Melody Gardot: acidente grave levou norte-americana a se tornar cantora

|

Quem escuta pela primeira vez as canções sofisticadas e românticas dessa norte-americana de 24 anos, cujo nome aparece com destaque na programação dos melhores festivais de música deste verão, na Europa, jamais poderá imaginar a tragédia pessoal que a vida lhe reservou.

Cinco anos atrás, Melody Gardot pedalava sua bicicleta, na cidade de Filadélfia, onde vivia, quando foi atropelada por uma perua Cherokee, que desrespeitou o sinal vermelho. As seqüelas foram devastadoras: depois de passar um ano presa à cama, ela teve de reaprender a andar. Ainda é obrigada a usar bengala até hoje.

“Eu estava me preparando para ser pintora, mas prefiro não pensar em como minha vida poderia ter sido diferente”, diz ela, por telefone, do quarto de um hotel, em Londres.Ironicamente, o acidente alterou os planos de vida de Melody. Para enfrentar as dores que a medicina convencional não conseguia atenuar sem pesados efeitos colaterais, um médico lhe sugeriu alguma forma de terapia musical.

Ainda impedida de sair da cama, ela decidiu aprender violão, deitada mesmo. Assim nasceu a compositora e cantora, cuja carreira profissional começou a decolar depois que um amigo construiu uma página no MySpace, sem que ela soubesse, com algumas de suas primeiras canções.

Influências musicais
“Amo Duke Ellington, Jacques Brel, James Taylor, Carole King”, diz ela, listando alguns de seus compositores favoritos, entre os quais não faltam brasileiros. “Também adoro Caetano Veloso, Jobim e Astrud Gilberto. Tenho ouvido muito ‘Domingo’, aquele álbum de Gal Costa e Caetano”, emenda, animada.

A quase bossa nova “If the Stars Were Mine”, faixa do segundo CD de Melody (“My One and Only Thrill”, recém-lançado no Brasil pela Universal), prova que ela não está fazendo média com o entrevistador. Outras influências saltam logo aos ouvidos nesse álbum: soul (“Who Will Confort Me”), jazz (“Your Heart Is as Black as Night”), chanson francesa (“Les Etoiles”).

Na produção, a presença de Larry Klein (baixista e compositor norte-americano que já emprestou sua experiência a álbuns de cantoras do primeiro time do pop e do jazz atual, como Joni Mitchell, Madeleine Peyroux e Luciana Souza) parece ter sido útil para que Melody encontrasse o tom certo nos arranjos e interpretações do álbum.

Depois dos elogios que o álbum tem recebido na mídia internacional, ao encarar a atual maratona de viagens e shows, hoje ela se preocupa mais com seu estado físico do que com a possível reação das platéias frente à sua música. “Entrar em um palco não é muito fácil pra mim, porque ainda tenho que ser bastante cuidadosa em relação a certos aspectos de minha saúde, mas vale a pena. Sinto uma grande alegria quando tenho a oportunidade de mostrar minhas canções para as pessoas”, diz.

E já que cinco anos atrás ela nem imaginava que viria a tornar uma cantora e compositora de relativo sucesso, será que ela consegue se ver daqui a outros cinco anos como artista? "Mais velha”, ela responde, quase rindo. “Não faço muitos planos, realmente não sei como estarei. Prefiro esperar para ver o que a vida ainda me reserva”.

(entrevista publicada parcialmente na "Folha de S. Paulo", em 15/07/2009)





--> --> -->


0 comentários:

 

©2009 Música de Alma Negra | Template Blue by TNB