Sons & Sonidos: festival reúne instrumentistas latinos e brasileiros

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Na década passada, um festival como o Sons & Sonidos - Interseções Latinas, que começa hoje, no Bourbon Street, em São Paulo, dificilmente seria realizado aqui. Além da língua, que separa o Brasil de seus “hermanos” da América Latina, a própria diversidade da música brasileira é um fator que dificulta o acesso de outras preciosas tradições musicais a nossos ouvidos.

Com uma atração estrangeira e uma brasileira a cada noite, sempre às segundas-feiras, até 6 de abril, o evento promete encontros musicais que podem surpreender a platéia. A curadoria é de João Erbetta, produtor paulistano que vive em Nova York.

Entre os artistas de fora, o pianista cubano Gonzalo Rubalcaba (foto acima) é o único conhecido por aqui. Já o elenco local é uma seleção de grandes nomes da música instrumental brasileira, que inclui o clarinetista Paulo Moura, o guitarrista Heraldo do Monte, o bandolinista Hamilton de Holanda, o violonista Yamandu Costa e a Banda Mantiqueira.

A noite de hoje reúne artistas com atitudes semelhantes frente à tradição musical de seus países. Assim como Hamilton de Holanda usa seu bandolim para recriar choros e sambas com influências do jazz e do rock, a Tango Crash, banda de origem argentina radicada na Europa, utiliza a eletrônica para modernizar o tango.

Também há semelhanças entre o argentino Santiago Vasquez e Heraldo do Monte, que tocam no dia 16. Ambos são multiinstrumentistas que assimilaram influências do jazz, sem deixarem de valorizar os ritmos folclóricos e tradicionais de seus países.

Além de serem virtuoses formados na música erudita, Paulo Moura e Gonzalo Rubalcaba (atrações do dia 23) também possuem fortes ligações com o jazz. Curiosamente, nas últimas décadas, seguiram por caminhos diversos: enquanto o brasileiro se dedicou mais ao choro e ao samba de gafieira, o cubano tornou-se um jazzista de ponta na cena norte-americana.

O tango, a milonga e outros ritmos sulinos devem dar o tom do encontro do pianista Adrián Iaies, outro argentino bastante respeitado nos círculos do jazz, com o gaúcho Yamandu Costa, no dia 30/3. Já a noite de encerramento, em 6/4, promete ser a mais heterodoxa, ao reunir os saborosos sambas e choros da Banda Mantiqueira com o tango bate-estaca do grupo argentino Tanghetto.

(publicada na “Folha de S. Paulo”, em 9/03/2009)

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