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Caixa Cubo: trio paulistano leva seu som jazzístico ao Sesc Pompeia

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                                                                      O trio instrumental Caixa Cubo/Foto Divulgação

Um dos mais talentosos grupos de música instrumental brasileira revelados na última década, o Caixa Cubo se apresenta nesta quinta-feira (29/6), na Comedoria do Sesc Pompeia, em São Paulo. O repertório do show é baseado no recém-lançado álbum “Agôra” (pelo selo alemão Jazz & Milk), oitavo título na discografia desse trio paulistano.

Formado por Henrique Gomide (teclados), Noa Stroeter (baixo) e João Fideles (bateria), o Caixa Cubo começou a se apresentar em palcos europeus em 2012. Desde então já tocou em renomados clubes e festivais de jazz desse continente.

Em seus discos, o grupo já homenageou mestres da música brasileira, como o violonista e compositor Garoto (no álbum “Enigma”, de 2018), o multi-instrumentista Hermeto Pascoal, o maestro Moacir Santos e o compositor Dorival Caymmi (no álbum “Misturada”, de 2014).

Já no recente “Agôra”, o trio reúne composições próprias, com assumidas influências dos jazzistas norte-americanos Herbie Hancock e Miles Davis, assim como do grupo brasileiro Azymuth, pioneiro das fusões do samba com o jazz eletrificado. Entre várias participações especiais, destacam-se o músico sul-africano Bongani Givethanks e os cantores Xênia França e Zé Leônidas.

Caixa Cubo no Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, Vila Pompeia, zona oeste de São Paulo). Dia 29/6, às 21h30. Ingressos: R$ 20 e R$ 40.



Noa Stroeter: baixista do Caixa Cubo Trio exibe seu trabalho autoral no álbum "Prece"

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Conhecido na cena atual da música instrumental brasileira como contrabaixista do Caixa Cubo Trio, Noa Stroeter encara agora, com mais intensidade, o desafio do trabalho autoral. Em “Prece”, seu primeiro álbum solo, ele assina todas as composições e lidera um quinteto que inclui outros talentosos instrumentistas de São Paulo. 

“Essas músicas são meio autobiográficas, tentam contar algumas coisas que fazem parte da minha história”, revela o instrumentista paulistano, hoje com 32 anos. Seu interesse pela composição musical foi acentuado durante os seis anos em que frequentou como bolsista a graduação e o mestrado no Conservatório Real de Haia, na Holanda.

Além do contato mais próximo com a música clássica, viver na Europa lhe proporcionou um ponto de vista diferente do Brasil. “Essa experiência de poder olhar de longe o lugar onde nasci e cresci foi engrandecedora, porque na Europa nossa música é respeitada de uma maneira muito diferente comparada à que se encontra no Brasil. Perceber essa afinidade do povo europeu com a música brasileira me deu confiança para afirmar minhas raízes e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de encontrar o que é essa raiz em mim”, reflete Noa.

Constatar que a cultura brasileira é reverenciada na Europa, com um olhar focado principalmente na bossa nova e na batucada, trouxe um desafio ao compositor. “Perceber isso provocou em mim a necessidade de produzir um material que proponha uma visão diferente do músico e da música brasileira. A busca de como posso trazer essa característica para o meu trabalho foi e talvez ainda seja meu maior estímulo para criar", completa o compositor.

A ligação de Noa com o contrabaixista e produtor Rodolfo Stroeter – seu pai, que dividiu com ele a produção deste trabalho – também inspirou a faixa que dá título ao álbum. “Prece” começa com um emotivo solo de contrabaixo à capela, que evolui para a sensível melodia tocada pelos sopros. “É uma carta de amor, que se refere à benção de ser filho dele”, comenta Noa. Sentimental também é “Dinda”, bela composição do contrabaixista dedicada a seu avô paterno, que abre o disco.

Foi na Holanda que nasceu a lírica “Ornitorrinco e Tatu”, composição de Noa já gravada pelo grupo Batanga & Cia, em 2018. Idealizada originalmente para um quarteto de saxofones, ela foi adaptada para a nova formação. O compositor a criou pensando em seu irmão caçula, que tinha cinco anos na época. “Kim estava estudando os bichos, na escola, e criou junto com meu pai uma história em quadrinhos. Os heróis eram um ornitorrinco e um tatu”, relembra.

Já a romântica “Isis” traz uma surpresa para o ouvinte. Noa a dedica à sua companheira, cuja “envolvente variação de humor” (em suas palavras) transparece na estrutura da composição. A delicada melodia da introdução, tocada pela flauta, é seguida pelo característico ritmo de marcha-rancho, marcado pelo baterista Vitor Cabral. Bem popular na MPB dos anos 1950 e 1960, infelizmente, esse ritmo foi deixado de lado pelos compositores, com o passar do tempo.

Também não poderia faltar um samba-jazz, uma das referências musicais do Caixa Cubo Trio (vale lembrar que antes de lançar os álbuns “Misturada”, “Enigma” e “Saturno”, o grupo já havia gravado dois discos como duo). No contagiante “Beco das Garrafas”, o piano elétrico de Marcos Romera empresta uma sonoridade mais contemporânea à tradicional instrumentação do quinteto de jazz, com trompete, sax tenor, contrabaixo e bateria. Bem jazzístico também é “Veridiana”, tema em ritmo ternário, que destaca intervenções de Josué dos Santos, ao sax tenor, e Daniel D’Alcântara, ao flugelhorn.

Outra surpresa vem em “Varanda”, um bolero à Henri Mancini, um dos heróis musicais de Noa, inspirado na atmosfera boêmia de decadentes bares do centro de São Paulo. No saboroso arranjo, o ritmo de bolero se transforma em cha-cha-chá. Vale notar que o som volumoso do sax tenor e a surdina do trompete remetem a sonoridades das dançantes orquestras dos anos 1950.

Pergunte a Noa, como fiz, quais são suas maiores influências e vai receber uma lista um tanto inusitada. Ao lado de grandes compositores da música clássica, como Claude Debussy e Sergei Rachmaninnof, mestres da música brasileira, como Dorival Caymmi e Nelson Cavaquinho, ou ainda jazzistas do primeiro time, como Duke Ellington e Charles Mingus, poderão estar o pintor Pablo Picasso e o cineasta Martin Scorsese.

“Seja o que for aquilo que um artista procura em sua arte, o mais importante é a busca e o processo de afirmar sua própria voz, encontrar sua maneira de se expressar artisticamente. Nessa busca não tem atalhos nem fórmula mágica, ela vem conforme nos dedicamos todo dia a ela, com paciência e muito amor. É uma busca por viver uma vida da maneira mais artística possível”, reflete o músico.

Além do alto quilate da música autoral que Noa exibe neste álbum, ao ouvi-lo definir sua filosofia artística com toda essa sabedoria, não tenho dúvida alguma de que ele está no caminho certo.






Caixa Cubo Trio: grupo paulista relê clássicos do samba-jazz, no CD "Misturada"

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                                             Capa do CD "Misturada", do Caixa Cubo Trio

Parceiros há quase uma década, já com três discos gravados, o pianista Henrique Gomide e o baterista João Fideles expandiram o formato de seu criativo duo Caixa Cubo. Ao lado do contrabaixista Noa Stroeter, eles recuperam no álbum “Misturada” composições de expoentes do samba-jazz e da música instrumental das décadas de 1960 e 1970.

Da jazzística releitura de “Coalhada” (de Hermeto Pascoal), repleta de mudanças rítmicas, à inventiva versão de “Pirambêra” (Laércio de Freitas), passando pela bela interpretação do samba “Amphibious” (Moacir Santos), que destaca a participação especial de Teco Cardoso (sax barítono), o trio paulista trata esse clássico repertório com muita liberdade, sem jamais desvirtuá-lo. Composições próprias como o bem humorado xote “Shot #4” (Gomide e Fideles) e o lírico “Bolero pra Zulma” (Stroeter) sugerem que esse trio tem muito a mostrar, nos próximos anos. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 21/11/2014) 


 

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