Vocês já tocam releituras de músicas dos Beatles há duas décadas. Por que só decidiram gravar agora esse álbum?
Luiz Bueno – Desde 1988, quando gravamos Beatles pela primeira vez, vários produtores, inclusive fora do Brasil, sugeriram que fizéssemos um disco como esse, mas ainda não nos sentíamos fortes o suficiente para não nos tornarmos escravos dos Beatles. No ano passado, quando o Duofel comemorou 30 anos, organizamos uma pequena enquete com nossos fãs e mais de 80% deles opinaram que deveríamos fazer esse disco. Antes da gravação, fizemos vários shows, onde percebemos que, na platéia, havia muitas pessoas que não conheciam o Duofel. Elas estavam ali para ouvir Beatles com a gente.
Como os Beatles entraram na vida de vocês?
Bueno – Na verdade, nós nos interessamos por música, ainda garotos, justamente por conta dos Beatles. Fernando e eu nos conhecemos num grupo de rock progressivo. Fizemos um caminho diferente da maioria dos instrumentistas, que já começam curtindo jazz. Quando acompanhamos Tetê Espíndola numa turnê pela Europa, em 1988, fomos conhecer a terra dos Beatles. Já naquela época colocamos “Norwegian Wood” em nosso repertório e ela se tornou um dos grandes momentos dos nossos shows.
Que faixas deste CD, em sua opinião, melhor representam a identidade musical do Duofel?
Fernando Melo – Nós sempre utilizamos afinações diferentes nos nossos violões, mas neste disco fizemos uma nova experiência. Eu era baixista, mas deixei de tocar contrabaixo porque quebrava as unhas e, na hora de tocar violão no Duofel, ficava difícil. Então resolvi descobrir uma afinação que misturasse a sonoridade do contrabaixo com a do violão. Eu já vinha tentando isso há algum tempo, mas só nesse disco achei o espaço certo para usar essa afinação. Isso aconteceu em “Eleanor Rigby”, que abre o CD, e em “A Day in the Life”, a última. Outra faixa que ficou com a nossa cara é “The Fool on the Hill”, porque nela utilizamos instrumentos que não estariam presentes na música dos Beatles, como a viola caipira e o violão tenor. Também usamos o arco de rabeca, que aparece em outras faixas do disco.
Hoje, quando o futuro da distribuição da música parece estar associado aos downloads na internet, lançar um álbum focado nos Beatles não é ficar na contramão do mercado?
Bueno – Já nos sentimos na contramão outras vezes, mas temos certeza de que o amante da música que fazemos ainda compra discos. Demos um grande passo em nossa vida profissional, cinco anos atrás, quando criamos a Fine Music. Nossa idéia inicial já era bastante contemporânea: não ser apenas uma gravadora, mas também um ponto de distribuição de nossa música. Em nosso site (www.duofel.com), já vendemos nossos discos por download. E assim que a editora das canções dos Beatles nos der permissão, este CD também será vendido por download. Um álbum reúne não só uma colocação musical e artística, mas um pensamento, toda a filosofia que amarra a vida de um músico ou de um compositor. Eu vejo o álbum como uma galeria de quadros que expressa o momento daquela criação do artista.
(entrevista publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 30/10/2009)
(entrevista publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 30/10/2009)
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