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Sérgio Santos: compositor reafirma em show e disco seu talento como intérprete

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                                                   O cantor Sérgio Santos (no centro), em show no Sesc 24 de Maio

No show “São Bonitas as Canções” (ontem, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo), o cantor e compositor Sérgio Santos interpreta um repertório recheado de clássicos de várias épocas da canção brasileira. E tem a seu lado um brilhante quarteto instrumental, formado por André Mehmari (piano), Nailor Proveta (clarinete), Rodolfo Stroeter (baixo acústico) e Tutty Moreno (bateria).

Curiosamente, no meio do show, o compositor mineiro – conhecido na área da MPB por elogiados álbuns autorais, como “Áfrico” (2002), “Iô Sô” (2008) e “Rimanceiro” (2013) – confessa que passou muito tempo resistindo à ideia de gravar um típico “disco de intérprete”. Por isso agradece a Mehmari, idealizador do projeto e produtor do disco que resultou nesse show.

Quem ouviu o álbum, lançado em 2019, sabe que não tinha como dar errado. Sérgio Santos escolheu belas canções que remetem às suas origens musicais e a compositores que o influenciaram, como “Tarde” (de Milton Nascimento e Márcio Borges), “Velho Piano” (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) e “Choro Bandido” (Edu Lobo e Chico Buarque), canção cujo verso inspirou o título do álbum e do show, igualmente belos.

O acerto se completa com a escalação do quarteto, o mesmo que gravou o primoroso álbum “Dorival” (2017), com releituras instrumentais de canções do grande Caymmi. Graças à bagagem jazzística e à inventividade de Mehmari, Proveta, Stroeter e Moreno, as versões de Santos para essas pérolas da canção brasileira soam vivas e originais, tanto como disco como no palco.

“Precisamos manter a sensibilidade, especialmente num momento tão difícil como este que vivemos hoje. A sensibilidade leva à consciência e à reflexão”, disse Santos já quase ao final do show. Um recado que, pelo solidário calor das palmas da plateia, foi compreendido e aprovado.







Miriam Maria: segundo álbum da cantora, "Rama", transporta o ouvinte para a selva

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Uma “viagem sonora”. É assim que a cantora paulista Miriam Maria (integrante do grupo Orquídeas do Brasil, formado nos anos 1990 para acompanhar Itamar Assumpção) sintetiza o espírito de “Rama” (lançamento do selo Pôr do Som), seu segundo disco solo. Muito bem produzido por ela, em parceria com a percussionista Simone Sou e os violonistas Chico César e Danilo Moraes, também presentes em várias faixas, esse álbum transmite tanto nas letras das canções como nos arranjos a sensação de se penetrar um Brasil profundo. 

Intérprete de voz doce e segura, Miriam não busca resgatar sonoridades sertanejas, nem folclóricas. A percussão e os samples de Simone transportam o ouvinte para uma selva, em “Capitão do Mato” (de Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro), assim como realçam a atmosfera sombria de “Moer Cana” (de Chico César). Emoldurada pelo guitarrista André Abujamra, mestre das trilhas sonoras, a faixa-bônus “Filho de Santa Maria” (Itamar Assumpção e Paulo Leminski) encerra essa viagem sonora, transformando-a em sonho. 

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos & Filmes", edição final, em 30/04/2016)

Monica Salmaso: cantora resgata pérolas esquecidas de Guinga e Paulo César Pinheiro

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                                                                                           Foto: Dani Gurgel/Divulgação

Em recente entrevista ao jornal “O Globo”, ao se referir ao baixo nível da produção atual das gravadoras que ainda tentam superar a crise que as destroçou na virada do século, a cantora Monica Salmaso afirmou que a música popular brasileira está “pobre de assunto, de letra, de melodia, de harmonia, de arranjo”.

Intérprete que sempre conduziu sua carreira na contramão dos modismos e truques do mercado musical, Monica está coberta de razão e não se limita a criticar. “Corpo de Baile” (lançamento Biscoito Fino), seu décimo álbum, prova que não é a música popular brasileira, propriamente, que está em crise, mas sim aqueles que insistem em fabricar artistas e produtos descartáveis.

Monica esperou uma década para realizar esse projeto. Já havia gravado “Senhorinha” e “Saci”, canções de Guinga e Paulo César Pinheiro, mas ao saber que a dupla tinha dezenas de parcerias inéditas quis conhece-las. O fato de o músico e o letrista terem rompido relações ainda na década de 1980 não chegou a ser um empecilho. Monica ficou impressionada pela qualidade das canções que ouviu, mas, na época, não se sentiu pronta para encarar a densidade desse repertório.

A própria cantora assina a produção do álbum, em parceria com o músico Teco Cardoso, seu marido. A decisão de encomendar arranjos, em formato camerístico, a diferentes autores não poderia ser mais feliz. As partituras escritas por Tiago Costa, Luca Raele, Nelson Ayres, Paulo Aragão, Nailor Proveta, Dori Caymmi e Teco Cardoso garantem a desejável dose de diversidade sonora, em um disco com repertório tão homogêneo.

Se desde seu primeiro álbum – “Afro Sambas” (1995), gravado em duo com o violonista Paulo Bellinati – Monica tem demonstrado o quanto valoriza o trabalho dos instrumentistas, em “Corpo de Baile” ela realiza seu projeto mais ambicioso. Para isso conta com dezenas dos melhores músicos de São Paulo e Rio de Janeiro.

Entre as 14 canções de Guinga e Pinheiro gravadas pela cantora, seis são inéditas, mas mesmo as já lançadas no passado por outros intérpretes não chegaram ao grande público. A exceção é “Bolero de Satã”, que se tornou conhecida pela gravação de Elis Regina com Cauby Peixoto, em 1979. Mônica a interpreta com emoção contida, em elegante arranjo de Nelson Ayres, realçado pelo sax barítono de Teco Cardoso e pelo clarinete de Nailor Proveta.

Dedicada por Monica ao escritor argentino Julio Cortázar, “Fim dos Tempos”, a canção inédita que abre o álbum, soa perturbadoramente atual, mesmo tendo sido composta décadas atrás (“nós somos todos / todos aflitos / de um lado os doidos / do outro os malditos / com o fim dos tempos / no coração”). O sensível arranjo de Tiago Costa conta com as cordas do Quarteto Carlos Gomes.

Bela também é a gravação de “Navegante”, um fado quase minimalista, em arranjo coletivo de um sexteto que destaca o bandolim de Milton Mori. Mais despojada, a versão da romântica “Noturna” traz Monica acompanhada apenas pelos violões dos irmãos Pedro e Paulo Aragão. Outra faixa encantadora é “Violada”, moda de viola que destaca o violeiro Neymar Dias.

Em meio a tantas cantoras da cena atual da música popular brasileira, que são incapazes de manter a afinação no palco ou nem mesmo conseguem escolher um repertório que faça sentido, Monica Salmaso dá uma lição de técnica vocal, elegância e domínio artístico. Como só as grandes cantoras sabem fazer, ela transformou algumas pérolas esquecidas de Guinga e Paulo César Pinheiro em joias eternas.


(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 30/8/2014)  


Chico Pinheiro: unindo a sofisticação da canção brasileira com a liberdade do jazz

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Não é à toa que a carreira de Chico Pinheiro tem crescido no exterior. “Flor de Fogo” (lançamento Atração), o quarto álbum desse talentoso violonista e compositor paulista, mostra que sua obra combina com elegância o melhor de dois mundos musicais: a sofisticação melódica e harmônica da moderna canção brasileira com a liberdade e a improvisação do jazz.

Os vocais da cantora norte-americana Dianne Reeves, na romântica “There’s a Storm Inside” ou na inventiva releitura de “Buritizais” (composição do disco de estréia de Pinheiro), reforçam o tom jazzístico desse projeto. Por outro lado, há também a voz suave e emotiva de Luciana Alves, que acentua o lirismo das canções “Recriando a Criação” e “A Sul do Teu Olhar”.

E não bastassem os criativos improvisos e arranjos de Pinheiro, ele revela ter evoluído como vocalista, ao interpretar a jazzística balada “Our Love Is Here to Stay” (de Gershwin) ou o gingado samba “Boca de Siri” (parceria com Paulo César Pinheiro), entre outras. Um disco que não pode faltar nas listas de melhores de 2010.


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 17/12/2010)


 

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