Diana Krall: sussurrando e derrapando no português, em "Quiet Nights"

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Diana Krall e outros cantores estrangeiros, que têm insistido em gravar em português, precisam conversar urgentemente com a cuidadosa Stacey Kent. Também uma fã assumida da música brasileira, essa norte-americana declarou, quando se apresentou aqui, no ano passado, que só pretende cantar em português depois de estudar a sério nossa língua e dominar sua pronúncia.

Por mais que sejam boas as intenções de Diana, sua suposta homenagem à música brasileira quase se transforma em piada, ao se ouvir tantas derrapadas na pronúncia dos versos da canção “Este Seu Olhar” (faixa do novo CD "Quiet Nights"). Suas tentativas de decalcar o sotaque carioca chegam a ser hilariantes. Tom Jobim, autor dessa canção, não merece. Nem mesmo os fãs brasileiros da cantora merecem ouvir algo assim.

Esse não é o único senão de “Quiet Nights”, que, de maneira geral, soa como uma seqüela pouco inspirada do álbum “The Look of Love” (2001). A começar pelo repertório um tanto óbvio, que inclui um costumeiro Burt Bacharach (“Walk on By”) e standards da canção norte-americana que já foram gravados centenas de vezes, inclusive de maneira mais criativa, por outros intérpretes do jazz.

Naturalmente, os arranjos do experiente Claus Ogerman ajudam a criar uma aura de consistência sonora, mas será que Diana pensou que só por ter transformado “Garota de Ipanema” em “The Boy from Ipanema” já conseguiu imprimir algo de novo a uma canção tão desgastada por décadas de redundância?

Outro aspecto que incomoda é a maneira como ela canta nessas gravações, quase sussurrando, com a voz mais grave do que em outros álbuns. A intenção da cantora é, obviamente, soar mais sensual, mas o resultado não convence, soa meio falso. Será que Elvis Costello levou a sério essa “carta de amor”?

(publicada na “Folha de S. Paulo”, em 8/04/2009)


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