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Passion4Jazz: podcast aproxima ouvintes do universo do jazz e gêneros afins

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                                                                  O multiinstrumentista e compositor Hermeto Pascoal  

Gosta de jazz e música instrumental brasileira? Então tenho um convite para você: já está disponível no Spotify, no YouTube, na Apple TV e em outras plataformas de streaming o primeiro episódio do podcast Passion4Jazz. Dirigido não só aos fãs do jazz e gêneros afins, mas também àqueles que desejam se iniciar nesse inventivo universo musical, o P4J estreia com um episódio dedicado à música e ao legado da grande cantora e ativista negra Nina Simone (1933-2003), com participações especiais das cantoras Leila Maria e Alma Thomas.

Com oito episódios, a primeira temporada do Passion4Jazz destaca também: a música universal do “bruxo” Hermeto Pascoal comentada por três de seus discípulos; as fusões do jazz contemporâneo com o hip hop assinadas pelo pianista e compositor Robert Glasper; o samba-jazz de ontem e de hoje, com participações especiais do Trio Corrente e do pianista Amilton Godoy; o legado musical do grande maestro pernambucano Moacir Santos; a história e os causos da criativa dupla Airto Moreira e Flora Purim; um panorama da nova geração do jazz em Londres; e um balanço da impactante e mística obra do saxofonista e compositor John Coltrane.

Deu para sentir até onde queremos chegar nessa primeira temporada? Além da conversa descontraída e repleta de informações relevantes, que se espera dos melhores podcasts, contamos ainda com uma atração exclusiva: um quarteto formado pelos craques Gustavo Bugni (piano), Bruno Migotto (baixo), Vitor Cabral (bateria) e Jota P. (sopros), que tocam releituras de clássicos do jazz, em vários episódios.

Como consultor musical desse projeto (e umas coisinhas a mais), tem sido um grande prazer trabalhar ao lado do pianista Jonathan Ferr e da jornalista Debora Pill, nossos hosts, do designer Oga Mendonça e do jornalista Eduardo Roberto. A produção executiva é de Marcelo Pires e Luciana Pavan, à frente da equipe da produtora PlayGround.


Noa Stroeter: baixista do Caixa Cubo Trio exibe seu trabalho autoral no álbum "Prece"

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Conhecido na cena atual da música instrumental brasileira como contrabaixista do Caixa Cubo Trio, Noa Stroeter encara agora, com mais intensidade, o desafio do trabalho autoral. Em “Prece”, seu primeiro álbum solo, ele assina todas as composições e lidera um quinteto que inclui outros talentosos instrumentistas de São Paulo. 

“Essas músicas são meio autobiográficas, tentam contar algumas coisas que fazem parte da minha história”, revela o instrumentista paulistano, hoje com 32 anos. Seu interesse pela composição musical foi acentuado durante os seis anos em que frequentou como bolsista a graduação e o mestrado no Conservatório Real de Haia, na Holanda.

Além do contato mais próximo com a música clássica, viver na Europa lhe proporcionou um ponto de vista diferente do Brasil. “Essa experiência de poder olhar de longe o lugar onde nasci e cresci foi engrandecedora, porque na Europa nossa música é respeitada de uma maneira muito diferente comparada à que se encontra no Brasil. Perceber essa afinidade do povo europeu com a música brasileira me deu confiança para afirmar minhas raízes e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de encontrar o que é essa raiz em mim”, reflete Noa.

Constatar que a cultura brasileira é reverenciada na Europa, com um olhar focado principalmente na bossa nova e na batucada, trouxe um desafio ao compositor. “Perceber isso provocou em mim a necessidade de produzir um material que proponha uma visão diferente do músico e da música brasileira. A busca de como posso trazer essa característica para o meu trabalho foi e talvez ainda seja meu maior estímulo para criar", completa o compositor.

A ligação de Noa com o contrabaixista e produtor Rodolfo Stroeter – seu pai, que dividiu com ele a produção deste trabalho – também inspirou a faixa que dá título ao álbum. “Prece” começa com um emotivo solo de contrabaixo à capela, que evolui para a sensível melodia tocada pelos sopros. “É uma carta de amor, que se refere à benção de ser filho dele”, comenta Noa. Sentimental também é “Dinda”, bela composição do contrabaixista dedicada a seu avô paterno, que abre o disco.

Foi na Holanda que nasceu a lírica “Ornitorrinco e Tatu”, composição de Noa já gravada pelo grupo Batanga & Cia, em 2018. Idealizada originalmente para um quarteto de saxofones, ela foi adaptada para a nova formação. O compositor a criou pensando em seu irmão caçula, que tinha cinco anos na época. “Kim estava estudando os bichos, na escola, e criou junto com meu pai uma história em quadrinhos. Os heróis eram um ornitorrinco e um tatu”, relembra.

Já a romântica “Isis” traz uma surpresa para o ouvinte. Noa a dedica à sua companheira, cuja “envolvente variação de humor” (em suas palavras) transparece na estrutura da composição. A delicada melodia da introdução, tocada pela flauta, é seguida pelo característico ritmo de marcha-rancho, marcado pelo baterista Vitor Cabral. Bem popular na MPB dos anos 1950 e 1960, infelizmente, esse ritmo foi deixado de lado pelos compositores, com o passar do tempo.

Também não poderia faltar um samba-jazz, uma das referências musicais do Caixa Cubo Trio (vale lembrar que antes de lançar os álbuns “Misturada”, “Enigma” e “Saturno”, o grupo já havia gravado dois discos como duo). No contagiante “Beco das Garrafas”, o piano elétrico de Marcos Romera empresta uma sonoridade mais contemporânea à tradicional instrumentação do quinteto de jazz, com trompete, sax tenor, contrabaixo e bateria. Bem jazzístico também é “Veridiana”, tema em ritmo ternário, que destaca intervenções de Josué dos Santos, ao sax tenor, e Daniel D’Alcântara, ao flugelhorn.

Outra surpresa vem em “Varanda”, um bolero à Henri Mancini, um dos heróis musicais de Noa, inspirado na atmosfera boêmia de decadentes bares do centro de São Paulo. No saboroso arranjo, o ritmo de bolero se transforma em cha-cha-chá. Vale notar que o som volumoso do sax tenor e a surdina do trompete remetem a sonoridades das dançantes orquestras dos anos 1950.

Pergunte a Noa, como fiz, quais são suas maiores influências e vai receber uma lista um tanto inusitada. Ao lado de grandes compositores da música clássica, como Claude Debussy e Sergei Rachmaninnof, mestres da música brasileira, como Dorival Caymmi e Nelson Cavaquinho, ou ainda jazzistas do primeiro time, como Duke Ellington e Charles Mingus, poderão estar o pintor Pablo Picasso e o cineasta Martin Scorsese.

“Seja o que for aquilo que um artista procura em sua arte, o mais importante é a busca e o processo de afirmar sua própria voz, encontrar sua maneira de se expressar artisticamente. Nessa busca não tem atalhos nem fórmula mágica, ela vem conforme nos dedicamos todo dia a ela, com paciência e muito amor. É uma busca por viver uma vida da maneira mais artística possível”, reflete o músico.

Além do alto quilate da música autoral que Noa exibe neste álbum, ao ouvi-lo definir sua filosofia artística com toda essa sabedoria, não tenho dúvida alguma de que ele está no caminho certo.






Isca de Polícia: banda paulistana lança outro álbum com influências de Itamar Assumpção

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Quem foi ao teatro do Sesc Pompeia, no último fim-de-semana, pôde comprovar que a influência do grande Itamar Assumpção (1949-2003) segue viva e inspiradora. Nos shows de lançamento do álbum “Isca Vol. 2: Irreversível” (selo Elo Music), a banda Isca de Polícia exibiu mais uma inédita coleção de canções marcadas pela estética musical e poética desse compositor, expoente da geração que ficou conhecida como Vanguarda Paulista. 

Formada atualmente por Paulo Lepetit (baixo elétrico), Luiz Chagas e Jean Trad (guitarras), Suzana Salles e Vange Milliet (vozes e vocais), além dos bateristas Marco da Costa (só no disco) e Vitor Cabral, a Isca de Polícia acompanhou Itamar em diversas fases ao longo dos anos 1980 e 1990. Mesmo com total credibilidade, essa banda paulistana só decidiu lançar em 2017 seu primeiro disco autoral (“Isca Vol. 1”).

Lepetit, o compositor mais ativo da banda, também é o autor mais frequente nas 10 faixas do novo álbum, cuja produção ele assina com Vange. Como no disco anterior, o repertório inclui parcerias do baixista com outros parceiros e admiradores de Itamar, como Arrigo Barnabé (“Consciência Contemporânea”, que ironiza o fascínio por procedimentos estéticos), Chico César (“Bolino”, que alfineta o conservadorismo da igreja católica), Alzira E (a romântica “Meus Olhos”) e Zélia Duncan (a funkeada “Se Não Tô Bem”).

Duas das canções levam a assinatura do próprio Itamar. “Beleléu Via Embratel” (composta para concorrer em um festival, nos anos 1980, mas não gravada até agora) lembra as clássicas “Fico Louco” e “Nego Dito”. Já a contagiante “Tomara” (parceria com Vange) soa como um adequado mantra para os pesados dias em que vivemos. “De morno pra beijo ardente /Depressão pra alto astral /Fênix onde doente /É o que desejo for all /Tomara seja pra sempre /É o que desejo for all”, ambicionam os versos.

Faixa inicial do álbum, a dançante “Danou-se” (de Lepetit e Luiz Chagas) também foi escolhida para abrir o show de lançamento, que inclui no repertório alguns sucessos de Itamar. Aliás, um show profissionalíssimo, que tem tudo – saborosos arranjos musicais, figurinos criativos e (o mais importante) excelente performance das vocalistas e dos músicos da banda – para fazer sucesso no circuito dos festivais de música ou em outros palcos pelo país.





Sesc Jazz: o encontro autoral dos guitarristas Mike Moreno & Guilherme Monteiro

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                                                          Os guitarristas Mike Moreno (à esq.) e Guilherme Monteiro 

A plateia do Sesc Sorocaba presenciou um inédito encontro musical, na quinta-feira (30/8), que será repetido neste sábado (1.º/9), em Araraquara. Mike Moreno e Guilherme Monteiro, guitarristas e compositores que convivem há quase duas décadas na competitiva cena do jazz em Nova York, uniram forças à frente de um quarteto, em mais uma noite do festival Sesc Jazz.

Uma parceria como essa seria pouco provável, não fosse o interesse que o norte-americano tem demonstrado pela música brasileira. Apontado pela crítica especializada como um dos guitarristas mais criativos do jazz na última década, Moreno já se apresentou em outros importantes festivais brasileiros do gênero, como o Amazonas Jazz, em Manaus (AM), ou o Savassi Festival, em Belo Horizonte (MG).

Não causaria surpresa se ele e Monteiro – carioca que vive há 18 anos em Nova York, onde já tocou com jazzistas do primeiro time, além de integrar a original banda Forró in the Dark – tivessem escolhido um repertório de clássicos do jazz e da música brasileira. Mas os dois guitarristas preferiram encarar o desafio de montar um repertório mais autoral e colaborativo, contando também com os talentos do baixista Alberto Continentino e do baterista Vitor Cabral.

O quarteto abriu o show com “Peace”, uma divagativa composição de Monteiro, bem adequada para que a banda e a plateia entrassem no clima. “Lotus”, faixa-título do álbum que Moreno lançou no final de 2015, tocada em seguida, é um exemplo perfeito do estilo de composição que ele vem desenvolvendo. Vários de seus temas, baseados em células melódicas simples e repetidas com variações sutis, levam o ouvinte a uma espécie de estado de meditação.

Em seus improvisos, o guitarrista texano revela uma abordagem essencialmente melódica. Suas frases são simples e limpas, permitindo se ouvir cada nota com clareza. Embora seja um músico bastante técnico, Moreno não usa sua destreza e fluidez no instrumento para se exibir. Seus solos, às vezes hipnóticos, parecem buscar belezas escondidas nas harmonias das composições.

Além da técnica apurada, Monteiro também demonstra uma sofisticada bagagem harmônica. Seu fraseado, em alguns improvisos, é bastante jazzístico. Talvez por isso, curiosamente, sua composição “Long Road to Paradise” chamou mais atenção. Praticamente uma canção sem versos, ela foi apresentada com uma alusão aos Beatles. “Costumo dizer que essa é a minha ‘Blackbird”, brincou o compositor.

Claro que, mesmo em um show de repertório majoritariamente autoral, Moreno não deixaria de reverenciar a música brasileira. Com sua maneira tão pessoal de burilar melodias, tocou “Outubro” (de Milton Nascimento e Fernando Brant), em uma bela e dramática versão, com destaque para as intervenções de Cabral e Continentino.

Mas a surpresa da noite foi reservada àqueles que, já ao final do show, bateram palmas insistentemente até que os músicos retornassem ao palco. Falando em um razoável português, Moreno contou que veio a conhecer “A Flor e o Espinho”, o clássico samba-canção de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, em 2009, quando uma fã de Manaus o presenteou com um disco da cantora Elizeth Cardoso. Preciso dizer que esse inusitado bis foi um dos momentos mais emocionantes da noite?


(Resenha escrita a convite da produção do festival Sesc Jazz. Leia outras críticas de shows desse evento, no site do Sesc SP: https://www.sescsp.org.br/online/revistas/tag/12411_CRITICAS+SESC+JAZZ)


 

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