Mostrando postagens com marcador Baden Powell. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Baden Powell. Mostrar todas as postagens
Joyce Moreno: compositora e cantora recria sua estreia fonográfica no álbum "50"
Marcadores: "50", Baden Powell, Ildásio Tavares, Joyce Moreno, marcos valle, MPB, paulinho da viola, rodolfo stroeter, Ruy Guerra, samba-jazz, Tiago Costa, tutty moreno, zélia duncan | author: Carlos CaladoJoyce Moreno pôs em prática uma ideia inusitada. Para comemorar seus 50 anos de carreira, a cantora e violonista decidiu recriar todo o repertório de “Joyce”, seu disco de estreia, gravado no lendário ano de 1968. O resultado desse projeto está no álbum “50” -- lançado em São Paulo, no último final de semana, com shows no Sesc Belenzinho.
O primeiro disco de Joyce já trazia composições próprias, como o irreverente samba “Não Muda Não” e a polêmica canção “Me Disseram” (cuja letra causou celeuma, na época, por utilizar o termo “meu homem”). O repertório incluía também composições de Paulinho da Viola (“Ansiedade”), Marcos Valle e Ruy Guerra (“Bloco do Eu Sozinho”), entre outros jovens colegas de geração da cantora.
Agora Joyce acrescenta àquelas 11 canções a bela “Com o Tempo” (recente parceria com Zélia Duncan), que surge logo ao início do show como um poético flashback. “Com o tempo /Fui ficando mais moça /Mais olhos, menos onça /Mais tempo, menos hora /Fui ficando mais agora /Menos por aí o desejo”, refletem os versos de Zélia.
Formada numa época em que canções também eram usadas para se questionar injustiças e desigualdades, Joyce tem incluído no roteiro de seus shows o samba-afro “Canto de Iansã" (de Ildásio Tavares e Baden Powell). Com ele faz um oportuno desagravo à cultura e às religiões afro-brasileiras, que têm sofrido ataques do atual dublê de pastor e prefeito do Rio e de seus seguidores.
Joyce também não perde a chance de relembrar que sua canção “Superego” foi alvo de preconceito, em 1968. Um crítico-dinossauro chegou a escrever que se tratava de uma “grande música”, mas achava difícil acreditar que ela tivesse sido composta por uma mulher.
Ver e ouvir Joyce, no palco, é uma experiência inspiradora. Além do evidente prazer que exibe ao cantar e tocar seu violão, ela faz questão de apresentar e contextualizar quase todas as canções do show, estabelecendo assim um contato mais direto e enriquecedor com a plateia.
Depois de se ouvir o delicioso samba-jazz “Mingus, Miles & Coltrane”, outra composição da cantora que também faz parte do show, é fácil entender os frequentes sorrisos de Tutty Moreno (bateria), Rodolfo Stroeter (baixo) e Tiago Costa (piano), craques que costumam acompanha-la nos palcos e gravações. Que instrumentista não adoraria tocar com uma “cantautora” tão musical, sensível, bem-humorada e ainda fã do jazz como Joyce?
Trio da Paz: três brilhantes embaixadores da música instrumental brasileira nos EUA
Marcadores: Baden Powell, duduka da fonseca, jazz, milton nascimento, música instrumental brasileira, nilson matta, romero lubambo, tom jobim, trio da paz | author: Carlos Calado
O Trio da Paz, em show no Sesc Consolação, em São Paulo
Talvez o fato de o Brasil ser um país tão diversificado e rico musicalmente possa justificar em parte que o Trio da Paz -- sensacional grupo de música instrumental brasileira e jazz, que Romero Lubambo (violão e guitarra), Duduka da Fonseca (bateria) e Nilson Matta (contrabaixo) criaram 32 anos atrás em Nova York, ondem vivem –- só tenha se apresentado três vezes até hoje, em nosso país.
A plateia que foi ouvi-lo ontem, no teatro do Sesc Consolação, em São Paulo, certamente se sentiu privilegiada. E acompanhou com animação os inventivos improvisos desse trio formado por craques em seus instrumentos, que tocam com intensidade sonora e um admirável senso de conjunto. Os três parecem praticar uma espécie de telepatia musical, uma capacidade de antever ideias dos parceiros, dominada apenas por instrumentistas que tocam juntos há muito tempo.
O repertório do show incluiu composições próprias e clássicos da música brasileira que apontam algumas referências do trio, como a bossa “Wave” e uma eletrizante versão de “Insensatez” (ambas de Tom Jobim), “Vera Cruz” (de Milton Nascimento) e “Baden”, composição de Nilson Matta dedicada ao grande violonista Baden Powell. Não faltou também uma dose de humor, especialmente quando Duduka explicou que sua encrencada composição “Alana”, repleta de mudanças de andamento, foi inspirada no temperamento inconstante de sua filha.
Fosse o Brasil um país sério, capaz de valorizar mais os seus grandes artistas, o Trio da Paz (cujo talento já foi reconhecido nos Estados Unidos, com uma indicação ao prêmio Grammy, por seu álbum “30”), já teria lugar garantido, todos os anos, em nossa agenda cultural.
Talvez o fato de o Brasil ser um país tão diversificado e rico musicalmente possa justificar em parte que o Trio da Paz -- sensacional grupo de música instrumental brasileira e jazz, que Romero Lubambo (violão e guitarra), Duduka da Fonseca (bateria) e Nilson Matta (contrabaixo) criaram 32 anos atrás em Nova York, ondem vivem –- só tenha se apresentado três vezes até hoje, em nosso país.
A plateia que foi ouvi-lo ontem, no teatro do Sesc Consolação, em São Paulo, certamente se sentiu privilegiada. E acompanhou com animação os inventivos improvisos desse trio formado por craques em seus instrumentos, que tocam com intensidade sonora e um admirável senso de conjunto. Os três parecem praticar uma espécie de telepatia musical, uma capacidade de antever ideias dos parceiros, dominada apenas por instrumentistas que tocam juntos há muito tempo.
O repertório do show incluiu composições próprias e clássicos da música brasileira que apontam algumas referências do trio, como a bossa “Wave” e uma eletrizante versão de “Insensatez” (ambas de Tom Jobim), “Vera Cruz” (de Milton Nascimento) e “Baden”, composição de Nilson Matta dedicada ao grande violonista Baden Powell. Não faltou também uma dose de humor, especialmente quando Duduka explicou que sua encrencada composição “Alana”, repleta de mudanças de andamento, foi inspirada no temperamento inconstante de sua filha.
Fosse o Brasil um país sério, capaz de valorizar mais os seus grandes artistas, o Trio da Paz (cujo talento já foi reconhecido nos Estados Unidos, com uma indicação ao prêmio Grammy, por seu álbum “30”), já teria lugar garantido, todos os anos, em nossa agenda cultural.
Egberto Gismonti: compositor e instrumentista encantou a platéia do Bourbon Street
Marcadores: Baden Powell, bourbon street music club, charlie haden, Egberto Gismonti, Jan Garbarek, jazz, música instrumental brasileira, naná vasconcelos, pixinguinha, tom jobim | author: Carlos CaladoVer e ouvir um músico de altíssimo quilate a poucos metros de distância já seria por si só um privilégio, mas a apresentação de Egberto Gismonti, ontem, no clube paulistano Bourbon Street, superou qualquer expectativa.
Numa noite especialmente iluminada, o compositor e multi-instrumentista revisitou diversas joias de seu repertório, como “Caravela”, “Raga” e “Dança das Cabeças” –- esta introduzida por uma carinhosa menção ao saudoso percussionista Naná Vasconcelos (1944-2016), com o qual gravou um de seus discos mais cultuados.
Gismonti também divertiu a plateia do Bourbon Street, contando saborosos “causos” extraídos de suas andanças pelo mundo, que envolvem outros grandes músicos e/ou parceiros musicais, como o mestre da bossa nova Tom Jobim, o violonista Baden Powell, o contrabaixista Charlie Haden e o saxofonista Jan Garbarek.
E não bastassem tantas delícias numa única apresentação, o pianista ainda surpreendeu os fãs com uma personalíssima releitura do choro “Carinhoso”, de Pixinguinha. Que noite!
Grooveria: coletivo musical reforça trabalho autoral no contagiante álbum "Moto Contínuo"
Marcadores: 'Moto Contínuo', Baden Powell, Claudio Zoli, Fernanda Abreu, funk, Grooveria, Jota Erre, lincoln olivetti, Mart'nália, Rogê, samba-funk, samba-rock, soul, Tuto Ferraz, Walmir Borges | author: Carlos Calado
Quem conheceu a Grooveria nas concorridas jams do clube paulistano Na Mata Café durante a década passada, ou a ouviu mais tarde em apresentações por várias capitais do país, já sabe porque esse coletivo de São Paulo tornou-se uma referência para quem curte música dançante da melhor qualidade.
Essa sólida trajetória de 16 anos está muito bem representada em “Moto Contínuo”, o terceiro álbum do coletivo musical criado e comandado pelo baterista, compositor e arranjador Tuto Ferraz. Releituras dançantes de clássicos da MPB e composições próprias que misturam influências do samba e da black music resultam em uma receita musical aprimorada a cada nova apresentação.
“Acho legal fazer a releitura de um clássico, para que a galera de hoje possa ouvi-lo com uma pegada mais atual”, comenta o líder da Grooveria, referindo-se a faixas do álbum, como o afro-samba “Berimbau” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes), que destaca a cantora Fernanda Abreu, ou a popular canção “Ponteio” (de Edu Lobo e Capinan), com participação de Walmir Borges, nos vocais. Ambas reaparecem em novas versões, depois de serem tocadas durante anos nos shows da Grooveria.
Mart’nália e Fernanda Abreu
Já a saborosa releitura do samba “Jorge Maravilha” (de Chico Buarque), cuja base rítmica foi gravada ainda em 2012, ficou anos na gaveta até que Tuto tivesse a ideia de convidar Mart’nália para canta-la. “Era o que estava faltando. Mart’nália arrebentou na gravação”, comenta o arranjador e baterista. Outra boa sacada dessa versão, já quase ao final da faixa, é a citação de um conhecido riff de metais da banda do soulman norte-americano James Brown.
O fã mais atento vai logo notar que, se antes as releituras predominavam no repertório da Grooveria, agora as composições próprias comparecem em número bem maior. “Funky Night”, um irresistível disco-funk instrumental assinado por Tuto que abre o álbum, homenageia o arranjador e tecladista Lincoln Olivetti, craque do gênero. O líder da Grooveria não deixou por menos: para reviver a original sonoridade dos metais nos arranjos de Olivetti, foi buscar no Rio o naipe de sopros que tocou com ele até sua morte prematura, em 2015.
Outra favorita dos dançarinos nos shows da Grooveria durante os últimos anos é “Alright”, funk que aparece no álbum em versões em inglês e em português (“Chapando no Groove”). Essa composição de Tuto também ficou guardada durante alguns anos até 2012, quando ele decidiu procurar Fernanda Abreu (os dois ainda não se conheciam) para convidá-la a escrever a letra. Hoje musa e parceira de vida do baterista, a cantora carioca gravou essa faixa, além de todos os vocais de apoio do álbum.
Black music e MPB
Assim como reconhece a marcante influência que recebeu da black music, mencionando a banda Earth, Wind and Fire e o guitarrista Nile Rodgers entre seus favoritos no gênero, Tuto também destaca a importância dos ritmos brasileiros em sua formação. Graças às discotecas de seus pais e de sua irmã mais velha, cresceu ouvindo muita MPB, especialmente as canções dos compositores mineiros do Clube da Esquina e os sambas de Chico Buarque, João Bosco e Djavan. Nada mais natural, portanto, que ele inclua no repertório do novo álbum da Grooveria quatro sambas de sua autoria, compostos com diversos parceiros.
Com o próprio Tuto no vocal e versos que remetem à falta de participação da sociedade brasileira na difícil situação que atravessamos (“Eu quero ver você fazer alguma coisa pra virar um sim /eu quero ver você gritar, espernear, mas não deixar barato assim”), o samba “Eu Quero Ver” soa clássico. Poderia até ter sido composto na década de 1970, assim como tem potencial de se tornar um hino para aqueles que realmente desejam um país livre da corrupção e da roubalheira generalizada.
Os sambas-funks “Vim” (com participação especial do guitarrista Claudio Zoli), “Menina Morena” (com vocais de Rogê) e “Sambou” (cantado por Jota Erre) confirmam a profunda intimidade da Grooveria com as pistas de dança. “Essas músicas refletem aqueles anos em que a gente tocava muito em baladas de clubes”, comenta Tuto, consciente de que seu coletivo está preparado para ingressar em uma nova fase.
Muito bem produzido, o terceiro álbum da Grooveria confirma sua evolução musical, assim como o fato de que esse coletivo já possui um trabalho autoral e experiência mais que suficiente para se apresentar em festivais e salas de espetáculos. Essa criativa fábrica de grooves está pronta – e merece – ser ouvida por plateias bem mais amplas. No Brasil e pelo mundo afora.
Gravadora Kuarup: mais um pacote de CDs com preciosidades fora de catálogo
Marcadores: Baden Powell, cartola, chico lobo, cida moreira, dino sete cordas, instrumental, kuarup, raphael rabello, regional do evandro, sivuca | author: Carlos CaladoDescontinuada em 2009, depois de investir por três décadas em um catálogo musical de alta qualidade (choro, samba, ritmos do Nordeste, até música caipira), a gravadora Kuarup voltou a distribuir suas gravações no mercado em 2011.
Seu novo pacote de reedições é precioso, especialmente para fãs da música instrumental. “Raphael Rabello & Dino 7 Cordas” (1991) reúne dois expoentes do violão brasileiro, em criativas releituras de choros e sambas de João Pernambuco, Pixinguinha e Garoto, entre outros. Repertório semelhante ao que Baden Powell, outro gigante desse instrumento, dedilha com garra, em “Ao Vivo no Rio Jazz Club” (1990).
Mestre da sanfona, o paraibano Sivuca reencontrou, em 2004, as cordas do Quinteto Uirapuru. Com lirismo e sensibilidade, toca suas parcerias com Glória Gadelha, além de homenagear Astor Piazzolla e Tom Jobim.
Gravado em 1978, em São Paulo, “Cartola ao Vivo” registra o último show do sambista carioca. Ao lado do Regional do Evandro, ele revisita, com a voz ainda em boa forma, alguns de seus sambas mais populares, como “Acontece” e “O Mundo É um Moinho”.
Em “Cida Moreyra Canta Chico Buarque” (1993), a intérprete paulista empresta sua bagagem teatral a 18 canções e sambas do compositor carioca, como “Gota d’Água” e “Geni e o Zepelin”, com arranjos de Gil Reyes.
Finalmente, em “Viola Caipira” (2002), o violeiro mineiro Chico Lobo interpreta modas e toadas de sua autoria. Também rende homenagens às suas influências, abrindo espaço para grupos regionais de catira e folias de reis. Pérolas da diversidade brasileira.
Resenha publicada originalmente no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 22/2/2014
Assinar:
Postagens (Atom)