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Choraço 2023: Freedom Big Band resgata os arranjos dançantes da Orquestra Tabajara

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Caetano Brasil e Teco Cardoso (da esq. para a dir.) aplaudem o regente Paulo Serau

Festival dedicado ao choro que reúne uma extensa programação de shows e atividades didáticas até dia 7/5 (nos espaços do Sesc 24 de Maio, na área central de São Paulo), o projeto Choraço ofereceu um saboroso programa musical na noite de ontem (sábado, 22/4).

Quem assistiu à contagiante apresentação da Freedom Big Band se sentiu transportado para meados do século 20. Naquela época, as noites dançantes nas populares gafieiras eram animadas por big bands. Uma das mais famosas era a Orquestra Tabajara, comandada pelo clarinetista e compositor pernambucano Severino Araújo.

Apreciador dos choros e dos arranjos de Severino, o violonista e regente Paulo Serau colocou em prática uma boa ideia: transcreveu os arranjos do álbum “12 Chorinhos de Severino Araújo”, que a Tabajara lançou em 1960. Como a formação da Freedom Big Band é um pouco maior que a da orquestra carioca, Serau precisou adaptar os arranjos originais, que soam muito bem no palco. 

Para completar a magia desse show, a big band paulista contou com dois talentosos solistas: o saxofonista paulista Teco Cardoso, que há décadas integra o grupo Pau Brasil; e o clarinetista Caetano Brasil, mineiro de Juiz de Fora, que já havia chamado atenção no grupo de Thiago Delegado, na edição do ano passado. 

A Freedom Big Band volta a tocar hoje (23/4) o mesmo repertório, às 18h, com regência de Paulo Serau e as participações especiais de Teco Cardoso e Caetano Brasil. No repertório, grandes choros de Severino Araújo, como “Espinha de Bacalhau”, “Um Chorinho em Aldeia” e “Um Chorinho Pra você”. Às 15h30 deste domingo ainda havia alguns ingressos disponíveis.

Este é o link para o site do Sesc SP, onde você pode consultar a programação do Choraço e adquirir ingressos para os shows do projeto:

Sesc Jazz 2021: quinteto Pau Brasil festeja 40 anos, enfim, ao vivo

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                                                                          O quinteto Pau Brasil, em show no festival Sesc Jazz
                                      

A plateia foi chegando aos poucos, meio ressabiada. Em outras épocas, uma apresentação do brilhante quinteto Pau Brasil certamente teria lotado o teatro do Sesc Vila Mariana, provocando até uma descontraída balbúrdia, antes da abertura da sala. Ontem à noite, um sábado, o saguão de espera estava vazio. Outros como eu, que passaram cerca de 20 meses distantes dos shows ao vivo, por causa das necessárias restrições de enfrentamento da pandemia, também devem ter achado esse retorno um tanto estranho.

Já no teatro, um pouco mais de 50% das poltronas estavam cobertas por capas, indicando que as pessoas só poderiam se sentar nos lugares pré-determinados. Além dessa medida para garantir o necessário distanciamento social, vale lembrar, ao entrar na unidade do Sesc todos tiveram que mostrar seus certificados de vacinação contra a Covid-19 e estavam usando máscaras de proteção.

“Gente, que saudade disso tudo”, disparou o saxofonista Teco Cardoso, quebrando de vez o gelo, logo após uma fusão do samba-canção “No Rancho Fundo” (de Lamartine Babo e Ary Barroso) com a clássica “Ária da Bachiana n.º 4”, de Heitor Villa-Lobos. Foi com essa inusitada associação musical que Teco, o pianista Nelson Ayres, o baixista Rodolfo Stroeter, o violonista Paulo Bellinati e o baterista Ricardo Mosca -- evidentemente emocionados -- abriram o show, incluído na programação do festival Sesc Jazz.

“Tocar para celular é horrível. E assistir ‘live’ de pijama, em casa, vocês também não aguentavam mais, não é?”, seguiu Teco, provocando mais risos. E ao comentar que o quinteto está comemorando 40 anos de atividade musical, o bem-humorado saxofonista fez até seus parceiros rirem de si mesmos. “Depois da pandemia tomamos uma decisão muito sábia. A gente não tem mais produtora, agora temos cuidadora”.

Pronto! Após uma explosão geral de risadas, já estávamos mais à vontade para nos deliciarmos com uma combinação de clássicos e belezas do repertório que o grupo acumulou durante essas quatro décadas, como o contagiante “Caixote” (xote de Ayres), a criativa releitura jazzística de “O Pulo do Gato” (composição de Bellinati) ou a lírica “Cidade Encantada” (de Nelson e Milton Nascimento).

E a festa musical não parou por aí. Também entrou no repertório material mais recente que o quinteto paulistano já tinha experimentado em alguns shows. Além do samba “Levada da Breca” (parceria de Rodolfo com seu filho baixista Noa Stroeter), o baião “Juazeiro” (de Luiz Gonzaga) ganhou como introdução a delicada “Aboio” (outra de Rodolfo e Noa), com Teco ao sax alto e ao pífano.

Que bela noite para se comemorar o tão esperado retorno dos shows ao vivo, em São Paulo. Salve o Pau Brasil! Salve o Sesc Jazz!

Esse show foi gravado e está disponível online neste link:
https://www.youtube.com/watch?v=14arLXs65DE&t=4497s





Série Música Contemporânea: CPFL exibe talentos da música instrumental em SP

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                                           O contrabaixista e compositor Marcos Paiva / Foto: Mauricio Landini

Quem acompanha de perto a cena musical de nosso país já sabe que o segmento da música instrumental brasileira vive uma grande fase. Foi logo o que pensei ao receber o convite de João Marcos Coelho (jornalista e crítico musical cujo trabalho eu admiro há décadas), para realizar uma curadoria dentro do projeto Música Contemporânea, que ele conduz há 14 anos, com o editor de conteúdo Ricardo Feldman, no Instituto CPFL, em Campinas (SP).

A série de concertos, em quatro sábados de outubro e novembro, começa no dia 7/10, com a apresentação do quarteto do contrabaixista e compositor Marcos Paiva. A seguir, textos que escrevi para apresentar os músicos selecionados para essa série. 



Improvisos e influências: a música instrumental
brasileira em grande fase

Diferentemente da cena da canção popular brasileira, que durante a última década tem se mostrado (com raras exceções) pouco inspiradora, a música instrumental criada em nosso país não só se renovou como vive neste século um período de produção intensa, diversificada e de alta qualidade.

Há quem prefira chama-la de jazz brasileiro, já que se trata de uma vertente musical que utiliza com frequência o recurso inventivo da improvisação. Aliás, a influência do jazz tem se manifestado em nossa música instrumental, em maior ou menor medida, desde as primeiras décadas do século 20: de sambas e choros do pioneiro mestre Pixinguinha (1897-1973) à hoje cultuada obra do maestro e compositor Moacir Santos (1926-2006), que se radicou nos Estados Unidos.

Assim como nossa música instrumental desenvolve há décadas diálogos com o choro, com o samba e a bossa nova, sem falar nos ritmos regionais brasileiros, entre suas influências também está a da música erudita, tanto a clássica como a contemporânea. Essa profusão de referências caracteriza os quatro concertos desta série, que destaca alguns dos mais talentosos músicos e grupos da cena atual da música instrumental brasileira.

Programação   

7/10 – Marcos Paiva Quarteto 
O trio do contrabaixista e compositor paulista chamou atenção em 2015 com o álbum “Choroso”, no qual abordou o choro com a linguagem do jazz moderno. Agora, à frente de um quarteto, Paiva esboça novas releituras desse gênero instrumental brasileiro, incluindo composições inspiradas na obra de Irineu Batina (1863-1914), professor de Pixinguinha. “Reler o passado com os olhos do presente” é o slogan de Paiva.

21/10 – Projeto B
Com quatro discos lançados, o quinteto paulista tem construído um repertório que mistura música erudita contemporânea, música instrumental brasileira e jazz de vanguarda, com muita improvisação. Sua fonte de inspiração é o conturbado ambiente das megalópoles, onde a diversidade cultural convive com o caos urbano. “Não existe uma linha divisória entre a música erudita e a popular”, afirma o guitarrista Yvo Ursini.

11/11 – Teco Cardoso e Tiago Costa
“Erudito popular... e vice-versa”, o título do álbum que o pianista Tiago Costa e o saxofonista e flautista Teco Cardoso lançaram em 2016, é revelador. Com um repertório eclético, que combina composições próprias e pérolas de Moacir Santos, Ernesto Nazareth e John Williams, o duo idealiza uma ponte entre o erudito e o popular – segundo Cardoso, sem assumir “grandes compromissos com as regras de nenhum dos mundos que ela une”.

25/11 – André Mehmari

O pianista e compositor radicado em São Paulo já apontou a preguiça dos que insistem em separar os universos da música clássica e da música popular. “Eles preferem que esses mundos sejam estanques”, comenta Mehmari, cujas composições já foram interpretadas por algumas das principais orquestras e grupos de câmara do país. Como solista internacional, ele tem frequentado conceituados festivais de jazz e salas de concerto.

Mais informações no site da CPFL

Swami Jr, Teco Cardoso e Bebê Kramer: trio inédito se apresenta no Sesc Pompeia

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                                                             Swami Jr, Teco Cardoso e Bebê Kramer / Fotos de divulgação 

Meses atrás, ao ser convidado pelo Sesc Pompeia a participar da série Encontros Instrumentais, o violonista e produtor paulistano Swami Jr. pensou que essa era uma oportunidade pela qual esperava há tempos. Finalmente, poderia se apresentar com dois músicos que admira: o acordeonista Bebê Kramer e o flautista e saxofonista Teco Cardoso.

“Conheço o Teco há uns 30 anos. Vivemos em São Paulo e temos quase a mesma idade, mas ainda não tínhamos tocado juntos”, comenta Swami, referindo-se ao conceituado instrumentista e arranjador, integrante dos grupos Pau Brasil e Vento em Madeira. O convite foi estendido ao gaúcho Bebê, músico e compositor que tem se destacado na cena instrumental, em parcerias com Yamandu Costa, Gabriel Grossi e Arismar do Espírito Santo, entre outros.

Assim que as agendas permitiram a definição das apresentações do inédito trio, por ironia do destino, Swami e Bebê se encontraram no Sesc Pompeia (em setembro). A convite do violonista Marco Pereira, eles participaram do show de lançamento do álbum “Dois Destinos”.

“Esse não valeu porque só tocamos duas músicas juntos”, diz Swami, argumentando que o casual encontro não diminuiu a vontade de tocar com esse trio de formação rara (violão de sete cordas, acordeom e flauta ou saxofone). “Teco e Bebê têm em comum esse traço universal. Eles são muito brasileiros, mas fazem esse diálogo com outros mundos musicais, algo que eu tento fazer também”, comenta o violonista e baixista, que também já trabalhou com cantores de alto quilate, como Omara Portuondo, Luciana Souza e Chico César.

Para Teco, esse encontro oferece um irresistível desafio: a chance de os três saírem de suas zonas de conforto. “Por mais que eu já tenha gravado ou tocado uma composição minha, vou ter que achar outra maneira diferente de tocá-la. Nunca toquei flauta com acordeom e violão de sete cordas antes”, explica.

Referindo-se à afinidade que tem com Swami, Teco acha que as concepções musicais de ambos refletem o caráter cosmopolita da capital paulista. “Pelo fato de São Paulo não cultivar um gênero predominante, como Recife tem o frevo ou o Rio está comprometido com o choro ou o samba, temos um olhar mais democrático. Aqui eu posso colocar uma salsa no meio de um maracatu e ninguém vai pegar no meu pé”.

Por outro lado, nem o fato de Bebê ter nascido na interiorana cidade de Vacaria (RS), nem o de pertencer a uma geração mais jovem, o impedem de se identificar com Swami e Teco. “Acho que a minha cabeça é parecida com a deles. Ouço muita música erudita, muito jazz, muito folclore de todos os lugares do mundo. Se a música é tão grande, por que eu deveria tocar uma coisa só?”, questiona o acordeonista gaúcho.

Entre as composições próprias que os três selecionaram para as duas noites estão o choro “Virou Fumaça” (de Swami), o chamamé “Xamã” (de Bebê) e o maracatu “Theozim na Flauta”, que Teco compôs especialmente para esse encontro. Com tantas afinidades e talentos, como não pensar que esse trio tem um promissor futuro à sua frente? 


(Texto para o programa do show, escrito a convite da equipe de programação do Sesc Pompeia)

Nailor Proveta: três álbuns preciosos de um virtuose da música instrumental brasileira

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O apelido Proveta, que virou nome artístico, surgiu durante a adolescência de Nailor Azevedo, nos anos 1970. O então precoce clarinetista e saxofonista, paulista da interiorana Leme, era chamado de “bebê de proveta” pelos colegas da capital, que já o consideravam um prodígio.

Diferentemente de tantos jovens talentos que se perdem pelo caminho, Proveta superou as melhores expectativas. Muito requisitado nos meios da música instrumental e da MPB, tornou-se compositor, arranjador e líder da conceituada Banda Mantiqueira. Eclético, também transita com facilidade pelo jazz e pela música clássica.

Quem conhece seu belíssimo álbum “Tocando para o Interior”, de 2007, vai logo notar que, em “Coreto no Leme” (lançamento independente), ele rebobina novamente imagens e sons de sua infância, resgatando a atmosfera dos coretos interioranos.

A sonoridade do Quarteto de Cordas Ensemble SP, presente na maioria das faixas desse disco, é essencial para traduzir a eclética concepção musical que Proveta exercita há décadas, em sua carreira. Para ele, a plenitude da música só pode ser apreciada quando se supera a limitadora divisão em gêneros, que separa o clássico do popular.


O repertório, quase todo composto pelo clarinetista, soa como uma coleção de emoções e sentimentos: a alegria da “Polca de Coreto”; a nostalgia do choro-habanera “De Manhã, Lembranças”; o romantismo da valsa “Ypê do Cerrado” (composição de Edson José Alves); a admiração revelada pela “Suíte Encontros”, na qual o clarinetista dialoga com as influências de Debussy, Pixinguinha, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, entre outras.

A concisa discografia solo de Proveta acaba de ganhar mais dois títulos. O álbum “Velhos Companheiros de K-Ximbinho” (lançamento Maritaca) exibe inovadoras releituras de composições do cultuado clarinetista e saxofonista potiguar Sebastião “K-Ximbinho” de Barros (1917-1980). 


Contando com participações de alguns craques da cena instrumental, com destaque para os flautistas Teco Cardoso (que assina a direção musical) e Lea Freire (responsável pela produção), esse trabalho deixa Proveta à vontade para exibir todo seu virtuosismo como solista. 

Choros com contagiante sabor de gafieira, como “Velhos Companheiros” e “Sempre”, chamam atenção no repertório desse álbum, mas é em choros mais emotivos, de andamento lento, que Proveta se supera nos improvisos. Tratadas como baladas jazzísticas, as releituras de “Eu Quero É Sossego” e “Ternura” são simplesmente de arrepiar. 


em “Brasileiro Saxofone - vol 2” (lançamento Acari), Proveta leva adiante a proposta do álbum lançado em 2009, no qual esboçou a trajetória do sax na música brasileira do século 20. Desta vez o repertório é mais contemporâneo ainda: o próprio Proveta e o saxofonista Pedro Paes – autor do belo choro “Mensageiro”, que abre o disco – compuseram a maioria das faixas. 
 
Num projeto como este, dedicado ao saxofone, a trilogia composta por Proveta com o violonista Mauricio Carrilho, seu frequente parceiro, ganha um significado especial. Os choros “Meu Sax Sumiu”, “Meu Sax Voltou” e “Meu Sax Sorriu” nasceram a partir do verídico episódio do roubo e do resgate do instrumento favorito de Proveta. Um incidente triste que gerou choros radiantes.


(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes, edição de 30/4/2016)


Pau Brasil: quinteto paulista aprimora sua utopia musical no álbum "Daqui"

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                                      Teco, Nelson, Ricardo, Paulo e Rodolfo, do Pau Brasil / Foto: Gal Oppido

Ainda há quem consiga imaginar um país inspirador, com sua população vivendo em harmonia, na maior liberdade. Contrastes, só mesmo nos domínios da música, tão rica em sotaques regionais. “Esse Brasil ainda não existe, mas a gente quer que ele exista”, diz Rodolfo Stroeter, baixista do grupo instrumental Pau Brasil, um dos mais longevos na história da música brasileira.

Em “Daqui” (lançamento do selo Pau Brasil), seu 11º álbum, o quinteto paulista continua a perseguir sua utopia, aprimorando a receita que já utilizou em trabalhos anteriores. No repertório, combina composições próprias com releituras de clássicos da música brasileira – dos populares Ary Barroso (“No Rancho Fundo”) e Tom Jobim (“Saudade do Brasil”) ao supostamente erudito Villa-Lobos (“Bachianas Brasileiras nº 1”).

Depois de assumir diversas formações, o Pau Brasil já conta há uma década com os mesmos músicos: o pianista Nelson Ayres e Stroeter, que fundaram o grupo em 1979; o violonista Paulo Bellinati, que entrou dois anos depois; o saxofonista Teco Cardoso, convocado em 1986; e, finalmente, o baterista Ricardo Mosca, que chegou em 2005.

Décadas de parceria e convivência fazem diferença. Isso é evidente na versão de “Agora Eu Sei”, deliciosa marcha-rancho de Moacir Santos, na qual o quinteto imprime sua personalidade – desde a maneira descontraída de Bellinati e Stroeter dedilharem suas cordas, ao introduzirem a melodia, até a liberdade organizada dos improvisos.

O virtuosismo dos integrantes do Pau Brasil não impede que a música do grupo soe leve e, quase sempre, bem humorada, mesmo quando improvisam sobre encrencadas harmonias ou misturam influências. Como em “Caixote” (de Ayres), um descontraído xote cujo sotaque nordestino ganha uma coloração levemente jazzística. Contagiante também é a alegre brasilidade de “Lá Vem a Tribo”, composição de Stroeter e Bellinati, que encerra o álbum. 


Quem sabe a mencionada utopia possa ganhar mão dupla: se tomasse a música do Pau Brasil como modelo, o Brasil poderia voltar a ser um país invejável.

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", publicado em 26/3/2016)

 

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