Mario Adnet: de volta à composição, com vários parceiros, em "O Samba Vai"

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Mais conhecido nesta década como arranjador, violonista e produtor, graças aos elogiados discos que dedicou às obras de Moacir Santos (“Ouro Negro” e “Choros & Alegrias”, ambos com Zé Nogueira), Baden Powell (“Afrosambajazz”, com Phillipe Baden Powell) e Tom Jobim (“Jobim Jazz” e “Jobim Sinfônico”), o músico carioca Mario Adnet volta a gravar um álbum autoral.

No CD “O Samba Vai” (lançamento Biscoito Fino), ele retoma parcerias com Joyce, Paulo César Pinheiro, Bernardo Vilhena e Chico Adnet, além de exibir duas recentes canções que fez com João Donato. Nos vocais participam também Mônica Salmaso, Joyce, Pedro Miranda, Muiza Adnet e Antonia Adnet.

A seguir Mario Adnet comenta detalhes desse álbum, fala sobre seus parceiros e relembra a recepção calorosa que o projeto “Ouro Negro” obteve em Nova York, meses atrás, em concerto no conceituado Lincoln Center.

Pergunta - Nos últimos anos você se dedicou a projetos centrados nas obras de Moacir Santos, Baden Powell, Tom Jobim e Villa-Lobos. Como lida com o fato de sua obra autoral ficar em segundo plano?

Mario Adnet - Eu me sinto muito bem por ter seguido esse caminho, que só enriqueceu minha música. Esses projetos foram muito importantes para mim, como um resgate de mim mesmo. Se eu não tivesse as músicas desses compositores à minha volta, minha música não teria razão de existir.

Qual foi sua intenção ao planejar esse disco? 

Adnet - Eu tinha o desejo de fazer um trabalho cantado. Esse disco tem canções divertidas, outras mais sérias, mas foi uma alegria fazê-lo. Eu já tinha parcerias com o Paulo César Pinheiro, como a “Valsa Exaltação e “Dois Orfeus”, compostas há mais de 15 anos. Achei que “Fazer Samba pra Você” era parecida com a Joyce, parceira e amiga de mais de 30 anos. Mostrei a ela e dois dias depois recebi o e-mail com a letra. Com o João Donato também foi engraçado. Liguei pra ele e no mesmo dia fizemos duas músicas: “Um Samba na Madrugada”, que eu já tinha iniciado, e “Domingo de Verão”, que ele começou a compor na hora. Fiquei de botar as letras nas duas, mas depois decidi chamar o Bernardo Vilhena, outro antigo parceiro. Ele acertou a mão na leveza dos versos.

A bem-humorada “Fred Astaire do Samba”, parceria com seu irmão Chico (pai do comediante Marcelo Adnet), é uma faixa que logo se destaca no disco. Vocês têm outras canções? 

Adnet - Fizemos poucas coisas, na época em que ainda éramos garotos. Depois o Chico enveredou pela publicidade e pelas trilhas sonoras. Ele tem esse viés engraçado que o Marcelo herdou. Creio que “Fred Astaire do Samba” será o início de um trabalho maior que já estamos planejando (veja o video abaixo).

Você também gravou “Céu e Mar”, uma das obras-primas de Johnny Alf, que morreu em março. Foi uma homenagem póstuma?  

Adnet - Eu sempre quis gravar Johnny Alf, tinha até ensaiado um projeto só com a música dele. O arranjo de “Céu e Mar” já estava pronto quando ele morreu, mas não deixa de ser uma homenagem. As músicas do Johnny são muito ricas. Tom Jobim foi influenciado por ele. Ao ouvir “Rapaz de Bem”, do Johnny, penso que o “Desafinado” saiu dali.

Você imaginou que “Ouro Negro” (2001), o álbum duplo que você e Zé Nogueira dedicaram à obra de Moacir Santos, se tornaria uma referência inclusive no exterior?

Adnet – Não imaginava isso, mas hoje sinto que vamos continuar fazendo esse trabalho “ad eternum”. Aliás, tocamos o “Ouro Negro” em Nova York, no Lincoln Center, em maio deste ano. O público estava muito quente e aplaudiu de pé. Eu olhava para as primeiras filas da platéia e via o pessoal ouvindo de olhos fechados. Isso dá um gás enorme para que a gente possa acreditar mais no que fazemos e prosseguir, porque o Brasil é uma terra injusta.

O preconceito e a ignorância frente à música instrumental têm diminuído no Brasil?

Adnet – Sim, o interesse do público é cada vez maior. Sinto que hoje você precisa fazer um show muito bem produzido, com músicos de primeira linha, porque isso faz toda a diferença. As pessoas percebem isso, por mais leigas que sejam. Esse é um jeito de voltar a valorizar a música brasileira, que foi muito desvalorizada pela indústria fonográfica nas últimas décadas.

entrevista publicada originalmente no “Guia da Folha – Livros, Discos e Filmes”, em 24/9/2010)



1 Comentário:

Anônimo disse...

Que raridade maravilhosa esse artista incrível! Como eu o adoro!
Meu caro Carlos Calado, Olá, minha cara pessoa também brasileira! Há canções e há momentos. Como vamos explicar?

Eu sou um cantor/compositor brasiliense de 20 anos. Já trabalhei como letrista em alguns musicais brasileiros. Atualmente estou cantando na Dinamarca e gostaria de dividir minha cantoria com você!
Convido você a escutar belas canções de Dorival Caymmi cantadas por mim!

Espero que você se inebrie! Caso te agrade, não deixe de compartilhar com outras pessoas!

segue o link: http://www.myspace.com/paulloazeviche

Te convido a ler um poema meu recentemente publicado:

Minhas conclusões pseudo-alcoólatras
muitas vezes soam sábias:
das gotas de sobriedade são idólatras,
mas e o medo de que acabe-as?

Digo… medo de que acabe as gotas.
Alguém acabe.
Acabe as gotas.
Cabe as gotas.
Cabe-as todas em tanto pensamento.

Mas de uma coisinha eu tenho plena certeza:
é tanta gente falando, tanta ladainha,
são muitos os crivos.
Não sei pra que,
já que a vida é feita ao vivo.

Abraços e flores do cerrado!

Paullo Azeviche

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