BMW Jazz Festival: segunda edição do evento, em São Paulo, superou a anterior

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                                       O Charles Loyd Quartet / Photo by Marcos Hermes-Divulgação

Programar bandas de funk, soul e rock, em festival de jazz, é um recurso populista? Se o jazz morreu ainda na década de 1940, como dizem alguns, esqueceram de avisar aos músicos, fãs e centenas de festivais do gênero realizados hoje pelo mundo? Música instrumental brasileira também pode ser considerada jazz?


Discussões insolúveis como essas têm acompanhado os festivais do gênero, praticamente, desde o pioneiro Newport Jazz Festival, em 1954. Não eram muito diferentes as conversas ouvidas nos corredores do Via Funchal, em São Paulo, durante a segunda edição do BMW Jazz Festival, que terminou já na madrugada de segunda-feira (11/6).

Mesmo assim, poucos discordarão da superioridade desta edição frente à do ano passado, tanto em termos de substância musical, como por ter conseguido representar em seu elenco diversas tendências que circulam hoje pelos festivais internacionais apoiados no sofisticado rótulo do jazz.

Para alegria dos fãs mais puristas, o jazz predominou, na terceira e última noite do BMW Jazz Festival. Começou com a Secret Society, big band do canadense Darcy James Argue, festejado por aproximar a tradição dos arranjos orquestrais no jazz de outros gêneros, como a música clássica e contemporânea, ou mesmo do rock.

Porém, quem foi mal informado ao festival, imaginando ouvir versões orquestrais de canções do Radiohead ou do Nirvana, deparou-se com “Brooklyn Babylon”, suíte baseada numa história do quadrinista croata Danijel Zezelj, que mistura elementos musicais do minimalismo, passagens dramáticas típicas de trilhas cinematográficas e, enfim, uma guitarra bem roqueira. 


                    Stefon Harris, Christian Scott e David Sanchéz / Photo by Marcos Hermes-Divulgação

Mesmo sem contar com os pianistas cubanos Harold López-Nussa e Rember Duharte, que contribuíram bastante para as gravações do projeto Ninety Miles, o vibrafonista Stefon Harris, o saxofonista David Sánchez, o trompetista Christian Scott e grupo incendiaram a plateia com seu jazz contemporâneo calcado em ritmos afro-cubanos. Solando com paixão sua balada “The Forgotten Ones”, Sánchez foi o responsável pelo número mais sublime da noite.

Quem foi mais cedo para casa perdeu outro ponto alto do festival: o show do veterano saxofonista Charles Lloyd, dono de um faro apurado para formar seus grupos. O pianista Jason Moran, o baixista Reuben Rogers e o baterista Eric Harland nem precisariam do polêmico líder, que até hoje rumina a sonoridade e o fraseado do genial John Coltrane (1926-1967), para conquistar os felizardos que os esperaram até de madrugada.


(texto publicado no Folha.com, em 12/06/2012)

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