Discos em 2020: mais 30 álbuns recomendados de música instrumental brasileira

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O distanciamento social imposto pela pandemia não impediu que os instrumentistas brasileiros continuassem a produzir, mesmo obrigados a se afastarem dos palcos, com o fechamento dos clubes, bares, casas noturnas e teatros. Dezenas e dezenas de álbuns desse gênero foram gravados e lançados durante 2020, provando mais uma vez que nossa música instrumental vive uma fase de muita diversidade e refinamento sonoro.

Para quem não chegou a ler uma seleção de discos e outros projetos de essência instrumental que elaborei a convite do Sesc Pinheiros, em agosto de 2020, recomendo uma conferida no link ao final deste post. Todos os discos listados e comentados naquele texto também mereceriam figurar nesta lista – em outras palavras, as duas listas se completam.

Espero que estas sugestões ajudem você a conhecer novos músicos e a ampliar o repertório que vai frequentar suas audições musicais durante os ainda incertos meses que nos aguardam, enquanto a vacina não estiver disponível a todos. Para mim, uma das melhores atividades que podemos desfrutar durante um período de distanciamento social é ouvir música que desperte nossa sensibilidade. Aproveite!

Ana de Oliveira - “Dragão dos Olhos Amarelos” (Tratore). Radicada no Rio, a violinista paulistana já brilhou como solista em várias orquestras. Neste inusitado álbum de violino solo, ela demonstra inventividade e coragem, ao criar composições instantâneas inspiradas por memórias e vivências. Na lírica “Posso Chorar” (que Hermeto Pascoal dedicou a ela, nos anos 1980), Ana tem a seu lado o pianista André Mehmari.

André Juarez - “Azul” (Pôr do Som). “Choro Azul”, a faixa de abertura, já surpreende o ouvinte: a atmosfera relax de blues se transforma em um choro jazzístico, com citações da clássica “Rhapsody in Blue” (de Gershwin). Entre diversos encontros da música brasileira com o blues e o jazz, comandados pelo vibrafonista paulista, a versão de “Lamento Sertanejo” (de Dominguinhos e Gilberto Gil) soa especialmente inspirada.

Antonio Carlos Bigonha - “Saudades de Amanhã” (Tratore). Mineiro radicado em Brasília, o pianista e compositor é um discípulo assumido de Tom Jobim. Em seu quarto álbum, ele volta a contar com arranjos e o violão do mestre Dori Caymmi, além de dois craques do instrumental brasileiro: o baixista Jorge Helder e o baterista Jurim Moreira. Bigonha ainda se deu ao luxo de requisitar a Orquestra de Cordas de São Petersburgo.

Arismar do Espírito Santo - “Cataia: da Folha ao Chá” (Gramofone). Os fãs desse músico de muitos talentos sabem que o baixo elétrico tem lugar de destaque entre os diversos instrumentos dominados por ele. Por isso o que logo chama atenção, nestas gravações com os paranaenses Glauco Soler (baixo) e Mauro Martins (bateria), é o fato de o paulista Arismar se concentrar no piano e no violão, além dos descontraídos vocais.



Arthur Dutra & Jeff Gardner (Tratore). O percussionista carioca e o pianista nova-iorquino radicado no Rio celebram neste album a feliz parceria que desenvolvem há alguns anos. No repertório, composições próprias como a caribenha “Merengueto”, a balada “Olhos de Arco-Iris” ou a jazzística “Africa Beat”. Participações especiais do saxofonista Marcelo Martins e dos cantores Sergio Santos e Ilessi, entre outros.

Benjamim Taubkin e Adriano Adewale - “Alfabeto” (Núcleo Contemporâneo). Após o álbum que gravaram juntos no clube londrino Vortex, em 2013, o pianista e o percussionista, ambos paulistas, lançam registros extraídos da turnê que fizeram por dez cidades inglesas, no mesmo ano. As sete faixas foram compostas nos palcos, de modo espontâneo. Segundo Taubkin, a ideia é evitar o já conhecido, o lugar comum.

Daniel Murray - “Sombranágua: Septeto Autoral” (Totem Musicais). O septeto liderado pelo violonista carioca – com Luiz Amato (violino), Adriana Holtz (violoncelo), Sarah Hornsby (flauta), Gustavo Barbosa-Lima (clarinete), Pedro Gadellha (contrabaixo) e Caito Marcondes (percussão) – lembra um erudito conjunto de câmara, mas o que se ouve é um repertório autoral da melhor tradição de nossa música instrumental.

Daniel Pezim - “De Prima” (independente). Mineiro radicado em São Paulo, o contrabaixista e compositor formou um quarteto de feras da cena instrumental (com o guitarrista Djalma Lima, o saxofonista Vitor Alcântara e o baterista Cuca Teixeira), para a gravação de seu primeiro disco. Além de um jazzístico samba dedicado ao saudoso saxofonista Vinicius Dorin, Pezim exibe outras sete composições próprias.



Edson Natale - “Âmbar: Os Afluentes da Música” (Spin). Músicos de nosso primeiro time, como o clarinetista Nailor Proveta e o acordeonista Toninho Ferragutti, brilham no eclético elenco reunido pelo violonista e compositor paulista. Inspiradora, a música instrumental de Natale também recorre a palavras e vozes, como as de Ná Ozzetti e Vanessa Moreno, para abordar as contradições e angústias destes tempos difíceis.

Dom Angelo - “Mongiovi Trio” (Boa Vista). De essência jazzística, este álbum do guitarrista e produtor pernambucano é o terceiro desse gênero lançado por ele. Ao lado de Miguel Mendes (baixo elétrico) e Rostan Junior (bateria), Angelo mostra composições próprias, além de uma releitura instrumental da canção “Copo Vazio” (de Gilberto Gil). Participações do pianista Amaro Freitas e do cantautor Marcello Rangel.

Emiliano Castro - “7 Caminos” (Selo Sesc). Os cinco anos que o violonista paulistano passou na Espanha, estudando flamenco, também abriram seus ouvidos para a riqueza da música latino-americana com ritmos de matrizes africanas. Neste álbum autoral, tocando violão de sete cordas, ele exibe composições influenciadas pela linguagem do flamenco, além de uma releitura da canção “Atrás da Porta” (Chico Buarque).

Ghadyego Carraro - “Tribute” (independente). Gaúcho de Passo Fundo, o contrabaixista homenageia ídolos e mestres que o influenciaram, como Tom Jobim (“Wave”), Milton Nascimento (“Vera Cruz”) e Astor Piazzolla (“Oblivion”). Para as gravações contou com convidados de diversas regiões do país, como o baterista potiguar Di Stéffano, o gaitista paulista José Staneck e o violonista Alegre Corrêa, seu conterrâneo.



Gian Correa - “Gian Correa Big Band” (YB). Ao dizer que seu terceiro disco foi “100% composto de coração e de alma”, o violonista paulista não está dourando a pílula. Quem já o ouviu tocar choros em formações menores pode se deliciar agora com seu violão de sete cordas à frente de uma suingada big band. O frevo “Trançando as Pernas” e o samba “O Tema Tá Chegando” (com o acordeom de Mestrinho) soam irresistíveis.

Hamleto Stamato - “Autoral” (Tratore). Bem-acompanhado por craques da cena instrumental do Rio, como Marcelo Martins (sax tenor), Jessé Sadoc (trompete) e Vittor Santos (trombone), o pianista exibe um repertório autoral. Quem associa Stamato ao samba-jazz, pode se se surpreender com suas incursões por ritmos caribenhos ou com a lírica “Bodas”, uma bossa cujo arranjo inclui as cordas da St. Petersburg Studio Orchestra.

Louise Woolley - “Rascunhos” (Blaxtream). A pianista paulistana compôs os oito temas instrumentais deste álbum durante uma temporada na Europa, por encomenda do evento mineiro Savassi Festival. Os músicos que participam das gravações são talentosos como ela: Lívia Nestrovski (vocais), Jota P (sax tenor), Diego Garbin (trompete e flugel), Danilo Silva (violão), Bruno Migotto (contrabaixo) e Daniel de Paula (bateria).

Ludere - “Baden Inédito” (Tratore). Em seu quarto álbum, o brilhante quarteto – Phillippe Baden Powell (violão), Rubinho Antunes (trompete), Bruno Barbosa (baixo) e Daniel de Paula (bateria) – abriu o baú do grande Baden Powell (1937-2000). Além de sete temas inéditos, o repertório traz as canções “Vai Coração” (parceria com Pretinho da Serrinha) e “A Lua Não Me Deixa” (com Eduardo Brechó), nas vozes de Vanessa Moreno e Fabiana Cozza.



Marcio Hallack - “Desse Modo” (Kuarup). O pianista e compositor mineiro faz várias homenagens neste belo álbum, à frente de seu trio, que também destaca os excelentes Esdras “Neném” Ferreira (bateria) e Enéas Xavier (baixo). De um choro dedicado ao mestre Guinga (“Chorin”) a uma valsa-jazz composta em tributo ao grande maestro pernambucano Moacir Santos, Hallack reafirma seu privilegiado dom musical.

Mauro Senise - “Ilusão à Toa” (Biscoito Fino). Depois de dedicar discos a grandes expoentes da MPB, como Gilberto Gil, Dolores Duran e Edu Lobo, o experiente saxofonista carioca aborda a sofisticada obra de Johnny Alf – compositor e precursor da bossa nova. Ao reler 12 canções (preciosidades como “O Que É Amar”, “Olhos Negros” ou “Céu e Mar”), Senise valoriza-as ainda mais, utilizando diversas formações instrumentais.

Michel Pipoquinha e Pedro Martins - “Cumplicidade” (Tratore). Jovens revelações da música instrumental, o baixista cearense e o guitarrista brasiliense se conheceram na véspera do festejado show que fizeram em 2017, no Festival Choro Jazz, em Jericoacora (CE). Além de temas autorais, eles recriam composições de Hermeto Pascoal (“Azeitona”), Cartola (“Desfigurado”) e Toninho Horta (“Raul”), que também toca no álbum.

Orquestra do Estado de Mato Grosso - “Flores, Janelas e Quintais: Homenagem a Milton Nascimento” (Kuarup). Com regência do maestro Leandro Carvalho e arranjos do solista Vittor Santos (trombone), a orquestra mato-grossense revisita o cancioneiro do mestre do Clube da Esquina. No repertório, clássicos como “Cravo e Canela”, “Nos Bailes da Vida”, “Encontros e Despedidas”, “Canção da América” e “Ponta de Areia”.



Ozorio Trio - “Big Town” (Brasil Calling). Influências do blues rural, do folk e da nossa música caipira se misturam neste álbum, que nasceu com a mudança do violonista paulistano Marcelo Ozorio para um viveiro de plantas, no Paraná. Com participações do Quadril Quarteto de Cordas, as composições de Ozorio são entremeadas por divertidas vinhetas, como “Eguinha Quarto de Milha”, “Locomotiva” e “Phil, the Groove”.

Projeto B - “Live in Seattle” (independente). Em concerto registrado durante turnê pelos EUA, em 2012, o quinteto paulista mistura música erudita contemporânea com elementos da música instrumental brasileira e do jazz de vanguarda. No repertório, “A Sagração da Primavera” (de Igor Stravinky), “Choros nº 5” e “Prole do Bebê” (de Heitor Villa-Lobos), além de composições próprias, como “Labirinto” e “Tapete Mágico”.

Rafael Martini - “Vórtice” (Estúdio 304). O compositor e multi-instrumentista mineiro registrou, nestas gravações de 2016, seu trio com Pedro Santana (baixo) e Yuri Vellasco (bateria). A ideia é resgatar a ligação com o rock, que marcou sua formação inicial. Os criativos arranjos de “Rain Song” (da banda Led Zeppelin) e “Meditação” (Tom Jobim) ilustram bem o projeto, calcado em sons acústicos e sintetizados.

Rodrigo Bragança e Benjamim Taubkin - “Sobrevoo” (Núcleo Contemporâneo). O guitarrista mineiro radicado em São Paulo e o pianista paulistano demonstram grande afinidade musical, neste álbum com repertório autoral e assumidas influências jazzísticas. “Um disco para se escutar com calma”, sugere Taubkin, que homenageia em uma composição o pianista Lyle Mays (1953-2020). Paisagens musicais para ouvidos sensíveis. 

Rodrigo Nassif Trio - “Estrada Nova” (independente). Outro gaúcho de Passo Fundo radicado em Porto Alegre, o violonista e compositor comanda seu coeso trio, que também destaca Samuel Basso (baixo) e Leandro Schirmer (bateria), além de contar com vários convidados. Composições como “Brincando na Tempestade”, “Cheiro de Pão” e “Inverno no Cassino” trazem atmosferas particulares, como se fizessem parte de trilhas sonoras.

SaxBrasil - “10 Anos” (independente). O quarteto de saxofones da cidade de Sorocaba (SP) festeja sua primeira década de atividade, dedicada ao repertório brasileiro de música de câmara para essa formação. Além de interpretar quatro peças compostas especialmente para o grupo, relembra dois clássicos do repertório nacional para o saxofone: “Pau-Brasil” (de Liduíno Pitombeira) e “Mobile” (de Ronaldo Miranda).

Sidmar e Sidiel Vieira - “2Vieira - vol. 1” (independente). Talentosos irmãos que atuam na cena instrumental paulista, o baixista e o trompetista recriam em duo clássicos da música cristã, como “Minha Pequena Luz” (This Little Light of Me), que ouviam na casa dos pais. Recheados de influências do gospel e do jazz, os saborosos arranjos também são da dupla. (À venda só nos perfis de Sidmar e Sidiel no Facebook e no Instagram).

Sinfônica de Santo André + Hamilton de Holanda (Selo Sesc). Concerto gravado no Sesc Santo André (SP), em novembro de 2019, que marcou a estreia do “Concerto Brasileiro para Bandolim e Orquestra”, do bandolinista e compositor. O repertório mistura música clássica e popular, com destaque para a “Suíte Retratos” (de Radamés Gnattali), e a releitura da canção “Canto de Ossanha” (Baden Powell e Vinícius de Moraes).  



Túlio Mourão - “Barraco Barroco” (Jazz Mineiro). Neste álbum que festeja seus 50 anos de carreira, o compositor e pianista recebe três expoentes da cena instrumental de Minas: Chico Amaral (sax tenor), Juarez Moreira (violão) e Toninho Horta (guitarra). No repertório, Túlio exibe lindas baladas de sua autoria, como “Jardim do Afeto” e “A Última Montanha”, além de três temas que revelam sua admiração pela música ibérica.

Vitor Arantes Quarteto - “Elo” (Umbilical). Vencedor do concurso Novos Talentos do Jazz, no Savassi Festival 2017 (MG), o pianista paulistano estreia em disco, ao lado de Matheus Mota (guitarra), Gabriel Borin (contrabaixo) e Jonatan Goes (bateria), com participação especial de Josué dos Santos (sax tenor). Além de três extensas faixas assinadas pelo líder, o álbum inclui uma releitura de “Bebê” (de Hermeto Pascoal).

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Música na pandemia: projetos instrumentais em tempos de isolamento


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