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Documentário: Gervitz revela qualidades humanas em festival de danças do mundo

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                           O dançarino Hamada Nayel, em cena do filme "Na Dança! Doc" / Foto: Divulgação

No último dia do festival de documentários musicais In-Edit Brasil, recomendo o filme “Na Dança! Doc” (direção de Roberto Gervitz) mesmo para quem não tem interesse especial por dança. À primeira vista, trata-se de um registro cinematográfico do 2º Na Dança!, festival de danças e músicas do mundo que a pesquisadora e dançarina Betty Gervitz (irmã do cineasta) comandou em 2018, em São Paulo. Mas assim que músicos e dançarinos de diversos países e etnias começam a contar suas histórias, o filme logo revela a intenção de ir além dos meneios e passos dessas danças. 

Comoventes, depoimentos de artistas que emigraram para São Paulo, como o egípcio Hamada Nayel, a colombiana Margarida Milagos, o senegalês Ibrahima Saar ou o angolano Ermi Panzo, trazem à tona o problemático tema da imigração. E remetem a duas qualidades humanas que parecem ter sido deixadas de lado, nos últimos anos, depois que essa onda de barbárie e retrocessos sociais tomou conta das esferas de poder neste país: a solidariedade e a compaixão.
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Numa sacada 
bem-humorada (que define o próprio espírito do festival, no qual artistas e participantes dançam e cantam juntos quase todo o tempo), Gabriel Levy, acordeonista e diretor musical do evento, rebate o sentido pejorativo que se costuma atribuir ao termo “promiscuidade”. “Promíscuo significa a favor da mistura. Então viva a promiscuidade!”, ele
 brinca, elogiando a diversidade cultural e racial. Nestes tempos de distanciamento social, o filme de Gervitz é uma estimulante celebração à humanidade.

Veja os documentários do 12.º In-Edit Brasil (com ingressos a R$ 3), até 20/9, neste link: https://br.in-edit.org/ 



“O Piano que Conversa”: documentário com Benjamim Taubkin desafia padrões

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Não espere pelo habitual narrador para introduzir o tema do filme, muito menos entrevistas com alguns dos personagens. “O Piano que Conversa” documentário de Marcelo Machado, que está sendo exibido no Festival In-Edit, em São Paulo rompe com padrões desse gênero cinematográfico. Tanto que sua encantadora narrativa dispensa até o uso de palavras.

À primeira vista, o protagonista do filme seria um piano de cauda. Logo nas imagens iniciais esse instrumento é desmontado e carregado, cuidadosamente, para um caminhão que vai transportá-lo para um concerto em um festival no interior de São Paulo (sugerindo um “road movie”). Em cenas posteriores a câmera chega a penetrar no interior do piano, revelando a perfeição de seu mecanismo: os movimentos sincronizados dos pequenos martelos de madeira que percutem as longas cordas revestidas de cobre.

Uma beleza estranha, tanto visual como sonora, é desvendada nessa relação íntima que a câmera trava com o piano, mas logo se percebe que o protagonista real da narrativa é Benjamim Taubkin. É por meio da fina sensibilidade desse pianista e compositor paulistano que vamos acompanhar seus encontros com duas dezenas de músicos de diversas regiões do Brasil, de Moçambique, de Israel, da Polônia, da Bolívia e da Coreia do Sul.

Quem acompanha a trajetória musical de Taubkin, registrada em vários discos da gravadora independente Núcleo Contemporâneo, sabe que ele tem realizado criativos diálogos com instrumentistas de várias vertentes e tradições musicais (do jazz ao choro, passando pela diversidade da chamada “música do mundo”) há pelo menos vinte anos. Assim como Machado desafia nesse filme padrões tradicionais dos documentários, Taubkin tem questionado há décadas os limites entre gêneros, em suas experiências musicais.

A coragem de realizar um documentário sem palavras, a sofisticada fotografia de Fernando Fonini, a criativa montagem de Joaquim Castro e a riqueza dos diversos encontros musicais estão entre os muitos atributos de “O Piano que Conversa”, que propõe uma maneira mais sensitiva de se criar (ou mesmo de se assistir) um documentário.

“Eu tinha vontade de entrar mais na música”, disse Marcelo Machado, na rápida conversa que ele e Taubkin estabeleceram com a plateia, anteontem, logo após a exibição do filme, no Museu da Imagem e do Som. As expressões emocionadas de vários espectadores, durante a projeção dos créditos finais, confirmaram que o diretor alcançou seu objetivo nesse inovador documentário.

“O Piano que Conversa” será exibido novamente nos dias 23/6 (no Cine Olido), 6/7 (no Cine Sesc) e 15/7 (no Cine Olido, com bate-papo sobre o filme), em São Paulo.



Fabiana Cozza: cantora se inspira na negritude afro-brasileira, em seu álbum "Partir"

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A cantora Fabiana Cozza sintetiza, em apenas uma palavra, tanto a essência musical de seu novo disco, como a fase de transição que marca hoje sua carreira. Em “Partir” (lançamento independente), seu quinto álbum, a intérprete paulista reúne canções que exibem a diversidade rítmica da diáspora africana. Esse trabalho reflete também o processo de internacionalização de sua carreira, já esboçado em turnês que tem feito pela Europa, nos últimos anos.

Identificada ainda como uma cantora de samba, Fabiana (filha de Osvaldo dos Santos, sambista da escola paulistana Camisa Verde e Branco) confirma nesse trabalho que tem bagagem musical e sensibilidade interpretativa para se dedicar também a outras vertentes da música de ascendência africana. Um caminho que pode lhe abrir mais portas no cenário internacional.

Curiosamente, “Partir” deriva de um projeto que não chegou ao seu destino: um álbum que a cantora faria só com canções do compositor Roberto Mendes, baiano do Recôncavo que conhece como poucos a música dessa região. O projeto foi interrompido, mas Fabiana saiu com cinco canções, todas presentes neste disco. O samba de roda “Não Pedi” (parceria de Mendes com Nizaldo Costa) é elogiado textualmente pela cantora Maria Bethânia, em um carinhoso bilhete incluído no encarte do CD, no qual declara ser fã de Fabiana, sua assumida discípula.

Outro compositor baiano que se destaca no repertório do álbum é Tiganá Santana. Além de “Mama Kalunga” (recém-gravada também pela cantora baiana Virginia Rodrigues), quase uma prece em forma de canção, ele assina “Le Mali Chez la Carte Invisible”, delicada canção em francês que alude ao preconceito racial enfrentado pelos africanos no continente europeu.

Fabiana também encontrou canções de ascendência negra em outras regiões do país. A reverente “Velhos da Coroa”, que abre o disco, foi composta pelo mineiro Sérgio Pererê, ex-integrante do grupo Tambolelê, conhecido por incursões pelos ritmos afro-brasileiros.

A contagiante “Chigala”, do carioca João Cavalcanti, vai mais longe: o ritmo e os versos remetem à África, em especial à terra dos antepassados paternos da cantora. “Quando a vida é em Angola / Se meu coração rebola / Meu peito já não machuca”, diz a letra.

Carregada de melancolia, “Entre o Mangue e o Mar” (parceria da mato-grossense Alzira E com o poeta paulistano Arruda) ganhou uma releitura bem próxima das mornas de Cabo Verde, que conquistaram o mundo na voz de Cesária Évora. Já a dançante “Borzeguita” (do paraense Leandro Medina), com letra em espanhol e português, vem embalada por um ritmo tipicamente caribenho.

Muito bem produzido e dirigido pelo violonista paulistano Swami Jr., que já assinou trabalhos da cubana Omara Portuondo, o álbum também chama atenção pela elegância despojada dos arranjos, centrados em instrumentos de cordas e percussão – com destaque para as participações de Jurandir Santana (guitarra, violão e viola caipira) e dos percussionistas Douglas Alonso e Felipe Roseno.

Com o original repertório que reúne no álbum “Partir” e a maturidade como intérprete que demonstra nessas gravações, Fabiana Cozza prova que o rótulo de sambista já não se adequa mais à música que faz hoje. Está pronta para se tornar, merecidamente, uma cantora do mundo.


(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 29/08/2015)



Vozes negras: Virginia Rodrigues e Tereza Gama cantam em palcos de São Paulo

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Elas cultivam estilos musicais diferentes, mas a evidente negritude de suas vozes as aproxima. As cantoras Virginia Rodrigues e Tereza Gama vão se apresentar em palcos de São Paulo, nos próximos dias. Se você ainda desconhece essas ótimas intérpretes da música brasileira, não perca essas oportunidades.

Atração da próxima terça-feira (6/3), no Bourbon Street Music Club, Virginia Rodrigues (na foto à esquerda) forjou seu encantador vozeirão de contralto em coros de igrejas de Salvador, na Bahia, a partir de referências populares e líricas. Afilhada musical de Caetano Veloso, que a conheceu no Bando de Teatro Olodum, em 1997, em pouco tempo ela construiu uma carreira que a levou à Europa, aos Estados Unidos e ao Japão, conquistando um lugar de destaque na cena da world music.

Neste show Virginia faz uma retrospectiva de sua trajetória musical, com repertório que inclui o samba-reggae dos blocos afros baianos, sucessos da MPB assinados por Chico Buarque, Tom Jobim e Nelson Cavaquinho, afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes, além de alguma das incursões eruditas de Villa-Lobos.

Conhecida como vocalista do Clube do Balanço, banda paulistana com a qual já exibiu seu suingue até em palcos da Ásia, a elegante Tereza Gama (na foto à direita) é uma especialista na arte de interpretar diversas correntes do samba: seja o improvisado partido alto, o dançante samba-rock ou o sincopado samba de gafieira. Não é à toa que ela foi convidada a apresentar no próximo domingo (11/3), pelo projeto No Balanço Delas, do Sesc Interlagos, seu show “Gafieira em Sampa”. Para ouvir e requebrar as cadeiras.



 

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