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Banda Mantiqueira: novo disco da big band festeja 25 anos com Lubambo e Marsalis

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               Os saxofonistas Cássio Ferreira (esq. para dir.), Proveta, Josué dos Santos e Ubaldo Versolato  

Manter uma orquestra ativa durante 25 anos já é por si só uma proeza, mas os músicos da Banda Mantiqueira e seus fãs têm mais a comemorar com o lançamento do álbum "Com Alma". Basta ouvir algumas faixas para comprovar que a aventura iniciada por essa big band paulistana, em 1991, resultou em uma linguagem instrumental brasileira que não se fecha às enriquecedoras influências de outras tradições musicais.

“Nos últimos anos, conseguimos aprimorar uma concepção musical mais aberta, que promove um encontro da música popular brasileira com o jazz e a música clássica”, resume o clarinetista e saxofonista Nailor “Proveta” Azevedo, referindo-se ao período que sucedeu o lançamento de “Terra Amantiquira” (2005), o álbum anterior da orquestra.

Para quem sentiu falta de um novo disco da Banda Mantiqueira, na última década, o fundador e líder explica que vários de seus integrantes, assim como ele, têm dedicado mais tempo ao ensino musical, buscando transmitir a linguagem da banda às novas gerações. Paralelamente, a banda participou de projetos com talentosas intérpretes da canção brasileira, como Mônica Salmaso, Rosa Passos, Fabiana Cozza e Anaí Rosa.

“Passamos esses dez anos sem gravar outro disco, mas, por outro lado, a gente cresceu muito musicalmente. Tocar e conviver com outros músicos ajuda a amadurecer. Os projetos com essas cantoras, assim como nossas atividades pedagógicas, trouxeram mais experiência para os músicos da banda”, avalia Proveta.

“Com Alma” representa o fim de um ciclo musical na trajetória da Banda Mantiqueira. Por isso, segundo seu líder, a necessidade de revisitar no repertório do novo álbum um pouco dessa história. Criada no início dos anos 1990, em um apartamento do bairro paulistano de Bela Vista, onde Proveta morava com o trompetista Walmir Gil e os saxofonistas Cacá Malaquias e Ubaldo Versolato, a Banda Mantiqueira veio coroar as experiências desses músicos em formações anteriores, como a Banda Savana, a Banda Aquarius e a Sambop Brass.

Duas composições incluídas no álbum nasceram durante a fase inicial da banda. O frevo “Forrólins”, de Cacá Malaquias, é uma homenagem ao veterano saxofonista norte-americano Sonny Rollins. O arranjo de Proveta combina o contagiante ritmo do Nordeste brasileiro com fraseado e improvisos típicos do jazz. Também composto por Malaquias, o lírico “Chorinho pra Calazans” é dedicado ao artista plástico pernambucano J. Calazans. Se você sentir algo de impressionista no arranjo de Proveta, saiba que não é mera coincidência.

“Stanats”, composição que o pernambucano Moacir Santos (1926-2006) dedicou ao saxofonista norte-americano Stan Getz (1927-1991), foi arranjada por Proveta, em 1994, como uma homenagem ao nosso genial compositor e maestro que muitos brasileiros só descobriram neste século. “Foi incrível ter tocado esse arranjo para o Moacir, o homem que levou o ritmo afro-brasileiro para o jazz clássico, com o requinte da música clássica europeia”, comenta Proveta.

Padrinho da Banda Mantiqueira, o grande músico e compositor João Bosco também é homenageado com seu samba “De Frente Pro Crime”, em arranjo inédito de Proveta. Ao violão, em participação muito especial, surge o carioca Romero Lubambo, com o qual a banda já planejava fazer algo há tempos. Lubambo também é o solista na gravação de “Desafinado” (obra-prima de Tom Jobim e Newton Mendonça), em belíssimo e inédito arranjo de Edson José Alves, que ressalta a sofisticação harmônica da bossa nova e as influências da música clássica que Jobim assimilou em sua obra.

“Con Alma” – a composição de Dizzy Gillespie (1917-1993), mestre do trompete e do jazz moderno, que inspirou o título deste álbum – ganhou cores de bossa nova e samba-canção, no arranjo de Edson José Alves. Além de contar com o violão de Lubambo, essa gravação destaca outro convidado muito especial: o trompetista norte-americano Wynton Marsalis.

O líder da Jazz at Lincoln Center Orchestra também participa da gravação de “Segura Ele”, clássico choro de Pixinguinha (1897-1973). “Quando convidei o Marsalis, disse a ele que essa música lembra um ragtime do Scott Joplin”, conta Proveta, que escreveu a primeira versão desse arranjo para a orquestra paulista Jazz Sinfônica, ainda na década passada.

“Sentimos a necessidade de revisitar a história da banda, para lembrar de encontros musicais que fizeram a diferença em nossas vidas”, comenta Proveta, sintetizando muito bem o conceito deste álbum, que tem tudo para repercutir tanto em nosso pais, como no exterior. Vivendo hoje uma fase de grande produção e primor artístico, a música instrumental brasileira reflete na original experiência dessa big band um exemplo a ser seguido pelas novas gerações.

Como outros admiradores da Banda Mantiqueira, cuja trajetória tive o prazer de acompanhar desde o início, posso declarar que escutá-la durante estes 25 anos também foi sempre algo muito especial.

(Texto para o encarte do disco "Com Alma", escrito a convite da Banda Mantiqueira)





Sambop Brass: grupo precursor da Banda Mantiqueira ressurge no bar JazznosFundos

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                                                 O Sambop Brass, em um reencontro eventual, na década passada 

Apreciadores da música instrumental brasileira, em especial os fãs da Banda Mantiqueira, não podem perder essa oportunidade rara. O bar e casa de shows paulistana JazznosFundos festeja seu 9.º aniversário, nesta quarta-feira (11/11), com uma apresentação do Sambop Brass –- septeto instrumental de carreira breve, que antecipou a formação da big band dirigida pelo arranjador e clarinetista Nailor Proveta.

Músicos de estúdio, o trompetista Walmir Gil e o trombonista François de Lima tiveram a ideia em 1990, época em que também participavam de shows do grupo de pagode Arte Final. Antes de um ensaio, os dois aquecíam seus os instrumentos tocando temas de bebop em ritmo de samba, quando perceberam que a brincadeira poderia virar coisa séria.

Em novembro do mesmo ano nascia o Sambop Brass, já com Proveta como arranjador e saxofonista. A formação soava inusitada para os padrões musicais da época. Deixando de lado instrumentos harmônicos, como guitarra ou teclados, a “cozinha” do grupo era essencialmente rítmica, com pandeiro, timba e repinique. Identificado em seu próprio nome, o conceito musical do Sambop Brass também era inovador: uma fusão de samba e bebop, com bastante espaço para os improvisos.


“O nosso grande impulso veio através do espírito livre do jazz”, comenta hoje Proveta, observando que, na época, ele e seus parceiros já tinham consciência de que assumir a influência do jazz não significava abandonar a identidade brasileira. “A gente sabia que precisava achar um caminho próprio”, relembra.

No programa do show, no JazznosFundos, estarão os arranjos que deliciaram quem teve a oportunidade (como eu) de ouvir o Sambop Brass, duas décadas atrás: releituras de clássicos do jazz, como “Giant Steps” (de John Coltrane), “Tenor Madness” (Sonny Rollins), “Donna Lee” e “ Ornithology” (Charlie Parker)”, em ritmo de samba; assim como os arranjos de Proveta para o choro “Fogo na Roupa” (Altamiro Carrilho) e o samba “Cerrado” (Djavan), que já preconizavam o repertório da futura Banda Mantiqueira.

A atual formação do Sambop Brass inclui François de Lima (trombone), Walmir Gil (trompete), Nailor Proveta (sax alto e clarinete), Cássio Ferreira (sax tenor), Carlos Roberto (piano), Pedro Ivo Lunardi (baixo) e Celso de Almeida (bateria).

Nesta semana, a programação comemorativa do JazznosFundos destaca também apresentações do Projeto B (dia 12/11), do Pepe Cisneros Quinteto (13/11) e do Gabriel Grossi Quarteto (14/11). 


Mais detalhes no site do JazznosFundos
 

Marco Bosco: percussionista revê três décadas de música com essência brasileira

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De volta ao país após longa temporada no Japão, o percussionista e compositor Marco Bosco rebobina três décadas de carreira. Para a compilação “33 Works - 1980-2013” (selo Cendi Music), ele selecionou gravações do grupo instrumental Acarú, que o lançou, além de faixas de sete álbuns individuais gravados no Brasil e no Japão. Inclui ainda a inédita composição “33”, em parceria com o tecladista Paulo Calasans.

Como um documentário sonoro, esse CD duplo revela que preconceitos não têm vez na concepção do criativo percussionista. Da contagiante “Aqualouco” (em arranjo de Rogério Duprat) ao lirismo de “Akatombo” (com César Camargo Mariano, nos teclados), passando pelos baiões eletrificados do álbum “Techno Roots” (2001), com participações de Egberto Gismonti, Dominguinhos e Genival Lacerda, o paulista da interiorana Torrinha sintetiza uma obra diversificada e contemporânea, que não abre mão de sua essência brasileira. 
 
O elenco de participações especiais inclui ainda Flora Purim, Airto Moreira, Sebastião Tapajós, Marlui Miranda, Wilson Simoninha, Ruriá Duprat, Walmir Gil, Eiki Nonaka, Casey Rankin, Vicente Barreto, Tsuyoshi Yamamoto, Luhli & Lucina e Belchior, entre outros. O design do album é assinado por Marco Mancini, artista gráfico paulista radicado em Tóquio.

(Resenha publicada parcialmente no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 28/6/2014)

 

 

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