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Jazz em 2019: 20 álbuns de revelações e veteranos do gênero nos Estados Unidos

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Para quem gosta de acompanhar as novidades e os lançamentos na cena internacional do jazz, aqui vai uma lista comentada de 20 álbuns lançados durante 2019, no mercado norte-americano. Não se trata de uma lista de “melhores do ano”, mas de recomendações de álbuns que tive a oportunidade de ouvir e que me agradaram.

Como o acesso a CDs lançados fora do país torna-se mais difícil a cada ano, você pode ao menos ouvir algumas faixas desses álbuns, se clicar no título de cada disco comentado (em streaming gratuito do YouTube). Espero que você curta, como eu, essas novidades do jazz. Boa audição!


Antonio Adolfo - “Samba Jazz Alley”(AAM) – Mais uma joia musical do pianista carioca, que nos últimos anos tem vivido na ponte aérea Miami-Rio. O título do álbum se refere ao lendário Beco das Garrafas, berço do samba-jazz, que Adolfo frequentou ainda adolescente. No repertório, sofisticadas releituras de clássicos da bossa nova (de Tom Jobim, Johnny Alf e Baden Powell), além de temas de sua autoria.

Benett Paster - “Indivisible” (independente) – As composições desse versátil tecladista radicado em Nova York são bem diversificadas: um contagiante soul-jazz (“Gritty Greens”), funk à New Orleans (“Belgrade Booty Call”), jazz-rock que lembra os Brecker Brothers (“Salamander”), um refinado country (“Murfreesboro Waltz”), até samba (“Indian Summer”). Cardápio saboroso para quem não tem gosto restrito.

Carol Sudhalter - “Live at Saint Peter’s Church” (Alfa Projects) – Mulher que toca sax barítono já é algo incomum, mas esta veterana jazzista vai além: também é ótima flautista, além de cantora eventual. Neste concerto gravado em uma igreja nova-iorquina, Carol interpreta composições de Sonny Rollins (“Valse Hot”), Benny Golson (“Park Avenue Petite”) e Tom Jobim (“Luiza”) à frente de um quarteto.

Chris Pasin - “Ornettiquette” (Planet Arts) – Ao batizar seu quarto álbum, este trompetista residente em Nova York já entrega suas referências. Pasin formou sua concepção musical ainda na adolescência, ouvindo discos dos vanguardistas Ornette Coleman e Don Cherry. Cinco composições de Coleman estão no repertório do sexteto, que inclui o vibrafonista e pianista Karl Berger, veterano do jazz “avant-garde”.

Dave Stryker - “Eight Track III” (Strikezone) – Releituras de hits da soul music, como “Move on Up” (Curtis Mayfield), “Everybody Loves the Sunshine” (Roy Ayers) e “Too High” (Stevie Wonder”), destacam-se neste álbum do criativo guitarrista e seu quinteto, que inclui o vibrafonista Stefon Harris. Stryker também lançou há pouco “Eight Track Christmas”, simpático álbum com versões de clássicos natalinos.

Dave Rudolph Quintet - “Resonance” (independente) – Expressivo álbum de estreia do baterista e compositor da Flórida, que assina as nove faixas. Seu quinteto – formado por ex-colegas de universidade, como o guitarrista Larue Nickelson e o saxofonista Zach Bornheimer – soa coeso e inventivo. Faixas como “Atonement”, “Those Clumsy Words” e “Night Squirrel” chamam atenção pelo sabor contemporâneo.

Duduka da Fonseca & Hélio Alves - “Samba Jazz & Tom Jobim” (Sunnyside) – Radicados há décadas em Nova York, o baterista carioca e o pianista paulista têm conquistado plateias de clubes e festivais de jazz, com o repertório deste álbum. Além dos vocais de Maucha Adnet (em belezas jobinianas, como “Dindi” e “A Correnteza”), destacam-se também participações dos trompetistas Claudio Roditi e Wynton Marsalis.

Ernie Watts - “Home Light” (Flying Dolphin) – Este é um daqueles mestres do sax tenor, cuja sonoridade você pode identificar ouvindo apenas duas ou três notas. Watts desenha aqui cenários sonoros bem diversos: da vanguardista “Frequie Flyers” (de sua autoria) à sensível balada “Horizon” (parceria com o pianista Christof Saenger). Já a faixa que empresta o título ao álbum é um sentimental soul-jazz.

Fabrizzio Sciacca Quartet - “Gettin’ in There” (independente) – Em promissor disco de estreia, o contrabaixista italiano de 29 anos lidera um invejável quarteto, com os conceituados Donald Vega (piano), Billy Drummond (bateria) e Jed Levy (sax tenor). Na suingada “For Sir Ron”, sua única composição no álbum, Sciacca homenageia o grande baixista Ron Carter, seu mentor e professor na Manhattan School.

Gretje Angell - “In Any Key” (Grevlinto) – De uma família de bateristas, essa cantora radicada em Los Angeles desponta em promissor disco de estreia. Com um belo timbre vocal, Gretje relê standards do jazz (“I’m Old Fashioned”, “Tea for Two”) e clássicos da bossa (“One Note Samba”, “Berimbau”), além de demonstrar talento nos improvisos (“Them There Eyes”). A seu lado está o guitarrista Dori Amarilio.

Jelena Jovovic - “Heartbeat” (Universal) – Uma bela surpresa o disco de estreia desta talentosa cantora da Sérvia, que já o abre com uma inusitada versão de “Witch Hunt” (de Wayne Shorter). Autora de seis das dez faixas, Jelena canta em inglês, sem sotaque. Em “The Countless Stars”, ela demonstra intimidade com a linguagem do “scat singing”, tão à vontade quanto no dançante boogaloo “Little Freddie Steps”.

Jordon Dixon - “On” (independente) – Natural da Louisiana e radicado em Washington, o saxofonista assina todo o repertório desse álbum. Em faixas como o hard bop “Lee Lee Dee” ou a balada “What You’ve Done for Me”, Dixon exibe seu som volumoso ao sax tenor, que chega a lembrar o do mestre Dexter Gordon. Já em “Fake Flowers”, com um dançante groove à New Orleans, ele se mostra fiel às suas origens.

Jorge Nila - “Tenor Time” (Ninjazz) – Neste tributo a sete mestres do sax tenor, o saxofonista de Nebraska revela sua afinidade com diversos estilos jazzísticos, sem decalcar seus ídolos. Ao lado de Dave Stryker (guitarra), Mitch Towne (órgão) e Dana Murray (bateria), Jorge demonstra sua intimidade com o soul-jazz, nas saborosas faixas “Our Miss Brooks” (de Harold Vick) e “Soul Station (Hank Mobley).

Karl Berger & Jason Kao Hwang - “Conjure” (True Sound Recordings) – O encontro do veterano vibrafonista e pianista alemão com o violinista sino-americano, nomes de destaque na cena do jazz de vanguarda, rendeu um álbum repleto de atmosferas intrigantes. Hwang definiu bem o resultado das gravações que fizeram no estúdio doméstico de Berger, sem partituras: “música espontânea e imprevisível, como a vida”.

Matthew Snow - “Iridescence” (independente) – Ativo na cena jazzística de Nova York há sete anos, esse contrabaixista e compositor faz uma promissora estreia em disco. À frente de um sexteto jovem tão jovem quanto ele, Snow demonstra personalidade musical nas oito composições que assina. Temas como “Amber Glow”, “The Change Agent” e “The Exit Strategy” indicam sua afinidade com a estética do hard bop.

Ray Blue - “Work” (Jazzheads) – Não é demérito algum para esse articulado saxofonista radicado em Nova York se referir a ele como um músico da velha guarda. Ray Blue é um adepto do jazz que não abre mão do swing, o que ele confirma, tanto em sua composição “Attitude”, como em releituras de temas de craques do jazz moderno, como “Amsterdam After Dark” (de George Coleman) ou “Sweet Emma” (de Nat Adderley).

Roger Kellaway - “The Many Open Minds of Roger Kellaway” (IPO) – Aos 80 anos, este pianista e arranjador já fez muita coisa ao lado de músicos de perfis bem diversos, como Duke Ellington, Elvis Presley ou Yo-Yo Ma. Neste álbum, em trio com o guitarrista Bruce Forman e o baixista Dan Lutz, ele revisita clássicos do jazz, como “52nd Street Theme” (T. Monk), “Take Five” (P. Desmond) e “Doxy” (S. Rollins).

The Doug MacDonald Quartet - “Organisms” (independente) – Bem conhecido nos estúdios e clubes de jazz de Los Angeles, o guitarrista toca neste álbum um repertório de standards e temas próprios, com um quarteto que destaca o sax de Bob Sheppard. Num ano bem produtivo, MacDonald lançou mais dois álbuns: “Califournia Quartet”, com outro quarteto, e “Jazz Marathons 4”, com os 10 músicos do Tarmac Ensemble.

The Gil Evans Orchestra - “Hidden Treasures Monday Nights” (GEO) – Os brasileiros que tiveram o privilégio de ouvi-la ao vivo, nos anos 1980, jamais se esqueceram dessa eletrizante orquestra. Décadas depois, o trompetista Miles Evans e o produtor Noah Evans, filhos do grande arranjador (morto em 1988), resgatam o espírito original da orquestra, que inclui vários craques da cena jazzística nova-iorquina.

Tucker Brothers - “Two Parts” (independente) – Os irmãos Joel (guitarra) e Nick Tucker (baixo) já são bem conhecidos na cena musical de Indianapolis. Como líderes do quarteto Tucker Brothers, eles exibem nove composições próprias, neste que é o terceiro álbum do grupo. Da emotiva “Warm Heart” à encantatória “Return to Balance”, o grupo demonstra personalidade musical e gosto pelas improvisações.


Jazz na Casa do Núcleo: músicos radicados em Nova York tocam em São Paulo

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Se você gosta de jazz e música instrumental brasileira, vive na cidade de São Paulo e ainda desconhece a programação da Casa do Núcleo, anote em sua agenda. Três talentosos jazzistas brasileiros –-o baterista Rogério Boccato, o pianista Hélio Alves e o guitarrista Fabio Gouveia–- vão se apresentar com alguns convidados especiais, durante este mês, no simpático espaço cultural criado e dirigido há dois anos pelo pianista Benjamim Taubkin, no bairro de Vila Madalena.

Essa breve série de shows começa nesta sexta (5/7), às 21h, com a apresentação de Rogério Boccato (na foto acima). Antes de se mudar para Nova York, em 2005, esse baterista e educador integrou a Orquestra Jazz Sinfônica, com a qual acompanhou diversos astros da MPB e da música instrumental, como Tom Jobim, Milton Nascimento, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti.

Nos últimos anos, além de lecionar em conceituadas instituições norte-americanas, como a Manhattan School of Music e a Universidade de Hartford, Rogério tem participado de grupos e projetos comandados por alguns dos melhores jazzistas da cena nova-iorquina, como John Patitucci, Danilo Perez, Ben Allison e Edward Simon, entre outros.

 
Acompanhado por parceiros paulistanos -–Sidnei Borgani (trombone), Rodrigo Ursaia (saxofone), Fernando Correa (guitarra), Mário Andreotti (contrabaixo) e Vinicius Barros (percussão)–-, Rogério promete exibir composições próprias e arranjos de clássicos da música brasileira.

Também radicado em Nova York, o pianista Hélio Alves (na foto à esquerda) já vive nos EUA há quase três décadas. Seu currículo reflete bem suas ligações com a música brasileira e o jazz: entre os músicos com os quais já gravou e tocou destacam-se Oscar Castro-Neves, Cláudio Roditi, Airto Moreira, Joyce, Joe Henderson e Paquito D’Rivera.


No show da próxima quinta (11/7), Hélio vai apresentar composições próprias e standards do jazz e da MPB, ao lado de Edu Ribeiro (bateria) e Paulo Paulelli (contrabaixo). Vai contar também com um convidado especial: o guitarrista e violonista Chico Pinheiro, outro músico de prestígio nos círculos do jazz e da música popular brasileira. 


Já no dia 15/7, o guitarrista e compositor Fábio Gouveia (na foto à direita), conhecido integrante do trio instrumental Curupira, lançará seu segundo álbum solo (“So Close, So Far”), com show na Casa do Núcleo. Acompanhado por Rogério Boccato (bateria e percussão), Felipe Brisola (baixo) e Anne Boccato (vocal), ele vai tocar composições próprias, além de temas de medalhões da música brasileira, Nelson Cavaquinho e Villa-Lobos.

Fábio também anuncia uma participação especial em seu show: o pianista Jean Michel Pilc. Quem teve a sorte de ouvir esse brilhante jazzista francês radicado em Nova York, na edição de 2002 do Chivas Jazz Festival, aqui em São Paulo, certamente não vai querer perder essa nova chance. Como a capacidade da Casa do Núcleo é de apenas 80 lugares, se você pretende assistir a esses shows precisa garantir logo seus ingressos.

Mais informações no site da Casa do Núcleo

6º Festival Amazonas Jazz: a consolidação de um evento que estimula o ensino musical

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O imponente Teatro Amazonas, em Manaus, serviu de cenário durante seis noites, na semana passada, para a sexta edição do Festival Amazonas Jazz. Diversos estilos jazzísticos, música instrumental brasileira, bossa nova, salsa e blues compuseram o cardápio musical desse evento, que vem crescendo a cada ano, tanto em número de concertos e atividades de ensino, como em frequência de público.

Mais que isso: em suas seis edições, o FAJ já consolidou um perfil bem original em meio à cena dos festivais internacionais de jazz. Em vez de escolher um elenco óbvio, com artistas que circulam por quase todos os eventos desse gênero, o diretor artístico Rui Carvalho prefere levar a Manaus instrumentistas de ponta, nem sempre reconhecidos pelo grande público, mas que possam transmitir experiências pessoais e ensinamentos técnicos aos estudantes e músicos locais. Além de se apresentarem no teatro, os artistas do elenco também realizam alguma atividade didática, seja uma master class ou ao menos um encontro com os estudantes de música e instrumentistas locais. 

                                                                                            Photos: Carlos Calado


BIG BAND – Quem teve, como eu, a oportunidade de assistir à apresentação da Amazonas Band, na primeira edição do FAJ, em 2006, percebe facilmente a evolução da big band conduzida pelo maestro Rui Carvalho (na foto acima). Neste ano, em dois concertos com programas diferentes e convidados de alta categoria (os trombonistas John Fedchock e Todd Murphy e os trompetistas Daniel Barry e Altair Martins), a banda excitou a plateia que lotou o Teatro Amazonas. Aliás, o arranjo de “Slow Visor”, que Carvalho escreveu para homenagear Eddie Palmieri, pioneiro do jazz latino e da salsa, foi um dos números mais contagiantes desta edição.


JAZZ LATINO – No show de domingo, que encerrou o festival ao ar livre, no Largo de São Sebastião (ao lado do teatro), o simpático Palmieri, hoje com 74 anos, agradeceu duas vezes a oportunidade de poder tocar pela primeira vez no Brasil. Talvez a plateia tivesse participado com mais intensidade, caso ele tivesse optado por um repertório mais dançante, orientado para a salsa. Mesmo assim, os improvisos jazzísticos do líder e de seus parceiros Brian Lynch (trompete), Louis Fouché (sax alto) e Little Johnny Rivero (congas) foram bastante aplaudidos, especialmente em clássicos do jazz latino, como “Picadillo” e “Slow Visor”. 


HERÓIS ESQUECIDOS – Brian Lynch já havia comandado, na noite anterior, um belo concerto, cujo repertório foi extraído de seu recente álbum “Unsung Heroes”. Ao lado de seu sexteto, ele homenageou trompetistas que, embora nem sempre sejam lembrados pelo público ou pelos críticos, deixaram contribuições essenciais para a tradição jazzística, como Joe Gordon, Idrees Sulieman, Tommy Turrentine e Charles Tolliver. Um olhar original para a história desse gênero musical, que, por sinal, tem muito a ver com a própria linha artística seguida pelo FAJ. 

 
HUMOR BRITÂNICO – Também estreando em palcos brasileiros, o jovem quarteto do saxofonista inglês Will Vinson – com destaque para o guitarrista norueguês Lage Lund – exibiu um pós-bebop que evita os clichês desse estilo jazzístico. Ao apresentar composições próprias, como “I Am James Bond” e “The World Through My Shoes”, Vinson revelou também seu típico humor britânico. 


 
SIMPATIA E SUíNGUE– Outra boa surpresa foi a cantora norte-americana Cynthia Scott. Acompanhada pelo eficiente trio do pianista Vana Gierig, ela esbanjou simpatia e suingue, alternando versões de standards do jazz, como “How High the Moon” e “When the Lights Are Low”, com alguns sucessos do genial Ray Charles (1930-2004), de cuja banda chegou a ser vocalista, na década de 1970. Além de dedicar a ele uma composição própria (“Shades of Ray”), a ex-raelette brilhou em sua releitura da balada “Georgia on My Mind”, logo reconhecida e aplaudida pela plateia. 


 
LEMBRANDO JOBIM – Já o pianista norte-americano Aaron Goldberg (à esquerda, na foto acima) não conseguiu esconder sua decepção ao notar que a plateia não reconheceu de cara “Luiza”, nem “Inútil Paisagem”, composições do mestre da bossa, Tom Jobim (1927-1994), presentes no repertório de seu trio, que destaca o exuberante Greg Hutchinson à bateria. Falando em português, o que denota seu interesse pela cultura brasileira, Goldberg exibiu ainda uma delicada versão de “Lambada de Serpente” (de Djavan), entre líricas releituras de standards e composições próprias. 


 
QUARTETO SOFISTICADO - Tom Jobim voltou a ser lembrado pelo quarteto de Hélio Alves, talentoso pianista paulista radicado em Nova York, que tocou a triste “Retrato em Branco e Preto”. Ao lado do brilhante Duduka da Fonseca (bateria), do norte-americano Vic Juris (guitarra) e do austríaco Hans Glawischnig (contrabaixo), Alves recriou outros clássicos da música brasileira, como “Bebê” (Hermeto Pascoal) e “Vera Cruz” (Milton Nascimento), em versões essencialmente jazzísticas. Seu entrosamento com a bateria de Duduka chega a soar telepático. 



DUO INSPIRADO – A música brasileira improvisada também foi muito bem representada pelo duo do pianista André Mehmari com o bandolinista Hamilton de Holanda. Tocando o repertório do álbum “GismontiPascoal”, que lançaram há pouco, os dois recriaram com criatividade e emoção algumas das obras-primas de Hermeto Pascoal (“O Farol que Nos Guia”) e Egberto Gismonti (“Loro”). Pena que a minguada iluminação de cena tenha emprestado um visual soturno a essa parceria musical tão solar e brilhante. 

 
PIANO SOLO – Outra atração nacional foi o pianista Irio Jr., que encarou com talento e determinação a arriscada tarefa de conquistar a plateia do Teatro Amazonas com um recital de piano solo. Sem fazer qualquer concessão, tocou um repertório formado exclusivamente por composições próprias, que mesclam influências eruditas e improvisos jazzísticos, com destaque para a hipnótica “Espera” e a inventiva “Nuance”. 


 
MERCHANDISING - Menos feliz foi a apresentação do quarteto de Kenny Davis, conceituado baixista, conhecido por ter acompanhado cantoras do primeiro time, como Abbey Lincoln, Cassandra Wilson e Carmen Lundy. Nada contra a qualidade de seus músicos, mas o saxofonista Ralph Bowen demonstrava um evidente mau humor e o pianista Onaje Gumbs parecia ter passado a noite anterior em claro. Sem falar no inadequado merchandising de Davis, que depois de tocar alguns compassos de um tema mais dançante, frustrou a plateia, dizendo: “Este groove está no meu CD, vendido lá fora. Se quiserem ouvir mais, comprem o disco”. Se essa moda pega... 


Em meio a tantas atrações de alta qualidade oferecidas neste ano, não se pode deixar de questionar, no entanto, o critério de divulgação do festival. É difícil entender por que a programação só foi divulgada duas semanas antes do início do evento, diferentemente do que acontece no exterior, onde os festivais de jazz divulgam suas atrações com meses de antecedência. Tomara que esse aspecto possa ser revisto na próxima edição, permitindo assim que um número bem maior de pessoas, tanto de outras regiões do país, como do exterior, possa se planejar para ir a Manaus e acompanhar os concertos e atividades didáticas desse ótimo festival.

Joyce: shows em SP para lançar CD e DVD ao vivo

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No ano passado, Joyce comemorou 40 anos de carreira com um show recheado de convidados, no teatro Fecap, em São Paulo. Em cartaz no mesmo palco, até domingo, a cantora e compositora lança o CD e o DVD gravados naquela temporada (intitulados “Joyce ao Vivo”), já de olho no futuro.

“O repertorio será um pouco diferente do que deu origem ao CD e ao DVD. Vamos misturar canções antigas e novas, abrindo espaço para o repertorio da turnê européia que faremos em março”, diz ela, que desta vez terá a seu lado o pianista Hélio Alves, o baterista Tutty Moreno e o baixista Rodolfo Stroeter.

Ativa como poucos artistas de sua geração, Joyce também vai excursionar neste ano pelos EUA, Canadá e Japão. E mesmo com uma obra consagrada, com canções suficientes para preencher vários shows, ela continua se dedicando ao trabalho de composição. “Estou com uma fila de canções me esperando para serem terminadas, sozinha ou com parceiros, como João Donato, Marcos Valle, Roberto Menescal e Francis Hime. Graças a deus, a fonte não seca, embora às vezes o tempo seja curto”, diz ela.

Não é à toa que, até o final do ano , a discografia de Joyce deve ganhar mais quatro títulos: um CD autoral a ser gravado em abril, no Japão; o registro de um concerto com a WDR Big Band, na Alemanha, em 2007; um disco inédito com Naná Vasconcelos e Maurício Maestro, gravado em Paris, em 1976; e ainda um DVD em duo com Dori Caymmi.

No repertório da temporada atual, composições mais recentes da cantora, como “Samba de Mulher” (com Léa Freire), aparecem ao lado de seus inevitáveis sucessos, como “Feminina”, “Clareana” (com Maurício Mestro) e “Monsieur Binot”.

(entrevista publicada na “Folha de S. Paulo”, em 28/02/2009)

 

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