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Bourbon Street Fest: evento comemora seus 20 anos de conexão New Orleans-São Paulo

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                                                O baixista e cantor Tony Hall, no 20.º Bourbon Street Fest

Neste momento em que as relações diplomáticas e econômicas entre o Brasil e os Estados Unidos estão bastante estremecidas, a realização do 20.º Bourbon Street Fest (em São Paulo, na semana passada) provocou uma breve reflexão. Não fosse a admiração que as plateias brasileiras cultivam há mais de um século por diversos gêneros da música norte-americana (relação que se tornou de mão dupla desde a explosão mundial da bossa nova nos anos 1960), hoje seria mais difícil imaginar que um evento como esse pudesse festejar seu 20.º aniversário.

Tive a sorte de acompanhar toda a trajetória desse festival criado por Edgard Radesca e Herbert Lucas, diretores do Bourbon Street Music Club. Inaugurada em dezembro de 1993 com um histórico show do “rei do blues” B.B. King, essa casa noturna paulistana nasceu sob a inspiração da rica cena musical e gastronômica de New Orleans – a cidade mais famosa do estado norte-americano de Louisiana. E assim, dedicando sua programação ao jazz, ao blues, ao R&B e outras vertentes da black music, além da música brasileira, naturalmente, tornou-se um dos melhores clubes do gênero na América Latina.

Depois de trazerem a São Paulo dezenas de conceituados artistas da cena musical de New Orleans, como Bryan Lee, Marva Wright, Charmaine Neville e Jon Cleary, para temporadas de shows no clube,os diretores do Bourbon Street decidiram elevar essa ponte musical a outro patamar. Para comemorar os 10 anos da casa, em 2003, criaram o Bourbon Street Festival, evento que segue o perfil eclético do New Orleans Jazz & Heritage Festival, um dos maiores eventos musicais do mundo, realizado naquela cidade desde 1970.

Em meio às eventuais dificuldades para contar com patrocínios regulares, durante essas duas décadas, Edgard Radesca e Herbert Lucas seguiram à risca a missão de trazer ao Brasil mostras da diversidade que caracteriza o cenário musical de New Orleans. Não foi diferente nesta edição: o elenco do festival paulistano exibiu destaques como o tecladista e compositor Ivan Neville, herdeiro de uma das famílias musicais mais importantes de New Orleans, a banda The Rumble, a cantora JJ Thames e o baixista Tony Hall, já conhecido pela plateia de São Paulo. Vale lembrar, sempre com alguns shows gratuitos, na programação.

Por tudo que já fizeram para manter essa preciosa ponte musical entre São Paulo e New Orleans (duas cidades cosmopolitas que valorizam a cultura e, de modo geral, são conhecidas por receberem bem os imigrantes que as escolhem para morar), os diretores do Bourbon Street Fest já mereceriam ser condecorados, tanto no Brasil como nos Estados Unidos.



André Christovam: filme lembra como guitarrista deu ao blues um sotaque brasileiro

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                     O "rei do blues" B.B. King e o brasileiro André Christovam /Acervo do músico 

Expoente do blues com sotaque brasileiro, o guitarrista e compositor paulistano André Christovam é o protagonista do documentário “Mandinga”. Esse longa metragem inédito, que estreia hoje (13/6), será reexibido na próxima semana, em São Paulo, em meio à programação do festival In-Edit Brasil, dedicado a documentários musicais (confira os locais e horários de exibição no link abaixo).

Dirigido por Egler Cordeiro, “Mandinga” aborda o processo de criação e os bastidores das gravações do homônimo álbum de estreia de Christovam, lançado em 1989 pelo selo Eldorado. Um ano especial para os apreciadores do blues, que viram esse gênero musical afro-americano (célula-mãe de todas as vertentes da música negra criada nos Estados Unidos durante o século 20) conquistar uma jovem e fiel legião de fãs brasileiros.
Músico talentoso e perfeccionista, Cristovam se destacou já em sua estreia fonográfica. Na pioneira cena do blues brasileiro (com raras exceções, como o guitarrista e cantor carioca Celso Blues Boy), bandas como Blues Etílicos, Blue Jeans e Baseado em Blues tendiam a cantar em inglês, mesmo em suas composições autorais.
Christovam não deixou por menos: em vez de se limitar à interpretação de clássicos do gênero, ao preparar o repertório de seu primeiro disco mergulhou os ouvidos em inspiradores sambas de Noel Rosa, Cartola e da dupla João Bosco e Aldir Blanc. Nessas fontes de pura brasilidade, encontrou um caminho poético e bem-humorado para criar saborosos blues cantados em português, como “Genuíno Pedaço do Cristo”, “Dados Chumbados”, “Carne de Pescoço”, “Sebo nas Canelas” e, claro, a faixa-título.
O documentário também relembra um evento que, segundo o guitarrista, foi a realização de um sonho. Durante a Virada Cultural de 2014, Christovam comemorou os 30 anos do lançamento do álbum “Mandinga” em um concerto no erudito palco do Theatro Municipal de São Paulo. Foi nesse mesmo ano que ele se mudou para a Escócia, onde vive até hoje.
IN-EDIT BRASIL – O documentário “Mandinga” será exibido hoje (quinta, 13/6), às 18h, no Cine Olido; dia 20/6 (quinta), no centro Matilha Cultural, às 18h; e no SPCine Paulo Emílio, dia 22 (sábado), às 19h30, em São Paulo. Confira a programação no site do festival: https://br.in-edit.org/

10º Best of Blues & Rock Festival: Buddy Guy se despede dos palcos, em São Paulo

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                                                Buddy Guy, guitarrista e cantor, no New Orleans Jazz Fest, em 2018 

O Brasil não poderia ficar fora dessa. Neste ano em que carismático guitarrista e cantor norte-americano Buddy Guy realiza a Damn Right Farewell Tour, sua turnê mundial de despedida dos palcos, o Best of Blues & Rock Festival vai comemorar sua 10.ª edição (de 2 a 4 de junho, na área externa do Auditório Ibirapuera, em São Paulo), com esse lendário mestre do blues entre suas atrações.

Nem é preciso ser fã de Buddy Guy para imaginar que esse será um dos grandes eventos musicais de 2023. Cultuado por outros astros da guitarra elétrica, como Jimi Hendrix, Jeff Beck, Eric Clapton e Keith Richards, Buddy conquistou seu lugar entre esses heróis do rock e do blues, ao trocar no final dos anos 1950 os pântanos da conservadora Louisiana, sua terra natal, pela efervescente cena musical da urbana Chicago.

No início da década de 1980 (a mesma época em que fez suas primeiras e explosivas apresentações por aqui, no 150 Night Club, em São Paulo), Buddy aceitou uma missão difícil. Ao pressentir que já tinha pouco tempo de vida, o grande Muddy Waters fez a ele um pedido em tom pessoal: “Mantenha o maldito blues vivo”.

Fiel ao veterano mestre do blues eletrificado de Chicago e às lições de outros craques do gênero, como seu parceiro Junior Wells, B.B. King ou Howlin’ Wolf, o incansável Buddy manteve acesa a chama desse gênero musical, fazendo turnês e se apresentando nos melhores clubes e festivais pelo mundo. Seu estilo pessoal, que une a tradição do blues à irreverência do rock & roll, é irresistível.

Tive o privilégio de vê-lo tocar várias vezes, no Brasil e em festivais pelo mundo – a última delas em 2018, no New Orleans Jazz & Heritage Festival, na Louisiana. Não importa se ele interpreta um blues pungente ou detona um eletrizante rock: o sorriso no rosto de Buddy não costuma faltar. Tomara que ainda ele consiga manter essa alegria ao se despedir da plateia brasileira, já próximo de completar 87 anos. Como fã de Buddy há quatro décadas, sei que será difícil segurar as lágrimas.

Informações sobre o elenco e ingressos para o Best of Blues & Rock Festival, que inclui os shows de despedida de Buddy Guy, em São Paulo, dias 3 e 4/6, neste link:
https://www.bestofbluesandrock.com.br/

Robert Cray: guitarrista e renovador do blues diz que a timidez já não o incomoda

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                    O guitarrista Robert Cray (à esq.) e o baixista Richard Cousins, no New Orleans Jazz Fest 

Como outros artistas que ousaram desafiar os cânones de um gênero musical estabelecido, o guitarrista e cantor Robert Cray enfrentou alguns narizes torcidos durante os primeiros anos da década de 1980. Seu blues urbano e elegante, com marcantes influências da soul music e do rhythm and blues, foi criticado por puristas que não o perdoaram por se afastar dos moldes tradicionais do gênero. “Isso é música pop”, acusavam os detratores.

“Eles tinham uma concepção muito limitada do que o blues ou o rhythm and blues poderiam ser”, comenta hoje o músico e compositor americano. “Ao ouvir aquelas críticas, eu respondia que eles deveriam escutar meu primeiro álbum, ‘Who’s Been Talking’, de 1980, que teve uma distribuição muito limitada. Aquele disco trazia canções de Willie Dixon, Eddie Floyd e O.V. Wright, bem típicas do blues e do rhythm & blues”, argumenta.

Mais efetivo que essa resposta de Cray foi o sucesso de seu álbum “Strong Persuader”, lançado em 1986, que chegou ao 13.º lugar da parada pop americana 
 façanha inédita para um jovem bluesman, numa época em que o blues enfrentava um relativo ostracismo na cena musical. Logo vieram os convites de consagrados astros da soul music e do rock, como a cantora Tina Turner ou os guitarristas Eric Clapton e Keith Richards, para que Cray abrisse seus shows ou participasse de gravações de discos. 

Colaborações eventuais como essas serviram para alimentar o ego do tímido e humilde renovador do blues, nascido na Geórgia. Mas nada que possa ser comparado ao privilégio de ter tocado com alguns de seus ídolos, como o guitarrista Albert Collins (1932-1993), que Cray considera ser sua maior influência, ou outros bluesmen do primeiro time, como B.B. King (1925-2015), John Lee Hooker (1917-2001) e Albert King (1923-1992).

“Eu me considero um sortudo por ter tido a oportunidade de conhecer e trabalhar com esses grandes músicos. Além de ter lembranças muito divertidas daqueles encontros, eu me senti aceito por todos”, diz Cray, que volta aos palcos brasileiros após um hiato de dez anos. A turnê de shows inclui quatro capitais: São Paulo (neste sábado, 27/7, como atração do Festival BB Seguros de Blues e Jazz, no Parque Villa-Lobos); Belo Horizonte (dia 31/7, no Palácio das Artes); Rio de Janeiro (dia 2/8, no Vivo Rio) e Brasília (dia 3/8, também no Festival BB Seguros de Blues e Jazz).

Acompanhado pelo tecladista Dover Weinberg e pelo baterista Terence Clark, Cray também terá a seu lado o talento do baixista Richard Cousins, parceiro mais constante em sua trajetória. “Richard é uma figura. Eu o conheci em 1969, quando ainda éramos adolescentes. Nos primeiros anos da banda, era ele que anunciava as músicas durante nossos shows, porque eu era muito nervoso e tímido”, relembra.

“Tínhamos uma relação de irmãos, tanto que Richard deixou a banda por alguns anos após uma briga tipicamente familiar. Depois que ele retornou à banda, em 2008, nossa relação ficou mais forte ainda”, comenta o líder. A camaradagem entre os dois é visível nos palcos. Quando tocam nos shows “Right Next Door”, um dos maiores sucessos de Cray (cujos versos descrevem a dramática briga de um casal, observada pelo pivô da separação), o compositor costuma provocar seu parceiro, dizendo à plateia que a canção foi inspirada em um caso de Cousins.

Canções como essa, segundo Cray, podem nascer a qualquer momento, nos mais inusitados locais. “Pode ser no chuveiro, até na cozinha ao cortar vegetais. Em geral, a ideia surge a partir de alguma situação que aconteceu comigo ou com alguém que conheço. Também pode ser algo que veio de um livro ou da TV. Quando a ideia surge, você precisa correr e pegar um papel ou um gravador antes que a esqueça”.

Sobre o repertório dos quatro shows no Brasil, como de hábito, Cray vai decidir na hora o que tocar. “Gostamos de misturar canções de várias épocas, desde os meus primeiros discos, como ‘Bad Influence’, até os últimos”, avisa. Seu disco mais recente, “Robert Cray & Hi Rhythm”, lançado em 2017, remete à era clássica da soul music. Até porque foi gravado no lendário Royal Studios, em Memphis, onde expoentes desse gênero musical, como Al Green, Ann Peebles, Otis Clay e O.V. Wright, gravaram alguns de seus melhores discos, cinco décadas atrás.

“Nós nos divertimos bastante ao fazer esse álbum”, comenta Cray, referindo-se ao conceituado produtor Steve Jordan, com o qual já trabalhou em outros projetos. “O Royal é um estúdio que funciona em um antigo teatro, onde nada foi mexido desde a década de 1970. A bateria e o órgão continuam exatamente nos mesmos lugares. É um lugar mágico, onde você pode sentir uma ‘vibe’ incrível”, descreve.

Perto de completar 66 anos, com 23 álbuns lançados e a experiência acumulada ao longo de uma premiada carreira musical, que o levou a palcos dos mais diversos cantos do mundo, o cantor e guitarrista diz que sua assumida timidez já não o incomoda mais. “Aprendi a entrar no palco como se estivesse em meu quarto, tocando discos para os amigos. Graças à aceitação das pessoas durante todos estes anos, hoje eu já me sinto bem mais à vontade”.


(Texto publicado no caderno cultural do jornal "Valor", em 26.7.2019)






Larry Carlton: guitarrista e expoente do jazz "fusion" volta ao Brasil após 30 anos

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                                                                            O guitarrista Larry Carlton / Foto de divulgação

O nome de Larry Carlton pode não soar familiar a muita gente, mas as chances de se ter ouvido esse guitarrista norte-americano são grandes. Durante os anos 1970 e parte dos 1980 ele deixou sua marca sonora em centenas de gravações de astros da música pop, como Michael Jackson, John Lennon, Joni Mitchell ou a banda Steely Dan. Entre canções e trilhas sonoras para cinema e TV, mais de cem dessas sessões de gravação resultaram em discos de ouro.

Considerado um estilista da guitarra, com quase 40 títulos em sua discografia solo, Carlton desembarca no Brasil para uma única apresentação no Bourbon Street Music Club, em São Paulo, na terça (19/7). Também seria a principal atração do Iguape Jazz & Blues Festival, no litoral paulista, neste domingo (17/7), mas o evento foi cancelado – segundo a produção do evento, a prefeitura local não cumpriu o contrato firmado.

Desde seus shows no extinto Free Jazz Festival, em 1986, Larry Carton não se apresentou mais no país. “Só me lembro de que aquela viagem foi muito rápida. Não tive tempo para conhecer nada, tanto no Rio como em São Paulo”, diz o guitarrista de 68 anos, em entrevista ao Valor, falando por telefone de Nashville (EUA), onde vive.

Carlton desfrutava um período de grande sucesso naquela época, após trocar a vida segura de músico de estúdio pela carreira de solista. Seu álbum “Alone, But Never Alone” (1986) chegou ao topo da parada de jazz norte-americana. No ano seguinte, sua releitura de “Minute by Minute” (hit da banda Doobie Brothers), registrada no álbum “Discovery”, lhe rendeu um prêmio Grammy.

Pouco depois enfrentou um incidente dramático, que quase o levou à morte. Durante as gravações de seu álbum “On Solid Ground”, em 1988, Carlton foi baleado por um adolescente, sem qualquer motivo, na porta de seu estúdio, em Los Angeles. A bala o atingiu no pescoço, deixando sequelas.

“Perdi uma das cordas vocais e meu braço esquerdo ficou paralisado. Felizmente, após uma complicada cirurgia e nove meses de fisioterapia, consegui recuperar os músculos e tudo voltou a ficar bem”, relembra. Ele diz não ter notado diferenças, ao voltar a tocar, mas alguns críticos e fãs apontaram uma mudança sonora. “Disseram que meu jeito de tocar ficou mais intenso, mais emotivo. Espero que sim”, comenta.

Nascido em Torrance, no sul da Califórnia, Carlton ganhou a primeira guitarra aos 6 anos. No colégio, sua admiração pelo jazz de Wes Montgomery e Joe Pass conviveu com o interesse por gêneros musicais que dominavam as rádios na época, como o country, o doo wop e o rock & roll. Outra de suas influências essenciais foi o blues de B.B. King. “Ouvir vários estilos de música desde muito cedo deve ter contribuído para minha versatilidade”, reflete.

Dos primeiros anos de sua carreira, Carlton destaca com carinho a parceria com a banda The Jazz Crusaders, que o convidou a integrar sua nova formação, em 1971. “Não me esqueço do telefonema que recebi para tocar com eles. Eu tinha os discos da banda e os ouvia desde a adolescência. Foi muito excitante entrar no estúdio com eles. Além disso, o álbum 'Crusaders 1' fez muito sucesso. Graças a esse disco muita gente ficou conhecendo meu estilo”, comenta o guitarrista, que gravou 13 álbuns com essa banda.

Curiosamente, na época em que trabalhou como músico de estúdio, Carlton não chegou a conhecer muitos artistas cujos álbuns contaram com sua guitarra, como Michael Jackson ou Sammy Davis Jr. E embora tenha participado de alguns dos álbuns mais cultuados da banda Steely Dan, na década de 1970, só veio a fazer shows com ela poucos anos atrás. Há um motivo técnico para isso: em geral, os músicos gravam as partes instrumentais dos arranjos, separadamente, antes que os cantores gravem as partes vocais.

“Como músico de estúdio, eu não tinha expectativas quanto a fazer shows com aqueles artistas. Por isso não acho estranho não ter tocado com eles”, diz Carlton, enfatizando que isso jamais o frustrou. “Honestamente, nunca passou pela minha cabeça a ideia de me tornar um astro. Eu só queria tocar guitarra como faziam meus heróis do jazz”, afirma o expoente da “jazz fusion” e do “smooth jazz” – estilos de jazz influenciados pela música pop, bastante populares durante as décadas de 1980 e 1990.  


Hoje, ainda fazendo quase cem shows por ano, o veterano músico se define como uma pessoa “bem relaxada”. “Continuo tocando minha guitarra com muita paixão, quando estou num estúdio ou em meus concertos, mas já não toco mais quando estou em casa. Tenho um estilo de vida bem tranquilo. Gosto de dedicar meu tempo livre para ver meus netos crescerem. Ou para simplesmente apreciar a vida”.  

(Entrevista publicada no caderno Eu & Fim de Semana, do jornal "Valor", em 15/07/2016)


New Orleans Jazz & Heritage Festival 2016: Walter Wolfman toca no Brasil em maio

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                                                                         O cantor e guitarrista Walter Wolfman Washington

Um dos artistas que melhor representam a eclética cena musical de Nova Orleans virá ao Brasil em maio. O guitarrista e cantor Walter “Wolfman” Washington, 72, vai se apresentar em São Paulo (dia 19, no clube Bourbon Street), além de ser uma das atrações do Bourbon Festival Paraty (dia 21, no litoral fluminense).

Não foi à toa que, alguns anos atrás, a prefeitura de Nova Orleans instituiu o Dia Walter Wolfman Washington, que é comemorado em 30 de abril. Ele toca há décadas, regularmente, no alternativo Maple Leaf Bar, sempre aplaudido por plateias bem jovens. Em seus shows e discos exibe uma irresistível mistura de blues, funk e soul.

Foi o que se viu e ouviu também na apresentação de Washington, no New Orleans Jazz & Heritage Festival, no último final de semana. Ao lado de outros dois craques com os quais toca habitualmente, o organista Joe Krown e o baterista Russell Batiste, ele excitou a plateia da tenda de blues com seus vocais e improvisos carregados de suingue.

Também fez jus a seu codinome “Wolfman” (homem-lobo). Já quase ao final do show, Washington ergueu a guitarra e a tocou com os dentes, para o delírio dos fãs, como se estivesse destroçando o instrumento.

Em entrevista à Folha, o guitarrista diz que sua facilidade para transitar por vários gêneros da música negra tem tudo a ver com o ambiente de sua cidade natal. Se não tivesse nascido e crescido em Nova Orleans, provavelmente, sua música não seria a mesma.

“Já estive em muitos lugares do mundo e sei que Nova Orleans tem um ambiente, um espírito musical diferente. Aqui os músicos se comunicam de uma maneira mais intensa, até porque quase todos se conhecem”, comenta Washington.

Citando o “rei do blues” B.B. King (1925-2015), como músico que adotou como modelo durante sua formação musical, Washington diz que o blues se confunde com sua própria vida.

“O blues reflete as atribulações que enfrentamos. Para ser um músico de blues, você precisa encontrar uma maneira própria de explicar como se sente frente às dificuldades da vida”, comenta. “Dizem por aí que eu toco rhythm & blues [uma derivação mais pop e dançante desse gênero musical], mas eu me considero, antes de tudo, um músico de blues”.

Washington avisa que trará sua banda, The Roadmasters, que também o acompanhou ao Brasil em 2014, quando se apresentaram no Bourbon Street Fest, em São Paulo. “É sempre muito confortável estar com eles. Já tocamos juntos há mais de 20 anos”, conclui o guitarrista.

(Viagem realizada a convite do New Orleans Convention and Visitors Bureau, da Copa Airlines e do Bourbon Street Music Club. Texto publicado  na "Folha de S.Paulo", em 27.04.2016)

B.B. King (1925-2015): o "rei do blues" tratava sua guitarra como uma mulher

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Desde 2006, quando B.B. King realizou uma turnê mundial de despedida, seus inúmeros fãs pelo mundo já vinham se preparando para a inevitável notícia. Agora é definitivo: o carismático “rei do blues” saiu mesmo de cena.  

“Minhas pernas não estão boas, minhas costas também não, e a cabeça já não é a mesma”, ele lamentou durante o show de despedida no Bourbon Street, em São Paulo, explicando, bem-humorado, porque já só conseguia cantar e tocar sentado. Mesmo assim, seguiu fazendo shows e alegrando os fãs durante mais alguns anos.  


É difícil acreditar que, depois de passar décadas fazendo cerca de 300 apresentações por ano, King ainda continuasse nos palcos por dinheiro. Raros músicos demonstravam tanto prazer em exercer seu ofício, como ele. Sua satisfação ao entreter as plateias era mais que evidente.

Nascido em uma humilde cabana, no delta do rio Mississippi, King desautorizou os especialistas que apontam uma mútua influência entre os blueseiros dessa mítica região do sul dos EUA. Seus maiores ídolos, Blind Lemon Jefferson e Lonnie Johnson, não eram do Mississippi.

Outro músico que o influenciou muito foi o cantor e guitarrista texano T-Bone Walker, conhecido por seus blues alegres e dançantes. “Meu maior débito musical é com ele. Foi quem me indicou o caminho. Seu som cortava como espada”, declarou a seu biógrafo, o escritor David Ritz.
 

As guitarras de King, todas batizadas de Lucille, também soavam cortantes. Nos shows, a cada nota do instrumento, especialmente as mais agudas, seu rosto mudava de expressão, como se a música tomasse conta de seu corpo, possuindo-o.

“Com a exceção de sexo de verdade, com uma mulher de verdade, nada me traz tanta paz de espírito quanto Lucille”, revelou King, em sua autobiografia. “Gosto de ver minha guitarra como uma mulher”.

Em 2006, quando perguntei a ele como gostaria de ser lembrado no futuro, o humilde “rei do blues” demonstrou mais uma vez sua costumeira simplicidade: “Honestamente, gostaria que pensassem em mim como um amigo, alguém de quem as pessoas gostam. Só isso”.

(Texto publicado na "Folha de S. Paulo", em 16/05/2015)


Soul & Blues: CDs de Stevie Wonder e Marvin Gaye abrem a nova Coleção Folha

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Stevie Wonder e Marvin Gaye, dois dos maiores intérpretes e compositores da música negra norte-americana, inauguram a Coleção Folha Soul & Blues, que chega às bancas de jornais e livrarias de vários Estados do país, neste final de semana. O formato é o mesmo de outras coleções anteriores que venho editando para a “Folha de S. Paulo” desde 2007: um livreto comenta a vida e a obra do artista em questão, trazendo um CD com algumas de suas gravações mais significativas.  

A série continua nas próximas semanas, com mais 28 grandes artistas da soul music e de diversos estilos do blues: James Brown, Ike & Tina Turner, Jackson Five, Diana Ross & The Supremes, Curtis Mayfield, Otis Redding, Gladys Knight & The Pips, B.B. King, Muddy Waters, Buddy Guy, Howlin’ Wolf, John Lee Hooker, Robert Cray, Robert Johnson e Koko Taylor, entre outros. As gravações pertencem aos catálogos de conceituados selos e gravadoras especializadas nesses gêneros musicais, como a Motown e a Stax (líderes no segmento da soul music), a Chess e a Alligator (expoentes na área do blues).

 
Para realizar essa missão em poucos meses, contei com a colaboração de Roberto Muggiati, Lauro Lisboa Garcia, Helton Ribeiro e Mauro Ferreira, experientes colegas especializados em música, que assinam vários volumes da coleção. Também foi um prazer poder trabalhar mais uma vez com a criativa dupla Erika Tani Azuma e Rodrigo Disperati, responsáveis pelo projeto gráfico e pela diagramação. Desta vez contamos com sangue novo na equipe: Eduardo Kobra, que assina as chamativas capas da coleção.

Esse é um projeto que, de alguma maneira, eu já planejava realizar há bastante tempo. Comecei a ouvir soul music e blues no início da adolescência, ainda na década de 1960, e até hoje aprecio muito esses gêneros musicais. Aliás, aproveito para deixar aqui uma espécie de dedicatória afetiva a um amigo daquela época: José Renato Reis, que despertou minha atenção para as mensagens e inovações sonoras da soul music.


Para comprar a coleção acesse este link: folha.com.br/souleblues 
  

 

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