcelo Monteiro ou o acordeonista Ricardo Prado, para sessões de improvisação livre. Utilizando o recurso da colagem, ele usou esse material sonoro como base para as composições do álbum, cujas gravações contaram, numa segunda fase, com outras contribuições improvisadas, tanto de vocalistas (Alessandra Leão, Ná Ozzetti, Elza Soares, Lenna Bahule, Arícia Mess), como de instrumentistas (o violonista Swami Jr., o clarinetista Alexandre Ribeiro e o flautista Henrique Albino).
Como seria quase impossível contar com os 25 músicos que participaram do álbum, Kastrup reuniu um elenco mais compacto para o show de lançamento: Ricardo Prado (acordeon e teclados), Rafa Barreto (sampler e guitarra), Marcelo Monteiro e Henrique Albino (sopros), além de Alessandra Leão e Ná Ozzetti (vocais). Sem falar nas projeções e na iluminação de Anna Turra, que contribuíram para levar ao palco um pouco da atmosfera do álbum.
“Me deixei conduzir pela inspiração desta bela ideia poético-filosófica para construir o roteiro sonoro-imagético que resultou nesta obra. Este meu ‘Ponto de Mutação’ é um Oxalá musical para que essa profecia se realize”, diz Kastrup, no texto de apresentação do álbum. Tomara mesmo. Mais do que nunca, no Brasil de hoje, precisamos de uma utopia para encarar os próximos anos.
Como seria quase impossível contar com os 25 músicos que participaram do álbum, Kastrup reuniu um elenco mais compacto para o show de lançamento: Ricardo Prado (acordeon e teclados), Rafa Barreto (sampler e guitarra), Marcelo Monteiro e Henrique Albino (sopros), além de Alessandra Leão e Ná Ozzetti (vocais). Sem falar nas projeções e na iluminação de Anna Turra, que contribuíram para levar ao palco um pouco da atmosfera do álbum.
“Me deixei conduzir pela inspiração desta bela ideia poético-filosófica para construir o roteiro sonoro-imagético que resultou nesta obra. Este meu ‘Ponto de Mutação’ é um Oxalá musical para que essa profecia se realize”, diz Kastrup, no texto de apresentação do álbum. Tomara mesmo. Mais do que nunca, no Brasil de hoje, precisamos de uma utopia para encarar os próximos anos.
AsuJazz: festival do Paraguai entra no circuito mundial valorizando sotaques regionais
Marcadores: antonio monasterio, AsuJazz, enzo favata, gustavo viera, ivan lins, José Luís Gutiérrez, juanjo corbalán, Mike Stern, Néstor Ló, Oscar Aldama, talking horns, yissy garcia | author: Carlos Calado
O harpista paraguaio Juanjo Corbalán e o saxofonista espanhol José Luís Gutiérrez
Já era madrugada de domingo (7/10), quando Ivan Lins e seu grupo deixaram o palco instalado na Praça da Liberdade, na cidade de Assunção. O comemorado show do compositor e cantor brasileiro encerrou a terceira edição do AsuJazz, festival que ofereceu uma extensa programação musical, totalmente gratuita, em diversos palcos da capital paraguaia durante uma semana.
Ivan já entrou em cena cantando uma seleção de sucessos de sua carreira: “Daquilo que Eu Sei”, “Meu País” e “Somos Todos Iguais Neste Noite” (parcerias com Vitor Martins). Bastava olhar os rostos iluminados na multidão presente na praça, para se constatar a admiração que os paraguaios têm por ele e pela música popular brasileira – até então só presente de maneira ocasional nos repertórios de alguns shows do festival.
Foi uma noite eclética, que também destacou o trio do saxofonista italiano Enzo Favata e seu jazz cheio de melancolia, com influência da música folclórica da região da Sardenha. Ou ainda o quarteto alemão de sopros Talking Horns, com um repertório bem diversificado, que vai do jazz tradicional à música circense, passando até pela música sacra.
Surpresas não faltaram também na apresentação do saxofonista espanhol José Luís Gutiérrez, que hipnotizou a plateia com seus improvisos, acompanhado pela bateria de seu conterrâneo Lar Legido e pela harpa do paraguaio Juanjo Corbalán. Não bastassem as expressivas melodias de ascendência ibérica que toca com o sax alto ou o soprano, Gutierrez também encantou os ouvintes com o “panderidoo”, insólito instrumento que inventou. Trata-se de um grande pandeiro envolvido por um tubo, que ao ser soprado produz um som bastante grave e estranho.
Original também é a música instrumental do violonista e compositor chileno Antonio Monasterio. O título de seu recente álbum “Centro y Periferia” parece aludir ao dilema dos jazzistas que vivem fora do suposto eixo de circulação desse gênero musical. O timbre do oud (instrumento de cordas de origem árabe, que lembra um alaúde) acrescenta um tempero especial à sonoridade do grupo de Monasterio.
No Brasil, já vimos artistas nacionais serem tratados como atrações secundárias em vários festivais, inclusive de outros gêneros musicais. No AsuJazz, ao contrário, há uma assumida intenção de apoiar os instrumentistas e grupos de jazz paraguaios, especialmente aqueles que têm consciência de que sua música terá mais identidade se contar com ritmos, sonoridades e sotaques locais.
Esse é o caso, por exemplo, do talentoso pianista Oscar Aldama, que hoje vive no Brasil depois se formar no Conservatório de Tatuí (no interior de São Paulo). Em sua apresentação, no sábado, exibiu composições próprias calcadas em ritmos latino-americanos, como o chamamé e a polca paraguaia, o festejo peruano ou mesmo o samba-jazz brasileiro.
Já era madrugada de domingo (7/10), quando Ivan Lins e seu grupo deixaram o palco instalado na Praça da Liberdade, na cidade de Assunção. O comemorado show do compositor e cantor brasileiro encerrou a terceira edição do AsuJazz, festival que ofereceu uma extensa programação musical, totalmente gratuita, em diversos palcos da capital paraguaia durante uma semana.
Ivan já entrou em cena cantando uma seleção de sucessos de sua carreira: “Daquilo que Eu Sei”, “Meu País” e “Somos Todos Iguais Neste Noite” (parcerias com Vitor Martins). Bastava olhar os rostos iluminados na multidão presente na praça, para se constatar a admiração que os paraguaios têm por ele e pela música popular brasileira – até então só presente de maneira ocasional nos repertórios de alguns shows do festival.
Foi uma noite eclética, que também destacou o trio do saxofonista italiano Enzo Favata e seu jazz cheio de melancolia, com influência da música folclórica da região da Sardenha. Ou ainda o quarteto alemão de sopros Talking Horns, com um repertório bem diversificado, que vai do jazz tradicional à música circense, passando até pela música sacra.
A noite de sábado (6/10) também contou com uma revelação: a radiante baterista cubana Yissy Garcia (na foto ao lado) e seu quinteto Bandancha. Filha de Bernardo Garcia (percussionista do lendário grupo Irakere), Yissi toca sorrindo. Uma das referências mais evidentes de seu jazz de fusão é o baixista norte-americano Marcus Miller, que ela homenageia na composição “Mr. Miller” (com um belo vídeo no YouTube). Também tocou uma releitura de “Tutu” (tema de Miller, da época que foi parceiro de Miles Davis), recheada de scratches pelo DJ Jigüe.
Na noite anterior, no mesmo palco, a atração mais esperada era a banda comandada por dois veteranos expoentes do jazz fusion: o guitarrista Mike Stern e o baterista Dave Weckl. Recebidos como popstars, com fãs gritando seus nomes, os dois abriram o show com uma frenética versão de “Nothing Personal” (de Michael Brecker). Para alguém que sofreu um grave acidente dois anos atrás, a garra e a velocidade dos solos de Stern (na foto abaixo) impressionam.
Na noite anterior, no mesmo palco, a atração mais esperada era a banda comandada por dois veteranos expoentes do jazz fusion: o guitarrista Mike Stern e o baterista Dave Weckl. Recebidos como popstars, com fãs gritando seus nomes, os dois abriram o show com uma frenética versão de “Nothing Personal” (de Michael Brecker). Para alguém que sofreu um grave acidente dois anos atrás, a garra e a velocidade dos solos de Stern (na foto abaixo) impressionam.
Surpresas não faltaram também na apresentação do saxofonista espanhol José Luís Gutiérrez, que hipnotizou a plateia com seus improvisos, acompanhado pela bateria de seu conterrâneo Lar Legido e pela harpa do paraguaio Juanjo Corbalán. Não bastassem as expressivas melodias de ascendência ibérica que toca com o sax alto ou o soprano, Gutierrez também encantou os ouvintes com o “panderidoo”, insólito instrumento que inventou. Trata-se de um grande pandeiro envolvido por um tubo, que ao ser soprado produz um som bastante grave e estranho.
Original também é a música instrumental do violonista e compositor chileno Antonio Monasterio. O título de seu recente álbum “Centro y Periferia” parece aludir ao dilema dos jazzistas que vivem fora do suposto eixo de circulação desse gênero musical. O timbre do oud (instrumento de cordas de origem árabe, que lembra um alaúde) acrescenta um tempero especial à sonoridade do grupo de Monasterio.
No Brasil, já vimos artistas nacionais serem tratados como atrações secundárias em vários festivais, inclusive de outros gêneros musicais. No AsuJazz, ao contrário, há uma assumida intenção de apoiar os instrumentistas e grupos de jazz paraguaios, especialmente aqueles que têm consciência de que sua música terá mais identidade se contar com ritmos, sonoridades e sotaques locais.
Esse é o caso, por exemplo, do talentoso pianista Oscar Aldama, que hoje vive no Brasil depois se formar no Conservatório de Tatuí (no interior de São Paulo). Em sua apresentação, no sábado, exibiu composições próprias calcadas em ritmos latino-americanos, como o chamamé e a polca paraguaia, o festejo peruano ou mesmo o samba-jazz brasileiro.
Outros músicos locais que também tiveram lugares de destaque no festival para exibir suas incursões jazzísticas calcadas em ritmos regionais foram o guitarrista Gustavo Viera, o violonista José Villamayor, o baterista Toti Morel e o já citado harpista Juanjo Corbalán, que também se apresentou com seu grupo.
Já a banda Néstor Ló y los Caminantes, que fez o show mais bem-humorado do festival, aproxima o folclore local da linguagem da música pop, com direito a um naipe de sopros. “Nós respeitamos as raízes da música paraguaia, mas também podemos sair dela”, justificou-se o líder e cantor Néstor López, pouco antes de concluir o show da banda com um dançante funk.
Para aqueles que gostam de dar uma esticada depois dos shows do festival, o ponto de encontro de músicos e fãs de jazz é o Drácena, no centro de Assunção. Comandado pelo baterista Seba Ramirez (que também tocou no festival), esse misto de bar e espaço cultural costuma realizar jam sessions e concertos.
Muito bem organizado, o AsuJazz demonstrou em sua terceira edição que já está pronto para ingressar no circuito internacional de eventos desse gênero. Diferentemente de festivais que apenas oferecem à plateia um cardápio de atrações musicais e algumas atividades paralelas, o AsuJazz é um festival com uma missão mais ambiciosa: exibir a música instrumental e o jazz produzidos hoje no Paraguai aos ouvidos do mundo.
(Cobertura realizada a convite da produção do festival AsuJazz)
Já a banda Néstor Ló y los Caminantes, que fez o show mais bem-humorado do festival, aproxima o folclore local da linguagem da música pop, com direito a um naipe de sopros. “Nós respeitamos as raízes da música paraguaia, mas também podemos sair dela”, justificou-se o líder e cantor Néstor López, pouco antes de concluir o show da banda com um dançante funk.
Para aqueles que gostam de dar uma esticada depois dos shows do festival, o ponto de encontro de músicos e fãs de jazz é o Drácena, no centro de Assunção. Comandado pelo baterista Seba Ramirez (que também tocou no festival), esse misto de bar e espaço cultural costuma realizar jam sessions e concertos.
Muito bem organizado, o AsuJazz demonstrou em sua terceira edição que já está pronto para ingressar no circuito internacional de eventos desse gênero. Diferentemente de festivais que apenas oferecem à plateia um cardápio de atrações musicais e algumas atividades paralelas, o AsuJazz é um festival com uma missão mais ambiciosa: exibir a música instrumental e o jazz produzidos hoje no Paraguai aos ouvidos do mundo.
(Cobertura realizada a convite da produção do festival AsuJazz)
AsuJazz: Baylor Project brilha com sua música negra no festival de Assunção
Marcadores: Aca Seca Trio, AsuJazz 2018, gustavo viera, jazz, Jean Baylor, Marcus Baylor, Mongo Santamaria, The Baylor Project, Two Violins Bands | author: Carlos CaladoA plateia do AsuJazz — festival realizado na cidade de Assunção, cuja terceira edição termina neste sábado (6/10) — pode se considerar especial. A capital paraguaia teve o privilégio de ver e ouvir pela primeira vez na América do Sul, com entrada franca, a banda norte-americana The Baylor Project. Revelação recente, esse projeto comandado pelo casal Jean (voz) e Marcus Baylor (bateria) tem tudo para conquistar elogios em festivais do gênero pelo mundo.
A chuva fina que caiu sobre cidade, no final na noite de quinta-feira (4/10), fez com que parte da plateia desistisse de esperar por esse show, ultima atração do programa. Quem ficou se deliciou com um repertório bem escolhido, que vai do gospel a standards jazzísticos, passando pela soul music. É praticamente uma descontraída viagem pela evolução da música negra norte-americana durante o último século.
Indicações ao prêmio Grammy nem sempre referendam qualidade musical, mas as duas recebidas pelo Baylor Project, no ano passado, soam bem merecidas. A começar pelo inventivo arranjo da clássica “Afro Blue” (de Mongo Santamaria). Nos vocais, Jean combina elegância com um belo timbre de voz. Que o diga a plateia do AsuJazz, que se levantou para a aplaudi-la durante o gospel “Aleluia”, um verdadeiro “tour de force” da cantora.
Antes, a plateia já havia aplaudido bastante o trio argentino Aca Seca, que também se apresentou pela primeira vez no país. É provável que Andrés Beeuwsaert (piano e voz), Juan Quintero (violão e voz) e Mariano Quintero (percussão e voz) nem soubessem que tinham um fã clube tão fervoroso em Assunção. Aliás, brasileiros fãs do saudoso grupo vocal Boca Livre certamente se interessariam pelas belas melodias e harmonizações vocais do Aca Seca Trio.
Eclética, a noite de quinta-feira também contou com a música romântica do grupo ucraniano Two Violins Band, que destaca o violinista e compositor lllia Bondarenko, típico garoto-prodígio da música clássica. A abertura ficou por conta do grupo do guitarrista paraguaio Gustavo Viera, que faz um envolvente jazz de fusão com ritmos locais e influências do rock e do blues.
(Cobertura realizada a convite da produção do festival AsuJazz)
AsuJazz: CCPA Quintet e Emphatia Duo exibem música brasileira no festival paraguaio
Marcadores: AsuJazz 2018, Carlos Schvartzman, CCPA Jazz Quintet, Empathia Jazz Duo, ivan lins, Jorge 'Lobito' Martinez, Lobo Martinez, Mafalda Minnozzi, Paul Ricci, Ronnie Koller, tom jobim | author: Carlos Calado
Músicos do CCPA Jazz Quintet
Na programação oficial do AsuJazz, festival internacional que vem ocupando durante esta semana diversos palcos da cidade de Assunção (no Paraguai), o Brasil só está representado por Ivan Lins. O compositor e cantor carioca vai encerrar o evento, no próximo sábado (6/10), em uma noite com sete atrações, ao ar livre, na Praça da Democracia.
Por isso ninguém esperava ouvir tanta música brasileira durante a terceira noite desse evento, realizada ontem (3/10), no solene Teatro Municipal, no centro da capital paraguaia. As primeiras surpresas vieram no repertório do talentoso CCPA Jazz Quintet, jovem grupo ligado ao Centro Cultural Paraguaio Americano, que há duas décadas também promove seu festival de jazz em Assunção.
Depois de relembrar “Bebop” (de Dizzy Gillespie), clássico do jazz moderno, o quinteto tocou “210 West”, samba salseiro da pianista maranhense Tania Maria. O baterista do grupo, Sebastián Ramirez, fez questão de comentar que essa composição faz parte de “The First”, álbum que a baterista paulista Lilian Carmona gravou com uma big band, no ano passado, pelo selo Sesc.
Atração seguinte, o Empathia Jazz Duo fez o show mais quente da noite. A cantora italiana Mafalda Minnozzi (radicada há duas décadas no Brasil) e o guitarrista norte-americano Paul Ricci levantaram a plateia, literalmente, com versões jazzísticas de “A Felicidade” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e “Desafinado” (Jobim e Newton Mendonça), além de outros clássicos da canção, como “Every Time We Say Goodbye” (Cole Porter) e “Estate” (Martino e Brighetti).
Fechando a noite, veteranos músicos locais, como os pianistas Ronnie Koller, Lobo Martinez e Carlos Schvartzman, o baterista Riolo Alvarenga e o violonista Kuky Rey se uniram para uma homenagem ao pianista e compositor Jorge “Lobito” Martinez (1952-2003), expoente do jazz paraguaio. Uma noite com atrações bem diferentes, que expressou a rica diversidade do jazz contemporâneo.
Na programação oficial do AsuJazz, festival internacional que vem ocupando durante esta semana diversos palcos da cidade de Assunção (no Paraguai), o Brasil só está representado por Ivan Lins. O compositor e cantor carioca vai encerrar o evento, no próximo sábado (6/10), em uma noite com sete atrações, ao ar livre, na Praça da Democracia.
Por isso ninguém esperava ouvir tanta música brasileira durante a terceira noite desse evento, realizada ontem (3/10), no solene Teatro Municipal, no centro da capital paraguaia. As primeiras surpresas vieram no repertório do talentoso CCPA Jazz Quintet, jovem grupo ligado ao Centro Cultural Paraguaio Americano, que há duas décadas também promove seu festival de jazz em Assunção.
Depois de relembrar “Bebop” (de Dizzy Gillespie), clássico do jazz moderno, o quinteto tocou “210 West”, samba salseiro da pianista maranhense Tania Maria. O baterista do grupo, Sebastián Ramirez, fez questão de comentar que essa composição faz parte de “The First”, álbum que a baterista paulista Lilian Carmona gravou com uma big band, no ano passado, pelo selo Sesc.
Atração seguinte, o Empathia Jazz Duo fez o show mais quente da noite. A cantora italiana Mafalda Minnozzi (radicada há duas décadas no Brasil) e o guitarrista norte-americano Paul Ricci levantaram a plateia, literalmente, com versões jazzísticas de “A Felicidade” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e “Desafinado” (Jobim e Newton Mendonça), além de outros clássicos da canção, como “Every Time We Say Goodbye” (Cole Porter) e “Estate” (Martino e Brighetti).
Fechando a noite, veteranos músicos locais, como os pianistas Ronnie Koller, Lobo Martinez e Carlos Schvartzman, o baterista Riolo Alvarenga e o violonista Kuky Rey se uniram para uma homenagem ao pianista e compositor Jorge “Lobito” Martinez (1952-2003), expoente do jazz paraguaio. Uma noite com atrações bem diferentes, que expressou a rica diversidade do jazz contemporâneo.
(Cobertura realizada a convite da produção do festival AsuJazz)
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