No palco maior, festejado por mais
de 50 mil fãs espremidos na plateia, estava o guitarrista britânico Eric
Clapton, que já foi chamado de deus. Na tenda de blues, aplaudido por cerca de 2
mil admiradores, o lendário cantor e compositor Sixto Rodriguez desfrutava a inusitada
sensação de ser descoberto pelo público quatro décadas depois de uma carreira obscura.
Mesmo que isso
não tenha sido intencional, o primeiro final de semana do 45º New Orleans Jazz &
Heritage Festival terminou, anteontem, com uma antítese reveladora da
competitiva cultura norte-americana. Clapton é o típico vencedor, grande
instrumentista e bluesman que virou popstar, uma unanimidade. “Outsider” de um
sistema que tentou enfrentar com suas canções folk, Rodriguez encarnou durante
décadas a figura do perdedor.
Homenageado deste
ano pelo festival, o Brasil ganhou até uma tenda para apresentações diárias,
que inclui shows e mostras de culinária regional e artesanato. Pena que as
atrações selecionadas, como um grupo baiano de capoeira, um afoxé pernambucano
ou uma banda de forró com brasileiros radicados em Nova York, só reforçaram a
velha imagem externa de um país exótico e festivo, mas defasado em relação ao
cenário internacional.
Em mais uma
edição marcada pela ênfase em popstars, como Clapton, Santana, Robert Plant,
Public Enemy e Phish, que fecharam os programas dos palcos maiores neste final
de semana, o New Orleans Jazz Fest tem alcançado o objetivo de ampliar suas
plateias ano a ano. Por outro lado, corre o risco de se descaracterizar.
Bastava ver os
espaços vazios nas plateias dos shows de vários artistas locais, forçados a concorrer
com esses astros e bandas pop, nos mesmos horários. A questão agora é saber
quanto o Jazz Fest pretende crescer, sem pagar o preço de se tornar um festival
pop, como tantos outros. Uma cidade com uma cena musical tão rica e original,
como Nova Orleans, não merece isso.
(Texto publicado originalmente na edição online da "Folha de S. Paulo", em 28.4.2014)
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