João Parahyba: percussionista e compositor recria a atmosfera do samba-jazz dos anos 1960

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É natural que as gerações mais jovens associem a imagem de João Parahyba ao lendário Trio Mocotó, cujo contagiante samba-rock foi redescoberto e festejado durante a última década. Mas quem acompanha a carreira desse eclético percussionista, compositor e arranjador paulista sabe que ele também já colocou seu talento a serviço da MPB, do jazz, da música instrumental ou até da música eletrônica.

Em "O Samba no Balanço do Jazz" (lançamento SescSP), João Parahyba interpreta com personalidade a atmosfera sonora do samba-jazz – o híbrido subgênero que revigorou a música instrumental brasileira, na década de 1960. “Minha intenção foi fazer uma reverência ao começo de minha vida musical. Fui um privilegiado, porque entrei na música convivendo com Milton Banana, com o Zimbo Trio e o Tamba Trio. Eu era amigo do Luiz Eça, do Bebeto, do César Camargo Mariano e do João Donato. Fui aceito por eles como o caçula dessa seleção”, relembra.

Com a sabedoria de quem conhece a fundo a linguagem do samba-jazz, JP relê aqui alguns clássicos dessa vertente, como “Sambou, Sambou” (João Donato), “Nanã” (Moacir Santos) e “Batida Diferente/Estamos Aí” (Durval Ferreira e Maurício Einhorn). Exibe também saborosas composições próprias que remetem a esse gênero, como “Kurukere” e “Number One”, conduzindo o elegante quinteto que inclui Giba Pinto (baixo), Rudy Arnaut (guitarra), Marcos Romera (piano) e Teco Cardoso (sax barítono e flauta), além das participações de Thiago Costa (piano), Rodrigo Lessa (bandolim), Marcelo Mariano (baixo), Beto Bertrami (piano) e Ubaldo Versolato (flauta e sax barítono).

Três veteranos do gênero também participam do projeto. Mentor musical de JP, Amilton Godoy, o pianista do original Zimbo Trio, contribui com um arranjo de sua composição “Batráquio”, escrito especialmente para o quinteto do percussionista. O compositor e arranjador Laércio “Tio” de Freitas oferece a seu ex-aluno a oportunidade de lançar a inédita bossa “Búzios”. Clayber de Souza, ex-integrante dos cultuados Sambalanço Trio e Jongo Trio, mostra seu virtuosismo à gaita, no jazzístico arranjo que escreveu para o “Trenzinho do Caipira” (Villa-Lobos).

JP também introduz neste álbum seu filho Janja Gomes, autor da sensível valsa-jazz “Valseta”, cuja gravação destaca o emotivo solo de clarinete de Nailor Proveta e um inusitado sample com o argentino Julio Cortázar, declamando um de seus escritos poéticos. Uma bela surpresa que nos faz pensar: embora não seja regra, o talento artístico certamente pode ser transmitido por via genética.

(texto escrito a convite do selo SescSP)

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