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Discos em 2020: mais 30 álbuns recomendados de música instrumental brasileira

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O distanciamento social imposto pela pandemia não impediu que os instrumentistas brasileiros continuassem a produzir, mesmo obrigados a se afastarem dos palcos, com o fechamento dos clubes, bares, casas noturnas e teatros. Dezenas e dezenas de álbuns desse gênero foram gravados e lançados durante 2020, provando mais uma vez que nossa música instrumental vive uma fase de muita diversidade e refinamento sonoro.

Para quem não chegou a ler uma seleção de discos e outros projetos de essência instrumental que elaborei a convite do Sesc Pinheiros, em agosto de 2020, recomendo uma conferida no link ao final deste post. Todos os discos listados e comentados naquele texto também mereceriam figurar nesta lista – em outras palavras, as duas listas se completam.

Espero que estas sugestões ajudem você a conhecer novos músicos e a ampliar o repertório que vai frequentar suas audições musicais durante os ainda incertos meses que nos aguardam, enquanto a vacina não estiver disponível a todos. Para mim, uma das melhores atividades que podemos desfrutar durante um período de distanciamento social é ouvir música que desperte nossa sensibilidade. Aproveite!

Ana de Oliveira - “Dragão dos Olhos Amarelos” (Tratore). Radicada no Rio, a violinista paulistana já brilhou como solista em várias orquestras. Neste inusitado álbum de violino solo, ela demonstra inventividade e coragem, ao criar composições instantâneas inspiradas por memórias e vivências. Na lírica “Posso Chorar” (que Hermeto Pascoal dedicou a ela, nos anos 1980), Ana tem a seu lado o pianista André Mehmari.

André Juarez - “Azul” (Pôr do Som). “Choro Azul”, a faixa de abertura, já surpreende o ouvinte: a atmosfera relax de blues se transforma em um choro jazzístico, com citações da clássica “Rhapsody in Blue” (de Gershwin). Entre diversos encontros da música brasileira com o blues e o jazz, comandados pelo vibrafonista paulista, a versão de “Lamento Sertanejo” (de Dominguinhos e Gilberto Gil) soa especialmente inspirada.

Antonio Carlos Bigonha - “Saudades de Amanhã” (Tratore). Mineiro radicado em Brasília, o pianista e compositor é um discípulo assumido de Tom Jobim. Em seu quarto álbum, ele volta a contar com arranjos e o violão do mestre Dori Caymmi, além de dois craques do instrumental brasileiro: o baixista Jorge Helder e o baterista Jurim Moreira. Bigonha ainda se deu ao luxo de requisitar a Orquestra de Cordas de São Petersburgo.

Arismar do Espírito Santo - “Cataia: da Folha ao Chá” (Gramofone). Os fãs desse músico de muitos talentos sabem que o baixo elétrico tem lugar de destaque entre os diversos instrumentos dominados por ele. Por isso o que logo chama atenção, nestas gravações com os paranaenses Glauco Soler (baixo) e Mauro Martins (bateria), é o fato de o paulista Arismar se concentrar no piano e no violão, além dos descontraídos vocais.



Arthur Dutra & Jeff Gardner (Tratore). O percussionista carioca e o pianista nova-iorquino radicado no Rio celebram neste album a feliz parceria que desenvolvem há alguns anos. No repertório, composições próprias como a caribenha “Merengueto”, a balada “Olhos de Arco-Iris” ou a jazzística “Africa Beat”. Participações especiais do saxofonista Marcelo Martins e dos cantores Sergio Santos e Ilessi, entre outros.

Benjamim Taubkin e Adriano Adewale - “Alfabeto” (Núcleo Contemporâneo). Após o álbum que gravaram juntos no clube londrino Vortex, em 2013, o pianista e o percussionista, ambos paulistas, lançam registros extraídos da turnê que fizeram por dez cidades inglesas, no mesmo ano. As sete faixas foram compostas nos palcos, de modo espontâneo. Segundo Taubkin, a ideia é evitar o já conhecido, o lugar comum.

Daniel Murray - “Sombranágua: Septeto Autoral” (Totem Musicais). O septeto liderado pelo violonista carioca – com Luiz Amato (violino), Adriana Holtz (violoncelo), Sarah Hornsby (flauta), Gustavo Barbosa-Lima (clarinete), Pedro Gadellha (contrabaixo) e Caito Marcondes (percussão) – lembra um erudito conjunto de câmara, mas o que se ouve é um repertório autoral da melhor tradição de nossa música instrumental.

Daniel Pezim - “De Prima” (independente). Mineiro radicado em São Paulo, o contrabaixista e compositor formou um quarteto de feras da cena instrumental (com o guitarrista Djalma Lima, o saxofonista Vitor Alcântara e o baterista Cuca Teixeira), para a gravação de seu primeiro disco. Além de um jazzístico samba dedicado ao saudoso saxofonista Vinicius Dorin, Pezim exibe outras sete composições próprias.



Edson Natale - “Âmbar: Os Afluentes da Música” (Spin). Músicos de nosso primeiro time, como o clarinetista Nailor Proveta e o acordeonista Toninho Ferragutti, brilham no eclético elenco reunido pelo violonista e compositor paulista. Inspiradora, a música instrumental de Natale também recorre a palavras e vozes, como as de Ná Ozzetti e Vanessa Moreno, para abordar as contradições e angústias destes tempos difíceis.

Dom Angelo - “Mongiovi Trio” (Boa Vista). De essência jazzística, este álbum do guitarrista e produtor pernambucano é o terceiro desse gênero lançado por ele. Ao lado de Miguel Mendes (baixo elétrico) e Rostan Junior (bateria), Angelo mostra composições próprias, além de uma releitura instrumental da canção “Copo Vazio” (de Gilberto Gil). Participações do pianista Amaro Freitas e do cantautor Marcello Rangel.

Emiliano Castro - “7 Caminos” (Selo Sesc). Os cinco anos que o violonista paulistano passou na Espanha, estudando flamenco, também abriram seus ouvidos para a riqueza da música latino-americana com ritmos de matrizes africanas. Neste álbum autoral, tocando violão de sete cordas, ele exibe composições influenciadas pela linguagem do flamenco, além de uma releitura da canção “Atrás da Porta” (Chico Buarque).

Ghadyego Carraro - “Tribute” (independente). Gaúcho de Passo Fundo, o contrabaixista homenageia ídolos e mestres que o influenciaram, como Tom Jobim (“Wave”), Milton Nascimento (“Vera Cruz”) e Astor Piazzolla (“Oblivion”). Para as gravações contou com convidados de diversas regiões do país, como o baterista potiguar Di Stéffano, o gaitista paulista José Staneck e o violonista Alegre Corrêa, seu conterrâneo.



Gian Correa - “Gian Correa Big Band” (YB). Ao dizer que seu terceiro disco foi “100% composto de coração e de alma”, o violonista paulista não está dourando a pílula. Quem já o ouviu tocar choros em formações menores pode se deliciar agora com seu violão de sete cordas à frente de uma suingada big band. O frevo “Trançando as Pernas” e o samba “O Tema Tá Chegando” (com o acordeom de Mestrinho) soam irresistíveis.

Hamleto Stamato - “Autoral” (Tratore). Bem-acompanhado por craques da cena instrumental do Rio, como Marcelo Martins (sax tenor), Jessé Sadoc (trompete) e Vittor Santos (trombone), o pianista exibe um repertório autoral. Quem associa Stamato ao samba-jazz, pode se se surpreender com suas incursões por ritmos caribenhos ou com a lírica “Bodas”, uma bossa cujo arranjo inclui as cordas da St. Petersburg Studio Orchestra.

Louise Woolley - “Rascunhos” (Blaxtream). A pianista paulistana compôs os oito temas instrumentais deste álbum durante uma temporada na Europa, por encomenda do evento mineiro Savassi Festival. Os músicos que participam das gravações são talentosos como ela: Lívia Nestrovski (vocais), Jota P (sax tenor), Diego Garbin (trompete e flugel), Danilo Silva (violão), Bruno Migotto (contrabaixo) e Daniel de Paula (bateria).

Ludere - “Baden Inédito” (Tratore). Em seu quarto álbum, o brilhante quarteto – Phillippe Baden Powell (violão), Rubinho Antunes (trompete), Bruno Barbosa (baixo) e Daniel de Paula (bateria) – abriu o baú do grande Baden Powell (1937-2000). Além de sete temas inéditos, o repertório traz as canções “Vai Coração” (parceria com Pretinho da Serrinha) e “A Lua Não Me Deixa” (com Eduardo Brechó), nas vozes de Vanessa Moreno e Fabiana Cozza.



Marcio Hallack - “Desse Modo” (Kuarup). O pianista e compositor mineiro faz várias homenagens neste belo álbum, à frente de seu trio, que também destaca os excelentes Esdras “Neném” Ferreira (bateria) e Enéas Xavier (baixo). De um choro dedicado ao mestre Guinga (“Chorin”) a uma valsa-jazz composta em tributo ao grande maestro pernambucano Moacir Santos, Hallack reafirma seu privilegiado dom musical.

Mauro Senise - “Ilusão à Toa” (Biscoito Fino). Depois de dedicar discos a grandes expoentes da MPB, como Gilberto Gil, Dolores Duran e Edu Lobo, o experiente saxofonista carioca aborda a sofisticada obra de Johnny Alf – compositor e precursor da bossa nova. Ao reler 12 canções (preciosidades como “O Que É Amar”, “Olhos Negros” ou “Céu e Mar”), Senise valoriza-as ainda mais, utilizando diversas formações instrumentais.

Michel Pipoquinha e Pedro Martins - “Cumplicidade” (Tratore). Jovens revelações da música instrumental, o baixista cearense e o guitarrista brasiliense se conheceram na véspera do festejado show que fizeram em 2017, no Festival Choro Jazz, em Jericoacora (CE). Além de temas autorais, eles recriam composições de Hermeto Pascoal (“Azeitona”), Cartola (“Desfigurado”) e Toninho Horta (“Raul”), que também toca no álbum.

Orquestra do Estado de Mato Grosso - “Flores, Janelas e Quintais: Homenagem a Milton Nascimento” (Kuarup). Com regência do maestro Leandro Carvalho e arranjos do solista Vittor Santos (trombone), a orquestra mato-grossense revisita o cancioneiro do mestre do Clube da Esquina. No repertório, clássicos como “Cravo e Canela”, “Nos Bailes da Vida”, “Encontros e Despedidas”, “Canção da América” e “Ponta de Areia”.



Ozorio Trio - “Big Town” (Brasil Calling). Influências do blues rural, do folk e da nossa música caipira se misturam neste álbum, que nasceu com a mudança do violonista paulistano Marcelo Ozorio para um viveiro de plantas, no Paraná. Com participações do Quadril Quarteto de Cordas, as composições de Ozorio são entremeadas por divertidas vinhetas, como “Eguinha Quarto de Milha”, “Locomotiva” e “Phil, the Groove”.

Projeto B - “Live in Seattle” (independente). Em concerto registrado durante turnê pelos EUA, em 2012, o quinteto paulista mistura música erudita contemporânea com elementos da música instrumental brasileira e do jazz de vanguarda. No repertório, “A Sagração da Primavera” (de Igor Stravinky), “Choros nº 5” e “Prole do Bebê” (de Heitor Villa-Lobos), além de composições próprias, como “Labirinto” e “Tapete Mágico”.

Rafael Martini - “Vórtice” (Estúdio 304). O compositor e multi-instrumentista mineiro registrou, nestas gravações de 2016, seu trio com Pedro Santana (baixo) e Yuri Vellasco (bateria). A ideia é resgatar a ligação com o rock, que marcou sua formação inicial. Os criativos arranjos de “Rain Song” (da banda Led Zeppelin) e “Meditação” (Tom Jobim) ilustram bem o projeto, calcado em sons acústicos e sintetizados.

Rodrigo Bragança e Benjamim Taubkin - “Sobrevoo” (Núcleo Contemporâneo). O guitarrista mineiro radicado em São Paulo e o pianista paulistano demonstram grande afinidade musical, neste álbum com repertório autoral e assumidas influências jazzísticas. “Um disco para se escutar com calma”, sugere Taubkin, que homenageia em uma composição o pianista Lyle Mays (1953-2020). Paisagens musicais para ouvidos sensíveis. 

Rodrigo Nassif Trio - “Estrada Nova” (independente). Outro gaúcho de Passo Fundo radicado em Porto Alegre, o violonista e compositor comanda seu coeso trio, que também destaca Samuel Basso (baixo) e Leandro Schirmer (bateria), além de contar com vários convidados. Composições como “Brincando na Tempestade”, “Cheiro de Pão” e “Inverno no Cassino” trazem atmosferas particulares, como se fizessem parte de trilhas sonoras.

SaxBrasil - “10 Anos” (independente). O quarteto de saxofones da cidade de Sorocaba (SP) festeja sua primeira década de atividade, dedicada ao repertório brasileiro de música de câmara para essa formação. Além de interpretar quatro peças compostas especialmente para o grupo, relembra dois clássicos do repertório nacional para o saxofone: “Pau-Brasil” (de Liduíno Pitombeira) e “Mobile” (de Ronaldo Miranda).

Sidmar e Sidiel Vieira - “2Vieira - vol. 1” (independente). Talentosos irmãos que atuam na cena instrumental paulista, o baixista e o trompetista recriam em duo clássicos da música cristã, como “Minha Pequena Luz” (This Little Light of Me), que ouviam na casa dos pais. Recheados de influências do gospel e do jazz, os saborosos arranjos também são da dupla. (À venda só nos perfis de Sidmar e Sidiel no Facebook e no Instagram).

Sinfônica de Santo André + Hamilton de Holanda (Selo Sesc). Concerto gravado no Sesc Santo André (SP), em novembro de 2019, que marcou a estreia do “Concerto Brasileiro para Bandolim e Orquestra”, do bandolinista e compositor. O repertório mistura música clássica e popular, com destaque para a “Suíte Retratos” (de Radamés Gnattali), e a releitura da canção “Canto de Ossanha” (Baden Powell e Vinícius de Moraes).  



Túlio Mourão - “Barraco Barroco” (Jazz Mineiro). Neste álbum que festeja seus 50 anos de carreira, o compositor e pianista recebe três expoentes da cena instrumental de Minas: Chico Amaral (sax tenor), Juarez Moreira (violão) e Toninho Horta (guitarra). No repertório, Túlio exibe lindas baladas de sua autoria, como “Jardim do Afeto” e “A Última Montanha”, além de três temas que revelam sua admiração pela música ibérica.

Vitor Arantes Quarteto - “Elo” (Umbilical). Vencedor do concurso Novos Talentos do Jazz, no Savassi Festival 2017 (MG), o pianista paulistano estreia em disco, ao lado de Matheus Mota (guitarra), Gabriel Borin (contrabaixo) e Jonatan Goes (bateria), com participação especial de Josué dos Santos (sax tenor). Além de três extensas faixas assinadas pelo líder, o álbum inclui uma releitura de “Bebê” (de Hermeto Pascoal).

Você encontra outros discos de música instrumental brasileira lançados em 2020, que eu também recomendo, neste link:

Música na pandemia: projetos instrumentais em tempos de isolamento


Música na pandemia: projetos instrumentais em tempos de isolamento

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                                        O músico Walter Areia, no videoclipe "Ensaio sobre a Distância" / Foto de Pedro Escobar

As incertezas em relação ao futuro ainda preocupam bastante os meios musicais de nosso país, cinco meses após a decretação das primeiras medidas de isolamento social – recurso essencial no combate à pandemia. Com o fechamento dos teatros, auditórios, clubes, bares e casas noturnas, os músicos se viram obrigados a enfrentar uma situação inédita e dramática: impedidos de fazer shows, perderam da noite para o dia, literalmente, sua principal fonte de sustento.

Alguns cantores até conseguiram encontrar nas lives, veiculadas pelo YouTube e pelas redes sociais, uma alternativa financeira temporária. Já os instrumentistas – em especial aqueles que utilizam a improvisação como ferramenta de criação instantânea nos palcos – sofreram mais com o distanciamento social. Por ser essencialmente colaborativa, a música instrumental perde muito sem a proximidade física dos parceiros e o calor do público.

Expoente dessa vertente musical, o pianista e compositor paulistano Benjamim Taubkin encara essa situação com um certo humor. “Se, neste momento, o distanciamento social limitou o contato com outros músicos, por outro lado me pôs em contato diário com meu instrumento, como nunca antes na minha vida. Sentindo o benefício, eu brinco: se a pandemia tivesse acontecido na época em que comecei a tocar, teria estudado mais”.

Envolvido com diversos projetos simultâneos durante estes meses de pandemia, Taubkin é um exemplo inspirador de como os músicos têm usado sua criatividade para enfrentar esse período difícil. Dias antes da decretação da quarentena, em março, ele recebeu a notícia do cancelamento de uma turnê que faria por seis países sul-americanos. Como planejava aproveitar os encontros que teria com músicos locais, para colher depoimentos que farão parte de um complemento de seu livro “Viver de Música” (que reúne conversas com músicos brasileiros de várias vertentes), o jeito foi adaptar o projeto à realidade da quarentena.

Taubkin entrevistou músicos como o uruguaio Hugo Fattoruso, a colombiana Lucia Pulido e o venezuelano Otmaro Ruiz, usando aplicativos de videoconferência. Essas conversas vão compor a série “Vivir de Música”, com alguns vídeos já disponibilizados no canal do selo Núcleo Contemporâneo, no YouTube.

“Vidas de músicos têm muitas semelhanças: a paixão, o sonho, a criação. Os artistas que entrevistei são apaixonados pelo que fazem”, comenta Taubkin. “Nesse aspecto, é quase uma família, uma tribo. Nós nos reconhecemos como se houvesse padrões de desenvolvimento, etapas no processo que acontecem a todos, adaptados à realidade local”.





Afeto em forma de música

Também não deixa de ser uma tribo a criativa equipe do projeto A Nossa Música, que a pianista e compositora Júlia Tygel idealizou e coordena com o objetivo de gerar renda para músicos sem trabalho durante a pandemia. Esse projeto oferece um serviço inusitado: os interessados podem encomendar uma música, tanto instrumental como uma canção, pelo valor mínimo de R$ 300, no site do projeto (www.anossamusica.com.br).

Feita a partir de um mote (pode ser um poema, uma foto, a descrição de alguém), a música ou canção será composta e interpretada por dois integrantes de um coletivo de craques e estrelas da cena musical paulistana, como Ricardo Herz, Salomão Soares, Michi Ruzitschka, Daniel Grajew, Fi Maróstica, Louise Wooley, Fabiana Cozza, Vanessa Moreno e Patrícia Bastos, entre outros e outras. A edição dos vídeos com as composições é feita pela cantora Dani Gurgel. Quem indica os autores e intérpretes das futuras músicas é o curador do projeto, Benjamim Taubkin

“O projeto nasceu um pouco como uma brincadeira, uma forma de aproximar os músicos do público e gerar renda nesse período de isolamento, mas rapidamente seu escopo se mostrou muito maior”, avalia Júlia. Depois de contabilizar 60 músicas produzidas em pouco mais de um mês, ela admite que a equipe não esperava por uma demanda tão grande de pedidos. O tempo de entrega das encomendas chegou a ser aumentado, para que os autores pudessem criar com tranquilidade, sem correrem o risco de não cumprir os prazos prometidos.

Júlia considera que seu projeto tem potencial para ir muito além do período de quarentena. “Ele dá oportunidade para os músicos interagirem de uma forma nova e une artistas e público de uma maneira especial. Tem provocado novos encontros entre músicos que já se admiravam de longe, mas nunca tinham trabalhado juntos, resultando em músicas lindas e cheias de afeto”, comenta a coordenadora. “As pessoas que pedem as músicas têm ficado emocionadas ao verem seus sentimentos, memórias ou desejos tomarem a forma de músicas”.




Uma canção sobre a distância

Depois de tantos meses de quarentena e distanciamento social, já é evidente até nas conversas das redes sociais que as pessoas estão bastante carentes de contato pessoal e afeto. Curiosamente, ao abordar esse tema em um recém-lançado single, sua canção “Ensaio Sobre a Distância”, o contrabaixista e compositor pernambucano Walter Areia (ex-integrante da banda Mundo Livre S/A, que vive Portugal desde 2016) enveredou por um caminho um pouco diferente da música instrumental e do jazz que tem praticado nos últimos anos.

Embora já tenha feito parcerias com artistas da cena musical pernambucana, como Juliano Holanda, Monica Feijó ou Cassio Sette, Walter ainda não havia composto sozinho uma canção. “Era um desejo que já estava a me incomodar. Calhou de ser durante essa pandemia, talvez por eu ter mais tempo livre. Não sei ao certo”, admite. “Só sei que encontrei as pessoas certas e achei que fosse o momento certo. Tenho muita vontade de formatar um concerto que una esses dois caminhos: o da canção com o da música instrumental e o jazz”.

Certamente não foi à toa que, para gravar sua bela e emotiva canção, Areia tenha convidado músicos de Portugal e do Brasil. Aos vocais de Mara e à bateria de Joel Silva, ambos lusitanos, ele acrescentou o clarinete e o violão de 10 cordas do paulista Nilson Dourado e o lírico piano do onipresente Benjamim Taubkin. Para retribuir a camaradagem dos parceiros, que fizeram a gravação sem receber cachê, Areia organizou uma campanha de “compra voluntária” no Facebook. Além de ser lançada como single, nas plataformas digitais, “Ensaio Sobre a Distância” também rendeu um videoclipe, dirigido pelo brasileiro Pedro Escobar: 





O adeus do Duofel? Ou um até breve?

Entre tantas mortes, desemprego e outras lamentáveis perdas provocadas pela pandemia também ficará registrado um fato triste para os apreciadores da música instrumental brasileira: o anunciado fim do duo de violões Duofel, uma das parcerias mais longevas e criativas dessa vertente musical. A notícia – confirmada em uma “live” de despedida da dupla, intitulada “The End”, no final de julho – causou surpresa e comoção entre os fãs.

Além de creditar a separação às dificuldades impostas pela pandemia, o violonista Luiz Bueno também observa que, depois de 44 anos tocando com Fernando Mello, é até natural que essa parceria tenha arrefecido. “Nos tornamos adultos, envelhecemos e tomamos rumos diferentes. Fomos perdendo a alegria, elemento químico necessário para uma parceria criativa”, observa o violonista e compositor.

Ainda assim, felizmente, Bueno avisa que a interrupção da parceria não é definitiva. “Não vamos parar de tocar. Quando recebermos um convite, vamos ensaiar e interpretar a nossa obra. A música continua, nossa amizade continua”, diz. De todo modo, os fãs do Duofel não ficarão sem novidades: Bueno lançou em junho seu álbum solo “De Volta à Velha Casa” e Mello também está preparando um projeto solo.





Mesmo abatida pelas drásticas restrições e dificuldades que a pandemia impôs a todos, a resiliente tribo instrumental segue improvisando e criando, sempre em busca de desafios e belezas musicais. A seguir outros álbuns, vídeos e projetos ligados a essa vertente musical que nasceram ou foram lançados durante a pandemia:


"BruMa", de Antonio Adolfo 

Durante a última década, especialmente, o pianista e arranjador carioca tem se superado ano a ano, lançando projetos de música instrumental calcados na linguagem jazzística. Em “BruMa” (selo AAM/Rob Digital), outro álbum brilhante, Adolfo relê com elegância pérolas da obra de Milton Nascimento, ao lado de craques como Marcelo Martins (sax tenor e flauta), Jessé Sadoc (trompete) e Rafael Barata (bateria).




Bebê Kramer, em "Vertical"

“Vertical”, ótimo álbum que o acordeonista e compositor gaúcho Bebê Kramer lançou no final de 2019, rendeu um novo produto. O selo Audio Porto disponibilizou um documentário homônimo, com cenas de bastidores das gravações, que revelam a cumplicidade de Kramer com parceiros no projeto, como o percussionista Armando Marçal, o saxofonista Edu Neves e o contrabaixista Guto Wirtti.




Série de podcasts "Choraço Virtual" 

Podcast em 8 episódios, que narram a história do choro contemporâneo. Idealizada e apresentada pela pandeirista e produtora Roberta Valente, a série aborda as influências que o choro recebeu do maxixe, da valsa e da polca. Também compara os diversos sotaques do choro nas regiões do Brasil. E traça um panorama do gênero em outros países, como o Japão, Estados Unidos, França e Portugal. Estreia 2/9, quartas e sextas, às 21h, no canal de YouTube: https://www.youtube.com/c/Sesc24deMaioYouTube


Álbum de Cristovão Bastos e Rogerio Caetano 

Encontro do conceituado pianista carioca Cristovão Bastos com o goiano Rogério Caetano, mestre do violão de sete cordas. No repertório, a tradição do choro dialoga com a diversidade típica da música brasileira. Destaque para o saboroso “Um Chorinho em Cochabamba” (de Caetano e Eduardo Neves) e o moderno choro “Obrigado Rapha”, homenagem de Caetano ao violonista Raphael Rabello (1962-1995). Lançamento Biscoito Fino.




"Entre Mil... Você", de Daniela Spielman e Sheila Zagury 

Parceiras há duas décadas, a saxofonista Daniela Spielmann e a pianista Sheila Zagury mergulham na obra de Jacob do Bandolim (1918-1969), grande expoente do choro, neste álbum intitulado “Entre Mil... Você” (lançamento Kuarup). Do contagiante choro “Receita de Samba” a uma inusitada releitura da valsa “Santa Morena”, que ganhou um sotaque árabe, a dupla injeta frescor nesse clássico repertório.




"Olayá", de Edu Neves 

Delicioso álbum do saxofonista e flautista, “Olayá” (selo Audio Porto) é um tributo à Cidade Maravilhosa, representada no repertório autoral que vai de diversos estilos de samba à bossa nova e ao funk. Destaque para os inventivos arranjos orquestrais de Neves, como o do samba “Caiu Atirando”, que remete a trilhas sonoras de filmes de ação. Participações de Hamilton de Holanda, Raul de Souza, Zeca Pagodinho e Seu Jorge.




Álbum do Ensemble Choro Erudito 

A formação incomum, com o vibrafone de Ricardo Valverde, o violino de Wanessa Dourado e o contrabaixo de Marcos Paiva, empresta uma sonoridade especial a este trio. Entre o popular e o erudito, o repertório combina conhecidos choros, como “Brejeiro” (Ernesto Nazareth) e “Delicado” (Waldir Azevedo), com peças de Villa-Lobos (“O Trenzinho do Caipira”), Camargo Guarnieri (“Dança Negra”) e Dvorák (“Dança Eslava”). Lançamento Kuarup.




"Solitude", de Flávio Franco Araújo

Pianista, arranjador e produtor paulista, que se dedicou durante décadas à área da publicidade, Araújo decidiu gravar seu primeiro disco: um projeto de piano solo. Autoral, “Solitude” (Azul Music) reúne melodias singelas e introspectivas, inspiradas por episódios pessoais, como a faixa “Flávia Jogando Bola”. “For Bill” é dedicada a um dos ídolos do compositor: o pianista norte-americano Bill Evans (1929-1980).




"Crew in Church", de Joabe Reis 

Se você é um daqueles que criticam a música instrumental por achá-la mais fria ou cerebral do que outros gêneros, vai se surpreender com o primeiro álbum desse talentoso trombonista e compositor capixaba, hoje radicado em São Paulo. A música de Joabe combina os improvisos do jazz e da música instrumental com o balanço e a vibração do funk e do R&B. Tente ficar parado ao ouvir qualquer faixa de “Crew in Church” (selo TFunky Jazz).
Aqui uma entrevista que fiz com Joabe, a convite do Sesc Pinheiros, para o projeto Radar Sonoro:




Álbum de Goio Lima 

A admiração que esse saxofonista, flautista e arranjador paulista demonstra pela música do grande Tom Jobim (1927-1994) é reveladora. Autoral, o repertório de seu primeiro álbum solo inclui composições dedicadas a outros mestres da MPB, como João Donato e Johnny Alf, assim como homenagens aos jazzistas Stan Getz e Charles Mingus. Referências que embasam a consistência musical deste trabalho.




"Sumidouro", de Igor Pimenta 

Conhecido pelas parcerias com Neymar Dias e outros músicos da cena paulistana, o contrabaixista e compositor não deixou por menos. “Sumidouro”, seu primeiro disco solo, surpreende pela arrojada concepção musical, além da diversidade de influências, que vai do Clube da Esquina ao grupo Oregon, passando por Egberto Gismonti, Pat Metheny e até influências do jazz-rock, entre outras. Um disco caleidoscópico que dá vontade de ouvir ao vivo.




"Tempo Sem Tempo", de Joana Queiroz

A clarinetista e compositora carioca, que faz parte do grupo instrumental Quartabê, usa a expressão “sair do caos e olhar para dentro” ao se referir a “Tempo Sem Tempo”, seu quarto álbum solo (lançado pelo selo YB Music, já no auge da pandemia). Música etérea e introspectiva, que reflete este tempo de afastamento social. Participações dos bateristas/percussionistas Mariá Portugal, Domenico Lancellotti e Sergio Krakowski.




Léa Freire, em "CinePoesia" 

A compositora e flautista paulistana inovou ao promover “CinePoesia” (selo Maritaca), seu primeiro álbum que a destaca como pianista. As 12 composições foram lançadas em uma série de “singles” acompanhados por vídeos assinados por Lucas Weglinski, criando assim um diálogo entre os sons e as imagens. “Fazia tempo que eu queria gravar piano-solo, como um desafio pessoal, uma meta a superar”, festeja a multitalentosa Léa.




"De Volta à Velha Casa", de Luiz Bueno 

Finalizado durante a quarentena, com pós-produção de Raul Misturada, este álbum solo do violonista do Duofel nasceu de improvisos (tocar “no fluxo”, como ele costuma dizer). Ao escolher o título “De Volta à Velha Casa” (via selo independente distribuído pela Tratore), Bueno vê este álbum como “uma trilha de cinema, mas sem o filme”. Ela conduz o ouvinte à sua própria experiência de vida, como se voltasse a uma casa, física ou interior.




"Prece", de Noa Stroeter 
O contrabaixista paulistano, que já gravou três discos como integrante do Caixa Cubo Trio, não esconde que as composições de “Prece” (selo Pau Brasil), seu primeiro e promissor álbum solo, têm algo de autobiográficas. A jazzística “Veridiana” e o inusitado “Varanda”, um bolero à Henri Mancini, entre outras faixas, revelam que a cultura musical de Noa é bem mais ampla que a de muitos músicos jovens de sua geração. Ótima estreia.




"Unity", de Paulo Almeida 

O quarto disco do baterista e compositor paulista foi gravado ao vivo, em 2019, no clube de jazz The Bird’s Eye (em Basel, Suíça), durante turnê pela Europa. O quinteto inclui Diego Garbin (trompete), Salomão Soares (piano), Oliver Pellet (guitarra) e Felipe Brisola (baixo). A dramática “From Selma to Montgomery” (composição de Almeida e Pellet) reproduz trecho de um discurso de Martin Luther King. Distribuição Tratore.




Álbum do Shinkansen 

Os craques Toninho Horta (guitarra), Jaques Morelenbaum (cello), Marcos Suzano (percussão) e Liminha (baixo) formaram este supergrupo instrumental, uma década atrás, para se apresentarem no Japão. Sem agenda comum, o projeto ficou interrompido. É retomado agora com o disco do quarteto, que ainda conta com participações especiais de Branford Marsalis (sax), Ryuichi Sakamoto (piano) e Jessé Sadoc (trompete).




(Texto escrito a convite do Sesc SP para o projeto Radar Urbano, com curadoria de Sarah Degelo) 

Discos de 2019: música instrumental e jazz do Brasil em 50 álbuns recomendados

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Já que o ano passado foi tão marcado por polarizações e antagonismos ideológicos, decidi extrapolar por uma boa causa: minha lista de recomendações de álbuns lançados no último ano é dedicada exclusivamente à música instrumental brasileira e suas eventuais conexões com o jazz.

Tomei essa decisão por dois motivos. Como em anos anteriores, as listas de “melhores” discos já publicadas ou postadas tendem a esnobar a música instrumental. Quase todas elas concentram-se em vertentes como o chamado pop “indie”, o hoje hegemônico rap, o combalido rock ou a porção mais alternativa da MPB. Uma exceção, nessas listas, é a eventual presença do bandolinista e compositor Hamilton de Holanda.

Não se trata apenas de defender a merecida inclusão do som instrumental entre o que se faz de melhor na cena musical de hoje, mas também de afirmar a alta qualidade musical dessa vertente. Quem se der a oportunidade de ouvir ao menos alguns dos discos listados e comentados a seguir vai perceber que a produção instrumental brasileira esbanja diversidade musical, beleza, refinamento sonoro e contemporaneidade.

Como as vendas de CDs já não são as mesmas de outros tempos, quase todos esses músicos selecionados aqui disponibilizam seus discos (ou pelo menos algumas faixas) no YouTube. Se você clicar no título de cada um, na lista abaixo, pode conhecer esses discos, assim como se familiarizar com alguns desses instrumentistas. Se gostar, tenho certeza de que esses músicos vão ficar felizes se você comprar seus discos ou for ouvi-los ao vivo, na próxima vez em que eles se apresentarem em sua cidade.

Tomara que esta lista ajude você a ampliar o repertório musical que vai frequentar seus ouvidos e sua sensibilidade em 2020. Aproveite! 

Ademir Cândido - “Ritmos do Brasil” (independente) – Guitarrista e compositor gaúcho, Ademir viveu 20 anos na Suíça antes de voltar ao país. Seu quinto álbum celebra a diversidade da música brasileira, em composições próprias como o samba-jazz “O Fino da Bossa”, o xote “Enxotando” e o samba “Pakito na Gafieira”. Participações de Jaques Morelenbaum (cello) e Marcelo Martins (sax soprano), entre outros.

Alexandre Caldi e Itamar Assiere - “Afro+Sambas” (Biscoito Fino) – Ao reler o cultuado álbum “Os Afro-Sambas” (1966), de Baden Powell e Vinicius de Moraes, o saxofonista e o pianista tomam a liberdade de acrescentar aos oito sambas do disco original outros três de Baden: “Labareda”, “Samba Novo” e “Consolação”. Essa liberdade se estende também ao tratamento harmônico dos arranjos e aos improvisos do duo.  


Alexandre Carvalho Quartet - “Rio Joy” (independente) – O jazzístico arranjo da bossa nova que dá nome a este álbum revela as referências musicais do excelente guitarrista e compositor carioca, que também desenvolve carreira nos EUA. À frente de seu quarteto, Alexandre recria clássicos da música instrumental brasileira, como “The Dolphin” (de Luiz Eça) e “Samba Jazz” (JT Meirelles), e exibe temas autorais.

Alfredo Dias Gomes - “Solar” (independente) – Depois de tocar com figurões do instrumental brasileiro, o baterista e tecladista carioca tem lançado discos que demonstram sua grande afinidade com o jazz-rock. Autoral, seu novo álbum o reaproxima da música brasileira, em faixas como o baião “Viajante” e a percussiva “Solar”. É praticamente um projeto “eu comigo mesmo”, com participação do saxofonista Widor Santiago.

André Magalhães - “Para Ti - Batuques e Melodias dos Cantos” (Circus) – Um ensaio autobiográfico e étnico-musical. É assim que o produtor e baterista paulista, hoje com 51 anos, define seu primeiro álbum. André criou uma trilha sonora de suas vivências musicais de pesquisador, em composições instrumentais que misturam batuques, vozes, sons da natureza e cantos indígenas. Música imersiva que emociona e faz pensar.

André Mehmari Trio - “Na Esquina do Clube com o Sol, na Cabeça” (Estúdio Monteverdi) – O prolífero multi-instrumentista já tinha flertado com as canções do Clube da Esquina, em 2011, num disco de piano solo para crianças. Agora, ao lado de Neymar Dias (baixo) e Sergio Reze (bateria), vai mais fundo nas releituras de “Tudo Que Você Podia Ser” (Lô e Márcio Borges) e “Canoa Canoa” (Nelson Ângelo), entre outras.

Banda Urbana - “Relatos Suburbanos” (independente) – Ativa há 13 anos, a big band paulistana, que se dedica à música instrumental, chega ao seu terceiro álbum. As seis faixas incluídas no repertório deste disco foram compostas e arranjadas por integrantes da banda. Destaque para o baião “Do Mar” (do saxofonista Raphael Ferreira), que conta com participação especial do acordeonista Toninho Ferragutti.

                                           


Benjamim Taubkin & Ivan Vilela - “Encontro” (Núcleo Contemporâneo) – O pianista paulista e o violeiro mineiro cultivam neste duo um repertório que viaja por diferentes paisagens sonoras, tanto urbanas como interioranas. Belezas de sobra, em composições próprias como “Mantendo a Fé” (de Taubkin) ou “Sertão” (de Vilela), assim como nas releituras de “Milagre dos Peixes” e “Cravo e Canela” (Milton Nascimento).


Bruno E. & Coletivo Superjazz - “São Paulo Jazz Rebels” (Urubu Jazz) – Clubes essenciais na cena instrumental e jazzística paulistana, como o Bourbon Street, o Ó do Borogodó e o JazznosFundos, serviram de inspiração para composições do contrabaixista e vocalista goiano radicado em São Paulo. À frente de seu quinteto, Bruno conta com participações do vibrafonista Beto Montag e do cantor Toinho Melodia.

Café Mestiço (independente) – Álbum de estreia do trio paulistano, formado por Michi Ruzitschka (violão de 7 cordas), Ricardo Araújo (guitarra portuguesa) e Beto Angerosa (percussão). A instrumentação inusitada tem tudo a ver com o repertório eclético, que vai do choro “Eu Quero É Sossego” (de K-Ximbinho) ao novo tango de Piazzolla (“Oblivion”), passando por pérolas musicais de Cabo Verde e do Paraguai.

Carol Panesi - “Em Expansão” (Blaxtream) – Segundo álbum da talentosa multi-instrumentista e vocalista carioca, cujo quarteto inclui Fábio Leal (guitarra), Jackson Silva (baixo) e Guegue Medeiros (bateria). Seguidora da “música universal” de Hermeto Pascoal, Carol exibe uma nova safra de composições próprias recheadas de referências espirituais, como “Transmutação Violeta”, “Cordão Astral” e “Somos Todos Um”.

Cristian Sperandir - “Bons Ventos” (independente) – Álbum de estreia do pianista e tecladista gaúcho. Acompanhado por Antônio Flores (violão e guitarra), Caio Maurente (contrabaixo), Sandro Bonato (bateria) e Bruno Coelho (percussão), Cristian toca composições de sua autoria, como “Aquífero”, “Passeio de Notas” e “Tiro de Brazuca”, que combinam influências da música popular brasileira e do jazz.

Danilo Brito & André Mehmari - “Nosso Brasil” (independente) – Uma pena que o atormentado Brasil de hoje não demonstre a mesma alegria revelada por este duo inspirador. Recriando antigos choros, como “Amoroso” (de Garoto) e “Sedutor” (Pixinguinha), ou a valsa “Terna Saudade” (Anacleto de Medeiros), Brito, ao bandolim, e Mehmari, ao piano, referem-se com afeição a um país que já foi mais sonhador e solidário.

Daniel Murray - “Universo Musical de Egberto Gismonti” (Carmo/ECM) – Um dos grandes violonistas da cena instrumental de hoje, o músico carioca faz seu tributo a Gismonti, cuja obra já frequenta seus concertos há muito tempo. Entre as 13 faixas, 11 arranjos de Daniel para violão solo de preciosidades como “Forrobodó”, “Maracatu”, “Frevo” e “Água e Vinho”. A produção é assinada pelo próprio Gismonti. 


 
                                                 

Duofel, Carlos Malta e Robertinho Silva - “Duo + Dois” (Sesc) – Quem já assistiu a algum show desse inventivo quarteto deve ter notado a alegria que esses instrumentistas de alto quilate demonstram ao tocarem juntos. Entre 13 clássicos da bossa e da MPB, as releituras de “Maracangalha” (Dorival Caymmi), “Água de Beber” (Tom Jobim) e “Canto de Yemanjá” (Baden Powell) são especialmente contagiantes.

Fábio Gouvea - “Decênio” (Blaxtream) – O guitarrista e compositor paulista (integrante do Trio Curupira) criou uma extensa peça instrumental em quatro movimentos, inspirada por suas memórias afetivas da última década. Nas gravações, Fábio tem a seu lado Dô de Carvalho (saxofones e flauta), Gustavo Bugni (piano), Felipe Brisola (contrabaixo), Cleber Almeida (bateria, percussão e vocais) e Amanda Mara (vocais).

Fernando TRZ - “Solstício” (Maion) – Primeiro álbum solo do pianista, compositor e produtor paulista, que já tocou com as bandas Cérebro Eletrônico e Liniker e os Caramellows. As sete faixas são autorais. “Janeiro” remete às trilhas sonoras de filmes da “blacksploitation” dos anos 1970. O baião “Gira” mistura sons eletrônicos com um naipe de sopros. O momento lírico do disco vem em “Flores Noturnas”.

Giba Estebez – “Omni” (independente) – Ativo na cena instrumental de São Paulo, o pianista e compositor sintetiza no genérico título de seu álbum (“tudo”, em latim) as diversas influências que sua música engloba. Em “Dance”, Giba revela afinidades com o jazz elétrico dos anos 1970. Eletrificado também é o seu suingado “Samba da Hora”. Já a romântica “Ballad for Nina” destaca o sax tenor de Nina Novoselecki.  


Gilson Peranzzetta e Mauro Senise - “Cinema a Dois” (Fina Flor) – Parceiros há quase três décadas, o pianista e o flautista dedicam este álbum a temas de clássicos do cinema, como “Over the Rainbow” (do filme “O Mágico de Oz”), “Cinema Paradiso” ou “When You Wish Upon a Star” (de “Pinocchio”). Jazzistas sensíveis que são, Peranzzetta e Senise sabem equilibrar emoção e criatividade nas suas releituras.  


Hamilton de Holanda - “Harmonize” (Brasilianos) – Mesmo depois de lançar quatro discos em 2018, o bandolinista carioca não deixou o ano seguinte passar em branco. Ao lado de Daniel Santiago (violão), Thiago do Espírito Santo (baixo) e Edu Ribeiro (bateria), craques do gênero, Hamilton exibe dez composições próprias que flertam com o jazz, até com a música pop, sem abrir mão do samba e do choro.

Hércules Gomes - “Tia Amélia Para Sempre” (Sesc) – O pianista capixaba homenageia a lendária "pianeira" e compositora goianiense Amélia Brandão Nery, a Tia Amélia (1922-1980). Entre as 14 faixas, Hércules interpreta choros como “Saracoteando” e “Cheio de Truques”, em solos de piano. Em outras conta com craques do choro, como Nailor Proveta (clarinete), Izaías (bandolim) e Gian Correa (violão de 7 cordas).

Igor Willcox Quartet - “Live at The Jazz Room” (Room 73) – O quarteto paulista gravou ao vivo este álbum durante turnê pelo Canadá, em 2019. O líder (bateria), Glécio Nascimento (baixo), Vini Morales (piano e teclados) e Wagner Barbosa (sax tenor) tocam repertório próprio, que destaca o jazz-funk “Brotherhood” (de Willcox), as líricas “Piano Intro” e “Brad Vibe” (Morales) e o jazz-rock “U.F.O” (Willcox).

João Taubkin Grupo - “Kandra” (independente) – Paralelamente à parceria que tem desenvolvido com a cantora moçambicana Lenna Bahule, o contrabaixista e compositor paulistano lança mais um álbum autoral, agora à frente de um quarteto que inclui Rodrigo Bragança (guitarra), Sérgio Reze (bateria) e Zé Godoy (piano). Faixas como “Outlander” e “Miragem” revelam influências do jazz e do rock alternativo. 

                                                  

Joel Nascimento & Fábio Peron - “Jacob do Bandolim 100 Anos: Sentimento & Balanço” (Sesc) – Dois brilhantes bandolinistas de diferentes gerações cultuam a obra desse expoente do choro e compositor carioca, que adotou o bandolim até em seu nome artístico. Joel e Fábio relembram joias do mestre, como “Doce de Coco”, “Gostosinho”, “Assanhado” e “Santa Morena”. Os arranjos são assinados pelo cavaquinista e violonista Henrique Cazes.

Lelo Nazário - “Projeto MI²” (Utopia) – Um dos criadores do experimental Grupo Um, o pianista e compositor paulistano ressalta que produziu este álbum solo integralmente em seu estúdio – das gravações à capa. Tocando teclados e sintetizadores, Lelo exibe oito composições inéditas que utilizam diversas linguagens de vanguarda. Participações especiais do pianista Felix Wagner e da flautista Andrea Ernest Dias.

Letieres Leite Quinteto - “O Enigma Lexeu” (Rocinante) – O compositor e arranjador baiano, líder da cultuada Orkestra Rumpilezz, comanda o primeiro disco de seu quinteto. Autor das sete composições, da encantatória “Casa do Pai” à intensa “Mestre Moa do Katendê”, Letieres toca flautas e saxofones. A percussão de Luizinho do Jejê também é essencial neste projeto de ascendência africana em formato jazzístico.

Ludere - “Live at Bird’s Eye” (Blaxtream) – Gravado ao vivo num clube de jazz de Basel (Suíça), em 2018. Philippe Baden Powell (piano), Rubinho Antunes (trompete), Bruno Barbosa (baixo) e Daniel de Paula (bateria) tocam temas próprios, como a balada “Mirante” (de Rubinho) e o samba “Afro-Tamba” (de Philippe). O mestre do violão Baden Powell (1937-2000) é homenageado nas releituras de “Igarapé” e “Sermão”. 


Maiara Moraes Quinteto - “Cabeça de Vento” (Blaxtream) – Catarinense radicada em São Paulo, a flautista e compositora desponta em seu primeiro álbum autoral, acompanhada por Josué dos Santos (saxofones e flauta), Guilherme Ribeiro (piano), Igor Pimenta (contrabaixo) e Pedro Henning (bateria). Lirismo e diversidade rítmica convivem em belezas como “Maracatu”, “Choro pro Pê” e “Caminho de Volta”.

Manoel Cruz - “Brazilian News” (independente) – A afinidade que o contrabaixista e compositor radicado em São Paulo tem com o chamado “latin jazz” traz sabor especial a seu álbum. Para isso conta também a presença do trompetista italiano Gabriel Rosati. Na faixa “Samba D Boa” e na bela releitura da toada “Lamento Sertanejo” (de Dominguinhos e Gilberto Gil), Manoel mostra a face mais brasileira de seu jazz.

Maogani - “Álbum da Califórnia” (Biscoito Fino) – Engavetado durante uma década, este álbum que o criativo quarteto de violões carioca gravou em Los Angeles, com produção de Sérgio Mendes, finalmente está disponível. No repertório, arranjos de standards do jazz e releituras de clássicos da MPB, como “Chovendo na Roseira” (Tom Jobim), “Folhas Mortas” (Ary Barroso) e “Bananeira” (João Donato e Gilberto Gil).

Mário Sève (Kuarup) – Gravado em 2011, num show em São Paulo, este álbum do saxofonista e flautista carioca foi lançado agora para comemorar seus 60 anos. Ao lado de Gabriel Geszti (acordeom), Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo) e Sérgio Reze (bateria), Sève toca 10 composições autorais. Três delas são canções em parceria com a cantora argentina Cecilia Stanzione, que também participou dessa gravação.  


Nenê Trio - “Primavera” (Blaxtream) – Um dos grandes bateristas do país, o gaúcho Realcino “Nenê” Lima Filho finaliza com este disco sua quadrilogia “Quatro Estações”, iniciada com o álbum “Outono” (2009). Talvez o fato de tocar há mais de uma década com o pianista Írio Júnior e o contrabaixista Alberto Luccas possa explicar a impressionante unidade sonora desse trio ao tocar as abstratas composições do líder.  
                                        


Neymar Dias - “Minhas Canções Instrumentais” (independente) – Ao batizar este álbum, o talentoso violeiro e compositor paulista não estava brincando. Acompanhado por Igor Pimenta (baixo elétrico), Agenor de Lorenzi (piano e teclados) e Gabriel Altério (bateria e percussão), Neymar apresenta, nas 11 faixas autorais, doces e singelas melodias, que estão praticamente pedindo letras para se tornarem canções.

Odésio Jericó - “Disco do Jericó” (independente) – Em 65 anos de carreira, o trompetista pernambucano fez parte de conceituadas orquestras e big bands, como a Banda Mantiqueira, que integra desde os anos 1990. Para seu primeiro disco solo, escolheu clássicos da bossa nova e do samba, como “O Que É Amar” (Johnny Alf) e “Devagar com a Louça” (Haroldo Barbosa e Luiz Reis). Música saborosa para ouvir ou dançar.

Projeto Unknown - “Projeto Unknown II” (independente) – Bruno Migotto (baixo elétrico), Cuca Teixeira (bateria), Djalma Lima (guitarra) e Gustavo Bugni (teclados), craques da cena instrumental paulistana, formam este grupo cujo segundo álbum reúne nove composições autorais. Marcadas por influências do jazz e do rock, elas remetem à chamada “fusion”, estilo eletrificado de jazz que dominou a década de 1970.

Quatro a Zero - “Mesmo Outro” (independente) – O 5.º álbum deste quarteto paulista, que começou tocando choro, em 2001, reflete sua evolução e amadurecimento. Releituras dos chorões Jacob do Bandolim (“Receita de Samba”) e Radamés Gnattali (“Papo de Anjo”) dividem o repertório com composições próprias, como “Nós e Ele” (parceria com Hermeto Pascoal) ou “Ferraguttiana” (do violonista Eduardo Lobo).

Ricardo Herz & Camerata Romeu - “Nova Música Brasileira Para Cordas” (independente) – Uma beleza o encontro do violinista paulistano com essa orquestra feminina de cordas de Cuba. Herz, que assina os arranjos e composições do álbum, explora um aspecto incomum na música clássica: o suingue. No baião “Mourinho”, por exemplo, as violinistas, violistas e violoncelistas da orquestra percutem seus instrumentos.

Rogério Caetano & Gian Correa – “7” (independente) – Por ocasião do centenário de Dino Sete Cordas (1918-2006), grande instrumentista e referência na música brasileira em relação à técnica e à linguagem do violão de sete cordas, dois craques desse instrumento – o goiano Rogério e o paulista Gian – exibem sete composições autorais para prestar tributo ao mestre. Difícil imaginar homenagem mais pertinente.

Salomão Soares Trio - “Colorido Urbano” (Blaxtream) – Uma das grandes revelações desta década na cena instrumental, o pianista e compositor paraibano comanda seu trio, que inclui o baixista Thiago Alves e o baterista Paulo Almeida. Da nervosa “Ponto Cego” à sensível “Ponto de Luz”, Salomão exibe oito temas autorais que afirmam sua inventividade. Inclui também releitura do standard “My Favorite Things”.

San-São Trio - “Novos Caminhos” (Maritaca) – O sensível saxofonista Harvey Wainapel, de San Francisco (EUA), se uniu à flautista Léa Freira e ao pianista Amilton Godoy, brilhantes músicos e compositores de São Paulo. Mais que um simbólico encontro do jazz com a música brasileira, o que se ouve aqui é uma inspiradora e descontraída conversa entre duas das tradições musicais mais ricas e criativas do mundo.

Semiorquestra - “Jogos e Quitutes” (independente) – O bem-humorado álbum de estreia desta compacta orquestra paulistana de formação incomum foi produzido por Cris Scabello (da banda Bixiga 70). O repertório é autoral e eclético: vai do baião “Iguarias do Milho” (de Luca Frasão) ao bolero “Curinga da Canastra” (Fernando Sagawa); da guitarrada “Dibrando” (João Sampaio) ao afoxé “Revoada” (Rodrigo Lima).

Silibrina - “Estandarte” (independente) – Liderado pelo pianista e compositor Gabriel Nóbrega, este septeto paulista é uma boa surpresa na cena instrumental dos últimos anos. O segundo álbum do grupo traz, em faixas como “Frevo Maligno”, “Paratema” e “Rochedo”, todas autorais, contagiantes misturas de ritmos brasileiros com influências do jazz e da música pop. Ao vivo, o Silibrina soa melhor ainda.   
                                                   

Teco Cardoso, Bebê Kramer e Swami Jr. - “Dança do Tempo” (Sesc) – Este trio não nasceu por acaso. Convidado pelo Sesc Pompeia a fazer um show de instrumentistas com os quais ainda não havia tocado, o violonista Swami Jr. formou com Teco (sopros) e Bebê (acordeom) um trio que parece tocar junto há décadas. Faixas como “Dois”, “Choro Esperança” ou “Angulosa” confirmam a empatia que une esses novos parceiros.

Thiago Carreri - “Transição” (Blaxtream) – O guitarrista de São Carlos (SP) não esconde, em entrevistas, que a fonte de seu quarto álbum foi a música do mineiro Toninho Horta. Ao lado de Márcio Bahia (bateria), Breno Mendonça e Marcelo Toledo (saxofones), Rubinho Antunes (trompete) e Bruno Barbosa (baixo), Thiago mostra belos temas sua autoria, como “Obrigado” e “Caminhos”, que parecem pedir letras.

Thiago Espírito Santo - Pra Te Fazer Sonhar” (independente) – Um dos grandes baixistas da nova geração, Thiago tem neste álbum a companhia de Bruno Cardoso (piano e teclados) e Cuca Teixeira (bateria). Do samba “Fogo Baixo, Chapa Quente” (com vocais de Filó Machado) à jazzística balada “Giselle” (com participação do gaitista Grégoire Maret), passando pelo jazz-rock “Classe A”, o repertório é todo autoral.

Toninho Horta & Orquestra Fantasma - “Belo Horizonte” (Minas) – Para comemorar seus 50 anos de carreira, o violonista e compositor mineiro não deixou por menos: lançou este álbum duplo com composições inéditas e alguns de seus sucessos, como “Beijo Partido” e “Aqui Ó” (parceria com Fernando Brant). Entre diversos convidados, a cantora Joyce Moreno, o saxofonista Nivaldo Ornelas e o percussionista Robertinho Silva.

Trio Corrente - “Tem Que Ser Azul” (Abeat) – Gravado na Itália, em 2018, segundo os próprios Fábio Torres (piano), Paulo Paulelli (baixo acústico e elétrico) e Edu Ribeiro (bateria), este álbum resume os 18 anos desse premiado trio paulistano. Clássicos da bossa nova, como “Só Tinha Que Ser com Você” (Tom Jobim) e “Eu e a Brisa” (Johnny Alf), ganham criativas releituras, ao lado de composições próprias.

Trio in Uno - “Ipê” (independente) – As primeiras notas da contagiante “Bate Coxa” (composição de Marco Pereira) já revelam um trio de sonoridade incomum. Radicados na França, os brasileiros José Ferreira (violão de 7 cordas) e Pablo Shinke (violoncelo), mais a italiana Giulia Tamanini (sax soprano), recriam com personalidade pérolas musicais como “Forrobodó” (Egberto Gismonti) e “Cine Baronesa” (Guinga).

Tulio Araujo & Daniel Grajew - “Quantum” (Savassi Festival) – O álbum do pandeirista mineiro com o pianista paulista tende ao onírico. Daniel contribui com “Rios Voadores” e “Choro Vermelho”, entre outros temais autorais. Túlio criou uma colagem inusitada: “Óleo Branco” mistura “Oleo” (do jazzista Sonny Rollins) com as melodias de “Asa Branca” (Luiz Gonzaga) e “Tico Tico no Fubá” (Zequinha de Abreu).   

Ubaldo Versolato - “Portal” (Kuarup) – Músico da Banda Mantiqueira há mais de 20 anos, o experiente saxofonista paulista já fez centenas de gravações com outros músicos, mas só se aventurou agora a gravar o primeiro disco solo. Do samba-jazz “Tubo de Ensaio” (de sua autoria) à romântica balada “Fefê” (do filho Léo Versolato), Ubaldo reafirma seu conhecido talento musical. Que venham outros discos! 


Duofel: violonistas festejam 40 anos de carreira com convidados especiais

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                                                         Fernando Melo e Luiz Bueno, do Duofel - Foto: Gal Oppido 

São poucos os grupos musicais que conseguem se manter ativos durante 40 anos. Mais raros ainda são aqueles, como o Duofel, que construíram sólidas obras musicais, calcadas em gravações relevantes e projetos criativos. Desde 1978, quando decidiram formar esse duo de violões, os autodidatas Fernando Melo e Luiz Bueno jamais abriram mão de fazer música instrumental com personalidade própria. 

“Não temos preconceitos musicais. A gente gosta de experimentar todos os tipos de música”, observa o paulista Bueno, que conheceu o alagoano Melo em 1976, quando tocavam guitarra e baixo, respectivamente, na banda de rock progressivo Boissucanga. A seriedade da dupla já se mostrava em seu projeto inicial: para se aprofundarem nos meandros da rítmica brasileira, os dois viajaram meses pelo interior de Pernambuco, Paraíba e Alagoas, pesquisando manifestações folclóricas e ritmos musicais, como o maracatu, o baião e a embolada.

Na década de 1980, a produtiva parceria de sete anos com a cantora Tetê Espíndola deflagrou uma extensa série de encontros que o Duofel tem realizado com instrumentistas e cantores de diversos gêneros musicais: do vanguardista compositor e pianista paranaense Arrigo Barnabé ao percussionista paulista João Parahyba (presente em “As Cores do Brasil”, o primeiro álbum da dupla, gravado em 1990, na Alemanha); do percussionista indiano Badal Roy ao genial multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal, que praticamente adotou o duo, em 1993.

“Hermeto é nosso padrinho. A convivência com ele abriu nossos horizontes musicais”, comenta Melo. Graças aos inventivos arranjos que o “bruxo” de Lagoa da Canoa idealizou para “Kids of Brazil” (álbum que o Duofel gravou nos EUA, em 1996), o interesse da dupla em pesquisar novas sonoridades e diferentes afinações para seus violões cresceu mais ainda.

A maior conquista do Duofel durante essa trajetória de quatro décadas, na opinião de Bueno, foi se dar o direito de abordar qualquer gênero musical, sempre adotando uma linguagem própria. Não foi à toa que, para gravar “Duofel Plays The Beatles” (2009), o disco mais popular lançado até hoje pelo duo, ele e Melo esperaram mais de uma década até imprimir a assinatura musical da dupla nesse projeto de releituras de sucessos do quarteto britânico.

“Só quando sentimos que a gente já poderia se divertir tocando Beatles, nós gravamos o disco”, diz Bueno. Essa “diversão” se apoiou em um método intuitivo de harmonização e arranjo, que ele e o parceiro desenvolveram com o tempo. “Geralmente, os caras que fazem arranjos usam toda a estrutura harmônica da música e traçam um caminho. A gente faz o contrário: lembramos da música e já saímos criando. Gostamos de partir da criatividade, harmonizando a música sem ficarmos presos ao original”, observa Melo.

Hoje, somando mais 150 composições editadas, sete trilhas sonoras, treze álbuns e três DVDs, o Duofel comemora 40 anos de carreira musical, num ambiente em que sempre se sentiu muito à vontade: tocando ao vivo. E como costuma fazer há décadas em seus projetos, não dispensa a companhia inspiradora e criativa de antigos e novos parceiros.

Finalmente, aquela pergunta inevitável: como o próprio Duofel explicaria essa longevidade tão incomum no cenário musical, em meio a tantos artistas e bandas descartáveis? “Nosso envolvimento com a música é muito intenso, até um pouco insano, em relação à vontade de que ela esteja sempre ‘up to date’, seja com instrumentos, sonoridades, experimentações ou repertórios. Nosso grande barato é fazer esse som que só o Fernando e eu sabemos fazer juntos”, conclui Bueno. Sorte dos fãs de diversas gerações do Duofel, que desfrutam essa brilhante parceria musical há quatro décadas.


DUOFEL 40 ANOS

Show no Sesc 24 de Maio (r. 24 de Maio, 109, região central de São Paulo/SP). 
Dia 10/3 (sábado), às 21h; dia 11/3 (domingo), às 20h.
Convidados: Hermeto Pascoal, Carlos Malta, Robertinho Silva, Benjamim Taubkin e Dani Black (no dia 10/3); Hermeto Pascoal, Arismar do Espírito Santo, Simone Soul e Raul Misturada (no dia 11/3).
Ingressos à venda no site do Sesc SP: www.sescsp.org.br  








“O Piano que Conversa”: documentário com Benjamim Taubkin desafia padrões

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Não espere pelo habitual narrador para introduzir o tema do filme, muito menos entrevistas com alguns dos personagens. “O Piano que Conversa” documentário de Marcelo Machado, que está sendo exibido no Festival In-Edit, em São Paulo rompe com padrões desse gênero cinematográfico. Tanto que sua encantadora narrativa dispensa até o uso de palavras.

À primeira vista, o protagonista do filme seria um piano de cauda. Logo nas imagens iniciais esse instrumento é desmontado e carregado, cuidadosamente, para um caminhão que vai transportá-lo para um concerto em um festival no interior de São Paulo (sugerindo um “road movie”). Em cenas posteriores a câmera chega a penetrar no interior do piano, revelando a perfeição de seu mecanismo: os movimentos sincronizados dos pequenos martelos de madeira que percutem as longas cordas revestidas de cobre.

Uma beleza estranha, tanto visual como sonora, é desvendada nessa relação íntima que a câmera trava com o piano, mas logo se percebe que o protagonista real da narrativa é Benjamim Taubkin. É por meio da fina sensibilidade desse pianista e compositor paulistano que vamos acompanhar seus encontros com duas dezenas de músicos de diversas regiões do Brasil, de Moçambique, de Israel, da Polônia, da Bolívia e da Coreia do Sul.

Quem acompanha a trajetória musical de Taubkin, registrada em vários discos da gravadora independente Núcleo Contemporâneo, sabe que ele tem realizado criativos diálogos com instrumentistas de várias vertentes e tradições musicais (do jazz ao choro, passando pela diversidade da chamada “música do mundo”) há pelo menos vinte anos. Assim como Machado desafia nesse filme padrões tradicionais dos documentários, Taubkin tem questionado há décadas os limites entre gêneros, em suas experiências musicais.

A coragem de realizar um documentário sem palavras, a sofisticada fotografia de Fernando Fonini, a criativa montagem de Joaquim Castro e a riqueza dos diversos encontros musicais estão entre os muitos atributos de “O Piano que Conversa”, que propõe uma maneira mais sensitiva de se criar (ou mesmo de se assistir) um documentário.

“Eu tinha vontade de entrar mais na música”, disse Marcelo Machado, na rápida conversa que ele e Taubkin estabeleceram com a plateia, anteontem, logo após a exibição do filme, no Museu da Imagem e do Som. As expressões emocionadas de vários espectadores, durante a projeção dos créditos finais, confirmaram que o diretor alcançou seu objetivo nesse inovador documentário.

“O Piano que Conversa” será exibido novamente nos dias 23/6 (no Cine Olido), 6/7 (no Cine Sesc) e 15/7 (no Cine Olido, com bate-papo sobre o filme), em São Paulo.



 

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