Nailor Proveta: três álbuns preciosos de um virtuose da música instrumental brasileira

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O apelido Proveta, que virou nome artístico, surgiu durante a adolescência de Nailor Azevedo, nos anos 1970. O então precoce clarinetista e saxofonista, paulista da interiorana Leme, era chamado de “bebê de proveta” pelos colegas da capital, que já o consideravam um prodígio.

Diferentemente de tantos jovens talentos que se perdem pelo caminho, Proveta superou as melhores expectativas. Muito requisitado nos meios da música instrumental e da MPB, tornou-se compositor, arranjador e líder da conceituada Banda Mantiqueira. Eclético, também transita com facilidade pelo jazz e pela música clássica.

Quem conhece seu belíssimo álbum “Tocando para o Interior”, de 2007, vai logo notar que, em “Coreto no Leme” (lançamento independente), ele rebobina novamente imagens e sons de sua infância, resgatando a atmosfera dos coretos interioranos.

A sonoridade do Quarteto de Cordas Ensemble SP, presente na maioria das faixas desse disco, é essencial para traduzir a eclética concepção musical que Proveta exercita há décadas, em sua carreira. Para ele, a plenitude da música só pode ser apreciada quando se supera a limitadora divisão em gêneros, que separa o clássico do popular.


O repertório, quase todo composto pelo clarinetista, soa como uma coleção de emoções e sentimentos: a alegria da “Polca de Coreto”; a nostalgia do choro-habanera “De Manhã, Lembranças”; o romantismo da valsa “Ypê do Cerrado” (composição de Edson José Alves); a admiração revelada pela “Suíte Encontros”, na qual o clarinetista dialoga com as influências de Debussy, Pixinguinha, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, entre outras.

A concisa discografia solo de Proveta acaba de ganhar mais dois títulos. O álbum “Velhos Companheiros de K-Ximbinho” (lançamento Maritaca) exibe inovadoras releituras de composições do cultuado clarinetista e saxofonista potiguar Sebastião “K-Ximbinho” de Barros (1917-1980). 


Contando com participações de alguns craques da cena instrumental, com destaque para os flautistas Teco Cardoso (que assina a direção musical) e Lea Freire (responsável pela produção), esse trabalho deixa Proveta à vontade para exibir todo seu virtuosismo como solista. 

Choros com contagiante sabor de gafieira, como “Velhos Companheiros” e “Sempre”, chamam atenção no repertório desse álbum, mas é em choros mais emotivos, de andamento lento, que Proveta se supera nos improvisos. Tratadas como baladas jazzísticas, as releituras de “Eu Quero É Sossego” e “Ternura” são simplesmente de arrepiar. 


em “Brasileiro Saxofone - vol 2” (lançamento Acari), Proveta leva adiante a proposta do álbum lançado em 2009, no qual esboçou a trajetória do sax na música brasileira do século 20. Desta vez o repertório é mais contemporâneo ainda: o próprio Proveta e o saxofonista Pedro Paes – autor do belo choro “Mensageiro”, que abre o disco – compuseram a maioria das faixas. 
 
Num projeto como este, dedicado ao saxofone, a trilogia composta por Proveta com o violonista Mauricio Carrilho, seu frequente parceiro, ganha um significado especial. Os choros “Meu Sax Sumiu”, “Meu Sax Voltou” e “Meu Sax Sorriu” nasceram a partir do verídico episódio do roubo e do resgate do instrumento favorito de Proveta. Um incidente triste que gerou choros radiantes.


(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes, edição de 30/4/2016)


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