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Sesc Jazz: o encontro autoral dos guitarristas Mike Moreno & Guilherme Monteiro

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                                                          Os guitarristas Mike Moreno (à esq.) e Guilherme Monteiro 

A plateia do Sesc Sorocaba presenciou um inédito encontro musical, na quinta-feira (30/8), que será repetido neste sábado (1.º/9), em Araraquara. Mike Moreno e Guilherme Monteiro, guitarristas e compositores que convivem há quase duas décadas na competitiva cena do jazz em Nova York, uniram forças à frente de um quarteto, em mais uma noite do festival Sesc Jazz.

Uma parceria como essa seria pouco provável, não fosse o interesse que o norte-americano tem demonstrado pela música brasileira. Apontado pela crítica especializada como um dos guitarristas mais criativos do jazz na última década, Moreno já se apresentou em outros importantes festivais brasileiros do gênero, como o Amazonas Jazz, em Manaus (AM), ou o Savassi Festival, em Belo Horizonte (MG).

Não causaria surpresa se ele e Monteiro – carioca que vive há 18 anos em Nova York, onde já tocou com jazzistas do primeiro time, além de integrar a original banda Forró in the Dark – tivessem escolhido um repertório de clássicos do jazz e da música brasileira. Mas os dois guitarristas preferiram encarar o desafio de montar um repertório mais autoral e colaborativo, contando também com os talentos do baixista Alberto Continentino e do baterista Vitor Cabral.

O quarteto abriu o show com “Peace”, uma divagativa composição de Monteiro, bem adequada para que a banda e a plateia entrassem no clima. “Lotus”, faixa-título do álbum que Moreno lançou no final de 2015, tocada em seguida, é um exemplo perfeito do estilo de composição que ele vem desenvolvendo. Vários de seus temas, baseados em células melódicas simples e repetidas com variações sutis, levam o ouvinte a uma espécie de estado de meditação.

Em seus improvisos, o guitarrista texano revela uma abordagem essencialmente melódica. Suas frases são simples e limpas, permitindo se ouvir cada nota com clareza. Embora seja um músico bastante técnico, Moreno não usa sua destreza e fluidez no instrumento para se exibir. Seus solos, às vezes hipnóticos, parecem buscar belezas escondidas nas harmonias das composições.

Além da técnica apurada, Monteiro também demonstra uma sofisticada bagagem harmônica. Seu fraseado, em alguns improvisos, é bastante jazzístico. Talvez por isso, curiosamente, sua composição “Long Road to Paradise” chamou mais atenção. Praticamente uma canção sem versos, ela foi apresentada com uma alusão aos Beatles. “Costumo dizer que essa é a minha ‘Blackbird”, brincou o compositor.

Claro que, mesmo em um show de repertório majoritariamente autoral, Moreno não deixaria de reverenciar a música brasileira. Com sua maneira tão pessoal de burilar melodias, tocou “Outubro” (de Milton Nascimento e Fernando Brant), em uma bela e dramática versão, com destaque para as intervenções de Cabral e Continentino.

Mas a surpresa da noite foi reservada àqueles que, já ao final do show, bateram palmas insistentemente até que os músicos retornassem ao palco. Falando em um razoável português, Moreno contou que veio a conhecer “A Flor e o Espinho”, o clássico samba-canção de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, em 2009, quando uma fã de Manaus o presenteou com um disco da cantora Elizeth Cardoso. Preciso dizer que esse inusitado bis foi um dos momentos mais emocionantes da noite?


(Resenha escrita a convite da produção do festival Sesc Jazz. Leia outras críticas de shows desse evento, no site do Sesc SP: https://www.sescsp.org.br/online/revistas/tag/12411_CRITICAS+SESC+JAZZ)


Kurt Elling: premiado vocalista de jazz traz seu repertório eclético a São Paulo

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                                           O vocalista de jazz Kurt Elling - Foto de Palma Kolansky/Divulgação


Chamá-lo simplesmente de cantor não faz jus à sua sofisticada concepção musical. Kurt Elling utiliza a voz como um instrumento, na melhor tradição dos grandes vocalistas do jazz – de Louis Armstrong a Jon Hendricks e Mark Murphy, que o influenciaram.

“O jazz é a música por meio da qual eu encontro e interpreto o mundo”, diz o norte-americano de Chicago, em entrevista à "Folha de S. Paulo". Nesta quarta (19/10), ele canta na Sala São Paulo, em concerto beneficente promovido pela Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes Carentes com Câncer).

Num universo musical dominado por cantoras, Elling reinou quase absoluto neste século. A revista especializada “Down Beat” o elegeu “melhor vocalista masculino de jazz” por 14 anos consecutivos. Indicado 12 vezes para o prêmio Grammy, saiu vencedor em 2009, com o álbum “Dedicated for You”.

“Não se ganha muito dinheiro ou fama como cantor de jazz – nada comparado ao que você consegue ao se tornar um astro pop”, ele comenta, tentando explicar a hegemonia feminina. “A maioria dos garotos atraídos pelo jazz prefere tocar um instrumento. E a maior parte dos que evoluem cantando acaba deixando o jazz”.

Em duas décadas de carreira, Elling já lançou 11 álbuns. Nos últimos anos, deixou de se limitar aos "standards" do repertório jazzístico. Em “Passion World” (2015), seu álbum mais recente, ele interpreta canções de vários países, como a cubana “Si Te Contara” (Felix Altuna), a francesa “La Vie em Rose” (Louiguy e Piaf) e a brasileira “Você Já Foi à Bahia” (Dorival Caymmi).

Também já gravou releituras de canções pop de Paul Simon, Sam Cooke e Carole King, no álbum “1619 Broadway” (2012). E recriou sucessos do rock de King Crimson e Beatles, em “The Gate” (2010).

O critério para escolher o repertório é, segundo ele, bem pessoal. “Preciso sentir, de algum modo, minha própria história naquela canção, que ela é capaz de despertar minha memória e meus sentimentos. Também tenho de sentir que posso acrescentar algo meu à história dessa canção no mundo”.

Já na hora de interpretar a canção, ou mesmo de improvisar com a voz, Elling acha que é essencial pensar antes de tudo no ouvinte. “Meu objetivo é criar música para as pessoas, cantar para a plateia. O grande jazz sempre foi feito para as pessoas”, afirma.

Admirador da música brasileira, Elling ressalta que, embora já tenha interpretado clássicas canções de “prodígios da criatividade, como Caymmi, Jobim e Vinicius de Moraes”, costuma estar aberto para aprender com músicos mais jovens.

“O Brasil transborda em talento, diversidade e beleza musical”, elogia, destacando os cantores Seu Jorge e Ana Carolina entre seus favoritos. “Adriana Calcanhotto, Bixiga 70 e Ava Rocha também fazem parte de minha coleção”, acrescenta.

A poucas semanas das conturbadas eleições para a presidência dos EUA, Elling diz acreditar na derrota de Donald Trump.

“É uma catástrofe que esse sujeito intolerante e repulsivo tenha chegado a representar uma face dos Estados Unidos para o mundo. É um insulto para as pessoas de boas intenções em todo o mundo que esse homem tenha recebido tamanho destaque, mas eu acredito que Trump será derrotado por maioria esmagadora”.


(Texto publicado na edição online da "Folha de S. Paulo", em 18/10/2016)



George Martin: documentário revê carreira do produtor inglês, parceiro dos Beatles

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Os oito anos da bem sucedida parceria com os Beatles, na década de 1960, fizeram do britânico George Martin uma influente referência na área da produção musical, especialmente por ter rompido barreiras entre a música clássica e o pop.

Uma das qualidades do documentário "Produced by George Martin" (produção da emissora de TV britânica BBC) é justamente não ter concentrado sua narrativa só nesse período. A carreira de Martin é narrada em detalhes, com humor bem britânico. Poucos sabem que ele produziu jazz, música para crianças, até comédias radiofônicas, quando trabalhou com o ator Peter Sellers.

Em saborosas conversas com o comediante Michael Palin (do grupo Monty Python) e, claro, com os beatles Paul McCartney e Ringo Starr, Martin relata passagens de sua vida, ilustradas por fotos e imagens raras, com uma simplicidade impressionante. Lição essencial de humildade para muitos que posam de produtores na música de hoje. 

(resennha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 31/8/2013)


Benjamim Taubkin e André Mehmari: criativas releituras de Chico Buarque e Beatles

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Dois brilhantes pianistas brasileiros inauguram a série Solo Lounge (lançamento MCD), que propõe releituras instrumentais de canções conhecidas. No álbum que dedica a Chico Buarque, Benjamim Taubkin ressalta o lirismo do compositor carioca, revelando novas nuances melódicas e rítmicas. Em suas versões, os sambas “Quem Te Viu Quem Te Vê” e “Samba e Amor” viram baladas jazzísticas, assim como “Valsinha” ganha um tratamento mais erudito.

Ao reler 14 sucessos dos Beatles, André Mehmari também aproxima algumas canções, como “Because” e “Here Comes the Sun”, do universo da música clássica, além de transformar “Penny Lane” em choro. Mais inusitada ainda é a “licença poética” de citar um trecho da caipira “A Tristeza do Jeca” (de Angelino de Oliveira) na releitura de “Norwegian Wood”. Tomara que os próximos volumes da série mantenham esse nível de criatividade. 


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 26/11/2010)



Duofel: violonistas lançam álbum com releituras instrumentais dos Beatles

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Nesta entrevista, Luiz Bueno e Fernando Melo, violonistas do Duofel, contam por que resistiram tanto à tentação de gravar um álbum só com releituras instrumentais de canções dos Beatles.

Vocês já tocam releituras de músicas dos Beatles há duas décadas. Por que só decidiram gravar agora esse álbum?
Luiz Bueno – Desde 1988, quando gravamos Beatles pela primeira vez, vários produtores, inclusive fora do Brasil, sugeriram que fizéssemos um disco como esse, mas ainda não nos sentíamos fortes o suficiente para não nos tornarmos escravos dos Beatles. No ano passado, quando o Duofel comemorou 30 anos, organizamos uma pequena enquete com nossos fãs e mais de 80% deles opinaram que deveríamos fazer esse disco. Antes da gravação, fizemos vários shows, onde percebemos que, na platéia, havia muitas pessoas que não conheciam o Duofel. Elas estavam ali para ouvir Beatles com a gente.

Como os Beatles entraram na vida de vocês?
Bueno – Na verdade, nós nos interessamos por música, ainda garotos, justamente por conta dos Beatles. Fernando e eu nos conhecemos num grupo de rock progressivo. Fizemos um caminho diferente da maioria dos instrumentistas, que já começam curtindo jazz. Quando acompanhamos Tetê Espíndola numa turnê pela Europa, em 1988, fomos conhecer a terra dos Beatles. Já naquela época colocamos “Norwegian Wood” em nosso repertório e ela se tornou um dos grandes momentos dos nossos shows.

Que faixas deste CD, em sua opinião, melhor representam a identidade musical do Duofel? 
Fernando Melo – Nós sempre utilizamos afinações diferentes nos nossos violões, mas neste disco fizemos uma nova experiência. Eu era baixista, mas deixei de tocar contrabaixo porque quebrava as unhas e, na hora de tocar violão no Duofel, ficava difícil. Então resolvi descobrir uma afinação que misturasse a sonoridade do contrabaixo com a do violão. Eu já vinha tentando isso há algum tempo, mas só nesse disco achei o espaço certo para usar essa afinação. Isso aconteceu em “Eleanor Rigby”, que abre o CD, e em “A Day in the Life”, a última. Outra faixa que ficou com a nossa cara é “The Fool on the Hill”, porque nela utilizamos instrumentos que não estariam presentes na música dos Beatles, como a viola caipira e o violão tenor. Também usamos o arco de rabeca, que aparece em outras faixas do disco.   

Hoje, quando o futuro da distribuição da música parece estar associado aos downloads na internet, lançar um álbum focado nos Beatles não é ficar na contramão do mercado?
Bueno – Já nos sentimos na contramão outras vezes, mas temos certeza de que o amante da música que fazemos ainda compra discos. Demos um grande passo em nossa vida profissional, cinco anos atrás, quando criamos a Fine Music. Nossa idéia inicial já era bastante contemporânea: não ser apenas uma gravadora, mas também um ponto de distribuição de nossa música. Em nosso site (www.duofel.com), já vendemos nossos discos por download. E assim que a editora das canções dos Beatles nos der permissão, este CD também será vendido por download. Um álbum reúne não só uma colocação musical e artística, mas um pensamento, toda a filosofia que amarra a vida de um músico ou de um compositor. Eu vejo o álbum como uma galeria de quadros que expressa o momento daquela criação do artista.

(entrevista publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 30/10/2009)


Duofel: recriando sucessos dos Beatles sem perder a identidade

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Acostumados a ouvir as saborosas versões de canções dos Beatles que o Duofel exibia com freqüência em seus shows, muitos fãs não entendiam por que os violonistas Luiz Bueno e Fernando Melo resistiam à idéia de gravar um disco com esse repertório. Ao ouvir “Duofel Plays The Beatles” (lançamento Fine Music), dificilmente algum desses fãs ficará decepcionado.

Como se tivesse esperado o tempo certo para que suas idéias amadurecessem, a dupla se superou nas releituras de clássicos do quarteto britânico. Algumas, como as de “Across the Universe” e “Here, There and Everywhere”, são mais reverentes. Outras escancaram a personalidade musical da dupla, caso de “Mr. Moonlight”, que soa como uma caipira moda de viola, sem perder sua essência melódica. Um álbum para beatlemaníaco algum colocar defeito.

(Resenha publicada no “Guia da Folha – Livros, Discos e Filmes”, em 30/10/2009)

  

 

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