Randy Brecker: como ganhar um Grammy tocando música brasileira

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Na recente entrega dos prêmios Grammy, em Los Angeles, o Brasil não viu seu prestígio ser referendado por outra vitória na categoria world music, mas não saiu de mãos abanando. O troféu conferido ao melhor álbum de jazz contemporâneo – “Randy in Brasil”, do trompetista norte-americano Randy Brecker – foi recebido pelo pianista paulista Ruriá Duprat, que produziu a gravação.

“Fiquei surpreso por se tratar de uma categoria do Grammy dominada pelos americanos. Tive que preparar o discurso nos 30 metros que me separavam do palco”, diz Duprat, também autor da maioria dos arranjos do álbum, que foi gravado em São Paulo, com nomes de destaque na música instrumental brasileira, como Teco Cardoso, André Mehmari, Robertinho Silva e Gilson Peranzzetta, entre outros.

Instrumentista conceituado, Brecker despontou com a banda de jazz-funk Brecker Brothers, na década de 70, ao lado do irmão saxofonista Michael (morto em 2007). Bastante requisitado nos estúdios, já participou de centenas de gravações com figurões do jazz, do rock e do r&b.

História curiosa
O álbum “Randy in Brasil” tem uma história curiosa. O projeto dessa gravação nasceu praticamente junto com a gravadora Rainbow Records, que o produtor (sobrinho do maestro tropicalista Rogério Duprat) e o percussionista Marco Bosco (hoje radicado no Japão) fundaram em 2000, em São Paulo.


“A idéia era criarmos uma série com solistas estrangeiros, que viriam ao país para gravar música brasileira com músicos brasileiros. Então surgiu o nome do Randy”, relembra Duprat. “Escolhemos compositores como Gilberto Gil, Djavan, João Bosco e Ivan Lins porque buscávamos um repertório que fosse rico melódica e ritmicamente”.

Algumas das músicas incluídas no CD são bem conhecidas, caso de “Oriente” (Gilberto Gil), “Ai Ai Ai Ai Ai” (Ivan Lins) e “Malásia” (Djavan). Brecker contribuiu com duas composições próprias: a balada “Guarujá” e o suingado “Sambop”, que demonstram sua intimidade com os ritmos e melodias do país.

Brasileiro "em outra vida"
“Há alguma coisa brasileira em mim. Sinto como se tivesse nascido aqui em outra vida”, disse o trompetista à Folha, em novembro de 2000, quando gravou seus solos para o álbum, no estúdio Banda Sonora, em São Paulo. Vale lembrar que Brecker foi casado com a paulista Eliane Elias, pianista de jazz que desde os anos 80 desenvolve uma carreira de sucesso nos EUA.


Porém, segundo Duprat, a crise que abateu o mercado fonográfico, levando à desativação da própria Rainbow Records, impediu que o álbum fosse concluído e lançado naquela época. O projeto só veio a ser retomado já ao final de 2007, quando a percussão e novas texturas de teclados e sopros foram gravadas.

“Essas adições foram concebidas tendo em perspectiva uma ótica mais atual. Como a mixagem também foi realizada em 2008, não seria justo dizer que o CD foi gravado em 2000”, diz o produtor paulista, justificando o fato de a edição do selo norte-americano Mama Records não fazer menção à data das gravações de Brecker.

Por enquanto, o álbum só está disponível no exterior, mas Duprat revela que já negocia com gravadoras locais o lançamento no mercado brasileiro ainda para este semestre. “Estamos inclusive amadurecendo a idéia de gravar um DVD ao vivo deste material”, diz o produtor.

(publicada na “Folha de S. Paulo”, em 3/04/2009)



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