Romero Lubambo: um grande músico carioca, mais conhecido nos EUA do que no Brasil

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Romero Lubambo não se surpreende mais quando o confundem, no Brasil, por causa de seu nome, com algum músico da América Central. Até Edu Lobo  um dos grandes compositores brasileiros, com o qual esse violonista carioca radicado nos Estados Unidos tem gravado e tocado nos últimos anos  já comentou em shows que chegou a pensar, antes de se conhecerem, que ele fosse cubano. 

“Já elogiaram meu português, em alguns lugares do Brasil”, diverte-se o carioca do bairro de Engenho de Dentro, que se mudou para Nova York em 1985 e desde então volta ao país com relativa frequência para shows e gravações. Hoje, aos 63 anos, Lubambo não se mostra incomodado pelo fato de, ironicamente, ser mais conhecido no exterior do que no país onde nasceu.

Seu prestígio é evidente entre as principais publicações especializadas em jazz e música instrumental. “Romero Lubambo talvez seja hoje o melhor praticante de seu ofício. Sua facilidade, criatividade e energia são de uma classe única”, elogiou a revista “Jazziz”. “Lubambo é um magistral violonista que compõe canções sedutoras”, escreveu Thomas Conrad, na “Jazz Times”.

Graças à sua imensa habilidade ao transitar por diferentes gêneros musicais, além do primor técnico de suas performances ao violão e à guitarra, Lubambo possui um currículo invejável. Expoentes do jazz, como Mike Stern, Michael Brecker e Paquito D’Rivera, destacam-se numa extensa lista de parcerias, que inclui astros da música clássica, como Yo-Yo Ma e Kathleen Battle, ou outras intérpretes vocais de alto quilate, como Luciana Souza, Diana Krall e Leny Andrade.

Dianne Reeves (na foto abaixo), estrela do jazz com a qual já se apresenta há mais de vinte anos, será sua convidada especial em três shows que farão nos próximos dias, no Brasil: no clube carioca Blue Note Rio (dia 15/6), no clube paulistano Bourbon Street (16/6) e no Rio das Ostras Jazz & Blues Festival (21/6), no litoral fluminense. 



"Acho que a Dianne é muito mais do que uma cantora”, comenta o brasileiro. “Ela é uma musicista cujo instrumento é sua voz. Aliás, a voz dela já é por si só uma coisa maravilhosa. Dianne está sempre ligada no que acontece no palco, o que é muito legal, porque você a instiga de maneira musical e ela sempre responde. Assim acabamos criando coisas novas, mesmo tocando juntos há tanto tempo”.

Outro aspecto que os aproxima é a afinidade com diversos tipos de música. “Dependendo de onde faço um show, posso puxar um pouco mais para um lado ou outro. Eu me sinto feliz tocando blues, jazz, bossa nova, samba, baião. Gosto de música boa em geral”, afirma o violonista. “Aliás, hoje eu toco mais música brasileira nos Estados Unidos do que no Brasil, onde preferem que eu toque alguma coisa mais internacional”.

Foi o baixista paulistano Nilson Matta, com o qual já tocava, que o estimulou a se mudar para Nova York, em meados dos anos 1980. “Naquela época o Brasil era um país muito isolado 
 ainda não havia internet, nem celular  e eu queria muito conhecer de perto a cultura americana. Infelizmente, eu não conseguiria tocar no Brasil a música que queria fazer. Para sobreviver, eu teria que tocar outras coisas”, reflete Lubambo. 

O apoio do baterista carioca Duduka da Fonseca, que já vivia em Nova York e o apresentou a outros músicos, foi essencial. “Quem assinou meu primeiro visto de trabalho foi a cantora Astrud Gilberto. Passei quatro anos tocando com ela. Depois conheci o flautista Herbie Mann, que se tornou meu pai americano. Aprendi muito com ele, inclusive como me portar no palco”, conta Lubambo, que tocou com esse jazzista até sua morte, em 2003.

Mais duradoura tem sido a parceria com Duduka e Nilson Matta, que remonta a 1986, com a formação do Trio da Paz. Embora não se apresente com muita regularidade, esse brilhante trio instrumental já lançou sete álbuns e planeja gravar outro em breve. “Quando a gente se encontra, toda a bagagem que acumulamos em 33 anos juntos ressurge. As pessoas que nos ouvem costumam sentir isso nos shows”.

Outro projeto de Lubambo que deve chegar ao mercado ainda neste ano é um álbum recém-gravado com a RPL Chamber Orchestra, no Lincoln Center, em Nova York. O paulista Rafael Piccolotto de Lima, regente e líder dessa orquestra de câmera, escreveu arranjos para composições do violonista. O álbum conta com participação da cantora Pamela Driggs, esposa de Lubambo, e será lançado pelo selo Sunnyside.

O violonista aproveita a temporada no Brasil para lançar seu segundo disco em parceria com Edu Lobo e o saxofonista Mauro Senise. Os shows de lançamento do álbum “Quase Memória” (selo Biscoito Fino) ocorrem dias 19 e 20/6, no Teatro XP Investimentos, no Rio. O disco anterior desse trio 
 “Dos Navegantes”, que também destaca composições de Lobo  conquistou um Grammy Latino em 2017. 

“Esses shows são completamente diferentes de meus shows com a Dianne. Com ela eu exercito minha flexibilidade na guitarra, fazemos jazz, blues e coisas mais próximas do funk e do pop. Com o Edu, tocamos música totalmente brasileira, com aquelas harmonias maravilhosas e melodias incríveis”, avisa Lubambo.

(Texto escrito para o caderno cultural do jornal "Valor Econômico", publicado em 14/6/2019)










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