É muito provável que parte da plateia que foi ao Sesc Pompeia, no domingo (9/10), estivesse ali somente para rever a grande Alaíde Costa. Essa cantora e compositora carioca, que estreou profissionalmente em meados da década de 1950, é considerada uma precursora da bossa nova graças ao seu suave estilo vocal e à sofisticação de seu repertório. Ver Alaíde cantar, aos 86 anos, é um privilégio, uma experiência emocionante.
Daí a surpresa para aqueles que ainda não conheciam o carisma e a força vocal de outra cantora carioca, que dividiu o palco com Alaíde, nessa noite inesquecível do festival Sesc Jazz. Também compositora, Ilessi é uma intérprete sensacional que, ironicamente, ainda é pouco conhecida em São Paulo, apesar de cantar profissionalmente há mais de duas décadas. Ela tem uma daquelas vozes negras, expressivas e poderosas, que não saem mais de nossa memória depois de ouvidas pela primeira vez.O título desse show, “Atlântico Negro”, é revelador. Acompanhada por ótimos músicos da Bahia, do Rio e de São Paulo, com direção musical do pianista Marcelo Galter, Ilessi reuniu um repertório assinado por grandes compositores negros, como Milton Nascimento, Tânia Maria, Filó Machado e Djavan, além de composições de sua autoria.
Não é difícil perceber influências de Milton e de Elis Regina, no canto de Ilessi. Em alguns momentos do show, ela fecha os olhos. Parece mergulhar profundamente na música ou quem sabe busca se conectar com a energia de seus ancestrais. Em outros instantes, sua expressão se torna mais dura, como se personificasse a indignação e a dor de seus antepassados.
Se você ainda não ouviu Ilessi, procure seus discos ou assista seus vídeos, até a próxima oportunidade de ouvi-la num palco. Em um país injusto e preconceituoso como o nosso, uma pérola negra de alto quilate, como essa grande artista brasileira, precisa ser garimpada.
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