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Rodolfo Stroeter: baixista do grupo Pau Brasil lança "Madurô", um autorretrato musical

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                         O baixista e compositor paulistano Rodolfo Stroeter - Foto de Gal Oppido/Divulgação  

Um dos fundadores do conceituado grupo instrumental Pau Brasil, com o qual se apresenta e tem feito gravações desde os anos 1980, o contrabaixista, compositor e produtor paulistano Rodolfo Stroeter vai surpreender seus fãs. “Madurô”, seu segundo disco solo (lançamento do selo Pau Brasil), destaca um repertório autoral com dez canções e três temas instrumentais.

“Este disco é uma espécie de autorretrato musical, que inclui minha família e meus amigos”, sintetiza Stroeter. Nessas gravações, ele reencontra parceiros como os cantores Sérgio Santos, Joyce Moreno, Marlui Miranda e Céline Rudolph, o baterista Tutty Moreno, o pianista Helio Alves e seu filho Noa Stroeter, contrabaixista do Caixa Cubo Trio. E ainda, naturalmente, o quinteto Pau Brasil.  

Vale lembrar que, em seu primeiro disco solo (“Mundo”, lançado em 1986 pelo selo Continental), Stroeter já demonstrara ser um compositor que dialoga com diversas influências: da MPB ao instrumental brasileiro; do jazz à música clássica. Joyce e Marlui também participaram do elenco desse álbum, assim como o pianista e arranjador Nelson Ayres, do Pau Brasil.  

Contrapontos com parceiros

Agora, ao conceber “Madurô”, Stroeter decidiu dedicar mais espaço às suas canções inéditas – algumas compostas ainda nos anos 1980. Acostumado a trabalhar em grupo, mesmo quando produz o disco de algum intérprete, ele gosta de estabelecer contrapontos com os parceiros. “Quando comecei a fazer este disco, percebi que agora o contraponto seria comigo. Não consigo fazer isso sozinho”, admite Stroeter, que mais uma vez convocou parceiros e amigos, para formar um elenco de alto quilate.

Interpretada por Sérgio Santos, a singela canção “Boa Noite, Sereno” desfia sensações e descobertas de um primeiro namoro. O belo timbre do cantor mineiro também empresta brilho especial à lírica canção que dá título ao álbum. Curiosamente, conta Stroeter, a letra de “Madurô” ficou inacabada até ele reencontrá-la em um velho caderno. Logo depois achou a solução que buscava para conclui-la graças a uma sugestão de Noa.

Três cantoras, com as quais Stroeter desenvolve parcerias há décadas, também contribuíram para outras belezas do álbum. Já gravada por Monica Salmaso, a canção “Estrela de Oxum” ressurge na voz de Joyce, em delicado arranjo que destaca o piano de Nelson Ayres, a bateria de Tutty Moreno e o baixo do próprio autor. Em “Cantiga da Estrela”, a cantora franco-germânica Céline Rudolph demonstra sua bagagem jazzística, utilizando a voz como instrumento, em um criativo duo improvisado com o baixo elétrico de Stroeter.  

Exaltação aos indígenas

Outra surpresa do disco é “Rap Americano”, poema de Stroeter que exalta os povos indígenas das Américas, escrito para a “Ópera dos 500 / Popular e Brasileira”. Encenada por Naum Alves de Souza, em 1992, essa ópera pretendia desmistificar o suposto heroísmo de Cristóvão Colombo. Como não entrou na versão final do espetáculo, o poema estreia agora na voz do autor, acompanhado pelo Caixa Cubo Trio. Os vocais de Marlui Miranda, em idioma indígena, criam um contraponto inquietante com os versos.

O samba “Feiticeira” também demorou pelo menos uma década e meia para sair da gaveta. Fã de João Gilberto, Stroeter tem uma paixão especial pelo lendário LP de capa branca do pai da bossa, lançado em 1973. Quando soube que João frequentava a casa do baterista Tutty Moreno, em Nova York, teve a ideia de compor um samba com cara de bossa nova e enviá-lo para o mestre. “Até fiz a música, mas não mandei”, conta, sorrindo. Agora, para inclui-la em “Madurô”, convidou o cantor Zé Renato e Tutty para gravá-la de maneira bem despojada, como fez João Gilberto, em seu cultuado álbum.  

Stroeter agradece por duas sugestões de intérpretes que recebeu do violonista Swami Jr., também presente no disco. “Ele entendeu onde eu queria chegar com duas composições minhas de cunho mais popular”, reconhece. No contagiante samba “Na Boca do Povo” (parceria com o letrista Paulo César Pinheiro), Fabiana Cozza soa bem à vontade, como se estivesse cantando numa roda de amigos. Já “Viva Jackson do Pandeiro” é um alegre tema instrumental de Hermeto Pascoal, para o qual Stroeter escreveu uma letra, que imagina um encontro do carismático músico paraibano com o “bruxo” de Alagoas. Convidado a interpretá-lo, Chico Cesar personifica Jackson, carregando na pronúncia dos “erres”, para reviver um divertido sotaque do passado.

Parceria de quatro décadas

Por outro lado, Stroeter nem precisou pensar em quem gravaria “Aboio”, um dolente tema instrumental, e o gingado samba “Levada da Breca” – parcerias com Noa, que o Pau Brasil tem incluído em suas apresentações. “Eu toco com esse grupo de amigos há mais de 40 anos. Não existe a possibilidade de eu fazer um disco meu sem o Pau Brasil”, afirma o contrabaixista.

Escolhida para fechar o álbum, “A Voz da Oração” nasceu como uma letra de Stroeter que foi musicada por Noa. Com forma e conteúdo de uma prece, ela inspirou a emocionante interpretação de Sergio Santos, que expressa o significado especial dessa canção para o baixista do Pau Brasil e sua família. “Ela foi dedicada ao Noa e meus outros filhos. Não tenho religião que não seja a música, mas acabou saindo uma canção que abarca o sentido de amor aos de muito perto”, ele explica.

Cinco anos atrás, Stroeter enfrentou um grave problema cardíaco, que o levou a refletir mais sobre o sentido da vida, nos últimos anos. Hoje, ele percebe que a decisão de gravar um disco de canções como “Madurô” também tem relação com a experiência extrema que vivenciou. “O fato de eu ter, literalmente, apagado e, minutos depois, ter voltado à vida, me trouxe um sentido de liberdade essencial para fazer um disco como esse. Se não tivesse passado pelo que passei, eu jamais teria a coragem de me expor como faço nesse disco”, conclui. Em outras palavras, Rodolfo Stroeter amadureceu, madurô.

                                                                                          Texto escrito a convite do selo Pau Brasil 


Show de lançamento do álbum "Madurô"
- Dia 6/12/24 (sexta), às 21h, na Sala Crisantempo (Rua Fidalga, 521, Vila Madalena, zona oeste de São Paulo). Entrada franca. Com Rodolfo Stroeter (baixo acústico e elétrico), Hélio Alves (piano) e Tutty Moreno (bateria). Participações especiais de Sérgio Santos (voz), Analu Sampaio (voz) e Paulo Bellinati (violão). 

Sabor & Som: festival combina atrações musicais e eventos gastronômicos

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                                                                A cantora Sandra Fidalgo e o acordeonista Toninho Ferragutti

Foi durante os primeiros meses do isolamento social imposto pela pandemia que a produtora Gisella Gonçalves criou um projeto original. Unindo música e comida, o Festival Sabor & Som combina eventos gastronômicos e espetáculos musicais de hoje (23/4) a domingo (25/4). Todos eles serão transmitidos pelo canal da Borandá Produções, no YouTube.

“Cozinhar e ouvir música se mostraram, provavelmente, as atividades mais relevantes na vida cotidiana de todos nós ao longo de todo esse tempo, unindo e nutrindo o espírito humano nesse já longo período em que, por força das circunstâncias, nos vimos obrigados a viver (e conviver) em nossa própria casa”, argumenta a produtora cultural.

Nos três dias de programação, as atividades começam numa cozinha (às 15h) e terminam num estúdio de gravação (a partir das 19h). As chefs Fabiana Badra, Cintia Sanchez e Elenice Altman vão executar, passo a passo, três cardápios completos. Já a programação musical oferece três atrações: a dupla Patrícia Bastos (voz) e Dante Ozzetti (violão), o violonista e cantor Sérgio Santos e a dupla Sandra Fidalgo (voz) e Toninho Ferragutti (acordeom).

Mais informações no site do evento: www.festivalsaboresom.com.br

Sérgio Santos: compositor reafirma em show e disco seu talento como intérprete

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                                                   O cantor Sérgio Santos (no centro), em show no Sesc 24 de Maio

No show “São Bonitas as Canções” (ontem, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo), o cantor e compositor Sérgio Santos interpreta um repertório recheado de clássicos de várias épocas da canção brasileira. E tem a seu lado um brilhante quarteto instrumental, formado por André Mehmari (piano), Nailor Proveta (clarinete), Rodolfo Stroeter (baixo acústico) e Tutty Moreno (bateria).

Curiosamente, no meio do show, o compositor mineiro – conhecido na área da MPB por elogiados álbuns autorais, como “Áfrico” (2002), “Iô Sô” (2008) e “Rimanceiro” (2013) – confessa que passou muito tempo resistindo à ideia de gravar um típico “disco de intérprete”. Por isso agradece a Mehmari, idealizador do projeto e produtor do disco que resultou nesse show.

Quem ouviu o álbum, lançado em 2019, sabe que não tinha como dar errado. Sérgio Santos escolheu belas canções que remetem às suas origens musicais e a compositores que o influenciaram, como “Tarde” (de Milton Nascimento e Márcio Borges), “Velho Piano” (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) e “Choro Bandido” (Edu Lobo e Chico Buarque), canção cujo verso inspirou o título do álbum e do show, igualmente belos.

O acerto se completa com a escalação do quarteto, o mesmo que gravou o primoroso álbum “Dorival” (2017), com releituras instrumentais de canções do grande Caymmi. Graças à bagagem jazzística e à inventividade de Mehmari, Proveta, Stroeter e Moreno, as versões de Santos para essas pérolas da canção brasileira soam vivas e originais, tanto como disco como no palco.

“Precisamos manter a sensibilidade, especialmente num momento tão difícil como este que vivemos hoje. A sensibilidade leva à consciência e à reflexão”, disse Santos já quase ao final do show. Um recado que, pelo solidário calor das palmas da plateia, foi compreendido e aprovado.







Melhores discos de 2012: álbuns e artistas que merecem ser mais ouvidos

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Todo final de ano esse ritual se repete. Assim como o costumeiro peru nas ceias de Natal ou o lançamento do disco anual de Roberto Carlos (quase sempre o mesmo), os jornais, revistas, sites e blogs publicam suas retrospectivas. Para quem escreve sobre musica, como eu, esta época reserva um grande abacaxi a ser descascado: a eleição dos “melhores” discos do ano.

Não bastasse a tarefa improvável de eleger vencedores em uma atividade artística (que não pode ser quantificada ou medida), essa tentativa se torna mais difícil a cada ano, já que a produção musical cresceu muito depois que o mercado fonográfico se pulverizou em centenas de pequenos selos e gravadoras alternativas.

O fato é que aceitei, mais uma vez, o convite do jornal “Valor Econômico” para indicar cinco álbuns brasileiros e cinco estrangeiros lançados em 2012. Outros críticos e jornalistas especializados também participaram dessa enquete: Tárik de Souza, João Marcos Coelho, Lauro Lisboa Garcia e Luciano Buarque de Hollanda.

De cara, já aviso que posso ter cometido injustiças ao deixar de incluir em minha lista nomes como os de Guinga, Quinteto Villa-Lobos, Mario Adnet, Tom Zé, Caetano Veloso, Bocato, Siba, Antonio Loureiro, Frederico Heliodoro, Tord Gustavsen, Robert Glasper, Bobby Womack e Gregory Porter, entre outros, que também lançaram discos de alta qualidade no ano passado. Claro que, ao final das contas, o gosto pessoal acaba definindo a lista de cada um.


A seguir listo os 10 CDs que indiquei para a enquete do "Valor", em ordem alfabética, sem qualquer intenção de estabelecer uma hierarquia entre eles. Na verdade, eu os considero como sugestões de cantores, instrumentistas e compositores brasileiros e estrangeiros que merecem ser mais ouvidos (ou mesmo conhecidos, mesmo que alguns deles já tenham mais de três décadas de carreira). 

André Mehmari, Chico Pinheiro e Sérgio Santos - “Triz” (Buriti)

Antonio Zambujo - “Quinto” (MP,B/Universal)

Esperanza Spalding - “Radio Music Society” (Montuno/Universal)

Frank Ocean - “Channel Orange” (Def/Jam/Universal)

Jan Garbarek, Egberto Gismonti e Charlie Haden - “Carta de Amor” (ECM/Borandá)

Luciana Souza - “The Book of Chet” (Sunnyside/Universal)

Marcos Paiva - “Meu Samba no Prato” (MP6)

Pau Brasil - “Villa-Lobos Superstar” (Pau Brasil)

Rafael Martini - “Motivo” (Núcleo Contemporâneo)

Toninho Ferragutti - “O Sorriso da Manu” (Borandá)

Recomendo também a leitura das listas formuladas por outros críticos e jornalistas especializados que participaram dessa enquete, publicadas no site do "Valor Econômico", neste link. Aliás, para quem gosta de listas de melhores do ano, recomendo ainda a enquete organizada pelo critico Juarez Fonseca, de Porto Alegre, que reuniu 11 críticos e jornalistas de vários estados do país, da qual também participei. Os resultados foram publicados por Juarez, em sua página no Facebook.



 

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