Tok Tok Tok: cantora nigeriana e saxofonista alemão trazem soul e jazz ao Bridgestone

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Só mesmo a globalização pode explicar como uma cantora nigeriana e um músico alemão se juntaram, no final dos anos 90, na improvável cidade de Freiburg (norte da Alemanha), para formar uma dupla que revigorou a hoje cinquentona soul music com canções originais, vocais sensuais e influências jazzísticas.

Inédita em palcos brasileiros e ainda sem discos lançados aqui, a banda Tok Tok Tok será uma das atrações da segunda edição do Bridgestone Music, festival que vai ocupar o Citibank Hall, em São Paulo, de 14 a 16 de maio. Até lá, segundo a gravadora Universal, o novo CD da banda, “She and He”, já estará disponível no Brasil.

“Já me pararam algumas vezes na rua para perguntar se eu sou brasileira”, conta a vocalista e letrista Tokunbo Akinro. Filha de um nigeriano com uma alemã, ela passou a infância na África e morou alguns meses nos EUA, antes de se radicar na Alemanha. Conheceu o saxofonista e violonista Morten Klein numa escola de música, em Freiburg, onde ainda vivem.

Voz doce e sensual
Quem já a ouviu sabe por que essa dupla tem aparecido com destaque em festivais europeus. A voz doce e sensual de Tokunbo, os arranjos precisos de Klein e suas saborosas composições já renderam nove álbuns. “She and He”, o primeiro distribuído por uma grande gravadora, pode levar a banda a atingir um público bem mais amplo (ouça trechos das 14 faixas no site www.toktoktok.net).


“A maioria das canções deste álbum fala de amor, mas queríamos fugir de letras óbvias do tipo ‘eu te amo”, “nós nos amamos’. Quando escrevo uma canção, penso que estou criando uma história para um filme. Eu valorizo muito as imagens”, diz a cantora.


A provocativa “Longing for Brad” expressa de maneira bem-humorada a intenção de questionar o papel tradicional da mulher nas relações amorosas. Na letra, Tokunbo menciona os nomes de 27 namorados ou amantes. E diz nos versos finais: “todos esses caras à minha volta / não quero nenhum deles”.


“Por que uma garota não pode, como os homens, ter seus casos por aí?”, pergunta a letrista, que cai na risada quando se pergunta a ela se a canção citada é autobiográfica. “Várias de nossas canções retratam situações que já vivemos, mas gosto de manter um certo mistério sobre isso”, ela responde.


Admiração pela MPB
Única faixa sem letra do CD, “Coração” demonstra a admiração que a dupla tem pela música brasileira. “Aqui na Europa, quando você ouve falar no Brasil já pensa logo em bossa nova. Nós amamos os clássicos de [Tom] Jobim”, diz Klein.


O saxofonista e produtor da banda admite que “She and He” é um álbum mais pop, menos jazzístico que os anteriores “Reach Out” (2007) e “From Soul to Soul” (2006). Mesmo assim, acha que a melhor definição para a Tok Tok Tok ainda é “uma banda de soul e jazz”.

“As canções da soul music falam de pessoas comuns, que são capazes de enxergar a realidade em que vivem sem se colocarem na condição de vítimas”, analisa o saxofonista, observando que muitos clássicos do soul rejeitam o escapismo, diferentemente de outros gêneros musicais.

Não foi à toa que a dupla começou fazendo releituras de sucessos de Ray Charles e Stevie Wonder. Ou se inspirou em outros ídolos do gênero, como James Brown e Isaac Hayes, para fazer o CD “From Soul to Soul”, talvez a obra-prima da banda. “Certamente vamos tocar canções desse álbum aí no Brasil”, promete Klein.

(entrevista publicada na “Folha de S. Paulo”, em 25/03/2009)



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