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Bossa 60: Carlos Lyra e Paul Winter relêem clássicos que gravaram nos anos 1960

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                                                                    O saxofonista Paul Winter e o compositor Carlos Lyra

Uma comemoração dentro de outra. No show de encerramento do projeto “Bossa 60”, ontem, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, o compositor e cantor Carlos Lyra – um dos expoentes da agora sexagenária bossa nova – reencontrou o saxofonista norte-americano Paul Winter, com o qual gravou o histórico álbum “The Sound of Ipanema”, em 1964.

Emocionado, Winter lembrou da primeira vez que esteve no Rio de Janeiro, em 1962, quando participou com seu grupo de jazz de uma turnê por 23 países, bancada pelo Departamento de Estado dos EUA. “Eu me apaixonei pelo Brasil e não via a hora de retornar”, disse o saxofonista, que conheceu Lyra no final do mesmo ano, por ocasião do lendário concerto de bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York.

Cinquenta e cinco anos após a gravação de “The Sound of Ipanema”, Winter e Lyra revisitaram no palco o repertório desse álbum, lançado no momento em que a bossa nova explodia internacionalmente. Entre as 11 faixas do disco já estavam canções de Lyra que se tornaram clássicos desse estilo musical, como “Você e Eu” e “Coisa Mais Linda” (parcerias com Vinicius de Moraes), “Maria Ninguém” e “Lobo Bobo” (parceria com Ronaldo Bôscoli).

Mesmo sem tocar violão, Lyra cativou a plateia com seu canto meio falado e seus comentários irônicos, como ao introduzir, sorrindo, a divertida “Lobo Bobo” como seu “maior sucesso”. Bem acompanhado, tinha a seu lado um sexteto de craques da música instrumental carioca: Fernando Merlino (piano), Adriano Giffoni (contrabaixo), Ricardo Costa (bateria), Flávio Mendes (violão e guitarra), Dirceu Leite (sax e flauta) e Diogo Gomes (trompete e flugelhorn). 


No programa distribuído à plateia, todo o repertório do concerto tinha a assinatura de Lyra, mas Winter ganhou um espaço para sair um pouco do universo da bossa nova. Emocionou a plateia com seu sax soprano, ao tocar sua lírica composição “Sun Singer”, do álbum homônimo que lançou em 1983, quando já havia trocado o jazz pela música new age. Depois provocou sorrisos da plateia ao interpretar a “Cantata 147” (de J. S. Bach) com sotaque brasileiro. 
 
Para quem ainda recusa a tese de que as influências entre o jazz e a bossa nova foram de mão-dupla, esse reencontro de Lyra e Winter não poderia ser mais didático.



Bossa 60: Fernanda Takai interpreta Tom Jobim com leveza, em projeto do Sesc

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                                             Fernanda Takai, em show do projeto "Bossa 60", no Sesc 24 de Maio 

Era fácil notar diferentes gerações na plateia dos dois shows de Fernanda Takai, ontem, em São Paulo. Naturalmente, uma grande parte era composta por fãs que a acompanham há quase duas décadas como vocalista da banda pop Pato Fu, mas também havia gente curiosa por ouvi-la cantar bossa nova. A cantora foi uma das atrações do projeto “Bossa 60”, que prossegue até 3/2, no Sesc 24 de Maio.

O show “O Tom da Takai” empresta o título do álbum que ela lançou em meados de 2018, com repertório extraído do cancioneiro do grande Tom Jobim (1927-1994), que ontem teria comemorado 92 anos. Nessas gravações, Fernanda contou com o apoio essencial de outros dois mestres da bossa nova: Roberto Menescal e Marcos Valle, que dividiram a produção e os saborosos arranjos do álbum.

Vale notar que Fernanda teve o cuidado de esperar uma década para amadurecer a ideia de gravar um álbum que a aproximou de vez do universo da bossa. Já em sua primeira incursão pela MPB (o álbum “Onde Brilhem os Olhos Seus”, com releituras de canções do repertório de Nara Leão, lançado em 2007), ela havia demonstrado a consciência de que não faria sentido gravar aquelas canções como Nara fizera.

Fernanda abre seu novo show com a contagiante beleza da canção “Bonita” (de Jobim, Gene Lees e Ray Gilbert), exatamente como fez no álbum. Bem à vontade, a cantora interpreta com leveza e simpatia tanto canções da fase pré-bossa de Jobim, caso do samba “Outra Vez” e do samba-choro “Ai Quem Me Dera” (parceria com Marino Pinto), assim como as clássicas bossas “Brigas Nunca Mais” (parceria com Vinicius de Moraes) e – já no bis – “Samba de Verão” (de Marcos e Paulo Sergio Valle) e “O Barquinho” (de Menescal e Ronaldo Bôscoli).

Mesmo sob o risco de comprometer a atmosfera do espetáculo, Fernanda fez questão de comentar com a plateia do segundo show a dramática notícia do rompimento da barragem em Brumadinho (MG) -- região onde chegou a gravar um DVD, em 2017. Mas a beleza das canções de Jobim e a leveza dos arranjos e das interpretações da cantora conseguiram fazer com que a plateia se esquecesse, ao menos por uma hora, de mais essa indesculpável tragédia em nosso país. 

Eliane Elias: pianista e cantora radicada nos EUA revisita clássicos da música brasileira

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Com uma sólida carreira estabelecida nos EUA, onde vive desde 1981, a pianista e cantora paulista Eliane Elias é reconhecida, antes de tudo, por suas incursões pelo universo do jazz. Isso não a tem impedido de reservar parte de seu repertório à música popular brasileira.

“Made in Brazil” é seu primeiro álbum gravado em São Paulo desde que deixou o país. Músicos locais, como Edu Ribeiro (bateria), Marcelo Mariano (baixo) e Marcus Teixeira (guitarra), garantem levadas e harmonias tipicamente brasileiras, nas releituras de clássicos da bossa nova e do samba, como “Aquarela do Brasil” (de Ary Barroso), “Esse Seu Olhar/Promessas” (Tom Jobim) ou “Rio” (Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal, que também participa da gravação). Os vocais do grupo norte-americano Take 6 emprestam um colorido harmônico especial a canções assinadas pela própria Eliane, como a sensual “Incendiando” e a pop “Driving Ambition”. 
 
(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 29/08/2015)

"Maysa": série de TV revive a história de nossa diva da dor de cotovelo

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Intensa, irreverente, contraditória, autodestrutiva, mas antes de tudo uma grande cantora. Assim era Maysa (1936-1977), nossa eterna diva da fossa e da dor de cotovelo, cuja história pessoal e, naturalmente, sua música, inspiraram a minissérie que a TV Globo tem exibido desde a última segunda-feira.

Dirigida por Jayme Monjardim, filho da cantora, “Maysa - Quando Fala o Coração” mostrou em seus primeiros capítulos um eficiente elenco de atores, esmero na produção dos cenários e figurinos, além da bela fotografia de Affonso Beato (valorizada pela transmissão em alta definição), num padrão raro em produções para a TV brasileira.

A série revelou também a talentosa atriz gaúcha Larissa Maciel, que personifica a cantora de maneira bem convincente. Ainda que falte um pouco de intensidade em sua interpretação, justamente nas cenas em que dubla Maysa cantando, seus grandes e expressivos olhos verdes são capazes de hipnotizar o espectador.

Talvez a opção de Manoel Carlos, autor da série, por uma narrativa não-cronológica possa incomodar os espectadores acostumados ao formato mais convencional de grande parte das novelas e minisséries da emissora. Mas esse recurso permite equilibrar, por meio de flashbacks, as passagens mais pesadas e melodramáticas da história com outras mais descontraídas, incluindo os esperados números musicais.

Especialmente saborosa é a cena em que Maysa interpreta o samba-canção “Ouça” (de sua autoria), um dos maiores sucessos de sua carreira. Com o rosto em primeiro plano, enquadrado pela tela de um aparelho de TV, a cantora mandou um irônico recado para o ex-marido, o milionário André Matarazzo. E que outra cantora teria, como a impulsiva Maysa, a coragem de tirar o sapato e atirá-lo sobre um grupo de espectadores desrespeitosos, que insistiam em falar alto durante uma de suas apresentações?

Já as aparições do jornalista e compositor Ronaldo Bôscoli (bem interpretado pelo ator Mateus Solano) garantiram os momentos mais leves e divertidos dos primeiros capítulos. “Pela bossa nova, eu namoraria até o Trio Iraquitã”, dispara o autor da clássica “Lobo Bobo”, no melhor estilo cafajeste, pouco antes de lançar seu charme sobre a cantora.

Ironicamente, outra cena exibida na última quarta-feira nos remeteu a um fenômeno cultural bem característico dos dias de hoje: a indústria que se alimenta da vida pessoal dos artistas e celebridades. Flagrada por um paparazzo, ao se despir para um banho de cachoeira com um grupo de amigos, Maysa viu sua intimidade exposta na capa de um tablóide, bem semelhante aos atuais.

Quem sabe, se conhecesse o trágico final de Maysa, a cantora inglesa Amy Winehouse – que parece ser tão intensa e autodestrutiva quanto a diva brasileira da fossa – tivesse um revelador insight sobre o que a próxima noite de excessos pode lhe reservar.

(resenha publicada na “Folha de S. Paulo”, em 11/01/2009)


 

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