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eFestival: concurso festeja 20 anos revelando talentos do instrumental e da canção brasileira

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                                                                                  A banda instrumental paulista Silibrina  

 Uma dica especial para instrumentistas e cantores ou mesmo estudantes de música de todo o território brasileiro: já estão abertas as inscrições para mais uma edição do eFestival. Pioneiro na utilização da internet, esse concurso musical vem desempenhando há duas décadas a necessária missão de revelar e apoiar talentos da música brasileira.

Assim como o cantor paulista Lula Barbosa ou o duo vocal mineiro Renato Motha e Patrícia Lobato, jovens instrumentistas de diversos estados do país, como o contrabaixista gaúcho Guto Wirtti, a violinista carioca Carol Panesi, o trompetista paulista Sidmar Vieira ou a banda Silibrina (liderada pelo tecladista pernambucano Gabriel Nóbrega) já brilharam como finalistas do eFestival.

Como em edições anteriores, a seleção dos finalistas será realizada por uma equipe de curadoria musical. Já os vencedores do concurso serão definidos por meio de votação popular. As inscrições podem ser feitas até 30 de junho, no site oficial do evento: www.efestival.com.br, onde os candidatos encontram informações detalhadas sobre o concurso, como o regulamento e um tutorial passo-a-passo para fazer sua inscrição.

Uma novidade desta edição é que o concurso será dividido em duas categorias musicais: Instrumental e Canção. Depois de escolher uma delas, os candidatos devem optar por uma entre três subcategorias: Público Geral, Profissionais da Saúde ou Corretores de Seguros.

A comissão curatorial vai escolher 10 finalistas em cada subcategoria – a lista será divulgada em 29 de julho. Durante o mês de agosto se dará a votação popular. Além de receber prêmios em dinheiro, os vencedores ganharão também o direito de dividir palcos com artistas de destaque na cena musical brasileira – obviamente, quando já não houver mais restrições à realização de shows.

Idealizado e produzido pela Dançar Marketing, o eFestival conta com patrocinadores e apoiadores como as empresas SulAmérica, Uninassau e Chilli Beans, além de parceria com o Ministério do Turismo, através da Secretaria Especial da Cultura, e do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.

Pela primeira vez, vou ter o prazer de dividir a curadoria musical desse evento com o maestro, pianista e arranjador Ruriá Duprat – músico que admiro há décadas e que já exerceu essa função em edições anteriores do eFestival.

Neste ano em que a pandemia nos força mais uma vez a proteger nossa saúde e a de nossos familiares por meio do distanciamento social, o eFestival oferece aos músicos de talento a oportunidade de exibir suas composições e performances a um público mais amplo. E, graças à internet, de maneira segura.

Mais informações no site oficial do eFestival

Duduka da Fonseca Trio: tocante homenagem a Dom Salvador, no clube Bourbon Street

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                                                             O baterista Duduka da Fonseca e baixista Guto Wirtti   

A relação entre músicos de diferentes gerações, especialmente no universo do jazz, costuma chamar minha atenção. A admiração que um instrumentista tem por outro mais experiente, que lhe apontou caminhos musicais ou até mesmo o incentivou a se tornar músico profissional, lembra a relação de um discípulo com seu mentor. Quem teve a sorte de conviver com um(a) professor(a) muito especial, que abriu seu horizonte intelectual ou lhe deu o estímulo que faltava para abraçar uma carreira até então inusitada, sabe do que estou falando.

Voltei a pensar nisso durante a apresentação do Duduka da Fonseca Trio, no último domingo (10/11), no clube Bourbon Street, em São Paulo. Grande baterista carioca, radicado em Nova York desde 1975, Duduka aprendeu a tocar acompanhando discos de jazzistas americanos e brasileiros. Por isso, em 1980, quando o pianista e compositor paulista Dom Salvador (pioneiro do samba-jazz, que também já vivia em Nova York) o chamou para substituir o baterista de seu grupo, Duduka, já próximo dos 30 anos, brincou com ele: “Eu toco com você desde os meus 14 anos”. Ali começou uma parceria e uma amizade de quatro décadas, que prossegue até hoje.   


Duduka narra esse episódio no encarte do excelente álbum que gravou em 2018, com 11 composições de Dom Salvador. Nas gravações de “Duduka da Fonseca Trio Plays Dom Salvador” (CD lançado pelo selo Sunnyside), ele já tinha a seu lado o pianista David Feldman (na foto ao lado) e o baixista Guto Wirtti, jovens craques da cena jazzística carioca, que também o acompanharam no Bourbon Street.

Entre várias belezas musicais, os três tocaram “Retrato em Branco e Preto” (de Tom Jobim e Chico Buarque) e “Waiting for Angela” (Toninho Horta), mas a maior parte do repertório do show saiu mesmo do disco dedicado a Dom Salvador: composições como “Gafieira”, “Farjuto” e “Samba do Malandrinho”, que trazem a assinatura rítmica do original pianista de Rio Claro (SP), além da sensível balada “Mariá”, que ele dedicou à sua esposa.

A admiração que Duduka revela ao anunciar as composições de Salvador é inspiradora. Nestes tempos em que o ódio e a violência parecem ter se tornado tão comuns em nosso cotidiano, a homenagem de um músico a outro de uma geração anterior (numa área profissional em que também há muita competição) soa como uma lição de fraternidade e amor. Uma noite especial para quem estava na plateia do Bourbon Street.



4.º POA Jazz: festival gaúcho traz uma prévia de suas atrações musicais a São Paulo

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                                                       O trio argentino Bourbon Sweethearts / Foto de divulgação 

Os paulistas poderão ouvir antes dos gaúchos duas atrações internacionais do próximo POA Jazz Festival. Um dos melhores do gênero no país, esse evento vai oferecer nove shows em sua quarta edição (de 9 a 11 de novembro, no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, em Porto Alegre), além de masterclasses, oficinas musicais e lançamento de livros.

A primeira edição do POA Jazz em São Paulo (no dia 7/11, às 21h, no Bourbon Street Music Club) destaca a apresentação de Rudresh Mahanthappa (na foto abaixo), brilhante saxofonista e compositor de origem indiana radicado nos Estados Unidos, além do jovem trio argentino Bourbon Sweethearts, formado por instrumentistas e vocalistas.

Quem teve a oportunidade de ouvir Mahanthappa ainda como integrante do quarteto do pianista Vijay Iyer – em 2008, no extinto festival Bridgestone Music, em São Paulo – certamente ficou impressionado por seu estilo contemporâneo, calcado em improvisos viscerais. Os críticos da revista norte-americana “Down Beat” o elegeram melhor sax alto do ano, nos períodos 2009-2013 e 2015-2018. 

 
Já as garotas do trio Bourbon Sweethearts fazem música de época. Com uma formação instrumental incomum, Mel Muñiz (violão tenor e ukelele), Agustina Ferro (trombone) e Cecilia Bosso (baixo acústico) recriam o jazz tradicional e o swing das primeiras décadas do século 20, em arranjos inspirados em clássicos conjuntos vocais como as Andrew Sisters e os Mills Brothers.

Entre as outras sete atrações que vão se apresentar em Porto Alegre destacam-se também o quinteto do trompetista argentino Mariano Loiácono e conceituados instrumentistas brasileiros, como o pianista e compositor Gilson Peranzzetta, o baterista Edu Ribeiro e o trio formado pelo gaitista Maurício Einhorn com o violonista Nelson Faria e o baixista Guto Wirtti.

O elenco musical do 4º POA Jazz inclui dois destaques da cena musical gaúcha: o quarteto Marmota Jazz e o quinteto Instrumental Picumã. E ainda o quarteto do pianista paulista Vitor Arantes, vencedor do concurso Novos Talentos do Jazz 2017, cujos integrantes tocam também na Orquestra Jovem Tom Jobim.

Neste ano, o festival homenageia o jornalista e escritor Zuza Homem de Melo, que vai autografar seus livros. Já os músicos Edu Ribeiro, Nelson Faria e Gilson Peranzzetta vão ministrar masterclasses de bateria, improvisação e arranjos, respectivamente.

A curadoria do festival é assinada pelo músico e produtor Carlos Badia, com assessoria do produtor Carlos Branco e do músico Rafael Rhoden. Mais informações no site do evento: www.poajazz.com.br/





 

Marco Pereira: violonista apresenta obra do mestre Dilermando Reis às novas gerações

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                                                                               O violonista e arranjador Marco Pereira  

No ano em que se comemora o centenário de nascimento de Dilermando Reis (1916-1977), esse expoente do violão brasileiro recebe uma homenagem capaz de despertar um novo interesse por sua obra. Com a técnica primorosa e a eclética bagagem musical que o credenciam como um dos maiores violonistas brasileiros, Marco Pereira interpreta composições desse mestre do violão, em arranjos com sabor mais atual, no álbum “Dois Destinos” – lançamento com o selo de qualidade da gravadora Borandá.

“Pensei em manter a brejeirice, a simplicidade da música do Dilermando, mas imaginando como ele trataria esse repertório se tivesse hoje uns 30 ou 40 anos de idade”, explica o violonista e arranjador paulista, que admite ter uma relação afetiva com a obra desse mestre das cordas. “Quando comecei a tocar violão, as primeiras músicas que eu aprendi a solar eram choros e valsas do Dilermando. Cheguei a ter um repertório grande de composições dele”, relembra.

Só o fato de ter sido um dos raros instrumentistas que se apresentavam com frequência em programas de TV, durante os anos 1950, já demonstra a popularidade de Dilermando Reis – músico que desenvolveu uma carreira de sucesso a partir da década de 1940, gravando discos e tocando em emissoras de rádio. Muita gente ainda pensa que a valsa “Abismo de Rosas” (de Américo “Canhoto” Jacomino) ou o maxixe “Sons de Carrilhões” (de João Pernambuco) –- hoje clássicos da música instrumental brasileira, que Dilermando transformou em grandes sucessos naquela época –- seriam de sua autoria.

“Ele era um músico espontâneo, com muita naturalidade para tratar a matéria musical, que ia ao encontro do gosto popular da época com seus choros e valsas”, analisa Pereira, que chama atenção para um aspecto técnico ao tentar explicar porque o interesse das plateias pelo violão de Dilermando teria diminuído a partir da década de 1960 –- justamente quando esse instrumento passou a ocupar um lugar de grande destaque na cena musical brasileira.

“Com o advento da bossa nova, veio também a moda do violão com cordas de nylon. Quem tocava violão com cordas de aço, como o Dilermando, passou a ser visto como ultrapassado”, observa Pereira, dizendo-se surpreso por não saber da existência de outros tributos musicais vinculados ao centenário de Dilermando. “O último violonista que eu me lembro de ter feito uma homenagem a ele foi o Raphael Rabello. E isso se deu há mais de 20 anos”.    


Violonista comenta suas releituras 
 
Para gravar o álbum “Dois Destinos”, Marco Pereira convidou alguns craques da música instrumental brasileira: parceiros e amigos com os quais já toca há bastante tempo, como o acordeonista Toninho Ferragutti, o flautista Toninho Carrasqueira, os baixistas Neymar Dias e Guto Wirtti, o baterista Sergio Reze e o percussionista Amoy Ribas, além dos clarinetistas Luca Raele e Diogo Maia.

“Decidi escrever arranjos para evidenciar o aspecto mais camerístico que existe na obra do Dilermando”, explica o violonista, que trabalhou nesse projeto com diversas formações instrumentais: de um inusitado duo de violão e clarone (na valsa “Dois Destinos”) a um septeto (no choro “Caxinguelê”). Só mesmo as valsas “Se Ela Perguntar” e “Flor de Aguapé” aparecem em formato de violão solo.

A releitura de “Se Ela Perguntar”, primeira faixa do álbum, já demonstra o cuidado de Pereira ao tratar as composições de Dilermando [retratado na foto abaixo]. Nesse arranjo, além de alterar a tonalidade original (mi menor) para ré menor, utilizou um truque na afinação do violão que amplia a sonoridade do instrumento.   


“Assim as notas e os acordes se prolongam mais”, explica o violonista, que também fez pequenas mudanças na harmonia para ressaltar o tom melancólico dessa valsa. “Existe uma certa simplicidade na música do Dilermando, que favorece releituras. Isso dá a você muitas opções. Se fizer com critério, sem invencionices, vai ficar bom”.   

O batuque “Xodó da Bahiana” ganhou uma versão bem-humorada. O fato de Dilermando ter praticamente decalcado o maxixe “Corta-Jaca”, de Chiquinha Gonzaga, incentivou Pereira a brincar com outras melodias nessa releitura. “Dilermando gostava de fazer empréstimos de outros compositores”, comenta o violonista, que bem ao estilo dos jazzistas se diverte citando em seus improvisos trechos de “Night in Tunisia” (clássico do trompetista norte-americano Dizzy Gillespie) e “Segure o Tchan” (sucesso do grupo baiano Gera Samba). 

 A brincadeira já começa na introdução”, aponta o violonista, ressaltando que utilizou nessa gravação a percussiva técnica do slap (ou “slapping”, que consiste em golpear as cordas do instrumento com a lateral do dedo polegar), mais comum entre instrumentistas que tocam baixo elétrico.

Falando em maxixe, o choro “Gente Boa” aparece em arranjo para trio (com violão, baixolão e percussão), num ritmo bem amaxixado. “Tive que me basear na partitura porque eu não conhecia uma gravação do Dilermando. Acho que essa música ficou quase minimalista, bem gostosa assim”, avalia Pereira, que nas releituras de outros choros, como “Caxinguelê”, “Tempo de Criança” ou “Feitico”, acabou se aproximando do ritmo do samba.

Um dos choros mais populares de Dilermando, “Magoado” ressurge em moderno arranjo de Pereira, com um tratamento rítmico e passagens improvisadas que remetem à linguagem do jazz. “Nos arranjos, sempre procurei manter a exposição dos temas, sem afetações, mas não teria sentido hoje em dia tocar um chorinho como ele foi pensado originalmente”, justifica.

Outro exemplo marcante de como Pereira soube atualizar as composições de Dilermando sem desvirtua-las está no saboroso arranjo de “Dr. Sabe-Tudo”. “Esse é um choro que já foi muito tocado. Tive a ideia de passar por cinco tonalidades diferentes, o que dá a graça desse arranjo. Como achei que ficaria interessante com acordeão, pensei logo em chamar meu parceiro Toninho Ferragutti, um verdadeiro virtuose desse instrumento”, relembra o violonista.

“Defendo há muito tempo a tese de que temos uma grande escola de violão no Brasil. Até hoje você tem violonistas da nova geração fazendo coisas incríveis por aí”, comenta Pereira. “É importante que a gente ressalte o valor de figuras musicais como o Dilermando ou o Garoto, que fizeram parte dessa história”.

Mais que uma homenagem a um mestre do violão já não tão lembrado hoje, o álbum “Dois Destinos” demonstra que, além do grande instrumentista que conhecemos, Marco Pereira é um músico completo. Graças às suas elegantes releituras, novas gerações de ouvintes vão poder descobrir mais facilmente os encantos da obra de Dilermando Reis.


(Texto escrito a convite da gravadora Borandá, por ocasião do lançamento do álbum "Dois Destinos")




 

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