O quinteto Pau Brasil, em show no festival Sesc Jazz
A plateia foi chegando aos poucos, meio ressabiada. Em outras épocas, uma apresentação do brilhante quinteto Pau Brasil certamente teria lotado o teatro do Sesc Vila Mariana, provocando até uma descontraída balbúrdia, antes da abertura da sala. Ontem à noite, um sábado, o saguão de espera estava vazio. Outros como eu, que passaram cerca de 20 meses distantes dos shows ao vivo, por causa das necessárias restrições de enfrentamento da pandemia, também devem ter achado esse retorno um tanto estranho.
Já no teatro, um pouco mais de 50% das poltronas estavam cobertas por capas, indicando que as pessoas só poderiam se sentar nos lugares pré-determinados. Além dessa medida para garantir o necessário distanciamento social, vale lembrar, ao entrar na unidade do Sesc todos tiveram que mostrar seus certificados de vacinação contra a Covid-19 e estavam usando máscaras de proteção.
“Gente, que saudade disso tudo”, disparou o saxofonista Teco Cardoso, quebrando de vez o gelo, logo após uma fusão do samba-canção “No Rancho Fundo” (de Lamartine Babo e Ary Barroso) com a clássica “Ária da Bachiana n.º 4”, de Heitor Villa-Lobos. Foi com essa inusitada associação musical que Teco, o pianista Nelson Ayres, o baixista Rodolfo Stroeter, o violonista Paulo Bellinati e o baterista Ricardo Mosca -- evidentemente emocionados -- abriram o show, incluído na programação do festival Sesc Jazz.
“Tocar para celular é horrível. E assistir ‘live’ de pijama, em casa, vocês também não aguentavam mais, não é?”, seguiu Teco, provocando mais risos. E ao comentar que o quinteto está comemorando 40 anos de atividade musical, o bem-humorado saxofonista fez até seus parceiros rirem de si mesmos. “Depois da pandemia tomamos uma decisão muito sábia. A gente não tem mais produtora, agora temos cuidadora”.
Pronto! Após uma explosão geral de risadas, já estávamos mais à vontade para nos deliciarmos com uma combinação de clássicos e belezas do repertório que o grupo acumulou durante essas quatro décadas, como o contagiante “Caixote” (xote de Ayres), a criativa releitura jazzística de “O Pulo do Gato” (composição de Bellinati) ou a lírica “Cidade Encantada” (de Nelson e Milton Nascimento).
E a festa musical não parou por aí. Também entrou no repertório material mais recente que o quinteto paulistano já tinha experimentado em alguns shows. Além do samba “Levada da Breca” (parceria de Rodolfo com seu filho baixista Noa Stroeter), o baião “Juazeiro” (de Luiz Gonzaga) ganhou como introdução a delicada “Aboio” (outra de Rodolfo e Noa), com Teco ao sax alto e ao pífano.
Que bela noite para se comemorar o tão esperado retorno dos shows ao vivo, em São Paulo. Salve o Pau Brasil! Salve o Sesc Jazz!
Esse show foi gravado e está disponível online neste link:
https://www.youtube.com/watch?v=14arLXs65DE&t=4497s
Sesc Jazz 2021: quinteto Pau Brasil festeja 40 anos, enfim, ao vivo
Marcadores: jazz, música instrumental, nelson ayres, pau brasil, paulo bellinati, ricardo moska, rodolfo stroeter, Sesc Jazz 2021, Teco Cardoso | author: Carlos CaladoPosts Relacionados:
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