40.º New Orleans Jazz & Heritage Festival: Erykah Badu, Mavis Staples e Sharon Jones se destacam na primeira semana

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No ano em que o New Orleans Jazz & Heritage Festival, um dos maiores eventos musicais do mundo, festeja seu 40º aniversário, as mulheres roubam a cena, em meio à programação recheada de figurões do rock e pop, como Neil Young, Ben Harper, Dave Matthews, Joe Cocker e James Taylor.

Entre as mais de 200 atrações já exibidas nos 12 palcos instalados no hipódromo de New Orleans, cantoras e compositoras de diversos gêneros brilharam durante o primeiro final de semana do eclético festival, que prossegue até dia 3/5.

Última atração do sábado, no disputado palco Congo Square, a divertida Erykah Badu (foto acima) rebolou, provocou a plateia e batucou numa bateria eletrônica. O fato de sua música atual estar mais próxima do hip hop do que do neo-soul que a transformou em estrela da black music, no fim dos anos 90, não a afastou dos antigos fãs. A prova estava no coro que a acompanhou numa psicodélica versão de "On & On", seu primeiro hit.

Antes, na lotada tenda dedicada ao jazz, a ainda pouco conhecida, mas promissora Stephanie Jordan (irmã dos jazzistas Kent e Marlon Jordan, que pertencem a um dos clãs musicais mais importantes da cidade) consagrou-se com um tributo à veterana Lena Horne, acompanhada por uma big band.

Eletrizante como Tina Turner
Já a debochada Sharon Jones jamais pode contar com beleza para ver sua carreira decolar. foi
preciso que Amy Winehouse tomasse "emprestada" sua ótima banda para que a americana começasse a ser apreciada por um público mais amplo. Jones é uma artista eletrizante, como Tina Turner ou Bettye LaVette. Interpreta um irresistível repertório de soul e rhythm'n'blues, fazendo referências a mestres do gênero.

Carisma também não falta à veterana Mavis Staples, que superlotou a Tenda Gospel, na sexta e no domingo. No primeiro show, foi ovacionada por seu arrepiante tributo à matriarca gospel Mahalia Jackson. Mais calcada no rhythm" n'blues e no soul, a segunda aparição da cantora contou com quatro vocalistas, que lembraram com ela sucessos da época dos Staple Singers, como "I'll Take You There" e "Respect Yourself", com uma breve citação de "Respect", o megahit de Aretha Franklin. "Não quero ter problemas com sucessos dos outros", brincou.

Pena que a veterana Etta James, que fechou o programa de domingo, não tenha o mesmo humor. Depois de acusar a cantora Beyoncé de ter se apropriado de seu sucesso "At Last", voltou ao assunto em Nova Orleans: "Ninguém vai roubar essa canção de mim. Ela é minha", disse, com uma amargura desnecessária para uma intérprete tão reconhecida.

(cobertura publicada na “Folha de S. Paulo”, em 29/04/2009; viagem a convite do Bourbon Street Music Club e do festival Bridgestone Music)



40.º New Orleans Jazz & Heritage Festival: astros locais e figurões do pop

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Nem o furacão Katrina foi capaz de vencer a força musical dessa cidade da Louisiana (sul dos EUA), que há mais de um século é referência mundial. Ainda em fase de reconstrução, Nova Orleans comemora a 40ª edição de seu maior festival, de hoje a 3 de maio, com shows de figurões do pop, além de centenas de atrações de jazz, blues, soul, gospel e outros gêneros.

Joe Cocker, Neil Young, Erykah Baduh, Ben Harper, Earth, Wind & Fire, James Taylor, Buddy Guy, Solomon Burke e Kings of Leon estão entre os destaques dos 12 palcos instalados no hipódromo local, que oferecem mais de 500 atrações, sem contar a programação paralela que toma conta dos clubes, bares e outros palcos da cidade.

“O New Orleans Jazz & Heritage é, sem dúvida, um festival internacional. As pessoas que o freqüentam vêm de todos os lugares, seja do Brasil, de Mali ou de Beijin”, diz a cantora e pianista Marcia Ball, 60, uma das artistas mais populares na cena local, que se apresenta regularmente nesse evento desde 1978.

O público brasileiro também vai poder curtir ao vivo o rhythm & blues e as canções bem-humoradas dessa original intérprete e compositora. Ball será umas das atrações da sétima edição do Bourbon Street Fest, agendado para agosto, em São Paulo.

Ao anunciar as primeiras atrações desta edição comemorativa, semanas atrás, o produtor e diretor Quint Davis afirmou que o evento jamais se distanciou de seu espírito original. “Embora o tamanho e o impacto do festival tenham aumentado muito, nunca perdemos de vista o objetivo de apresentar ao mundo essa cultura única por meio da música, do melhor de sua culinária e da simples celebração da vida”, disse.

Entre suas atrações locais mais populares, o festival também destaca shows de Wynton Marsalis, Neville Brothers (na foto acima), Allen Toussaint, Irma Thomas, Galactic, Terence Blanchard, Dirty Dozen, Ellis Marsalis, LeRoy Jones e Marva Wright.

Programação disponível no site do New Orleans Jazz & Heritage Festival

Burt Bacharach: de volta ao Brasil, aos 80 anos

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Quase uma unanimidade no mundo musical há mais de meio século, ele tem deixado sua marca nos discos e shows de artistas bem diversos, como a diva do soul Aretha Franklin, a dupla pop The Carpenters, o jazzista McCoy Tyner, a cantora e atriz Marlene Dietrich, o pianista da bossa nova Sérgio Mendes, o cantor e guitarrista de rock Elvis Costello, até os Beatles.

O autor dessa façanha é o compositor, pianista, arranjador, produtor e eventual cantor Burt Bacharach, 80, que toca hoje e amanhã, em São Paulo, no HSBC Brasil, depois de dez anos sem apresentar no país. No sábado (dia 18), ele encerra a turnê, tocando para o público carioca, no Vivo Rio.

Embora não tenha lotado o teatro do Sesi, em Porto Alegre, anteontem, o show do músico norte-americano levou às lagrimas parte da platéia, ao relembrar canções que freqüentaram as rádios e telas do cinema nas décadas de 60 e 70, como “Close to You”, “I Say a Little Prayer”, “What the World Needs Now Is Love” e “Alfie”.

Poucos compositores podem ostentar o título de hitmaker como ele. Setenta de suas canções entraram nas paradas de sucessos dos Estados Unidos entre as 40 mais tocadas nas rádios. Na Inglaterra, mais de 50 canções de Bacharach também conseguiram esse feito.

Com tantos hits no repertório, para não decepcionar os fãs que esperam ouvi-los nos shows, Bacharach costuma reuni-los em medleys, como fez em “Live at the Sydney Opera House” (Universal, 2008), seu CD mais recente, já lançado aqui.

O mais curioso é que, diferentemente do que se vê hoje no mercado musical, o autor de “Walk on By” e “The Look of Love” não tentava repetir o sucesso fazendo cópias disfarçadas de suas composições anteriores, nem seguia fórmulas estabelecidas por outros autores.

“Quando estávamos escrevendo, Burt e eu sempre tentávamos achar algo original. Não víamos graça em ser como os outros”, disse Hal David, seu letrista mais constante, à revista “Mojo”, em 1996. Quem já prestou atenção nas melodias assobiáveis, nas mudanças rítmicas e nas orquestrações criativas de Bacharach sabe que seu parceiro não estava dourando as pérolas que criaram.

(publicada na "Folha de S. Paulo", em 15/04/2009)


Jane Monheit: com as canções do novo álbum no Bourbon Street

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O público paulistano já a conhece. Desde sua estréia em São Paulo, em 2002, a cantora norte-americana Jane Monheit, 31, fez vários shows por aqui. Uma das revelações do jazz vocal desta década, ela retorna ao Bourbon Street, amanhã e quarta, para interpretar canções de seu novo álbum, que acaba de ser lançado no Brasil.

Além dos costumeiros standards jazzísticos que marcam o repertório de Monheit, o CD “The Lovers, the Dreamers and Me” (Universal) destaca releituras de canções de jovens compositoras da cena pop, como Corinne Bailey Rae (“Like a Star”) e Fiona Apple (“Slow Like Honey”).

“Minha gravadora sugeriu que eu cantasse algo mais contemporâneo. Achei ótimo, porque já pensava gravar algumas dessas novas compositoras. Adoro cantar standards, mas muitos parecem ter sido escritos zilhões de anos atrás. Além de serem mulheres, tanto Fiona como Corinne têm a mesma idade que eu”, comenta a intérprete.

Conhecida por sua antiga admiração pela música brasileira, Monheit diz que se sente “feliz” ao ver hoje a bossa nova e outros estilos da MPB presentes nos repertórios de muitos vocalistas do jazz, mas não perde a oportunidade de alfinetar algumas colegas, sem citar nomes.

Alfinetada

“Fico irritada quando ouço música brasileira feita de maneira errada, ou quando alguém a canta em português ruim. Eu e meus músicos tentamos interpretá-la de modo autêntico. Meu marido, que também é o meu baterista, recebeu grande influência de Téo Lima, um músico deslumbrante que os brasileiros deveriam venerar”, afirma.

No novo álbum, Monheit interpreta “No Tomorrow” (versão em inglês de “Acaso”, de Ivan Lins) e o clássico samba “A Primeira Vez” (de Bide e Marçal), em português, com uma pronúncia bem superior à da maioria de suas colegas norte-americanas e canadenses.

Acompanhada por Rick Montalbano (bateria), Michael Kanan (piano) e Neal Miner (baixo), a cantora lamenta não poder contar com o violonista Romero Lubambo, carioca radicado nos EUA, que toca em seis faixas de seu CD. “Adoro o Romero, grande músico e ser humano, mas não temos tido chances de estar juntos ao vivo”.

(publicada na “Folha de S. Paulo”, em 13/04/2009)



Bettye LaVette: a volta por cima de uma veterana do rhythm & blues e do soul

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No grande show que festejou a posse do presidente Barack Obama, três meses atrás, em Washington, Bettye LaVette era, provavelmente, a artista menos popular entre os astros de Hollywood e figurões da cena musical americana que estavam naquele palco. Esse fato só aumentou o impacto da apresentação dessa carismática cantora de soul e rhythm & blues, que fez muitos dos espectadores se perguntarem por que ainda não a conheciam.

“Nasci em um país segregado. Por isso, para mim, foi especialmente emocionante participar daquele evento”, diz a cantora de 63 anos, referindo-se à platéia (estimada em 400 mil pessoas), que uniu negros, brancos, latinos e orientais para saudar a chegada de um novo tempo na história americana. Para LaVette, a emblemática canção “A Change Is Gonna Come” (de Sam Cooke), que interpretou ao lado do cantor de rock Jon Bon Jovi, ganhou duplo sentido.

Foi só a partir de 2005, ao lançar o álbum “I've Got My Own Hell to Raise” (Anti Records), que ela viu seu nome voltar a ganhar destaque, na mídia de seu país, quatro décadas depois de ter freqüentado as paradas de sucesso com as gravações de “My Man, He's A Lovin' Man” (em 1962) e “Let Me Down Easy” (1965). Quem poderia imaginar que uma cantora que chegou a fazer turnês com astros da black music, como James Brown, Otis Redding e Ben E. King, teria de enfrentar quase 40 anos no ostracismo?

Força interior
“Não sei como consegui resistir por tanto tempo. Pensei em desistir da carreira muitas vezes”, admite a intérprete, cujas performances viscerais e a voz rouca costumam ser comparadas às de outra grande cantora de sua geração: Tina Turner. “Não faço idéia de onde vem minha força. Acho que ela sempre esteve comigo. Já estou ficando um pouco velha, mas faço o possível para usar essa intensidade da melhor maneira”, diz LaVette, que vai se apresentar pela primeira vez no Brasil, em maio, no festival Bridgestone Music.

Betty Haskins (seu nome verdadeiro) nasceu em Muskegon, no Estado de Michigan, mas cresceu em Detroit. Este centro da indústria automobilística americana foi também um dos berços da soul music, estilo derivado do rhythm & blues e do gospel, que se tornou bastante popular na década de 1960. Descoberta pelo produtor Johnnie Mae Matthews, LaVette tinha 16 anos ao gravar “My Man, He’s a Lovin’ Man”, seu primeiro single, que se tornou sucesso nacional ao ser distribuído pela influente gravadora Atlantic. Mais tarde chegou a ser gravado até por Tina Turner e Ann Peebles.

“Eu sempre cantei de um jeito um pouco diferente da maioria das cantoras, mas sei que minha carreira nunca chegou a ser promovida de maneira apropriada", diz ela, tentando explicar as dificuldades que enfrentou nas décadas seguintes. Gravou dezenas de singles por diversos selos (Motown, Epic, Big Wheel, Silver Fox e West End, entre outros), mas mesmo que algumas dessas gravações tenham frequentado a parada de sucessos do rhythm & blues, nenhuma delas chegou a ingressar na parada pop – parâmetro que costuma indicar, nesse setor do mercado musical, o suposto potencial de um artista para atingir o grande público.

A evidente qualidade de grande parte dessas gravações não impediu que Bettye LaVette se sentisse vítima de uma espécie de maldição, que parecia impedi-la de progredir na carreira. Em 1972, em sua segunda e última experiência com a gravadora Atlantic, ela entrou no lendário estúdio Fame, em Muscle Shoals (no Alabama), para gravar seu primeiro álbum. Intitulado “Child of the Seventies”, esse disco chegou a ser finalizado pelo produtor Brad Shapiro, mas não foi lançado pela gravadora, que, estranhamente, decidiu arquivá-lo sem uma justificativa convincente.

Álbum perdido
Essas gravações só chegaram ao público quase três décadas mais tarde, em 2000, quando o colecionador Gilles Petard localizou o “álbum perdido” e o lançou na França com outro título: “Souvenirs” (selo Art & Soul). Críticos e fãs comemoraram o resgate desse precioso tesouro musical, que trouxe um novo impulso à carreira da cantora, especialmente na Europa. Não foi à toa que, depois de lançar o elogiado CD “I've Got My Own Hell to Raise”, ela retornou a Muscle Shoals, no Alabama, para gravar seu álbum mais recente. O irônico título “The Scene of the Crime” (Anti, 2007) refere-se ao retorno à “cena do crime” cometido contra seu hoje clássico álbum de 1972.

“Muscle Shoals tem uma história da qual, infelizmente, eu não fiz parte. Wilson Pickett, Aretha Franklin, os Staple Singers e outros artistas se deram muito bem gravando naquele estúdio, mas eu não. Depois de 1972 praticamente não os encontrei mais, porque todos eles se tornaram grandes astros”, diz a cantora, que hoje já consegue falar sobre as décadas de ostracismo sem demonstrar mágoas. Mesmo assim não deixa de responsabilizar as gravadoras por seu desaparecimento da cena musical. “Acho que as pessoas demoraram a se acostumar ao som da minha voz, mas não importava tanto se eu estava fazendo algo muito bom ou não, naquela época. As gravadoras não sabiam como promover minha música”, observa.


Hoje, aos 47 anos de carreira, a cantora comemora a nova fase de sucesso. “O som do rhythm & blues voltou a ser aceito. As pessoas estão gostando de ouvir música mais áspera, mais real. Vejo muita gente jovem em meus shows. Chego a pensar que eles não vão me entender, mas eles olham para mim e sei que estão curtindo a intensidade da minha música. Fico contente ao ver que as pessoas finalmente começaram a prestar atenção em mim”.

(entrevista publicada no caderno cultural do "Valor Econômico", em 9/04/2009)



Diana Krall: sussurrando e derrapando no português, em "Quiet Nights"

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Diana Krall e outros cantores estrangeiros, que têm insistido em gravar em português, precisam conversar urgentemente com a cuidadosa Stacey Kent. Também uma fã assumida da música brasileira, essa norte-americana declarou, quando se apresentou aqui, no ano passado, que só pretende cantar em português depois de estudar a sério nossa língua e dominar sua pronúncia.

Por mais que sejam boas as intenções de Diana, sua suposta homenagem à música brasileira quase se transforma em piada, ao se ouvir tantas derrapadas na pronúncia dos versos da canção “Este Seu Olhar” (faixa do novo CD "Quiet Nights"). Suas tentativas de decalcar o sotaque carioca chegam a ser hilariantes. Tom Jobim, autor dessa canção, não merece. Nem mesmo os fãs brasileiros da cantora merecem ouvir algo assim.

Esse não é o único senão de “Quiet Nights”, que, de maneira geral, soa como uma seqüela pouco inspirada do álbum “The Look of Love” (2001). A começar pelo repertório um tanto óbvio, que inclui um costumeiro Burt Bacharach (“Walk on By”) e standards da canção norte-americana que já foram gravados centenas de vezes, inclusive de maneira mais criativa, por outros intérpretes do jazz.

Naturalmente, os arranjos do experiente Claus Ogerman ajudam a criar uma aura de consistência sonora, mas será que Diana pensou que só por ter transformado “Garota de Ipanema” em “The Boy from Ipanema” já conseguiu imprimir algo de novo a uma canção tão desgastada por décadas de redundância?

Outro aspecto que incomoda é a maneira como ela canta nessas gravações, quase sussurrando, com a voz mais grave do que em outros álbuns. A intenção da cantora é, obviamente, soar mais sensual, mas o resultado não convence, soa meio falso. Será que Elvis Costello levou a sério essa “carta de amor”?

(publicada na “Folha de S. Paulo”, em 8/04/2009)


Diana Krall: mais bossa nova e standards do jazz

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Não é apenas nas altas rodas da economia internacional que o Brasil vem ganhando destaque. Cultuada por nove entre dez estrelas da cena contemporânea do jazz vocal, a bossa nova também dá o tom a “Quiet Nights”, novo CD da cantora e pianista canadense Diana Krall, 44.

Em entrevista à “Folha”, por telefone, a intérprete definiu esse álbum como “uma carta de amor” dedicada a seu marido, o músico de rock Elvis Costello, e aos filhos Dexter e Frank, de 2 anos. “Agora eles já estão mais crescidos e eu não preciso cuidar deles o tempo todo. Adoro ter uma família que me inspira. Não quero pensar só em música”, disse.

Familiar também é o time que assessorou a cantora nessa gravação. Não à toa, ela convocou o arranjador Claus Ogerman, o produtor Tommy LiPuma e o técnico de som Al Schmidt, que já haviam participado de seu best-seller “The Look of Love” (2001), igualmente calcado na bossa nova.

Clássicos de Tom Jobim, como “Garota de Ipanema” (transformada em “The Boy from Ipanema”) e “Corcovado” (na versão “Quiet Nights”), dividem o repertório com standards da canção norte-americana, como “Where or When” (Rodgers & Hart) e “Too Marvelous for Words” (Johnny Mercer), em ritmo de bossa.

Contagiada pelos dias que passou no Brasil, no ano passado, Diana até se arriscou a cantar em português (na faixa “Este Seu Olhar”, de Jobim), mas se desculpa pelas escorregadas na pronúncia. “Acho que ela não está perfeita, mas foi gravada com o coração”, justifica.

“Seria ótimo se eu conseguisse contratar uma babá brasileira, que também cozinhasse e me ensinasse português e ioga”, diz, contando que até tentou aprender um pouco da língua, mas os shows e afazeres diários a impediram de continuar.

Segundo a cantora, foi um passeio ao Jardim Botânico, no Rio, que a inspirou a fazer esse álbum. “Visitei aquele lugar onde Jobim gostava de ir. Encontrei muita neblina, pássaros, macacos, um lugar mágico, fantástico. Eu me senti em um filme”, conta.

“Ali vi uma faceta do Brasil que eu não conhecia. Acho que a música brasileira costuma ser encarada de maneira estereotipada, sempre associada à praia, ao sol”, comenta, dizendo que para gravar esse CD seguiu por outra direção. “Pensei em algo cinematográfico: um filme em preto e branco”.

O cinema, por sinal, é uma área à qual Diana gostaria de se dedicar mais. “Já participei de um filme de Woody Allen [“Igual a Tudo na Vida”, 2003], mas meu sonho é fazer uma personagem, num filme dele, que não tenha nada a ver com cantar ou tocar piano”.

(publicada na “Folha de S. Paulo”, em 8/04/2009)



Randy Brecker: como ganhar um Grammy tocando música brasileira

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Na recente entrega dos prêmios Grammy, em Los Angeles, o Brasil não viu seu prestígio ser referendado por outra vitória na categoria world music, mas não saiu de mãos abanando. O troféu conferido ao melhor álbum de jazz contemporâneo – “Randy in Brasil”, do trompetista norte-americano Randy Brecker – foi recebido pelo pianista paulista Ruriá Duprat, que produziu a gravação.

“Fiquei surpreso por se tratar de uma categoria do Grammy dominada pelos americanos. Tive que preparar o discurso nos 30 metros que me separavam do palco”, diz Duprat, também autor da maioria dos arranjos do álbum, que foi gravado em São Paulo, com nomes de destaque na música instrumental brasileira, como Teco Cardoso, André Mehmari, Robertinho Silva e Gilson Peranzzetta, entre outros.

Instrumentista conceituado, Brecker despontou com a banda de jazz-funk Brecker Brothers, na década de 70, ao lado do irmão saxofonista Michael (morto em 2007). Bastante requisitado nos estúdios, já participou de centenas de gravações com figurões do jazz, do rock e do r&b.

História curiosa
O álbum “Randy in Brasil” tem uma história curiosa. O projeto dessa gravação nasceu praticamente junto com a gravadora Rainbow Records, que o produtor (sobrinho do maestro tropicalista Rogério Duprat) e o percussionista Marco Bosco (hoje radicado no Japão) fundaram em 2000, em São Paulo.


“A idéia era criarmos uma série com solistas estrangeiros, que viriam ao país para gravar música brasileira com músicos brasileiros. Então surgiu o nome do Randy”, relembra Duprat. “Escolhemos compositores como Gilberto Gil, Djavan, João Bosco e Ivan Lins porque buscávamos um repertório que fosse rico melódica e ritmicamente”.

Algumas das músicas incluídas no CD são bem conhecidas, caso de “Oriente” (Gilberto Gil), “Ai Ai Ai Ai Ai” (Ivan Lins) e “Malásia” (Djavan). Brecker contribuiu com duas composições próprias: a balada “Guarujá” e o suingado “Sambop”, que demonstram sua intimidade com os ritmos e melodias do país.

Brasileiro "em outra vida"
“Há alguma coisa brasileira em mim. Sinto como se tivesse nascido aqui em outra vida”, disse o trompetista à Folha, em novembro de 2000, quando gravou seus solos para o álbum, no estúdio Banda Sonora, em São Paulo. Vale lembrar que Brecker foi casado com a paulista Eliane Elias, pianista de jazz que desde os anos 80 desenvolve uma carreira de sucesso nos EUA.


Porém, segundo Duprat, a crise que abateu o mercado fonográfico, levando à desativação da própria Rainbow Records, impediu que o álbum fosse concluído e lançado naquela época. O projeto só veio a ser retomado já ao final de 2007, quando a percussão e novas texturas de teclados e sopros foram gravadas.

“Essas adições foram concebidas tendo em perspectiva uma ótica mais atual. Como a mixagem também foi realizada em 2008, não seria justo dizer que o CD foi gravado em 2000”, diz o produtor paulista, justificando o fato de a edição do selo norte-americano Mama Records não fazer menção à data das gravações de Brecker.

Por enquanto, o álbum só está disponível no exterior, mas Duprat revela que já negocia com gravadoras locais o lançamento no mercado brasileiro ainda para este semestre. “Estamos inclusive amadurecendo a idéia de gravar um DVD ao vivo deste material”, diz o produtor.

(publicada na “Folha de S. Paulo”, em 3/04/2009)



Café Cubano: um coquetel de ritmos latinos de várias épocas

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Esta compilação produzida pelo selo Putumayo não traz nomes conhecidos do grande público, mas várias faixas vão soar um tanto familiares aos fãs do grupo Buena Vista Social Club, o mais popular representante da velha guarda de Cuba. É o caso da romântica guajira “Pincel Campesino”, com German Obregón, ou do bolerão “Después de Esta Noche”, defendido pelo veterano Felix Baloy.

A moderna influência do movimento nueva trova também está presente, na voz de René Ferrer (“Como a Cada Mañana”), compositor e cantor que se radicou no Rio de Janeiro, em 2003. Já na contemporânea “Fue Una de Mambo”, Kelvis Ochoa exibe uma inusitada mistura de bolero e reggae. Uma compilação para ser saboreada como um coquetel bem dosado de estilos cubanos de diversas épocas.

(resenha publicada na “Folha de S. Paulo”, em 1/04/2009)

 

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