Nas décadas de 80 e 90, encontrar o selo Kuarup, na capa de um disco de vinil ou de um CD, praticamente garantia que se tratava de música brasileira de boa qualidade. Criada em 1977, no Rio de Janeiro, essa gravadora independente formou um catálogo com mais de 200 títulos, inicialmente centrado em obras de Villa-Lobos e choros. Com o tempo, seu mentor e produtor Mario de Aratanha decidiu investir também na “cultura brasileira de raiz”, gravando música caipira, sambas e música nordestina.
Desativada em 2009, a Kuarup foi adquirida pelos empresários Arthur Fitzgibbon e Alcides Ferreira, que acertaram uma parceria com a Sony Music para reeditar títulos do acervo. O primeiro pacote destaca nove CDs que sintetizam bem a diversidade musical desse catálogo. Inclui ainda o álbum de estréia da cantora Luciana Pires, primeiro lançamento inédito do selo, nesta nova fase.
Uma das jóias do pacote é o CD “Noites Cariocas - Ao Vivo no Municipal” (1988), que reúne uma constelação de astros do choro, como Paulo Moura, Altamiro Carrilho, Paulinho da Viola e Chiquinho do Acordeom, para interpretar clássicos de Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Radamés Gnattali.
Foi tamanha a repercussão desse encontro que, 15 anos depois, o cavaquinhista Henrique Cazes decidiu revivê-lo com outras feras do choro, em “Noites Cariocas - A Alegria do Improviso” (2003). Cazes também co-assina a produção de “Sempre Jacob” (1996), álbum no qual a obra de Jacob do Bandolim é interpretada por Joel Nascimento, Nó em Pingo D’Água e Déo Rian.
Campeão de vendas da Kuarup, “Ao Vivo em Tatuí” (1992) registra o encontro do compositor e cantor Renato Teixeira com a singela dupla vocal Pena Branca e Xavantinho. No repertório, sucessos do universo caipira, como “Amanheceu, Peguei a Viola” e “Romaria”. Teixeira também protagoniza outros CDs do pacote: “Ao Vivo no Rio - 30 Anos de Romaria” (1998) e “Renato Teixeira e Rolando Boldrin” (2004). Mais recente também é “No Balanço do Balaio” (1999), do cantor e compositor mineiro Vander Lee.
Finalmente, também não poderia faltar nesse pacote de relançamentos a obra magistral de Villa-Lobos, representado pela primeira gravação integral de seus choros (“Os Choros de Câmara”, de 1977), com diversos intérpretes, e “A Floresta do Amazonas” (1988), com Wagner Tiso, João Carlos Assis Brasil e Ney Matogrosso. Tomara que outras preciosidades da Kuarup voltem logo ao mercado.
(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 24/6/2011)
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