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Bossa 60: Fernanda Takai interpreta Tom Jobim com leveza, em projeto do Sesc

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                                             Fernanda Takai, em show do projeto "Bossa 60", no Sesc 24 de Maio 

Era fácil notar diferentes gerações na plateia dos dois shows de Fernanda Takai, ontem, em São Paulo. Naturalmente, uma grande parte era composta por fãs que a acompanham há quase duas décadas como vocalista da banda pop Pato Fu, mas também havia gente curiosa por ouvi-la cantar bossa nova. A cantora foi uma das atrações do projeto “Bossa 60”, que prossegue até 3/2, no Sesc 24 de Maio.

O show “O Tom da Takai” empresta o título do álbum que ela lançou em meados de 2018, com repertório extraído do cancioneiro do grande Tom Jobim (1927-1994), que ontem teria comemorado 92 anos. Nessas gravações, Fernanda contou com o apoio essencial de outros dois mestres da bossa nova: Roberto Menescal e Marcos Valle, que dividiram a produção e os saborosos arranjos do álbum.

Vale notar que Fernanda teve o cuidado de esperar uma década para amadurecer a ideia de gravar um álbum que a aproximou de vez do universo da bossa. Já em sua primeira incursão pela MPB (o álbum “Onde Brilhem os Olhos Seus”, com releituras de canções do repertório de Nara Leão, lançado em 2007), ela havia demonstrado a consciência de que não faria sentido gravar aquelas canções como Nara fizera.

Fernanda abre seu novo show com a contagiante beleza da canção “Bonita” (de Jobim, Gene Lees e Ray Gilbert), exatamente como fez no álbum. Bem à vontade, a cantora interpreta com leveza e simpatia tanto canções da fase pré-bossa de Jobim, caso do samba “Outra Vez” e do samba-choro “Ai Quem Me Dera” (parceria com Marino Pinto), assim como as clássicas bossas “Brigas Nunca Mais” (parceria com Vinicius de Moraes) e – já no bis – “Samba de Verão” (de Marcos e Paulo Sergio Valle) e “O Barquinho” (de Menescal e Ronaldo Bôscoli).

Mesmo sob o risco de comprometer a atmosfera do espetáculo, Fernanda fez questão de comentar com a plateia do segundo show a dramática notícia do rompimento da barragem em Brumadinho (MG) -- região onde chegou a gravar um DVD, em 2017. Mas a beleza das canções de Jobim e a leveza dos arranjos e das interpretações da cantora conseguiram fazer com que a plateia se esquecesse, ao menos por uma hora, de mais essa indesculpável tragédia em nosso país. 

Bossa 60: projeto do Sesc homenageia o estilo musical que conquistou o mundo

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                                                                O violonista Roberto Menescal e a cantora Wanda Sá 

Aos 60 anos, ela ainda não perdeu seu espírito juvenil e poético, muito menos a elegância musical que continua a seduzir fãs de várias gerações. Moderna maneira de interpretar o velho samba que conquistou o mundo, a bossa nova será homenageada em vários eventos do “Bossa 60” – projeto idealizado e produzido pelo Sesc 24 de Maio, em São Paulo.

A programação começa com o reencontro de três astros da bossa, nos dias 23 e 24/1. A cantora Wanda Sá, uma das mais conceituadas intérpretes desse estilo musical, reencontra o violonista Roberto Menescal e o tecladista Marcos Valle – dois dos maiores compositores dessa vertente. Nesse show, eles relembram clássicos da bossa, além de sucessos assinados por Menescal e Valle.

Conhecida desde a década de 1990 como vocalista da banda de rock Pato Fu, Fernanda Takai tem demonstrado sua intimidade com a bossa e a MPB, nos últimos anos. Depois do tributo que rendeu à cantora e musa da bossa Nara Leão, agora ela dedica um show inteiro à obra de Tom Jobim (1927-2004), interpretando canções da fase inicial do grande compositor e maestro da bossa, no dia 25/1 (em dois horários).

O cancioneiro de Tom Jobim também serve de ponto de partida para os shows do violonista e arranjador Dante Ozzetti, que aceitou o convite da equipe de programação do Sesc 24 de Maio para participar da série “Tirando de Letra”, nos dias 26 e 27/1. Ele encara o desafio de interpretar conhecidas canções de Jobim, em arranjos instrumentais que enfatizam contrapontos, texturas sonoras e timbres incomuns. Ao lado de Ozzetti estarão craques da música instrumental, como Nivaldo Ornelas (sax), Gabriel Grossi (gaita) e Mestrinho (acordeom), entre outros.

Amigas desde a década de 1960, quando se tornaram embaixadoras da bossa nova na noite paulistana, as cantoras Claudette Soares e Alaíde Costa se reencontram em dois shows, nos dias 30 e 31/1. No repertório, entram alguns dos sucessos mais solares da bossa, como “O Barquinho” (de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli) e “Ela É Carioca” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), além de canções mais românticas, como “Ilusão à Toa” (Johnny Alf) e “Morrer de Amor” (de Oscar Castro-Neves e Luvercy Fiorini).

A série de shows do projeto “Bossa 60” termina com o reencontro do saxofonista americano Paul Winter com o violonista e compositor carioca Carlos Lyra, dias 1º, 2 e 3/2. Os dois revisitam o repertório do álbum “The Sound of Ipanema”, que gravaram juntos em 1964, época em que a bossa nova explodiu internacionalmente. Uma histórica parceria que, por sinal, confirma o fato de que a influência inicial do jazz sobre a bossa se tornou recíproca.

Num projeto como esse também não poderia faltar João Gilberto, o hoje recluso cantor e compositor, que sintetizou a essência da bossa nova na batida de seu violão e no seu jeito natural de cantar. Depoimentos de artistas que conviveram com ele, como a cantora Miúcha, o pianista João Donato e os compositores Marcos Valle e Roberto Menescal, estão entre os momentos mais saborosos de “Onde Está Você, João Gilberto?”, filme do franco-suíço Georges Gachot, que já realizou elogiados documentários sobre Maria Bethânia e Nana Caymmi. Exibições nos dias 30/1, 31/1 e 3/2.

Venda de ingressos e outras informações no site do Sesc SP

Joyce Moreno: compositora e cantora recria sua estreia fonográfica no álbum "50"

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Joyce Moreno pôs em prática uma ideia inusitada. Para comemorar seus 50 anos de carreira, a cantora e violonista decidiu recriar todo o repertório de “Joyce”, seu disco de estreia, gravado no lendário ano de 1968. O resultado desse projeto está no álbum “50” -- lançado em São Paulo, no último final de semana, com shows no Sesc Belenzinho.

O primeiro disco de Joyce já trazia composições próprias, como o irreverente samba “Não Muda Não” e a polêmica canção “Me Disseram” (cuja letra causou celeuma, na época, por utilizar o termo “meu homem”). O repertório incluía também composições de Paulinho da Viola (“Ansiedade”), Marcos Valle e Ruy Guerra (“Bloco do Eu Sozinho”), entre outros jovens colegas de geração da cantora.

Agora Joyce acrescenta àquelas 11 canções a bela “Com o Tempo” (recente parceria com Zélia Duncan), que surge logo ao início do show como um poético flashback. “Com o tempo /Fui ficando mais moça /Mais olhos, menos onça /Mais tempo, menos hora /Fui ficando mais agora /Menos por aí o desejo”, refletem os versos de Zélia.

Formada numa época em que canções também eram usadas para se questionar injustiças e desigualdades, Joyce tem incluído no roteiro de seus shows o samba-afro “Canto de Iansã" (de Ildásio Tavares e Baden Powell). Com ele faz um oportuno desagravo à cultura e às religiões afro-brasileiras, que têm sofrido ataques do atual dublê de pastor e prefeito do Rio e de seus seguidores.

Joyce também não perde a chance de relembrar que sua canção “Superego” foi alvo de preconceito, em 1968. Um crítico-dinossauro chegou a escrever que se tratava de uma “grande música”, mas achava difícil acreditar que ela tivesse sido composta por uma mulher.

Ver e ouvir Joyce, no palco, é uma experiência inspiradora. Além do evidente prazer que exibe ao cantar e tocar seu violão, ela faz questão de apresentar e contextualizar quase todas as canções do show, estabelecendo assim um contato mais direto e enriquecedor com a plateia.

Depois de se ouvir o delicioso samba-jazz “Mingus, Miles & Coltrane”, outra composição da cantora que também faz parte do show, é fácil entender os frequentes sorrisos de Tutty Moreno (bateria), Rodolfo Stroeter (baixo) e Tiago Costa (piano), craques que costumam acompanha-la nos palcos e gravações. Que instrumentista não adoraria tocar com uma “cantautora” tão musical, sensível, bem-humorada e ainda fã do jazz como Joyce?




Quatuor Ébène: quarteto de cordas francês se une a dois 'brasilianistas'

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Nos meios da música clássica, um projeto como este é chamado de “crossover”, por misturar repertório e intérpretes originários de diferentes gêneros musicais. Em seu álbum “Brazil” (lançamento Erato/Warner), o talentoso quarteto de cordas francês Quatuor Ébène se une a dois “brasilianistas”: a cantora e jazzista norte-americana Stacey Kent e o cantor e compositor francês Bernard Lavilliers. 

Para quem já aprecia as incursões da doce Stacey pela música brasileira, as versões de “Águas de Março” (Tom Jobim) e “So Nice” (“Samba de Verão”, de Paulo Sérgio e Marcos Valle, que participa dos vocais) podem soar um pouco “déjà-vu”. Não à toa, as faixas do álbum que mais chamam atenção são instrumentais: a bela “Ana Maria” (do jazzista Wayne Shorter), o baião “Bebê” (Hermeto Pascoal) e o dramático “Libertango” (Astor Piazzola), cujas releituras confirmam a inventividade do quarteto. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 29/09/2014) 

Discos: samba-jazz nos CDs do trombonista Jorginho Neto e do quinteto No Olho da Rua

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                                                          O trombonista Jorginho Neto / Foto de divulgação

Talvez nem mesmo os músicos ou os apreciadores que acompanhavam as efervescentes “jam sessions” do Beco das Garrafas, no Rio, no início da década de 1960, imaginaram que o samba-jazz seria tão bem sucedido. Hoje, cinco décadas após sua eclosão, essa variante instrumental da bossa nova não só continua a ser cultivada, como exerce um fascínio especial sobre músicos mais jovens.

Isso é evidente em “Samba-jazz” (independente), o álbum de estreia do trombonista paulista Jorginho Neto. Na frenética “Edinho Sapato Branco” (composição do baixista Marcos Paiva), ele esbanja talento e técnica, em um improviso de tirar o fôlego. A envolvente “Pica Pau” (Rubinho Antunes) tem sabor de gafieira. Já na lenta balada “Lia” (de sua autoria), Jorginho combina lirismo e sensibilidade. Seu álbum justifica os elogios de Raul de Souza, mestre do trombone e do samba-jazz, incluídos no encarte.

Popular entre os frequentadores do calçadão da praia de Ipanema, onde costuma se apresentar aos domingos, o quinteto No Olho da Rua gravou, em seu álbum “Samba-jazz 40º” (selo Rob Digital), repertório selecionado pelo “expert” Ruy Castro, que destaca “Os Grilos” (de Marcos & Paulo Sérgio Valle), “Quintessência” (J.T. Meirelles) e “Eu e a Brisa” (Johnny Alf). Pena que nem todos os instrumentistas do quinteto demonstram ter recursos musicais suficientes para interpretar esses clássicos do samba-jazz e da bossa como eles mereceriam.


(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 31/5/2014)
 

Leila Pinheiro e Nelson Faria: cantora e guitarrista em atmosfera intimista

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Uma das pérolas musicais de Johnny Alf (1929-2010), a bossa “Céu e Mar” empresta seu título a este elegante encontro da cantora Leila Pinheiro com o guitarrista Nelson Faria. Lançado pelo selo inglês Far Out Recordings, em 2012, o álbum chega só agora ao mercado brasileiro por meio da gravadora Biscoito Fino.

Duos de voz e guitarra que já se tornaram clássicos no universo do jazz, como o de Ella Fitzgerald & Joe Pass, inspiraram o projeto. Mesmo que o repertório do álbum seja essencialmente brasileiro, Leila e Faria assumem a influência jazzística, na descontraída versão de “That Old Devil Called Love”, do repertório de Billie Holiday.


A temática da separação amorosa está presente em quase todas as canções, assinadas por Tom Jobim, Chico Buarque, Guinga, Marcos Valle, Djavan e outros craques da MPB. A atmosfera intimista e os arranjos sintéticos permitem ao ouvinte mergulhar com mais intensidade nas imagens dos versos. Um disco que ilustra bem a máxima “menos é mais”. 

(resenha publicada originalmente no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 27/7/2013)

 

 

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